Ricardo Pitrowsky (1891-1965)
Ricardo Pitrowsky (1891-1965)
O Gigante dos Pampas
(Somos imensamente gratos à irmã Betty Antunes de Oliveira por ter-nos fornecido informações preciosas, e ter-nos permitido utilizar alguns trechos do Diário do seu falecido pai, que figuram num livro que ela preparou, e cuja leitura nos proporcionou momentos de grande inspiração).
Gigante ele era, mas não em tamanho, e sim, na fé. O nome de Ricardo Pitrowsky faz parte da História dos Batistas do Brasil da mesma forma que os nomes de Ginsburg, Entzminger, Bagby, Soren, Avelino de Souza e outros.
Ricardo Pitrowsky nasceu em 10 de janeiro de 1891.
Gigante dos pampas também, por ser gaúcho de nascimento (filho de gaúcho com alemã, natural de Linha Formosa, Santa Cruz/RS), apesar de quase não se o perceber, uma vez que a família falava quase que com exclusividade a língua alemã e Ricardo, até aos 20 anos, não falava o português. Mesmo até os seus últimos anos de vida, ele ainda conservava alguns característicos típicos dos alemães.
Gigante da música ele sempre foi. Talvez, mais do que qualquer outra pessoa, ele tenha sido responsável pela edição com música do Cantor Cristão. Na edição atual, 22 dos hinos Ricardo Pitrowsky escreveu e traduziu pelo seu próprio punho. Dos brasileiros que colaboraram para a formação do nosso hinário, apenas Manoel Avelino de Souza é autor de maior número de hinos (29) do que o Pastor Pitrowsky. Este último fez arranjos de duas músicas (Nºs 179 e 416), e compôs as músicas dos hinos 544 e 551.
Tenho em mãos uma coleção de músicas corais que o Pastor Pitrowsky vinha preparando desde 1916. Estão, em sua maioria, baseadas nas Escrituras. No entanto, dentre estas músicas acha-se uma composta por um cego brasileiro, Paulo Guedes, com quem Pastor Pritowsky trabalhava. Estamos empenhados no preparo desta coleção e esperamos lança-la no princípio de 1967.
Mas, para não escrevermos os capítulos finais antes dos primeiros, vamos terminar esta introdução, para examinarmos os primeiros anos de vida deste gigante da Denominação batista brasileira.
Em Linha Formosa, no município de Santa Cruz, Rio Grande do Sul, no dia 10 de janeiro de 1891, no lar de Gustavo e Elisa Pitrowsky, nasceu o menino Ricardo, o quarto dos onze filhos do casal. Dez anos antes, em 1881, os seus avós maternos (a família Fuerharmel), chegaram da Alemanha, constituindo, assim, até onde sabemos, o primeiro grupo batista naquele Estado. O trabalho por eles iniciado resultou na organização da Igreja Batista de Linha Formosa (hoje, apenas Formosa).
Com oito anos de idade, o menino Ricardo já sonhava e falava sobre o seu desejo de ser um pregador do evangelho. Não sabiam Gustavo e Elisa Pitrowsky, naquela ocasião, que Deus iria usar duma maneira tão extraordinária a vida daquele seu filho.
Em 1902 veio ao Brasil, atendendo assim aos insistentes apelos daquele núcleo batista alemão (que formava a Primeira Igreja Batista Alemã do Sul do Brasil), o missionário Carlos Roth. Este pastor, que tornou-se o grande ídolo do menino Ricardo, teve o prazer de batizá-lo em 1903.
Ricardo era um menino diligente, e pouco trabalho dava a seus pais. Dedicava-se à lavoura, e, quando tinha qualquer oportunidade, vagava pelas matas, apreciando a beleza da natureza de Deus. Esta fase de sua vida é refletida nos hinos que escreveu depois. Tinha grande admiração pelas belezas da criação. Naquelas excursões pelas matas costumava escolher madeira apropriada para o fabrico de flautinhas. Aprendeu a tocá-las sozinho!
Ricardo Pitrowsky tomava parte ativa no programa musical da igreja. Cantava o baixo no coro e integrava o conjunto instrumental que utilizava instrumentos, em sua maioria, fabricados pelos próprios músicos.
