Joachim Neander (1650-1680)
Joachim Neander (1650-1680)
Joaquim Neander, o poeta da natureza
Quando pensamos nos poetas e compositores alemães, geralmente os identificamos como sendo luteranos. Mas isso é um equívoco. O calvinismo, por exemplo, além de forte na Suécia, também teve muitos seguidores na Alemanha. Um deles foi Joaquim Neander, poeta e músico que nasceu em 1650 em Bremen na Alemanha e faleceu na mesma cidade em 31 de maio de 1680 de tuberculose. Viveu apenas 30 anos, mesmo assim escreveu em torno de 60 hinos. A grande parte deles escreveu nos últimos meses de vida, enquanto estava doente e em meio a conflitos internos.
Joachim Neander era neto de um músico, e descendente de uma linhagem de pastores. O seu sobrenome era Neumann, que significava homem novo. O avô dele, tinha o mesmo nome também era pastor. Talvez por isso tenha mudado seu sobrenome para um similar em grego, Neander.
Na sua juventude, apesar de estudar teologia na Universidade de Bremen, teve uma vida desregrada e sem compromissos. Quando tinha vinte anos, ele e dois amigos foram a um culto com o propósito de ridicularizá-lo. Mas foi neste culto que Deus agiu no seu coração e mudou a sua vida de tal forma que se tornou um líder da sua igreja. Mais tarde dirigiu uma escola e atuou como pregador auxiliar. Num breve período da sua vida recebeu influências de um grupo separatista, o que lhe custou a demissão das suas funções, mas se remediou e foi readmitido.
Joaquim Neander gostava da natureza. Durante sua demissão, seu refúgio preferido foi uma caverna entre a natureza. Foi lá que também escreveu alguns hinos. O gosto pela natureza transparece nos seus hinos.
O surgimento de hinos entre os calvinistas retardou, pois Calvino havia dito que, “hinos de composição humana” não podiam louvar ao Senhor, mas só os que eram extraídos da sua própria Escritura. Neander é reconhecido como sendo pioneiro entre os calvinistas alemães a quebrar esta visão. E ele exerceu grande influência sobre outros poetas e músicos da sua igreja. Apesar de, no seu tempo, luteranos e calvinistas terem vivido situação de conflitos, os seus hinos foram bem aceitos em meios luteranos.
Seu hino “Lobe den Herren, den mächtigen König”, numa tradução livre “Louvado seja o Senhor, o poderoso rei”[1] tem grande prestígio entre luteranos. A respeito da tradução deste hino para o Hinário Luterano, guardo um fato na memória, que minha mãe Hilda Karnopp, me relatou na minha adolescência. Por ocasião da Segunda Guerra, o uso da língua alemã foi proibido nas igrejas e escolas particulares no Brasil. Como as atividades dos luteranos, era em grande parte, em língua alemã, eles tiveram que, com urgência, providenciar a tradução e composição de hinos em língua portuguesa. A Igreja Luterana solicitava aos seus pastores para que se voluntariassem para fazer traduções. Foi assim que o pastor que me batizou, no interior do município de Canguçu, RS Reinardo Alfredo Albrecht fez a tradução do hino. Não constam outras traduções, nem poemas dele. Parece ser caso único.
Hino 213 do Hinário Luterano
Lobe den Herren, Den Mächtigen König – Joachim Neander, 1680.
Trad. Reinardo Alfredo Albrecht (1910-1969).
Música: Ander Theil Des Ermeuerte Gesangbuch Stralsund 1665.
1. Louva ao Senhor, potentíssimo Rei das alturas.
Canta, minha alma, jubila com todas as criaturas.
Vinde exultai! Harpas, saltérios tocai,
Gratos por tantas venturas.
2. Louva ao Senhor que com grande potência governa.
Sobre asas de águia te leva à morada paterna;
Que te mantém como melhor te convém:
Sua bondade é tão terna.
3. Louva ao Senhor por fazer-te assim maravilhoso.
Dando-te vida e saúde,
é teu Pai mui bondoso, pois na aflição
Ele te dá proteção sob suas asas, gracioso.
4. Louva ao Senhor, que abençoa-te visivelmente.
Chove, amoroso, dos céus seus dons, torrencialmente.
Lembra-te bem: com seu amparo ele vem;
Pois o Senhor é clemente.
5. Louva, ó minha alma, a Deus louva o seu nome glorioso.
Ó mundo, canta louvores a Deus piedoso.
És nossa luz, ó Rei celeste, Jesus,
louva-te o povo ditoso.
Deus está no templo
Letra: Gerhard Tersteegen (1697-1769), 1729
Tradução: João Gomes da Rocha (1947), 1898
Música: Joachim Neander (1650-1680), em Bundes-Lieder, 1680
1. Deus está no Templo,
Pai onipotente!
A seus pés nos humilhemos!
Servos consagrados,
Reverentemente,
Ao Santíssimo adoremos!
Com amor e favor,
Santo e compassivo,
Deus está no Templo!
2. Cristo está no Templo!
Sumo benefício
Por Seu sangue nos foi dado.
Ele, o bom Cordeiro,
Foi o sacrifício
Que expiou o vil pecado.
Escolheu e sofreu
O cabal suplício.
Cristo está no Templo!
3. Vem e ocupa o Templo,
Preceptor divino!
Nossos corações habita!
Ó paciente Mestre,
Dá-nos Teu ensino,
Aclarando a lei bendita.
Com prazer e poder,
Ó Trindade santa,
Vem e ocupa o Templo!
Hinos Joaquim Neander que constam em hinários brasileiros:
Hinário Para o Culto Cristão: hino 222, música. Hino 227, letra.
Hinário Luterano: hinos 168, 188 e 477, música. Hino 213 letra.
Hinário Novo Cântico: hinos 4, 220, letra. Hino 16 música.
Hinos do Povo de Deus: Hino 246, letra. hinos 116, 171 e 124 música.
Coletânea de Hinos da Igreja Cristã Maranata: 73 música.
Salmos & Hinos: 245 música.
Bibliografia:
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Joachim_Neander
- https://www.luteranos.com.br/textos/joachim-neander-1650-1680. Portal Luteranos.
- HINÁRIO LUTERANO. Edição revisada e comemorativa. Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2016.
- Karnopp, David. Música e Igreja: aspectos relevantes da música sacra na história do povo de Deus. Passo Fundo: Pe. Bertier ; 1999
© 2023 de David Karnopp – Usado com permissão
[1] Hinário Luterano hino 213. Hinário para o Culto Cristão; hino 227. Hinário Novo Cântico: hino 16. Hinos do Povo de Deus 246.