O Poder da Pena – Bill H. Ichter

(Artigo escrito em 1974, porém relançado no site Hinologia Cristã – Cantos da Fé Cristã, em homenagem ao 86º aniversário de Rolando de Nassau)

No livro “Vultos da Música Evangélica no Brasil” são destacados muitos músicos que labutaram ou ainda labutam no campo da música sacra no Brasil.

Nas páginas daquele modesto livro são contadas as histórias de compositores, regentes, artistas, hinólogos, professores e poetas que tem contribuído (e em muitos casos ainda contribuem) para o desenvolvimento da música sacra em nosso país.

Creio firmemente que há outras maneiras de contribuir também para o desenvolvimento deste trabalho, sem ser de alguma das acimas mencionadas.

O pastor, por exemplo, que apesar de não conhecer nada de música reconhece o valor da música, e faz tudo para incentivar o bom uso na sua igreja também presta a sua ajuda à causa da música sacra.

Hoje queremos focalizar uma pessoa que apesar do fato de não ser um músico diplomado (estudou piano por 1 ano e meio e fez um curso de teoria musical) tem inegavelmente dado a sua boa contribuição para a causa da música em nosso país através do seu amor e conhecimento de música traduzidos em constantes artigos nos jornais.

Desde que cheguei ao Brasil, há quase 18 anos, tenho acompanhado artigos sobre música sacra assinados por Rolando de Nassau. Às vezes os artigos eram polêmicos, às vezes continham crítica chegaram a ferir profundamente pessoas envolvidas.

Nunca tentei ser crítico de música. Dentro das minhas responsabilidades na Denominação creio que não fica bem, e pouco ajudaria no trabalho que estamos tentando desenvolver. Tenho as minhas ideias de como deve ser difícil a profissão de crítico musical.

Primeiro, as suas palavras dificilmente vão agradar a todos.

Segundo, para ser fiel a si mesmo, deve dizer o que sente.

Então vem aí o dilema – dizer que o solista foi bom para agradar quando não foi; dizer que o coral estava harmonioso para não ferir, quando apresentava defeitos muito óbvios na sua apresentação.

A natureza humana é algo de muito interessante. É difícil ouvir críticas que contrariam os nossos próprios conceitos. Quando as críticas são encapsuladas e tomadas com água e açúcar é muito mais fácil recebe-las.

Sei que Rolando de Nassau às vezes não coloca as críticas em cápsulas e assim tem de ser ingeridas como são e sem água e açúcar

Temos discordado dele às vezes, mas sempre num espírito elevado, leal e cavalheiro, e as nossas observações sempre tem sido recebidas com as mesmas características.

Rolando de Nassau, através dos seus artigos em vários periódicos denominacionais e seculares tem estimulado muito o interesse na causa da música sacra no Brasil.

Para ser um bom crítico de música não creio que seja necessário sempre agradar, mas precisa ser ouvido e lido. Hoje escrevemos sobre Rolando de Nassau que nem sempre agrada, mas é sempre lido e ouvido.

Quem é Rolando de Nassau? Muitas pessoas sabem que se trata de um “Nom de Plume”.

Quem assistiu à última Convenção em Brasília, não pôde deixar de reparar a constante e eficientíssima atuação de um homem ereto, com cabelos grisalhos e muitas vezes com “WALKIE-TALKIE” nas mãos, pois estava em constante contato com a cabine de som. Roberto Torres Hollanda, serviu com muito mérito como Coordenador-Geral da Comissão de Recepcionistas, Introdutores e Cicerones. Ele não parou durante a Convenção. E os poucos que trabalharam sob sua orientação, se saíram muito bem no desempenho do seu trabalho.

Mas voltando à pergunta – Quem é Rolando de Nassau?