Em março de 1911, veio para o Rio e matriculou-se no Colégio Batista do Rio de Janeiro. Aí conheceu Manoel Avelino de Souza, que tornou-se um dos seus mais fiéis e leais companheiros por toda a vida, até quando a morte os separou, temporariamente. Depois de formar-se no Colégio Batista e cursar o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (constituindo, juntamente com Manoel Avelino, parte da primeira turma de formandos), Ricardo Pitrowsky foi para a Bahia, sendo consagrado ao ministério em 25 de fevereiro de 1917. Durante um ano, pastoreou, simultaneamente, quatro igrejas no sul daquele Estado.
Em 13 de fevereiro de 1918, assumiu o pastorado da Igreja Batista do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, e, quatro meses mais tarde, casou-se com Eugenia Thomas, filha dum casal norte-americano do primeiro grupo de imigrantes vindos dos Estados Unidos a São Paulo. Deste enlace, nasceram cinco filhos – Betty, Eudora, Elmer, Lovie e Beny.
Os irmãos podem imaginar como a música era uma nota de destaque no lar dos Pitrowsky. Sua filha Betty nos afirmou: “Em nosso lar, papai não dispensa os hinos nos cultos domésticos e, desde quando nos lembramos, eram cantados nas diferentes vozes. Ele era o baixo, de voz cheia e sonora. Era exigente quanto à entrada de músicas em casa… Por bom número de vezes o ajudávamos nos seus ensaios de hinos para coros. Na igreja, estimulava sempre os cânticos congregacionais. Não aceitava hinos mal cantados. Levava todos a cantarem, principalmente as crianças e adolescentes. Vivia reclamando contra as vozes ‘gasguitas’, gritadas. Ficava mesmo enfezado quando as ouvia.”
O Pastor Pitrowsky tocava violino e cítara. Nutria grande desejo de estudar piano e, pelo menos duas vezes, durante o seu pastorado de 38 anos na Igreja Batista de Engenho de Dentro, ele começou a estudar, porém, os seus muitos afazeres não deixavam tempo para realizar o seu desejo.
Disse, no início deste artigo, que foi para mim uma grande inspiração apreciar alguns trechos do diário que este grande homem escreveu. Tive, também, oportunidade de, durante os meus primeiros anos aqui no Brasil, ter alguns contatos pessoais com o Pastor Pitrowsky. Participei de algumas das reuniões da Comissão de Revisão do Cantor Cristão, e notei a meticulosidade do seu trabalho. O Pastor Pitrowsky, especialmente, escrutava os hinos por seu conteúdo doutrinário, poético e métrica. Era muito zeloso nestas questões.
Alguém que não o conhecesse bem, poderia chegar à conclusão de que
Ricardo Pitrowsky era um homem duro e até frio, pois, muitas vezes, chegava a ser áspero em suas maneiras. Quando não gostava de alguma coisa, dizia-o com muita franqueza e não perdia tempo tentando, diplomaticamente, explicar a sua opinião. Embora exteriormente aparentasse ser mais alemão do que brasileiro, por dentro, proclamava as características mais brasileiras. Era um romântico. Facilmente se comovia. Era profundamente sensível às dores dos outros.
Podemos notar que a maioria de suas atividades, fora de sua igreja, tinha muito a ver com o trabalho e serviço ao próximo:
Pouco depois da organização do Instituto Evangélico de Cegos, em 1927, por Angelo Manzolilo, o Pastor Pitrowsky ficou como secretário Tesoureiro e Orientador do mesmo, até seu falecimento.
- Foi um dos fundadores da Junta Patrimonial;
- Foi ativo no trabalho em prol do Orfanato Batista Brasileiro.
- Serviu, por alguns anos, como Secretário Geral da Junta de Missões Estrangeiras.
Nada expressaria melhor o aspecto romântico da personalidade de Ricardo Pitrowsky do que um pequeno bilhete escrito a sua filha Eudora, quando esta iniciava os seus estudos de violino. Vendo-a, certo dia, a dormir numa cadeira, numa tentativa de estimulá-la nos estudos, ele deixou-lhe o seguinte bilhete:
“Cidade Etérea, 8-9-1937
Minha mui querida Dorinha:
Sei que você tem estado muito atarefada, com muitos estudos, trabalho na igreja e visitas a vários lugares, razão por que tem perdido bastante sono. Não é mesmo possível que o corpo resista a tanto sem um descanso devido; ainda mais que você está crescendo muito. Tudo isto exige que o seu físico tenha as suas forças reconstituídas pelo sono que é tão necessário como o alimento. E eu sabendo disso tudo e como gosto muito de você, tive o cuidado especial de lhe mandar o meu mensageiro hoje à tarde para lhe dar um abraço apertado. Foi também junto o repórter que bateu uma chapa fotográfica deste momento interessante. Vai junto uma cópia como lembrança, para que nunca se esqueça de mim.
