Prestigiemos os Nossos Hinógrafos – Rolando de Nassau
(Dedicado ao leitor Antônio Carlos Gonçalves Mataruna, do Rio de Janeiro, RJ)
Tenho o costume de colecionar os boletins dominicais das igrejas evangélicas que visito. Observo que os programadores das ordens de culto fazem constar, ao lado dos títulos dos hinos, os respectivos nomes dos autores e compositores.
Para eles é mais importante indicar os estrangeiros: Scriven/Converse (HCC-165), Martin (HCC-33), Boberg/Manuel (HCC-52), Spafford/Bliss (HCC-329) e Hoffmann/Showalter (HCC-330), estes seriam os indicados.
Talvez seja mais útil para os musicistas, mas para o cultuante comum seria interessante saber quem são os que escrevem em português as letras originais ou traduzidas dos hinos que ele canta.
Em minha opinião, para os hinos citados acima deveriam ser indicados os tradutores. A seguir, comentaremos os hinos que foram traduzidos. Em meio a problemas sentimentais e financeiros, Joseph Scriven (1819-1886) escreveu, em 1855, o hino “What a friend we have in Jesus”, cuja primeira estrofe sintetiza o seu pensamento: “What a friend we have in Jesus, all our sins and griefs to bear! What a privilege to carry everything to God in prayer! Oh, what peace weoften forfeit, oh, what needless pain we bear, all because we do not carry everything to God in prayer!”.
Casada com o missionário pioneiro Zachary Clay Taylor, formada em línguas e magistério, Kate Stevens Crawford Taylor (1862-1894), com pouco tempo no Brasil já manejava bem o idioma português. Antes do final do século 19, contribuiu com suas duas traduções para a formação do “Cantor Cristão”. Além do hino “Lugar para Cristo” (CC-31, HCC-112), traduziu o hino de Scriven, que recebeu os títulos “O grande amigo” (CC-155) e “Em Jesus amigo temos” (HCC-165), com a seguinte redação: “Em Jesus amigo temos, mais chegado que um irmão. Ele manda que levemos tudo a Deus em oração. Oh, que paz perdemos sempre! Oh, que dor no coração, só porque nós não levamos tudo a Deus em oração”.
Desde a minha meninice, este é o meu hino favorito, mas só depois que foi implantado um marcapasso no meu peito, em 2009, é que passei a entender a expressão “Oh, que dor no coração!” …
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Civilla Martin (1869-1948) escreveu “gospel songs”, entre as quais “God will take care of you” (1904). Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927), considerado por Ernest Jackson como “o pai do Cantor Cristão”, por ter contribuído com mais de 100 hinos, traduziu a canção em setembro de 1912, quando estava em Kansas City, Missouri, EUA (ver: OJB, 24 out 1912). Ginsburg baseou-se na letra publicada no “The World Evangel”, editado em 1911 por Robert Coleman (ver: OJB, 12 jul/02 ago 81).
Em cinco (CC-344), ou em três (HCC-33), Ginsburg reproduziu o sentimento da terceira estrofe de Civilla, que dizia: “All you may need” He will provide, God will take care of you; nothing you ask will be denied, God will take care of you”.
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Em 1886, o senador e pastor sueco Carl Boberg (1859-1940) escreveu uma estrofe hinódica sob o título “O Store Gud”, que foi traduzida para o alemão (1907), o russo (1927) e o inglês (1948). Cliff Barrows, regente coral das cruzadas evangelísticas de Billy Graham, a partir de 1955, pela voz de George Beverly Shea, divulgou por todo o mundo as quatro estrofes elaboradas por Stuart Hine.
No Brasil, a tradução de Paulo de Tarso Prado da Cunha (1928- ) foi difundida por Bill Ichter (1925- ); da Comissão do HCC recebeu o título “Grandioso és Tu” (HCC-52).
O texto de Boberg dizia: “O Lord my God! When I in awesome wonder consider all the worlds Thy hands have made, I see the stars, I hear the rolling thunder, Thy power thro’out the universe displayed”.
A tradução (“Senhor, meu Deus, quando eu, maravilhado, contemplo a imensa criação, o céu e a terra, os vastos oceanos, fico a pensar em Tua perfeição”) em 1964 captou bem o desejo de adoração do cultuante, que persiste até hoje.
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O advogado presbiteriano Horatio Spafford (1828-1888) experimentou muitas tragédias: a destruição em 1871, no incêndio de Chicago, de todos os seus investimentos imobiliários e o naufrágio em que morreram as suas quatro filhas; no local desta tragédia, em 1873, escreveu: “When peace, like a river, attendeth my way, when sorrows like sea billows roll; whatever my lot, Thou hast taught me to say, it is well with my soul”. Não foi a última; em 1880 morreu seu único filho homem. Esta não impediu que em 1881 fosse para Jerusalém para prestar serviço social.
O missionário pioneiro William Entzminger (1859-1930), que sabia o que era sofrer pela morte de dois dos seus filhos (ver: OJB, 22 julho 2002), em 1908 publicou sua tradução: “Se paz a mais doce eu puder desfrutar, se dor a mais forte sofrer, oh, seja o que for, Tu me fazes saber que feliz com Jesus sempre sou!” (CC-398 HCC-329). Com certeza, uma excelente tradução.
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Elisha Hoffmann (1839-1929) foi editor de hinários e coletâneas de hinos evangelísticos. Ele escreveu em 1887 as três estrofes do hino “Leaning on the everlasting arms”, que tornou-se popular nas congregações batistas negras no Sul dos EUA.
A terceira estrofe dizia: “What have I to dread, what have I to fear, leaning on the everlasting arms? I have blessed peace with my Lord so near, leaning on the everlasting arms”.
Tendo contribuído com 23 hinos para o “Cantor Cristão”, Ricardo Pitrowsky (1891-1965) traduziu em 1924 este “gospel hymn”, que foi publicado na 1ª. edição musicada do CC (ver: OJB, 27 jan 85 e 03 fev 85).
Sua tradução: “Não recearei, nada temerei, descansando no poder de Deus. Tenho paz e amor junto a meu Senhor, descansando no poder de Deus” (CC-314, HCC-330).
Há outros tradutores que devemos mencionar: Joana Sutton, Stela Câmara Dubois, João Wilson Faustini, João Soares da Fonseca e David Hodges.
Propomos que os programadores observem o seguinte:
1º.) não serão indicados os compositores estrangeiros;
2º.) serão indicados o autor da letra original e o tradutor da letra para o idioma português;
3º.) serão indicados o autor e o compositor, quando ambos forem brasileiros.
Assim, prestigiaremos os hinógrafos que são autores ou tradutores de hinos em português.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 13 fev 2011, p. 14).
Doc. JB-755
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