HCC 318 – Que alegria é crer em Cristo
História
318. Que alegria é crer em Cristo
“Em ti confiam os que conhecem o teu nome” (Salmo 9.10).
NESTE MUNDO de hoje as palavras podem significar pouco. Às vezes perguntamos: “Em quem podemos crer?” Tantos votos quebrados! Tantas promessas não cumpridas! Tantas mentiras proferidas!
Quanto conforto, quanta alegria tem o crente em descobrir que há um nome em que ele pode confiar e há alguém em cujas promessas pode descansar!
Foi ao testar estas palavras e promessas na fornalha que a autora Louisa M. R. Steadpôde exclamar:
“Deus se coloca com todos os seus recursos para cumprir cada promessa que ele faz. É seguro confiar nele, porque sua palavra não falha”.1
Cristo! Cristo! Eu confio
em teu nome e em teu poder.
Cristo, meu Senhor amado,
faze minha fé crescer.
Num lindo dia de sol, Louisa, seu marido e sua filha Lily, de quatro anos, decidiram desfrutar umas horas na praia no Estreito de Long Island em Nova Iorque. Estavam se deleitando no seu lanche de piquenique quando ouviram uns gritos:
Socorro! Socorro! Viram um rapaz se afogando no mar.
O sr. Stead pulou na água, e apressou-se para salvar o rapaz. Infelizmente, como às vezes acontece, o rapaz puxou o seu livrador para baixo da superfície e os dois morreram diante dos olhos da esposa e filha.
Acredita-se que foi depois desta experiência trágica que Louisa Stead escreveu este hino. Como o pai do menino possesso do demônio que os discípulos não conseguiram exorcizar (Marcos 9.14-29), ela clamava a seu Salvador: “Cristo, Cristo, eu confio faze minha fé crescer”!
Deus supriu conforto e vitória a Louisa Stead. Pouco tempo depois, ela foi como missionária para a África do Sul onde trabalhou diligentemente por 15 anos, até que sua saúde forçou-a a voltar por um tempo aos Estados Unidos. Depois de um período de recuperação, voltou a trabalhar lá por mais 10 anos antes da sua aposentadoria.
Louisa M. R. Stead nasceu em cerca de 1850 em Dover, na Inglaterra, numa família cristã. Aos nove anos aceitou a Cristo e, quando jovem, sentiu que Deus a chamava para o campo missionário. As circunstâncias a levaram aos Estados Unidos, e lá, num camp meeting (ver HCC 190) em Urbana, Estado de Ohio, entregou sua vida para missões na China. Todavia, sua frágil saúde impediu-a de ser aceita pela Missão.
Em cerca de 1875, Louisa casou-se com o sr. Stead e Deus lhes deu a filha Lily. Aconteceu a tragédia contada aqui. Renovando a sua chamada, Louisa e Lily foram para a África do Sul, em 1880. Lá ela casou com Robert Wodehouse, um pastor metodista. Durante o período de recuperação de Louisa nos Estados Unidos, o pr. Wodehouse serviu em igrejas metodistas ali. Assistindo a uma conferência em Nova Iorque em 1900, o casal se apresentou de novo para voltar a servir na Rodésia do Sul, hoje Zimbábue (Louisa tinha 50 anos). Trabalharam mais 10 anos, até a saúde de Louisa forçar sua aposentadoria, mas permaneceram na África com a filha Lily, já missionária e casada no país.
Depois duma longa enfermidade, Louisa faleceu no seu lar, em 1917, a somente 80 quilômetros da Missão Umtali, onde trabalhara com tanta alegria. Esta extraordinária mulher que, ao enfrentar grandes dificuldades no seu ministério missionário, testificou: “Nossa suficiência está no Senhor”,2 foi enterrada numa sepultura cortada na rocha pura, na ladeira do Monte Preto, pertinho do seu lar. Um colega da Missão escreveu: “Sentimos muita falta dela, mas sua influência continua enquanto os nossos 5.000 cristãos nativos cantam continuamente:
Yesu, Yesu, ndino imba
Iye ano ndida wo.
