Joaquim do Cerro Guerreiro (1924-2003)

Biografia

Joaquim do Cerro Guerreiro (1924-2003)

Consagrado pastor por volta de 1947.

Biografia

Pastor pentecostal de origem portuguesa, pioneiro das Assembleias de Deus em Moçambique e Johanesburgo (África do Sul), músico organista e compositor de hinos evangélicos. Nasceu no dia 7 de julho de 1924, em Portimão (Portugal). Filho de uma viúva chamada Victória, vivia no campo próximo da cidade de Portimão. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 18 meses de vida e além de sua mãe, tinha a única irmã, uma adolescente que também veio a falecer aos 16 anos, da mesma doença do pai, tuberculose. Por ter apenas quatro anos, nem o nome da irmã lembra. Devido as grandes dificuldades enfrentadas por aquela família, sua mãe acabou adoecendo e também faleceu, quando Joaquim tinha apenas sete anos. Então, o menino ficou só no mundo e passou a residir na casa de uma tia, irmã de seu pai.

Na casa da tia, passou a frequentar a escola primária e nas horas vagas, ajudava nos serviços da casa. Muitas vezes foi maltratado pelos primos e quando ele se queixava com a tia, ela sempre dava razão para os filhos dela (é claro!). Em seus momentos de tristeza ia ao cemitério onde sua mãe fora sepultada, para lamentar e chorar: “Mãe, se tu estivesses viva, nada disso aconteceria… Estás morta. Será que existe Deus? Por que Ele me desamparou e me deixou sozinho no mundo, sozinho, sofrendo assim?” Em um dia de desespero, aos 10 anos, chegou a pensar em suicidar-se, pois tudo assim acabaria. Do alto de uma ponte, chegou a tentar se atirar no rio, mas teve medo e não o fez, e depois ele entendeu que foi Deus que não permitiu ele fazer aquela loucura.

Na casa de sua tia, o seu primo mais velho, José, dava aulas de música. Ele ensinava solfejo e tocava na banda musical da cidade e dava aulas de música. Percebendo que o menino tinha interesse pela música, seu primo comprou um violino e enviou-lhe para um professor. Teve as primeiras aulas com esse professor, depois o maestro da banda continuou dando-lhe as lições de teoria musical e um dia ele disse: “Joaquim, agora é só no Conservatório de Música em Lisboa”. Não chegou a ir para o conservatório por falta de recursos financeiros, apesar das propostas de um padre e um médico que quiseram ajudá-lo.

Com a idade de 17 anos, foi convidado por um crente chamado Ilídio que trabalhava com ele, para assistir alguns cultos. Ficou sabendo que os cultos teria a presença de um missionário sueco, que cantava e tocava acordeom muito bem e isso atraiu a atenção do jovem, para ir na igreja. No dia 24 de abril de 1941, converteu-se ao Senhorio de Cristo, aceitando-O como seu Salvador. Logo a seguir, no dia 15 de junho, foi batizado nas águas, na Praia da Rocha, pelo pastor Alfredo Rozendo Machado, um dos pioneiros da Assembleia de Deus em Portugal e que na época era o líder da igreja em Portimão. Para conseguir ser batizado, Joaquim teve que pular a janela da casa, pois sua tia ficou sabendo de sua atitude e trancou a porta para evitar sua saída.

Depois da conversão passou a dedicar ao estudo da Bíblia e cooperar na igreja local. Alguns meses depois de batizado nas águas, passou a ser o regente do coral, professor da Escola Bíblica Dominical e evangelista voluntário. Junto com seu amigo José Pina, que era da mesma idade que ele, saía para diversos lugares para evangelizar.

Aos 18 anos, vendeu uma propriedade que herdou de seu pai, e ficava junto à praia. Comprou um terno novo, sapatos e relógio e ainda bem jovem, regente do coral passou a chamar a atenção das moças da igreja. Por ser órfão e vivia com familiares que o perseguiam por ser crente, achou que deveria logo se casar. Conheceu uma linda jovem, de nome Ana Maria, que tocava viola e era professora da Escola Dominical. Quiz casar-se com ela, mas não foi da vontade de Deus, segundo ele.

No ano de 1942, ele esteve pela primeira vez em Lisboa, a capital portuguesa, acompanhando o pastor Alfredo Machado e o evangelista José Augusto Pina. Foram participar de uma escola bíblica intensiva que durava um mês. Ali, ele foi batizado com o Espírito Santo. Após o término da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945, o jovem Joaquim, que já contava seus 21 anos, e livre do serviço militar, resolver mudar-se para a capital. Na igreja sede em Lisboa, foi muito bem recebido e passou a reger o coral local e continuou seu serviço de evangelismo, além de ensinar na Escola Dominical. A igreja em Lisboa naquela ocasião, era presidida pelo missionário sueco Tage Stalhberg e como co-pastor, seu conhecido, pastor Alfredo Machado, que o havia batizado nas águas.

A igreja central de Lisboa, era constituída naquela época de muitos jovens e Joaquim Guerreiro, era o líder de um grupo de evangelismo que o acompanhava todos os domingos em vários locais da cidade Lisboeta, onde existiam pequenas congregações. Geralmente as igrejas possuíam um piano ou um órgão, que auxiliavam muito nos cultos. Esses locais também serviam de campos de preparação para os futuros obreiros, entre eles, Joaquim Cartaxo, que foi missionário na Angola. À noite no templo central, os cultos eram realizados com hinos especiais do coral e onde muitas pessoas se converteram ao Senhor. Esta era a maior igreja da Assembleia de Deus em Portugal.

