HCC 269 – Finda-se este dia
História
269. Finda-se este dia
NÃO PRECISAMOS de um psicólogo para saber que o que mais nos roubam um bom sono à noite são as tensões, medos e pesos de consciência que carregamos conosco. John Newton (ver HCC 226), grande testemunha da graça de Deus, hinista e exímio escritor, escreveu sobre o culto doméstico:
Embora todas as horas sejam iguais para o Senhor e o seu ouvido esteja sempre atento a qualquer hora que temos o desejo de orar, é muito bom para nós começarmos e terminarmos o dia em oração: pela manhã, para reconhecer sua bondade (…) e procurar sua presença no curso do dia; à noite para louvá-lo pelas misericórdias do dia que passou, humilharnos diante dele por aquilo em que falhamos, esperar nele para a manifestação do seu amor perdoador eentregarnos a nós mesmos e aquilo que nos concerne ao seu cuidado e proteção enquanto dormimos.1
Certamente o pastor anglicano Sabine Baring-Gould cria nos mesmos princípios. Escreveu esta “primorosa e inigualável”2 oração vespertina para as crianças da sua igreja em Horbury Bridge, Inglaterra, em 1865. Baseou-se no trecho em Provérbios 3.24:
“Quando te deitares, não temerás; sim, tu te deitarás e o teu sono será suave”.
No Cantor cristão, foi atribuído, por engano, ao ilustre hinista dos irmãos boêmios, Petrus Herbert ( ? -1571), cujo hino, Die nacht ist kommen drin wir ruhen sollen(A noite veio em que devemos descansar) tem mensagem muito semelhante. Pai, sê conosco, no hinário Cantai ao Senhor (n.41) é a tradução do hino de Herbert.
Neste hino, Baring-Gould sabiamente relembra a criança (e a todos nós) que, quando o escuro cai, Cristo está conosco. Não há o que temer. A estrofe 2 confessa o pecado e pede o perdão ao Salvador. Pede também, como Jesus nos ensinou a orar em Mateus 6.13, que nos livre do mal, sabendo que assim teremos sossego. Na versão de João Gomes da Rocha, na estrofe 3, louva a Deus pelos pais e amigos, pelas santas escrituras e pelo amor divino que salva. Conclui pedindo que Jesus aceite a petição. Esta oração cantada é predileta de igrejas batistas deste Brasil afora.
Esta poesia de seis estrofes de Sabine Baring-Gould apareceu no periódico Church times (Tempos eclesiásticos) em 1865, e em 1868, no célebre Hymns ancient and modern (Hinos antigos e modernos), com a melodia do autor. Dali seu uso difundiu-se ao redor do mundo.
Na versão de João Gomes da Rocha, escrita em 1898 e publicada nos Psalmos e hymnos com músicas sacras em 1889, o hinista procurou captar a mensagem das seis estrofes de Baring-Gould em quatro. O Hinário para o culto cristão inclui as estrofes 1, 2 e 4 da versão do Dr. Rocha. (Ver dados deste profíquo hinista e hinólogo no HCC 2)
Sabine Baring-Gould (1834-1924) teve uma vida longa e muito produtiva, servindo ao Senhor. Nasceu em Exeter, na Inglaterra, filho prodígio de um abastado fazendeiro. Muito chegado à sua mãe, foi com ela que Sabine aprendeu sentir responsabilidade para com os pobres. Seu pai levou a família a viajar pela Europa por 13 anos. Quando foi estudar em Cambridge aos 19 anos, já falava seis idiomas. Bacharelou-se e fez o Mestrado em Artes na Universidade. Durante seus estudos, foi diretor duma Escola Coral em Londres. Ordenado na Igreja Anglicana em 1865, serviu em algumas paróquias.
Durante os primeiros anos do seu ministério, Baring-Gould apaixonou-se pela filha de um operário. Solicitou permissão aos pais para fazê-la estudar, no que foi atendido. Esperou pacientemente que ela se formasse para se casarem, sendo muito felizes. Quando ela faleceu oito anos antes dele, Sabine colocou na lápide do seu túmulo.