HCC 305 – Rocha eterna
História
305. Rocha eterna
“O Senhor vive; bendita seja a minha Rocha, e exaltado seja Deus, a Rocha da minha salvação“
(2Samuel 22.47).
ESTE HINO de louvor e oração a Cristo, a “Rocha eterna”, que morreu por nós, cujo sangue nos lava, e que oferece “perdão, pureza e salvação”, é um dos hinos mais difundidos e amados no mundo inteiro. Era o costume de Augustus Toplady escrever hinos para sua congregação cantar após o seu sermão. Este hino foi registrado depois do seu sermão sobre Gênesis 12.5. O tema principal da vida deste pastor anglicano era a suficiência da morte de Cristo para a nossa salvação. Toplady queria que todos entendessem bem que “nem trabalho, nem penar” contribuem para a nossa salvação, e que “nada eu tenho a te ofertar” (como reza a estrofe 3)1; é simplesmente confiando em Cristo, que somos salvos. Nele há “vida, paz e luz”, e a certeza que um dia, quem simplesmente crer nele subirá para o céu e verá seu rosto em glória!
Há diversas histórias sobre a inspiração da frase “Rocha eterna”, mas uma pesquisa cuidadosa revela a mais provável. No prefácio do hinário Hymns on the Lord’s Supper (Hinos sobre a Ceia do Senhor), publicado por Charles Wesley (ver HCC 72) em 1745, foram citadas algumas linhas de um sermão intitulado O sacramento e sacrifício do cristão pelo Dr. Daniel Brevint:
Não deixe que meu coração arda com menos zelo, para seguí-lo e serví-lo agora enquanto o pão está partido nesta mesa, do que ardiam os corações dos teus discípulos quando partiste o pão em Emaús, ó Rocha de Israel, Rocha de salvação, Rocha ferida e partida por mim. (…) Não deixe que minha alma tenha menos sede do que se eu estivesse com [seu povo] no Monte Horebe, onde jorrou a água da rocha partida (…) como jorrou o santo sangue das feridas do meu Salvador.2
A grande semelhança de fraseologia de Toplady no original dá crédito a esta posição. Toplady publicou uma estrofe deste hino em 1775, em The gospel magazine(A revista do evangelho), da qual era editor, juntamente com um artigo intitulado A vida é uma viagem. Depois de apresentar uma série de perguntas e respostas que demonstravam que a Inglaterra jamais poderia pagar sua dívida nacional, comparou isso com o homem e seus pecados. Calculou quantos pecados um homem poderia cometer até certas idades – até 20 anos, 30, 40 etc. Chegando aos 80, o total seria 2.522.890.000. Então apresentou a única solução, a que Cristo oferece, citando Gálatas 3.13:
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”.(…) Isto, isto não somente contrabalançará, mas infinitamente sobrebalançará todos os pecados de todo o mundo que crê.3
A poesia completa de quatro estrofes apareceu na mesma revista, em março de 1776. Este hino tem sido o consolo de pessoas em todos os continentes. Albert, o Príncipe-consorte da rainha Vitória, recebeu grande consolação dele e pediu que fosse cantado no seu culto fúnebre. Foi cantado nos funerais do primeiro ministro da Grã-Bretanha, William Gladstone. Ao ouvir o hino nesta ocasião, o hinólogo A.C. Benson declarou:
Ter escrito palavras que atendam à necessidade das pessoas em momentos de emoção profunda e de aflição consagrando, consolando, enaltecendo – dificilmente pode haver algo que tenha mais valor do que isto!4
Augustus Montague Toplady (1740-1778) nasceu em Farnham, no condado de Surrey. Seu pai, major no exército da Grã-Bretanha, foi morto no cerco de Cartagena (Espanha) pouco depois do seu nascimento. Estudou na renomada Escola Westminster, em Londres e, mudando-se a família para a Irlanda, fez o mestrado em artes na Faculdade Trinity em Dublin, capital.