Dos jovens que participavam do coral, uma moça se destacou. Era Júlia Valejo, que possuía uma linda voz e era muito atraente. Um dia, quando Joaquim a viu cantar com muita perfeição o hino “Guia-me sempre, meu Senhor. Guia meus passos, Salvador”, ficou pasmado com a beleza da jovem e a forma que ela cantava, que ele pensou consigo: “Será essa a jovem que Deus tem para mim?” Pouco depois, ele fez contato com ela e começaram a namorar, visando o casamento. Porém, Deus tem Seus caminhos e as coisas acontecem no tempo Dele.

Um irmão de nome José da Graça Marques, de Moçambique que visitava Portugal, relatou-lhe das dificuldades que a igreja em Lourenço Marques enfrentava. Os crentes estavam sem pastor para os orientar e firmá-los na doutrina. Então, depois de se despedir da igreja em Lisboa e de seu pastor Tage Stalhberg, Joaquim Guerreiro, no ano de 1947, aportou-se em Lourenço Marques (hoje, Maputo), capital de Moçambique e em companhia de seu amigo, evangelista José Augusto Pina, passou a pastorear aquele rebando.

O missionário J. Cerro Guerreiro chegou e começou logo a trabalhar em Moçambique, porém, sua noiva ficou em Lisboa, mas no dia 5 de fevereiro de 1948, foi realizado o casamento no cartório por procuração, sendo que Joaquim enviou a certidão para sua noiva. Um ano depois, em 15 de fevereiro de 1949, Júlia Valejo viajou para Moçambique e o casamento religioso foi finalmente realizado. No ano de 1950, em Lourenço Marques, nasceu Paulo, o primeiro filho do casal.

Em 28 de janeiro de 1952, atendendo o chamado de Deus, pastor J. C. Guerreiro e sua família, chegou em Johanesburgo, na África do Sul. Iniciou naquele país uma grande obra pentecostal de língua portuguesa, e onde permaneceu durante toda a sua vida. Os primeiros dois anos foram de adaptação, aprender o idioma inglês e assistir aos cultos da Assembleia de Deus Sul-Africana. Na década de 1960, depois de estabelecida a igreja, houve o avanço para outras cidades, com o fim de alcançar os imigrantes portugueses com o Evangelho.

Em 23 de setembro de 1978, foi inaugurado o templo sede em Johanesburgo com grande festividade, onde se fizeram presentes várias autoridades civis e eclesiásticas, entre elas o prefeito da cidade de Johanesburgo e o presidente das Assembleias de Deus Sul-Africanas, bem como representantes da AD em Portugal. No ano de 1981, pastor Guerreiro abriu a primeira loja evangélica na África do Sul, com o nome de Livraria Vida, para vendas de artigos evangélicos.

Pastor Cerro Guerreiro esteve no Brasil no ano de 1983, onde fez contato com as editoras evangélicas. No ano de 1993, voltou ao Brasil para pedir ajuda de literatura para Moçambique. Nessa ocasião ele visitou as Assembleias de Deus de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, onde foi muito bem recebido.

No dia 8 de setembro de 1993, a irmã Júlia Valejo Guerreiro partiu ao encontro do Senhor Jesus. Ela fora casada com o pastor Joaquim Guerreiro por 45 anos. O casal teve sete filhos: Paulo, Suzete, Daniel, Lídia, Noêmia, Abel e Rute. Encerrando a sua trajetória terrena e ministerial, pastor J. do Cerro Guerreiro faleceu em Johanesburgo no dia 30 de agosto de 2003, aos 79 anos.

Finalizando nossa homenagem, deixamos abaixo a letra de um hino de autoria desse pastor, composto em 1978 e que foi gravado pelo cantor Pr. Victorino Silva, no disco “És” em 1981:

“Vagava em trevas, no caminho do pecado e dor.
Sem esperança e sem paz, no mundo de ilusão.
Desconhecia, que houvesse para o pecador,
Algum poder que concedesse a Salvação.
Agora sei, que Cristo veio ao mundo.
Pra me remir e que por mim morreu na Cruz.
Agonizou por minh’alma perdida,
Que, em densas trevas, vagava sem luz.
E agora canto louvores a Cristo,
Que me amou, com tão imenso amor.
Jesus meu benfeitor, eu te adoro
Tu és meu Salvador!
Desconhecia, que há um Deus
Que ama o pecador.
Ah! Eu sentia medo da morte,
ao pensar na vida do além
Até que um dia, eu olhei pra àquela
Rude cruz e vi Jesus pregado em Jerusalém.
Agora sei, que Cristo veio ao mundo
Pra me remir e que por mim morreu na Cruz
Agonizou por minh’alma perdida
Que, em densas trevas, vagava sem luz.
E agora canto louvores a Cristo
Que me amou, com tão imenso amor
Jesus meu benfeitor, eu te adoro,
Tu és meu Salvador!

Jacó Rodrigues Santiago

Fonte da pesquisa: Livro “ECOS DA ÁFRICA” (CPAD – 1999).
Informações de sua filha: Noemi Guerreiro dos Santos, que reside em Johanesburgo.

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(1924-2003)

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