O Cântico Congregacional dos Nossos Dias – Uma Visão Global – Rev. João Wilson Faustini
De 3 a 8 de agosto de 2003, tive o privilégio de participar de um congresso internacional sobre o canto congregacional. O assunto desse congresso foi: A TRANSMISSÃO DE UM PAÍS PARA OUTRO E A TRADUÇÃO DO CANTO CONGREGACIONAL.
A reunião foi em Halifax, capital de Nova Scocia, a bela península ao leste do Canada. As reuniões e a hospedagem foram no magnífico campus da Universidade Dalhousie. Esse congresso foi na realidade a tradicional conferencia anual da Hymn Society of America and Canada.(Sociedade Hinlógica dos Estados Unidos e Canada) A cada seis anos, esta conferencia se realiza em conjunto com a Hymn Society da Grã Bretanha e Irlanda, e também a Internationale Arbeitsgemeinschaft für Hymnologie, dos países de língua alemã. Os participantes, membros dessa sociedade, vieram de 18 países estavam representados com elementos das mais variadas denominações.
Muita coisa tem acontencido em todas as partes do mundo nos últimos 40 anos, particularmente no campo da hinologia. Em muitos aspectos nossas perspectivas tem se ampliado, e agora, mais do que anteriormente, estamos cônscios da nossa interdependência. Mudanças importantes tem ocorrido em toda a parte, tanto nos estilos dos cultos como na linguagem, por vezes arcaica, dos hinos. Traduções novas dos grandes hinos antigos estão sendo refeitas e novas melodias estão sendo usadas, o que tem contribuido muito para vitalizar e revigorar o canto congregacional. Simultaneamente, todos os países estão reconhecendo que a hinódia trazida de outras praias pelos missionários dos últimos dois séculos nem sempre foi a melhor, e especialmente porque muitas traduções foram feitas sem uma profunda compreensão da língua e da cultura local. Além disso, nem sempre procuramos ouvir com atenção as palavras e a música que tem surgido no meio das comunidades dos novos convertidos. Estamos cada vez mais conscientes a respeito da vitalidade e complexidade do papel da hinódia no culto de adoração e principalmente na sedimentação da fé e no ensino das doutrinas do evangelho.
Durante o transcorrer da conferência cantamos hinos de muitos países, em muitos estilos diferentes, e em muitas línguas diferentes. As preleções foram em inglês e alemão, e havia equipamento próprio para tradução simultânea para os que precisavam de interpretação. Cultos matinais e vespertinos, também baseados em hinos dos mais diversos estilos e tradições litúrgicas foram acontecimentos importantes todos os dias, onde músicas dos mais variados tipos e períodos da história foram cantadas por todos.
De grande valor foram as palestras que foram feitas sobre a história dos hinários nos mais diversos países. Foi muito importante conhecer como foram estabelecidas as comissões de letras e de musicas que revisaram ou editaram os hinários, como e com que freqüencia trabalharam, como foram selecionados os hinos, quais os critérios adotados para se evitar influencias pessoais, e como foi estabelecido o repertório de hinos contidos nos mais diversos hinários dos diversos países participantes do encontro. De especial interesse foi a apresentação do recente hinário inglês “Jubilate”, que levou 9 anos em sua cuidadosa preparação.
Atenção especial foi dada em uma das sessões, a respeito das novas canções de louvor, onde critérios foram dados para que haja abertura para novos hinos da tradição reformada para que novos estilos e instrumentos possam ser criteriosamente usados. Tratou-se do aspecto de seleção e triagem, dando-se atenção à teologia, forma musical e de linguagem, inclusão de assuntos importantes geralmente omissos nas canções populares contemporâneas, como lamento, sofrimento humano, conforto, confissão e petição, cuidando-se do conteúdo e do espaço ocupado no culto de adoração. Falou-se também a respeito do problema causado pela força das companhias publicadoras, o abuso deste novo mercado e das deficiências de expressão causadas pelo uso exclusivo do louvor contemporâneo, seu perigo e sua continua ameaça para a exclusão dos grandes hinos do cristianismo.