No mais, desejo-lhe muita prosperidade, principalmente no estudo do violino, porque cá nestas regiões etéreas nos emocionam muito as suas arcadas deliciosas.
Vai esta carta por via aérea. Saudações do seu amigo,
Morpheu”
Ricardo Pitrowsky nasceu para servir aos outros. A última entrada que ele deu no seu diário, revelou que ele ainda pensava nos outros:
Domingo, 15-11-1964
“… pois creio que não levará mais muito tempo até a minha transferência para o lugar de descanso, o que será muito melhor.” (Nota: grifado em duas linhas por ele mesmo.)
“Já me sinto alegre e feliz só em pensar nesse dia feliz. Desejaria, entretanto, que meu Senhor ainda me desse forças para escrever alguns livros para estímulo e edificação dos crentes e para honra e glória de Deus.”
Sessenta dias depois, no dia 16 de janeiro de 1965, “O Gigante dos Pampas” foi transferido para o seu lugar de merecido descanso, mas, através dos seus livros e hinos a sua influência permanecerá por muitos e muitos anos.
Publicado originalmente em “O Jornal Batista”, Ed. 34, Agosto, 1966, pág. 4 – “Coluna Canto Musical”
© 1966 de Bill H. Ichter – Usado com permissão
Os Hinos de Pitrowsky
(Especial para Hinologia Cristã)
Transcorreu no dia 16 de janeiro de 1985, o vigésimo aniversário do desaparecimento de Ricardo Pitrowsky, outro notável pastor e musicista.
Decorridos vinte anos, quase no mesmo dia e mês em que Pitrowsky escreveu estar pensando no dia feliz de sua partida para o “lugar de descanso”, sentimos o desejo de comentar a obra do hinólogo, compilador, editor e revisor do “Cantor Cristão” com música, e do hinógrafo de tantos hinos que ainda comovem os batistas brasileiros.
Como hinólogo, proferiu, em 19 de novembro de 1963, no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, uma substanciosa palestra sobre o “Cantor Cristão”, postumamente publicada em “O Jornal Batista” (ver: edições de 20 de nov. e 11 de dez. 66, 08 jan. e 12 fev. 67).
Consideramos muito importantes suas atividades como compilador e editor para o desenvolvimento do canto congregacional.
Depois da 17ª. edição, publicada em 1921, foi nomeada uma comissão (Manoel Avelino de Souza, William Edwin Entzminger e Ricardo Pitrowsky) para rever as letras e elaborar as músicas dos hinos. Em seguida, a Casa Publicadora Batista recebeu, em 1922, uma fonte de tipos de música e encarregou Pitrowsky de preparar a 18ª. edição do “Cantor Cristão”, pondo à sua disposição quatro tipógrafos e um estereotipista. Depois de 13 anos de espera, os músicos batistas receberam de Pitrowsky, em 1924, a primeira edição musicada de nosso hinário denominacional.
Eis como Pitrowsky explicou o problema de usar um hinário sem música: “Era uma grande falta para o povo, mas principalmente para os organistas, que deviam tocar as músicas que se achavam em hinários estrangeiros, de várias línguas, cuja indicação estava impressa abaixo dos títulos dos hinos. Esses hinários, cerca de 20, obrigavam os organistas a ter junto de si uma biblioteca.
Além disso, o constante aumento de hinos em cada nova edição e as modificações constantes nas letras e nos números dos hinos causavam grande confusão, como é fácil de imaginar, de maneira que se avolumou a reclamação geral”.
Durante quatro décadas, Pitrowsky manteve-se o mais assíduo revisor de nosso hinário. Em 1938 foi nomeado, juntamente com Manoel Avelino de Souza, Moisés Silveira e, mais tarde, Alberto Portela, para fazer a remodelação do hinário, que ficou pronta quase vinte anos mais tarde. Em 1958, a Junta de Escolas Dominicais e Mocidade (a antecessora da atual JUERP) publicou um hinário experimental (tempos um exemplar), que não foi bem recebido pelos líderes denominacionais. Por isso, recomendou-se um reexame desse hinário, sendo afinal entregue à referida Junta em novembro de 1962, quando já não vivia o relator da comissão, o saudoso pastor Manoel Avelino de Souza.
Passaram-se mais nove anos; publicou-se, em 1971, a quarta edição musicada do “Cantor Cristão”, ainda em uso; desta vez, quem não assistiu ao acontecimento foi o pastor Pitrowsky.