Yesu, Yesu, wakanaka,
Une nyasha hur wo.3
O grande músico e publicador William James Kirkpatrick recebeu esta letra de Louisa Stead e musicou-a. Apareceu pela primeira vez na sua coletânea Songs of triumph (Cânticos de triunfo), em 1882, publicada com seu colega John R. Sweney (ver HCC 155). Que alegria é crer em Cristo continua a ser um hino de triunfo para muitos crentes. TRUST IN JESUS (Confia em Jesus), o nome da melodia, é o tema do hino e faz parte do título no original.
William James Kirkpatrick (1838-1921) foi um dos gênios dos gospel hymns (ver HCC 112) da grande época de evangelismo em massa que incluía outros nomes inesquecíveis como Ira D. Sankey, Dwight L. Moody, Fanny J. Crosby, Daniel W. Whittle, Philip P. Bliss e muitos outros. Nasceu em Duncannon, Estado de Pensilvânia, e recebeu seu primeiro treino musical com seu pai. Altamente dotado, continuou seus estudos com outros músicos destacados da época. Mudando-se para Filadélfia, tornou-se membro duma igreja metodista episcopal.
Editou sua primeira coletânea de cânticos dos camp meetings(ver HCC 293) aos 21 anos. Durante a guerra civil serviu como major dos pífaros (um instrumentista que sempre ia com o tambor-mor e porta-bandeira diante dos soldados) com os voluntários do seu estado. De 1862 a 1878 dirigiu uma empresa de móveis, ao mesmo tempo sempre atuando na música sacra.
Em 1878, deixando de lado os outros negócios, entrou totalmente no ministério da música. Diretor de música na sua igreja, também escreveu muitos hinos e muitas melodias para gospel songs. Ao longo dos anos associou-se com outros na publicação de mais de 100coletâneas de gospel hymns e de músicas corais. Wienandt e Young, no seu livro The anthem(O antema), além de falar da sua música para coros, declaram:
“Ambos (Sweney e Kirkpatrick) foram compositores proeminentes de gospel hymns cujas melodias foram enormemente benquistas”.4
O fato de mais de 60 dos seus hinos e melodias aparecerem nos hinários evangélicos no Brasil mostra a popularidade deste compositor. O Hinário para o culto cristão inclui, além desta, mais duas das suas lindas produções, nos números 336 e 416.
Kirkpatrick ficou viúvo duas vezes. Aos 80 anos casou-se com a viúva do seu grande amigo Sweney. Faleceu de um infarto aos 83 enquanto compunha um novo hino. Que melhor maneira para um grande hinista morrer?
Quando o missionário pioneiro Salomão Luiz Ginsburg traduziu este hino em 1910, já tinha confiado em Cristo nas mais difíceis circunstâncias: quando deserdado pela família judaica, quando atacado e deixado como morto num tambor de lixo, quando viu, após quatro meses de casado, a sua esposa morrer de febre amarela, quando ameaçado pelas multidões enfurecidas, quando jogado na prisão. Sempre perseverando, cantava:
Que alegria é crer em Cristo,
meu amigo e Salvador!
Andarei seguro sempre,
bem feliz em seu amor.
Ginsburg publicou o hino na segunda página de O Jornal Batista em 22 de setembro daquele ano. Desde o início, descobriu que essa era a melhor maneira de difundir novos hinos e traduções entre as igrejas. (Ver mais dados deste vibrante evangelista, “Pai do Cantor cristão”, no HCC 29)5
1. LEECH, Bryan Jeffrey. ‘Tis so sweet to trust in Jesus, Em. HUSTAD, Donald P., ed. The worshiping church. Worship Leader’s Edition, Carol Stream, IL: Hope Publishing Company, 1990. n.520.
2. STEAD, Louisa M.R. Em: REYNOLDS, William J. Companion to Baptist hymnal. Nashville, TN: Broadman Press, 1976. p.435.
3. REYNOLDS. Ibid.
4. WEINANDT, Elwyn A. and YOUNG, Robert H. The anthem in England and America. New York: The Free Press, 1970. p.309.
5. A autobiografia, Um judeu errante no Brasil, conta muito da desafiante história deste servo de Deus. A JUERP publicou a segunda edição em 1970. Recomenda-se a leitura deste valioso livro.