Hinos Evangélicos e Cânticos Sagrados – Dr. Alderi Matos
Hinos Evangélicos e Cânticos Sagrados
O Rev. John Boyle (1845-1892) foi um dos primeiros missionários enviados ao Brasil pela Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos (PCUS), tendo chegado a Recife em 1873. Poucos anos depois, transferiu-se para a Província de São Paulo, onde trabalhou em Campinas e Mogi Mirim. Encerrou sua carreira na pequena Bagagem (atual Estrela do Sul), no Triângulo Mineiro, tendo sido o pioneiro presbiteriano e evangélico no Brasil Central. Notabilizou-se pelo seu dedicado trabalho pastoral e evangelístico, e pela publicação do apreciado jornal O Evangelista. Faleceu aos 47 anos. Outra de suas contribuições foi a coletânea Hinos Evangélicos e Cânticos Sagrados (1888).
Quando Boyle chegou ao Brasil, os presbiterianos usavam o hinário Cânticos Sagrados (1867), compilado pelo Rev. Alexander Blackford e impresso no Rio de Janeiro. Uma segunda edição veio a lume em 1875. Em março desse mesmo ano (1875), Boyle esteve hospedado por alguns dias com um amigo e irmão na fé na capital do império. Este, sabendo que Boyle se interessava pela melhoria literatura hinológica em português, presenteou-o com três livros de poesia sacra, pedindo-lhe que os examinasse e escolhesse aquilo que fosse útil para o culto nas igrejas evangélicas. A partir de então, nas horas vagas do seu árduo trabalho ministerial, Boyle passou a coligir hinos, não só dos referidos volumes, mas de outras procedências.
O missionário recorreu ao filólogo e escritor Júlio Ribeiro (1845-1890), na época ligado aos presbiterianos, para a revisão da linguagem dos hinos. Ao fim de treze anos de trabalho, ofereceu às igrejas evangélicas o resultado dos seus esforços. Acreditava que todos o achariam melhor e mais apropriado para o culto do que os Cânticos Sagrados usados até então e afirmou que os próprios responsáveis por esse outro hinário o incentivaram na preparação da nova coletânea. No prefácio desse volume, enumerou diversos melhoramentos que introduziu.
Em primeiro lugar, destacou o grande aumento do número de hinos. Enquanto que Cânticos Sagrados, incluindo o apêndice mais recente, continha 186 hinos, entre os quais cerca de 50 salmos, o novo hinário passou a incluir 475 hinos e 129 salmos, totalizando 604 composições. Ou seja, mais de dois terços dos hinos eram novos. Disse ele: “Creio que toda pessoa concordará que muitos destes novos são excelentes, tanto pelo estilo poético como pelo sentimento que eles exprimem”.
Em segundo lugar, os hinos foram agrupados por assunto. Para Boyle, essa medida seria muito apreciada, principalmente por aqueles que dirigiam cultos e precisavam escolher hinos cujo teor correspondesse ao do sermão. A procura dos hinos seria facilitada pelo fato de o assunto geral estar no alto das páginas. A sequência dos assuntos seguia uma ordem lógica, começando com Deus e prosseguindo com a situação do pecador, o pecador contrito, a redenção e concluindo com a morte, o juízo final e o céu.
Depois dos hinos vinham os salmos, agrupados num só conjunto, com a observação de que numa futura edição eles poderiam ser distribuídos entre os hinos. Na opinião do missionário, em se tratando de determinados assuntos, como a paixão de Cristo, Cristo e a igreja, os atributos e a glória de Deus e os inimigos dos fiéis em todos os tempos, os salmos eram melhores do que quaisquer hinos.
Um detalhe inovador desse hinário foi a colocação, após o título de cada hino ou salmo, de algarismos indicadores do número de sílabas das linhas, visando facilitar a escolha das músicas. Por exemplo, conhecendo-se a música para qualquer hino assinalado com 8.7, sabia-se que todos assim marcados poderiam ser cantados com aquela música, salvos os marcados de outra maneira. Todos os hinos do novo hinário tinham música e os missionário pensava em publicar um livro de música caso o hinário fosse adotado pelas igrejas.
O terceiro aperfeiçoamento em relação a Cânticos Sagrados foi a modificação sensível de alguns hinos em termos da metrificação e da consequente prosódia. As imperfeições corrigidas eram de duas naturezas. A primeira era a má acentuação ou a acentuação irregular e variável. Isso, na opinião de Boyle, não só feria o ouvido, mas podia perturbar “o sentimento sério e religioso com que se deve cantar o louvor de Deus”. Ele observa nesse particular a notável diferença entre as versões dos salmos do Padre Caldas (Antônio Pereira de Sousa Caldas, 1762-1814), regulares e suaves na acentuação, e da Marquesa d’Alorna (Leonor d’Almeida Lorena e Lencastre, 1750-1839), bastante irregulares. O segundo tipo de defeito corrigido foi a violação da regra gramatical de que quando uma vogal segue outra breve as duas se unem para formar uma só sílaba.
O Rev. Boyle enviou o manuscrito do hinário ao Rev. James Theodore Houston (1847-1929), pastor da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, que o examinou minuciosamente, linha por linha, palavra por palavra. Deu sua opinião sobre o arranjo dos assuntos, sobre hinos e versos que julgava deverem ser eliminados, criticou algumas modificações feitas por Boyle e recomendou outras melhores. Também recomendou modificações que Boyle não havia feito e apontou erros de versificação, gramática e doutrina. O autor não chegou a publicar uma segunda edição, conforme esperava, pois faleceu apenas quatro anos depois, em 1892.
O hinário tinha o subtítulo “Para uso dos que adoram a Deus em espírito e verdade” (o mesmo de Cânticos Sagrados) e foi publicado em 1888 pela empresa Tipografia, Litografia e Encadernação a Vapor Laemmert & Companhia, do Rio de Janeiro. Cerca de metade dos hinos (303) são identificados como anônimos. A outra metade foi produzida por mais de 20 autores, sendo que 37 são da lavra de Boyle e 24 de Houston. Os demais, pela ordem de quantidade, são os seguintes: Marquesa d’Alorna – 73; Padre Caldas – 63; Antônio José dos Santos Neves – 29; Maria Guilhermina Loureiro de Andrade – 12; Manoel Antônio de Menezes – 11; Júlio Ribeiro – 8; Richard Holden – 8; Leônidas da Silva – 7; W. Holden – 5; José Manoel da Conceição – 4; Henry Maxwell Wright, Bernardes e Vieira – 3 cada; Alexander Blackford – 2; Ashbel Green Simonton, Miguel Torres, Eduardo Carlos Pereira, G. Dias, M. Wardlaw, Magalhães, Malhão e A.G.L.A. – 1 cada.
Existem dúvidas sobre a identidade de alguns desses personagens. W. Holden talvez seja o mesmo Richard Holden; G. Dias pode ser o ex-padre Guilherme Dias; M. Wardlaw talvez seja Mary Wardlaw (esposa do Rev. DeLacey Wardlaw). A.G.L.A. seria Maria Guilhermina Loureiro de Andrade? Não se sabe quem são Bernardes, Vieira, Magalhães e Malhão. Apesar de suas admiráveis qualidades, Hinos Evangélicos e Cânticos Sagrados teve uso limitado mesmo na igreja presbiteriana, sendo suplantado por seu principal concorrente, Salmos e Hinos.
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