HCC 224 – Vós, criaturas de Deus Pai

História

224. Vós, criaturas de Deus Pai

Durante os últimos anos da existência de São Francisco de Assis, chamado “Poverello” (homenzinho pobre), achava-se cansado e doente. Em 1225, o ano anterior ao seu falecimento, enquanto passava pelos maiores sofrimentos sem sequer murmurar, compôs um salmo de grata adoração que intitulou Il cantico delle creature (O hino das criaturas).

Conta-se que foi escrito durante um verão extremamente quente, enquanto “Poverello”, deitado numa esteira rústica dentro duma casa de palhas, em São Damião, sofria intensas dores com uma infecção nos olhos. Não podia aguentar qualquer luz e era atormentado constantemente pelos ratos. Mesmo assim, no meio de todo o seu desconforto e sofrimento, escreveu estas linhas belas e alegres.1

O último verso, começando “Louvado sejas, bom Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal”, que não foi incluído nas versões em inglês e português, mostrava a prontidão do seu autor para ir estar com seu Senhor.

São Francisco de Assis (c.1182-1226) não nasceu pobre. Filho de um comerciante rico de Assis, Itália, Giovanni Francesco Bernadone começou a vida em extravagâncias, procurando os prazeres deste mundo. Mas um dia, depois de sofrer uma doença séria, sua vida mudou. Abandonando todas as suas possessões materiais,

“São Fransisco de Assis dedicou-se de corpo e alma ao serviço dos pobres e aflitos”.2 

Sua abnegação, amor e zelo atrairam um grupo de seguidores que mais tarde formaram a Ordem dos Franciscanos, fundada sobre humildade, simplicidade, pobreza e oração. Ninguém, entretanto, conseguiu igualar o exemplo do homem que se esforçou

“talvez mais do que qualquer outro homem, para imitar a vida e o espírito de Jesus”.3 

Francisco de Assis e o seu grupo escaparam por pouco da ceifa da Inquisição, que exterminou outros grupos de protesto, porque

“o Movimento Franciscano era realmente uma heresia, uma revolta contra a regimentação de doutrina e vida, em busca da liberdade e do amor dos ensinos originais de Cristo”.4 

Este hino, que é considerado o mais antigo poema religioso na língua italiana, é somente um dos muitos cânticos que ele criou. Esses cânticos eram expressões de um homem que se regozijava no Senhor, enquanto sentia muita tristeza pelos pecados do mundo e pelo sofrimento de Cristo.

Sugere-se intercalar as estrofes deste hino com os versículos do Salmo 148, no qual evidentemente foi inspirado. O periódico, Sinos n.4, publicado pela Imprensa Metodista em 1948, incluíu 5 estrofes deste poderoso hino de adoração. A segunda estrofe, que não aparece no Hinário para o culto cristão, diz assim:

Tu, forte vento a soprar,

vós, nuvens que pairais no ar,

oh, louvai-o, Aleluia!

Tu, linda aurora em teu albor,

tu, suave ocaso multicor

oh, louvai-o, oh, louvai-o,

aleluia! Aleluia!

Aleluia! 5

O hinólogo inglês,Dr. William H. Draper (1855-1933), que levou para o inglês muitos hinos latinos e gregos, fez uma excelente versão deste hino entre 1899 e 1919. Esta versão ganhou a linda melodia, LASST UNS ERFREUEN (Regozijemo-nos), da coletânea Geistliche kirchengesänge (Cânticos espirituais da igreja), publicada em Colônia, na Alemanha, em 1623. Por causa da nítida semelhança desta melodia com outras do século 16, alguns acham que há nas suas frases linhas comuns à hinódia daquele século, usadas à vontade pelos compositores posteriores.

A versão de Draper foi habilmente traduzida pelo prof. Isaac Nicolau Salum, Jorge Cesar Mota e outros em cerca de 1948. Ver dados de Isaac Salum no HCC 104.

1. KEITH, Edmund D. Hinódia cristã, 2ª ed., revista e atualizada, trad. de OLIVER, Bennie May. Rio de Janeiro: JUERP, 1987, p.40.

2. REAM, Ethel D. Sinos n.4, São Paulo: Imprensa Metodista, 1948, p.24.

3. KEITH, Loc. cit.

4. BAILEY, Albert Edward. The gospel in hymns. New York: Charles Scribner’s Sons, 1950, p.261.

5. REAM, Loc. cit.

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *