HCC 226 – Este é o dia do Senhor
História
226. Este é o dia do Senhor
“Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil” (Salmo 84.10).
Ao começar uma nova semana,John Newtonpede a paz e perdão do nosso Pai e, ao cultuá-lo, declara a dependência nele para o futuro. Há muitos anos a letra deste hino é cantada pelos batistas brasileiros, sendo que no HCC ela vem aliada a outra melodia. Certamente foi bem recebida pela igreja em Olney, localizado no condado de Buckinghamshire, Inglaterra, na qual Newton servia. O hino foi publicado no hinário Psalms and hymns (Salmos e Hinos) em 1774, e, depois, na coletânea Olney hymns, Book II, de Newton e Cowper, em 1779. Seu título original era Sábado à noite, mas, sendo destinado para o culto matutino no domingo, recebeu o novo título,
John Newton nasceu em Londres, em 24 de julho de 1725. Até sete anos, teve o carinho e ensino da sua piedosa mãe, membro duma igreja dos dissidentes. Diligentemente ela o ensinou. Aos quatro anos, John lia fluentemente. Aos seis, lia Virgílio em latim. Teve uma mente perspicaz e uma memória retentiva. Escreveria mais tarde:
Minha mãe armazenou minha memória (….) com muitas peças valiosas, capítulos e porções das Escrituras, catecismos, hinos e poemas. Quando o Senhor, muito mais tarde, abriu os meus olhos, achei grande benefício em relembrá-los.1
Mas, com a morte dela, John perdeu sua oportunidade de ser criado no evangelho. Passou dois anos numa escola onde seu tratamento era severo e sem amor. Aos onze, foi ao mar com seu pai, homem duro e seco. Nos anos vindouros, na sua rebeldia, foi de mal para pior, descendo cada vez mais na degradação. Mais tarde achou-se tripulante num “navio negreiro”, onde juntou-se ao tratamento cruel dos infelizes escravos. Foi traído e deixado preso numa ilha, onde os seus maus tratos não o mataram pela bondade de escravos ao seu redor. Seu pai, chegando a saber da condição do seu filho por uma carta, secretamente enviada, conseguiu sua libertação.
Voltando para a Inglaterra no navio Greyhound, na providência de Deus, Newton havia achado e, no seu tédio, lido o livro A imitação de Cristo, de Thomas A Kempis. De repente, a nau foi pega numa tempestade tremenda. Seu lado foi desmoronado e muitos tripulantes foram levados ao mar, sem mastro; todas as provisões perdidas, o navio, por 27 dias, flutuou a ermo. Todos a bordo, famintos e congelados, viveram entre a vida e a morte. Newton cria que sua morte estava iminente! Foi ali que ele viu a sua condição de pecador. “Voltou dramaticamente a Deus, repudiou sua vida de depravação, e chorou lágrimas de arrependimento”.2
Pela graça de Deus, o navio não afundou. Newton, o mais blasfemo dos tripulantes, nunca mais usou o nome de Deus em vão. Lia o Novo Testamento enquanto seus companheiros o miraram em espanto. Quando, milagrosamente, o Greyhoundchegou em terra perto de Londonderry ao norte da Irlanda, no dia 8 de abril, o primeiro ato de Newton foi de procurar uma igreja e lá orar.3
A graça de Deus continuou a fazer sua obra na vida de Newton. Foi crescendo espiritualmente. Casou-se com Mary Catlett, uma excelente moça, a quem havia amado muito tempo. Voltou ao mar, capitão de outro navio negreiro. Nos seus navios mantinha cultos e procurou educar-se com um ambicioso programa de estudo de bons livros. Anos depois, ao crescer muito mais na fé, lamentou profundamente ter feito parte deste nefando tráfico, descrito tão dramaticamente pelo famoso poeta brasileiro Castro Alves. Tornou-se “forte e eficaz guerreiro contra a escravidão”.4
Em 1754, Newton deixou o mar. Estabelecendo-se em Liverpool, trabalhou no porto e começou a preparar-se para o ministério. À noite, depois do seu trabalho, estudou teologia, hebraico, grego e os clássicos. Lá recebeu muita influência de George Whitfield e João Wesley, e em 1758, começou a pregar. Ordenado pela igreja anglicana (com o auxílio de Lord Dartmouth e a Condessa Huntington, dois evangélicos de prestígio), foi nomeado para a pequena paróquia de Olney, no condado de Buckinghamshire, permanecendo ali por 15 anos. Ali começou um frutífero e influente ministério.
Newton começou muitas inovações. Usava histórias no púlpito, especialmente a da sua conversão. Além dos cultos na sua igreja, conseguiu um auditório grande e lá ensinava as crianças, de tarde, e aos adultos à noite. Grandes multidões foram ouvir o “velho capitão” e foram alcançadas desta maneira. Outra inovação: em vez de cantar somente os salmos métricos nos cultos, como era aceitável nas igrejas anglicanas, começou a usar hinos e,
“querendo expressar a religião simples do coração que ele estava ensinando, começou a escrevê-los”.5
Pediu o auxílio do seu grande amigo William Cowper. Queria ter um hinário que fosse “um livro de instrução na fé evangélica, para ser cantado, lido e decorado.” Assim, com a cooperação de Cowper, publicou a célebre coletânea Olney hymns, em 1779, hinário ao estilo Wesley, para a qual contribuiu com 280 textos. Há um bom número dos seus melhores textos ainda em uso mundialmente, depois de dois séculos. O Hinário para o culto cristão inclui seu famoso hino de testemunho Preciosa a graça de Jesus no número 314.