Soji Kitamura discorreu sobre as tentativas anteriores para a fundação de uma Sociedade Hinológica no Japão, o que, após tentativas anteriores somente se concretizou em 2001, e Yokoshiko Yokosaka minuciosamente descreveu o recente processo e os princípios adotados no Japão para a revisao feita em seus hinários interdenominacionais, que culminou com a edição do Hinário 21, da United Church of Christ naquele país, que inclue hinos de 29 paises diferentes. Christian Finke falou sobre a inclusão de hinos de outros países estrangeiros nos hinários publicados recentemente na Europa. Muitos hinários novos contem também os textos originais das linguas traduzidas. Segundo Finke, isto serve para dar a ideia de que não estamos sós no Reino de Deus. Há outros, de outras linguas e culturas, que são nossos irmãos e que adoram o mesmo Deus que nós, com os quais podemos unir as nossas vozes.
Muitos autores e compositores de hinos que aparecem nos hinários atuais participaram deste grande evento. Os contactos pessoais com pessoas do mesmo interesse e experiêcia foram extraordinários. Entre os presentes destacaram-se nomes internacionalmente conhecidos, como Carl Daw, Elizabeth Cosnett, Rae Whitney, Delores Dufner, Michael Saward. Michael Hawn, J. Richard Watson, Brian Wren, e muitos outros, que nos contaram a respeito de suas experiências pessoais ao escrever ou compor hinos. Muitos desses hinos foram cantados pelos 400 participantes nos maravilhosos cultos cantados realizados todas as noites, cada vez em uma igreja diferente da cidade de Halifax e vizinhanças, incluindo as mais diversas denominações Cristãs, como Anglicanas, Luteranas, Batistas, Metodistas, Presbiterianas e Católicas. Mais uma vez ficou muito claro, que apesar de todas as nossas diferenças teológicas, a música é uma arte que pode realmente nos unir como irmãos. Como sabemos, esta mesma arte pode também nos separar e afastar uns dos outros, mesmo dentro de uma só denominação ou congregação, quando nos tornamos fechados intransigentes, intolerantes ou inflexíveis diante dos diversos estilos musicais existentes.
No dia de hoje precisamos estar abertos para explorar novas fronteiras. Mas isto precisa ser feito com a perspectiva histórica da nossa tradição evangélica e bíblica. Não podemos simplesmente jogar fora tudo que nos foi legado pelo passado. Isto é verdadeira loucura. O que é preciso é procurar a excelência em todas as coisas: forma, harmonia, melodia, texto, prosódia e teologia. Devemos ter muito cuidado com as associções que qualquer um destes elementos possa causar, dificultando o valor devocional do hino.
A Sociedade Hinológica dos Estados Unidos e Canada é uma organização que se especializa em manter a boa tradição dos hinos. Ela tem inspirado organizações semelhantes em muitos países. O nosso sonho é formar no Brasil uma organização destas, para a promoção de novos e bons hinos para os nossos futuros hinários. Procure conhecer a Hymn Society clicando no seu site e nos muitos links interessantes. http://www.thehymnsociety.org/ Ali poderemos até colocar nossos hinos e nossas sugestões. O meu hino baseado no Credo Apostolico está postado no site da Sociedade do Hino Americana no link “News and Views” que se encontra na página inicial. A Hymn Society tem conferencias anuais, onde representantes de muitos paises, de outras sociedades hinologicas comparecem. Autores e compositores estão sempre presentes e dão excelentes dicas para o desenvolvermos nossa capacidade criadora e desenvolvermos a nossa própria hinologia. Que muitos brasileiros possam se interessar por este assunto e por esta organização tão importante, é a minha esperança e oração.
© João Wilson Faustini – Usado com permissão