Quando usamos o “Cantor Cristão”, ressalta a obra lítero-musical de Pitrowsky.
Como autor, figura no “Cantor Cristão” com 23 hinos, sendo seis originais, uma adaptação e 16 traduções.
Os hinos originais não tiveram a melhor acolhida pelas congregações, por causa das melodias; é o caso dos hinos n.ºs 149 (“Eis que, ó Pai, prostrados”), 202 (“Jesus tem o poder), 204 (“Eis a ordem dos céus”), 254 (“Depressa vem, amigo”), 492 (“Já muitas vezes eu pensei”) e 563 (“Entoemos hinos de louvor a Deus”).
No hino nº. 190 (“Veio Jesus a este mundo vil”), Pitrowsky adaptou a letra “Jesus is coming to Earth again”, escrita, em 1912, pela poetisa metodista Leila Naylor Morris.
Com exceção de uma, todas as traduções de Pitrowsky obtiveram o agrado geral das congregações, sendo cantadas com muita animação e estando entre os hinos favoritos do povo batista; nº. 99 (“Eis morto o Salvador!”), baseado no hino “Low in the grave he lay”, de 1874, escrito e composto pelo batista Robert Lowry; nº. 112 (“Já refulge a glória eterna”) é a tradução livre de “Mine eyes have seen the glory”, poema escrito em 1861 por Julia Ward Howe, pacifista e membro da Igreja Unitária, cuja melodia, de origem folclórica, é atribuída a William Steffe; este hino foi cantado no funeral de Winston Churchill, duas semanas após o falecimento de Pitrowsky; nº. 237 (“Tão perto do reino”) é a tradução da letra da poetisa Fanny Jane Crosby; nº. 314 (“Que consolação tem meu coração”) foi escrito (“What a fellowship, what a joy divine”) em 1887 pelo presbiteriano Elisha Albright Hoffmann; nº. 441 (“Ide a mensagem ao mundo levar”), poema da presbiteriana Eliza Edmunds Hewitt; no. 447 (“Não te importa se algum dos amigos morrer”), da presbiteriana Carrie E. Breck; e nº. 489 (“Não sei quando Cristo Jesus há de vir”), do batista Philip Paul Bliss, que trabalhou com o evangelista Daniel Webster Whittle.
De poetas pouco conhecidos, Pitrowsky traduziu: nº. 160 (“Deus promete grandes coisas conceder”), de Rowe; n.º 207 (“Sou forasteiro aqui”), de Cassel; nº. 504 (“Há um lar mui feliz lá no céu”), de Huntington; nº. 236 (“Atribulado coração”), de Belamy; nº. 239 (“Tu anseias hoje mesmo a salvação?”), de Blenkorn; nº. 253 (“Não teve um palácio no mundo”), de Skilton; nº. 347 (“Vindo sombras escuras nos caminhos teus”), de De Armond; e nº. 535 (“Num sonho vi em resplendor”), de McAuley.
A letra “There is a land of pure delight”, de Isaac Watts, contemporâneo de J. S. Bach e considerado o pai da hinodia inglesa, escrita em 1707 e traduzida por Pitrowsky como “Há uma terra de prazer” (nº. 520), não tem recebido a devida atenção.
Como compositor, fez os arranjos dos hinos nº.s 179 e 416, e a música para o atual nº. 544 (“Mocidade cristã, eia avante!”), letra de Thomás Aguiar, pastor da PIB de Manaus, e o antigo nº. 551, usando letra de Bittencourt Sampaio; uma única música para duas letras diferentes. Também compôs obras corais, reunidas na coleção “Glória ao Justo”.
Na 3ª. edição musicada (pelo menos até a 10ª. tiragem, de 1956), o nº. 551 (agora ocupado por um hino de Mário Barreto França) era intitulado “Juventude”, e começava “Sois da pátria a esperança fagueira”. Tratava-se da poesia de Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, que, com o jurista Tobias Barreto e o crítico Sílvio Romero, formava a tríade intelectual sergipana do século XIX.
Era uma poesia nacionalista, escrita em 1859, e prematuramente ufanista, porque nas estrofes 3ª. e 4ª. proclamava: “É nas letras que a Pátria querida há de um dia fulgente se erguer. Velha Europa, curvada e abatida, lá de longe que inveja há de ter!
Orgulhoso o bretão lá dos mares respeitar-nos então há de vir.
São direitos sagrados os lares, nunca mais ousarão nos ferir”.