Newton nunca se esqueceu do seu passado. Colocou na parede do seu escritório uma placa com o versículo:
“Pois lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te resgatou” (Deuteronômio 15.15).
No púlpito, usava o uniforme de marinheiro – com uma Bíblia numa mão e o hinário na outra”6 – isso numa igreja anglicana onde o pregador usaria beca. Achou importante relembrar a si mesmo e aos outros, o quanto a “preciosa graça de Jesus” havia feito por ele.
Depois de Olney, Newton foi escolhido para pastorear uma das maiores igrejas em Londres, onde permaneceu por 28 anos até sua morte em 1807,
“justamente o ano que o bom William Wilberforce, cuja conversão Newton encaminhou, conseguiu que o Parlamento aprovasse a lei que abolisse para sempre a escravidão em todas os domínios da Grã Bretanha”.7
Newton tornara-se o conselheiro espiritual de Wilberforce, e poucos meses antes da sua morte teve o prazer de parabenizar o estadista por seu sucesso, depois de um heróico esforço de 45 anos.
Alguns consideraram que o maior dom espiritual deste servo de Deus era o de lidar com pessoas uma por uma. Os publicadores das suas cartas chamaram-no de “diretor de almas no movimento evangélico”.8 Foi descrito como “o escritor de cartas par excelence do Reavivamento evangélico”.
A Newton
“foi dado um conhecimento do coração humano e de como o Senhor lidava com seu povo”.9
Todas as terríveis experiências da sua vida, sua conversão e chamada para o ministério, deram-lhe fama e
“as pessoas vinham a ele para conselho e auxílio. (….) Viam nele alguém que podia entendê-los e entrar nas suas experiências com ternura e simpatia”10
Muitos que não podiam vê-lo em pessoa procuraram sua ajuda por carta. Newton entendeu a importância deste ministério. Foi muito diligente em praticá-lo. Escreveu:
“É a vontade do Senhor que meu ministério maior seja por minhas cartas”.11
O rev. George B. Nind, missionário metodista que muito auxiliou o ministério de Salomão Ginsburg, traduziu este hino em 1894.
George Benjamin Nind (1860-1932), o cunhado do dinâmico Justus Nelson, foi enviado ao Brasil pela Igreja Metodista Episcopal do Norte dos Estados Unidos. Permaneceu no Recife de 1882 até 1892. Foi lá que conheceu Salomão Ginsburg, que o descreveu como:
Um dos melhores auxiliares (na pregação ao ar livre), um verdadeiro cristão. Para seu sustento, ensinava música em algumas das melhores escolas e colégios. Cada domingo à tarde, ele estava ao nosso lado (….) com o seu chapéu cartola e paletó a príncipe Alberto, e dirigia o cântico de hinos.12
Num desses cultos, numa confusão causada por dois ébrios, o rev. Nind e Ginsburg terminaram sendo presos. Esta prisão causou uma grande movimentação. A igreja orava por eles. O vice-presidente do Estado foi pessoalmente libertá-los e pedir desculpas.
“Quando nos libertamos”, conta Ginsburg, “o salão estava repleto de ouvintes. O Senhor nos deu muitas almas naquele noite. Foi uma grande recompensa ao pouco que sofremos.”13
Nind também auxiliou o casal Entzminger, oferecendo sua casa a eles durante o ano em que estariam nos EUA.
Por causa da saúde da sua esposa, o rev. Nind se transferiu para a Ilha da Madeira em 1892 e, posteriormente, trabalhou entre os portugueses no Estado de Illinois, EUA, onde veio a falecer.
Juntamente com o Bispo J.C. Hartzell, Nind preparou o Manual de doutrina e culto na Igreja Metodista-Episcopal, publicado em 1899, cuja primeira parte consistia de um hinário, com 191 hinos. Também fez parte na comissão do primeiro Cancioneiro (em português) para o Exército da Salvação em 1922. Traduziu vários hinos para o português. O Hinário para o culto cristão inclui além desta, outra excelente tradução, Que segurança! Sou de Jesus! (HCC 417).
No Hinário para o culto cristão, o hino de Newton aparece com uma nova roupagem musical.
O eminente compositor e regente, Buryl Red, compôs a melodia RAYMER em 1971. Esta melodia apareceu pela primeira vez num antema coral publicado por Broadman Press, foi adaptada para a melodia do hino Pela graça e o primor, para o Baptist hymnal (Hinário Batista), de 1975, e recebeu seu nome em homenagem a Elwyn C. Raymer. Neste arranjo, o hino começa com o estribilho, que anuncia: “Este é o dia do Senhor”. Enfatiza muito melhor a sua mensagem. Seu estilo mais rítmico e moderno tem um gosto “quase brasileiro” e é muito agradável de cantar. João Newton, que introduziu o cântico de novos hinos cada domingo na sua igreja, aprovaria.