Foi neste país que este culto jovem inglês teve a experiência que mudou sua vida. Decidiu ir a um culto dos metodistas wesleyanos, um braço calvinista da denominação. Foi a um celeiro, onde ouviu um evangelista leigo, James Morris, pregar sobre o texto de Efésios 6.13. Ali Toplady nasceu de novo! Nas suas próprias palavras:
Estranho, que eu, que tanto tempo estava exposto aos meios da graça, pudesse ser levado direto a Deus numa parte obscura da Irlanda, com um punhado de gente reunindo-se num celeiro, e pelo ministério de um que mal podia soletrar seu próprio nome. Certamente foi o Senhor que fez isto, e é maravilhoso. A excelência do poder tem que ser de Deus e não do homem.5
Julian nos afirma que o pregador Morris realmente não era tão mal instruído. Embora humilde, possuía um cérebro privilegiado e era um orador nato. Não foi a primeira nem será a última vez que um homem das grandes cidades julga mal a capacidade e a cultura do homem simples do interior.
Voltando à Inglaterra, Toplady foi consagrado ao ministério anglicano em 1762. Serviu em três igrejas e, de 1775 em diante, pregou numa igreja dos calvinistas franceses em Londres. Ardente calvinista, escreveu o livro Prova histórica da doutrina do Calvinismo da Igreja Anglicana. Travou, em boa tradição inglesa, um debate longo e acirrado com João Wesley sobre diferenças doutrinárias. Escreveu muitos hinos. Publicou um livro de poesia sacra e Psalms and hymns for public worship(Salmos e hinos para o culto público). Suas obras completas foram publicadas postumamente em seis volumes, em 1825.
Toplady, altamente respeitado como líder evangélico espiritual, faleceu muito jovem, aos 38 anos, de sobrecarga de trabalho e tuberculose. Pouco antes de morrer, disse:
Meu coração bate cada dia mais e mais forte para a glória. Enfermidade não é aflição, dor nenhuma causa morte, nenhuma dissolução (…) As minhas orações agora estão convertidas em louvor.6
Julian disse dele, que mesmo que fosse às vezes um homem de palavras impetuosas,
“uma chama de devoção genuína queimava na frágil candeia do seu corpo sobrecarregado e gasto. (…) Sua é a grandeza da bondade”.7
William Edwin Entzminger traduziu três das quatro estrofes deste hino, certamente nos primeiros anos do seu ministério, quando precisava muitas vezes de se abrigar na “Rocha Eterna”. (Ver dados deste grande hinista no HCC 91)
O HCC apresenta duas melodias para este hino. Esta, da dotada compositora batista Roselena de Oliveira Landenberger tem especial aceitação da nova geração. A melodia OTTMAR, composta em 1990, comunica muito bem a alegria do crente salvo por Cristo, e o prazer que sente de viver nele. Sobre o nome desta melodia a Roselena escreve:
Escolhi o nome de meu esposo Ottmar Landenberger, por ser ele sempre alegre, amigo, companheiro e compreensivo. Ele tem me apoiado em tudo, sempre me animando e isto é muito importante. Deus nos uniu para a sua glória, e eu sinto isto. O Ottmar também tem todos os méritos.8
Rocha eterna também aparece com a melodia tradicionalTOPLADY no Hinário para o culto cristão 307.
Sua métrica, adaptada à nova melodia OTTMAR, é 7.7.7.7.D. com repetição, como corrigido no HCC Digital. 9
1. Terceira estrofe de Rocha eterna como traduzida pelo rev. Manoel da Silveira Porto Filho em Salmos e hinos, n.408
2. BREVINT, Dr. Daniel. Em: REYNOLDS, William J. Companion to Baptist hymnal, Nashville, TN: Broadman Press, 1976. p.187. Brevint refere-se a Lucas 24.30-32, Números 20.11 e João 19.34.
3. J.F. Gospel magazine, mar. de 1776. Em: JULIAN, John, ed. A dictionary of hymnology, Dover Edition. New York: Dover Publications, 1957. (Grifos dele)
4. BENSON, A. C. Em: REYNOLDS. Op. cit., p.187.
5. JULIAN. Op.cit. p.187.
6. OSBECK, Kenneth W. 101 hymn stories. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1982. p.217.
7. JULIAN. Op.cit., p.1182 e 1183.
8. LANDENBERGER, Roselena de Oliveira. Carta à autora em 20 de março de 1991.
9. Dados atualizados por Leila Gusmão, supervisora do HCC Digital em 4 de abril de 2005.