Descendente de holandeses, Roberto escolheu o nome de Nassau lembrando o nome do Príncipe Maurício de Nassau, o governante holandês de Pernambuco. Envolvido na escolha também estava o seu gosto pala música de Orlando de Lassus, célebre músico holandês do século 16, e que frequentemente assinava as suas músicas com os nomes de Orlando Lasso, ou Orlando de Lassus, muitas vezes com a preposição de ou di entre os seus dois nomes. Sabemos que em um caso ele assinou a música como nome LASSUSIUS. Há muitos anos, pesquisadores asseguravam que o seu nome original era Roland de Lattre porém, hoje em dia, parece que esta afirmação carece de maiores provas. Porém, o pseudônimo “ROLANDO DE NASSAU” foi escolhido com base destas formações.

Roberto Torres Hollanda é carioca, nascido em 8 de outubro de 1929. Seu pai, Irineu Coutinho Hollanda, de Campina Grande, Paraíba, era professor de Inglês. Foi amigo do saudoso F.F. Soren e chegou a acompanha-lo numa das suas viagens de férias aos Estados Unidos em 1912. Ele estudou no William Jewell College, no Missouri e lecionou no Colégio Batista em Rio Grande nos anos 1925-1928.

A mãe de Roberto, D. Noêmia Torres Hollanda, era organista da 1ª I.B. do Rio e serviu como professora de Matemática no Colégio Batista do Rio. Infelizmente ela veio a falecer em 11-10-1929, 3 dias depois do nascimento de Roberto. O menino então foi criado por D. Frederica Torres. O pai de Roberto contraiu segundas núpcias, 9 anos mais tarde.

O gosto pela música começou cedo na vida de Roberto. Creio que ele já despertava para ser crítico de música quando ia à igreja e mesmo criança estranhava muitas pessoas sem vozes muito boas cantavam solos e participavam em conjunto, e também estranhou o fato de que mais hinos do “Cantor Cristão” não fossem escritos por brasileiros.

O seu interesse pela música foi despertado muitas vezes pelas comemorações de 7 de setembro  quando Villa-Lobos regia corais escolares de 40.000 vozes. Quando assistia a festivais corais, ele desejava ardentemente que os batistas pudessem realizar acontecimento semelhante. Ficou muito feliz quando o Coral Excelsior foi organizado. Ele achava que o Coral Excelsior reunia condições de treinar músicos, compositores e instrumentistas do meio evangélico. Rolando destacou a atuação desta organização várias vezes. O primeiro artigo assinado por ele em O JORNAL BATISTA de 13-12-51 falou da boa atuação do Coral no auditório do Instituto de Educação, comemorando o Dia da Bandeira.

Achamos interessante reler três dos pensamentos expostos pelo cronista naquele artigo, pois já mostrava algumas características do estilo de Rolando de Nassau:

“Para confirmar a tradição batista carioca, o programa foi iniciado com 30 minutos de atraso, mas não prejudicou ninguém porque a maioria chegou atrasada.”

“A primeira declamadora teve fraca atuação e sua gesticulação foi descolorida.”

“O Sr. Mário Barreto França abusou do direito de ser poeta ao afirmar no prólogo do poema “O Herói de Abertaia” que a FEB foi à Itália para restaurar a democracia no Brasil.”

Roberto Torres Holanda fez Curso Primário no Colégio José Varela, no Estácio, e completou o Curso Ginasial no Instituto Rabello na Av. Maracanã, ambos na GB. Quando estudava no Colégio Batista, começou a frequentar a Igreja Batista Itacuruçá e foi membro daquela igreja nos anos 1941-1954. Fez parte duma mocidade muito operante que contava entre outros com Dalton Paranaguá, Hélcio Lessa, Salovi Bernardo, Ernani Freitas e Elza Lakschevitz.

Bill H. Ichter

Publicado originalmente em: “O Jornal Batista”, Ed. 12, março 1974, pág. 2 – “Coluna Canto Musical”

© 1974 de Bill H. Ichter – Usado com permissão

 

Você pode gostar...