Buryl Red nasceu em Little Rock, Estado de Arkansas, EUA, em 7 de outubro, de 1936. Bacharelou-se em Música pela Universidade Baylor, Estado do Texas, em 1957, e fez mestrado em música na célebre Universidade Yale em 1961. Recebeu doutorados em música (honoris causa) em duas destacadas faculdades batistas. Foi ministro de música da Igreja Batista de Manhattan, da cidade de Nova Iorque, de 1962 a 1971. Desde 1961, serviu em várias áreas: editor, produtor e assessor aos publicadores de textos e gravações para educação musical. É assessor de projetos com a Comissão de Rádio e Televisão da Convenção Batista do Sul (CBS). Continua a gravar material para o departamento pré-escolar da Junta de Escolas Dominicais da denominação. Desde 1969 rege “The Centurymen”, coro masculino de cem ministros de música da CBS que muito brilhou nas igrejas batistas no Brasil quando aqui vieram em 1982 e novamente em 1998. Num aparecimento do grupo na televisão chinesa, em 1989, fizeram o primeiro programa de música religiosa televisado naquele país comunista. O documentário da emissora NBC, que incluia uma parte daquele evento histórico, ganhou o prêmio Emmy do ano.
Como orquestrador e arranjador, sua atuação se estende ao teatro e à televisão comercial. Atualmente prepara edições de clássicos antigos, começando com o Magnificat, de Pergolesi. Dirige as companhias BRProductions e Generic Music, em Nova Iorque.
Por meio de suas composições, que são conhecidas pelo seu sabor contemporâneo, pelas memoráveis melodias e pelo sério som coral, Buryl Red tem ajudado a direcionar o rumo da música sacra por mais de vinte anos.14 As cantatas e musicais para a juventude15 de Red se destacam no mundo inteiro. Celebrate life (Celebração), Beginnings (Princípios), Está frio na fornalha, Atos, Reconciliation (Reconcialição) e Christmas time (Tempo de Natal) são alguns dos mais conhecidos.16
Arranjos de Red apareceram no Brasil nas coletâneas Pelo mundo inteiro cantai, algumas edições de O Coral Sinfônico, Sinais dos tempos, Cânticos para vozes masculinas, v.II (JUERP), e na revista Louvor (JUERP). Quantos coros das igrejas trouxeram bênçãos para o povo cantando o seu antema Em memória de mim (p. 104 da cantata Celebração)!
O maestro Buryl Red foi o regente convidado para o congresso da Associação de Músicos Batistas do Brasil em São Paulo, em janeiro de 1993. Regeu o grande coro e orquestra no repleto Teatro Sérgio Cardoso, e o coro na 73a Assembléia da Convenção Batista Brasileira no ginásio do Ibirapuera, ambos em São Paulo. Em Nova Iorque Buryl está preparando um grande projeto, no qual gravará noventa CDs para um novo currículo de livros didáticos sobre música. Este trabalho, chamado The world of music (O mundo da música), incluirá a gravação de música clássica, folclórica e popular do mundo inteiro. Certamente o mundo será ainda mais abençoado com este extraordinário músico e compositor.
1. NEWTON, John. An authentic narrative, Letter 2, Newton’s Works, Edinburg, 1849. p.3 Em: GRAHAM, Ruth Bell. Prodigals and those who love them. Colorado Springs, CO: Focus on the Family Publishing, 1991. p.28.
2. Ver: APPLEYARD, Simon. The amazing life of John Newton, This England, Summer 1984. p.71-74.
3. Ibid.
4. OSBECK, Kenneth W. 101 hymn stories. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1982. p.29.
5. BAILEY, Albert Edward. The gospel in hymns. New York: Charles Scribner’s Sons, 1950. p.126.
6. BONNER, Clint. A hymn is born. Nashville, TN: Broadman Press, 1959. p.32.
7. BAILEY. Op. cit., p. 126.
8. NEWTON, John. Letters of John Newton, Introduction. London: The Banner of Truth Trust, 1960., p.8.
9. Ibid., p.9.
10. Ibid.
11. Ibid., p.10.
12. GINSBURG, Salomão L. Um judeu errante no Brasil, Trad. SOUZA, Manoel Avelino de, 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP), 1970. p.54-55.
13. Ibid.
14. BRAZZEAL, David. Ligando passado e futuro. Louvor, Ano 16, v.2, n.55. Abr/maio/jun, 1993. Seção Conversa afinada, p.4.
15. Musicais: Os musicais para a juventude começaram a aparecer na música evangélica nos anos sessenta. “Produções semidramáticas desenhadas tanto para apresentação dentro da igreja como para ser veículos para levar a mensagem da fé fora da igreja e para a sociedade secular.(….) Muitas vezes incluem ao menos um cântico adaptado para o canto congregacional.”
16. HAMMOND, Paul. Em: FORBES, Wesley L., ed. Handbook to the Baptist Hymnal. Nashville, TN: Convention Press, Southern Baptist Convention, 1992. p.433.