HCC 238 – A Deus, o Pai e Benfeitor

História

238. A Deus, o Pai e Benfeitor

A Deus, o Pai e Benfeitor,

vós, homens e anjos, dai louvor.

A Deus, o Filho, exaltai.

A Deus, o Espírito, glória dai.

ESTAS QUATRO LINHAS de Thomas Ken talvez sejam mais conhecidas do que quaisquer outras de qualquer hino. É verdadeiramente a doxologia dos evangélicos. Seu texto fez parte doManual of prayers for the use of the scholars of Winchester College (Manual de oração para os alunos da Faculdade Winchester), escola pela qual Ken foi responsável por algum tempo. Para o bem espiritual de cada menino da sua escola, Ken colocou três hinos (matutino, vespertino e noturno) na cabeceira da cama de cada um deles, com a exortação: “É bom em toda hora louvar ao Senhor”. Cada um dos três hinos terminou com esta doxologia. Embora escritos antes, Ken os publicou no manual em 1695. Revisou-os em 1709, colocando-os na forma usada hoje.

Doxologias ou expressões de louvor a Deus existem desde os aleluias, que querem dizer “Louvai a Jeovah (Senhor)”, do Antigo Testamento. No Novo Testamento, doxologias são achadas em trechos como Romanos 16.27, Efésios 3.21, Judas 25 e Apocalípse 5.13. Na prática da Igreja primitiva, usou-se o Gloria in excelsis (Glória a Deus nas alturas) do trecho de Lucas 2.14. Com o surgimento da heresia ariana que negava a divindade de Cristo, as congregações adicionaram a prática de louvor específicamente ao trino Deus: Deus Pai, Deus Filho, e Deus Espírito Santo, numa doxologia chamada Gloria Patri (Glória ao Pai). Não é de se surpreender que esta doxologia de Ken se tornasse um hino em si, uma doxologia moderna.

Thomas Ken (1637-1711), um homem de princípios firmes, que causaram sua prisão e poderiam ter-lhe custado a vida, nasceu em Berkhampstead, no condado de Hertford, na Inglaterra. Ficou órfão na infância e foi criado por sua meia-irmâ Ann e seu marido, o famoso autor Isaac Walton. Educado na Faculdade Winchester, Hart Hall e na Universidade Oxford, foi ordenado em 1662. Pastoreou diversas igrejas até 1666, quando voltou a Winchester, servindo de diversas maneiras através dos anos. Possuía uma bela voz e acompanhava seus hinos com a viola ou a espineta (pequeno piano).

Nos anos seguintes Ken viveu em círculos influentes. Foi capelão da Princesa Maria, em Haia, e mais tarde na corte de James II, que o considerou o mais eloquente dentre os pregadores protestantes. O rei Charles II disse sobre ele: “Vou a Ken para ouvir dele as minhas falhas.”1 De fato, em nenhuma circunstância Ken comprometeu os seus princípios, mesmo que isso lhe custasse sua posição ou a prisão. “A santidade do seu caráter, sua combinação de ousadia, gentileza, modéstia e amor tem sido universalmente reconhecido.”2 Ken aposentou-se do bispado3 em 1691. Suas caridades deixaram-no com insuficiente sustento, mas, dali em diante, até sua morte, foi acolhido por seu amigo, Lord Weymouth. Suas obras poéticas foram publicadas em quatro volumes em 1721.

A melodia OLD HUNDREDTH foi composta ou adaptada por Louis Bourgeois para a edição do Saltério Genebrino em 1551, e usada com o Salmo 134. William Kethe transferiu a melodia para o Salmo 100 (HUNDREDTH) para o Anglo-genevan psalter (um Saltério genebrino traduzido para o inglês) em 1561, e é com este salmo que tem sido cantado por 400 anos. A palavra “old” refere-se à Versão antiga dos salmos de Sternhold e Hopkins de 1562, que “por mais de duzentos anos (….) manteve lugar de proeminência nos corações do povo comum da Inglaterra”.4 Para o uso como doxologia como é cantada hoje, foi feita uma alteração do ritmo para a forma binária, e o valor do tempo de cada sílaba é igual, com uma fermata no fim de cada linha. Embora isto não embeleze a melodia, simplifica a sua execução. A indicação no Hinário para o culto cristão de OLD HUNDREDTH, alt. é devida à necessidade de uma sílaba a mais na quarta frase, assim fazendo a métrica 8.8.8.9.

O compositor Louis Bourgeois, nascido em 1510 em Paris, França, tornou-se discípulo de João Calvino e mudou-se para Genebra em 1541. Foi nomeado cantor (solista e dirigente do canto congregacional) na Igreja São Pedro e regente do coro, em 1545. Calvino lhe deu a responsabilidade de preparar melodias para os salmos metrificados para um saltério já em preparo. Um saltério parcial foi publicado em 1542. Bourgeois usou, como ponto de partida, o Saltério de Strasburgo, de Calvino. Alterou algumas melodias, trocou outras e compôs novas também.

De 1542 a 1557, Bourgeois serviu como redator musical para as edições sucessivas do Saltério genebrino. Não se sabe exatamente com quantas melodias originais ele contribuiu para estas edições, mas a importância e a qualidade da sua obra é demonstrada pelo fato dele ter sido responsável pela forma final de 85 das 105 melodias e 110 métricas no saltério completo de 1562.

Bourgeois foi preso em Genebra em 1551, acusado de fazer alterações não autorizadas em algumas melodias bem conhecidas. Calvino conseguiu libertá-lo em vinte e quatro horas, e as suas alterações foram mais tarde sancionadas! Desta data em diante Bourgeois teve dificuldades com as autoridades de Genebra que estavam em oposição às mudanças que ele propôs e à introdução de harmonia a quatro vozes preferida por ele. Voltou a Paris em 1557, publicou uma coleção de salmos harmonizados em 1561 e ali desapareceu da história. Suas melodias, com o uso freqüente do padrão de quatro notas em linha descendente (ver OLD HUNDREDTH) implicam numa saída dos modos eclesiásticas para as escalas maiores e menores, mudança radical e duradoura para a salmódia e, em conseqüência, para a hinódia. O HCC inclui, no número 387, a melodia de Bourgeois para o Salmo 5, O meu clamor, ó Deus atende, cantado no primeiro culto evangélico no Brasil.

A inigualável missionária pioneira Sarah Poulton Kalley traduziu este hino em 1861, seis anos depois da sua chegada ao Brasil, publicando-o na primeira edição de Psalmos e hymnos (letra somente). Ver dados de D. Sarah no HCC 40.

1. JULIAN, John, ed.. A dictionary of hymnody.Dover Edition, New York: Dover Publications, 1957. p.616.

2. Ibid. p. 617.

3. Ver descrição dos postos da Igreja Anglicana na nota n.2 do HCC 60.

4. KEITH, Edmond D. Hinódia cristã. 2ª ed. revista e atualizada, Trad. OLIVER, Bennie May. Rio de Janeiro: JUERP, 1987. p.65.

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