Há trinta anos, a juventude universitária do Rio de Janeiro (inclusive dentro da Assembleia da Mocidade Batista Carioca) e de São Paulo cantava esse hino nacionalista. Era o “Hino à Mocidade Acadêmica”, dedicado aos alunos da célebre Faculdade de Direito de São Paulo, que tinha sido musicado em 1859 por Carlos Gomes.
Provavelmente Pitrowsky, numa época em que eram (e ainda são!) raras as edições e gravações de música erudita brasileira, não sabia da existência da música de Carlos Gomes.
A letra de Bittencourt Sampaio no “Cantor Cristão” tinha quatro estrofes e um estribilho; no “Hino à Mocidade Acadêmica”, tem seis estrofes duplas e um estribilho. Pitrowsky aproveitou somente a primeira parte das estrofes I, II, V e VI do poema.
A música de Pitrowsky é diferente da de Carlos Gomes. A de Pitrowsky não apresenta modulações; a estrofe termina na tônica, tal como o estribilho, sem ter ido à dominante.
No antigo hino nº. 551 pulsava a veia patriótica de Pitrowsky. Nos demais hinos, a sua paixão pelas almas perdidas.
Nestes dias incertos, cantemos os hinos de Pitrowsky!
Numa análise, embora superficial, de três hinos traduzidos por Pitrowsky, pretendemos mostrar três facetas do escritor de hinos.
Em seus hinos, Pitrowsky revela-se o literato conciso, o crente fiel e o pregador inflamado.
Queremos pesquisar, em três hinos traduzidos (nº.s 99, 314 e 190 do “Cantor Cristão”), a expressão literária, a profissão de fé e a mensagem evangelística de Pitrowsky.
Pitrowsky traduziu o hino “Low in the grave he lay”, escrito em 1874 por Robert Lowry, dando vigor à ideia de que Jesus, ressurreto, pode conceder vida ao pecador arrependido, agora, enquanto o autor do poema original promete uma vida futura.
O hino é baseado em Lucas 24:6; tem-se a impressão de que Lowry está apenas afirmando: “Jesus não está aqui”; ao que Pitrowsky enfaticamente acrescenta: “Mas ressuscitou”.
Fizemos a tradução, sem preocupação com a expressão poética, a fim de que o leitor possa compará-la com a tradução de Pitrowsky, que seguiu as normas da prosódia musical. Estrofes: 1) “No fundo da sepultura ele jaz, Jesus, meu Salvador! Esperando o dia vindouro, Jesus, meu Senhor!”; 2) “Em vão vigiam seu leito, Jesus, meu Salvador! Em vão lacraram o morto, Jesus, meu Senhor!; 3) “A morte não pode reter sua presa, Jesus, meu Salvador! Ele arranca as traves, Jesus, meu Senhor!”. Estribilho: “Da sepultura ele se levantou, com poderoso triunfo sobre seus inimigos. Do domínio das trevas surgiu vitorioso e vive eternamente para reinar com os seus santos. Ele ressurgiu! Ele ressurgiu! Aleluia! Cristo ressurgiu!”.
Pitrowsky traduziu o hino de Lowry assim: Estrofes: 1) “Eis morto o Salvador na sepultura! Mas com poder, vigor, ressuscitou”; 2) “Tomaram precaução com seu sepulcro, mas tudo foi em vão para O reter”; 3) “A morte conquistou com grande glória! Oh! graças! Alcançou vida eternal!”. Estribilho:
“Da sepultura saiu! Com triunfo e glória ressurgiu! Ressurgiu vencendo a morte e o seu poder. Pode agora a todos vida conceder! Ressurgiu! Ressurgiu! Aleluia! Ressurgiu!”.
Evidentemente, as frases de Pitrowsky contêm mais força.
Em Lowry encontramos as seguintes expressões básicas: “esperando o dia vindouro” (“waiting the coming day”); “em vão lacram o morto” (vainly they seal the dead”); “Ele arranca as traves” (“He tore the bars away”); “Do domínio das trevas surgiu vitorioso e vive eternamente para reinar com os seus santos” (“He arose a victor from the dark domain and he lives forever with his saints to reign”).
São expressões fracas, cotejadas com as de Pitrowsky: “mas com poder, vigor, ressuscitou”; “mas tudo foi em vão para O reter”; “Oh! graças! Alcançou vida eternal”; “Ressurgiu vencendo a morte e o seu poder. Pode agora a todos vida conceder!”.
Pitrowsky é sintético, objetivo e consequente em sua expressão literária. “Leaning on the everlasting arms” foi escrito em 1887 por Elisha Albright Hoffmann. O tema do hino é Deus como refúgio do crente. Figura sob o nº. 314 do “Cantor Cristão”.
Hoffmann fala a respeito da proteção divina, peregrinação do crente e companhia de Jesus; o crente busca a proteção e sabe que Jesus está perto.
Pitrowsky afirma que Deus “tem prazer em me proteger” e, por isso, pode ficar “junto a meu Senhor”. Pitrowsky é categórico em sua profissão de fé.
Para chegarmos a esta conclusão, basta examinar a versão de Hoffmann, em nossa tradução livre, que é a seguinte: Estrofes: 1) “Que comunhão, que divina alegria, descansando nos braços eternos! Que bênção, que paz a minha, descansando nos braços eternos!”; 2) “Oh! quão suave é caminhar nesta peregrinação, descansando nos braços eternos! Oh! quão mais luminoso o caminho se torna a cada dia, descansando nos braços eternos!”; 3) “Que tenho a recear, que tenho a temer, descansando nos braços eternos? Tenho a paz bendita com meu Senhor tão perto, descansando nos braços eternos!”. Estribilho: “Descansando, descansando, salvo e seguro de todos os perigos, descansando, descansando, descansando nos braços eternos”.
Pitrowsky é mais convicto, por isso convence.
Adaptou a letra “Jesus is coming to Earth again”, escrita, em 1912, por Leila Naylor Morris, toda ela visando um acontecimento futuro, embora próximo, de modo que o pecador se lembre de um fato passado e tome uma decisão importante para sua vida espiritual. O apelo evangelístico de Pitrowsky é mais incisivo. A poesia da Sra. Morris dá oportunidade a que o pecador protele a sua decisão. Pitrowsky é um evangelista pressuroso. A Sra. Morris proclama: “Jesus está para vir à terra novamente. Que seria de ti se fosse hoje?”, mas Pitrowsky, sentindo a urgência da decisão do pecador, lembra: “Veio Jesus a este mundo vil para buscar-te a ti”.
Convém que as igrejas cantem em português o hino da Sra. Morris…
Fizemos a tradução livre do hino, que é a seguinte: Estrofes: 1) “Jesus está para vir à terra novamente. Que seria se fosse hoje? Vir para reinar em poder e amor. Que seria se fosse hoje? Vir para reivindicar sua Noiva escolhida, todos os redimidos e purificados, espalhados pelo mundo afora. Que seria se fosse hoje?; 2) “O domínio de Satanás então será terminado! Oh! que fosse hoje! Tristeza e lamento não mais existirão! Oh! que fosse hoje! Então os mortos em Cristo se levantarão, reunidos para encontra-lo nos céus. Quando nossos olhos conhecerão essa glória? Que seria se fosse hoje?”; 3) “Fiéis e sinceros, Ele nos acharia aqui se Ele tivesse de vir hoje? Vigilantes no contentamento, e não no medo, se Ele tivesse de vir hoje? Sinais de Sua vinda se multiplicam. A alvorada rompe no Oriente. Vigiai, porque o tempo está próximo. Que seria se fosse hoje?”.
Compare essa tradução com a adaptação feita por Pitrowsky (nº. 190 do “Cantor Cristão”). A mensagem evangelística de Pitrowsky dá a medida do pregador inflamado que ele era. Para Pitrowsky, a Segunda Vinda (“Second Coming”) realizava-se todos os dias do pecador.
Cantemos os hinos de Pitrowsky não somente com o coração, mas também com a inteligência. Veremos que ele tinha as palavras certas em cada hino.
Os Hinos de Pitrowsky I
(Publicado em “O Jornal Batista”, 27 jan 1985, p. 2, pg. 11).
Música N.298
© 1985 de Rolando de Nassau – Usado com permissão
Os Hinos de Pitrowsky II
(Publicado em “O Jornal Batista”, 3 fev 1985, p. 2, pg. 11).
Música N.299
© 1985 de Rolando de Nassau – Usado com permissão
Fotografia enviada pela Colaboradora Westh Ney Luz.
Eu cheguei a cantar um hino dests nobre irmão num coral aqui em minha cidade. O nome do hino é JUBILAI, do hinario GLORIA AO JUSTO. Inclusive, se algum irmão possuir ou conhecer que o tenha para me fornecer uma cópia, mesmo que vendida, eu aceito.
Deus vos abençoe!
Quro o livro (sabatismo a luz do evangelio.
R. Pitrowaky