HCC 219 – Deus nos deu mensagem santa
História
219. Deus nos deu mensagem santa
Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2Timóteo 3.16)
Sarah Poulton Kalley escreveu esta letra em 1873, publicando-a na quarta edição dos Psalmos e hymnos, aumentada e revista, no mesmo ano. O casal Kalley pessoalmente custeou esta edição como também várias outras.
“Era constante a preocupação do casal Kalley em abrir escolas primárias junto às igrejas que iam fundando”.1
Por causa das leis do Brasil sob a monarquia e a falta de professoras idôneas,
“foi possível fazê-lo dezessete anos depois da sua chegada no Brasil”.2
Uma escola gratuita foi aberta no Rio de Janeiro em 1871, outra em Niterói no mesmo ano, e ainda outra em Cascadura, na cidade do Rio de Janeiro, em 1873. D. Sara Kalley procurou preparar hinos adequados para estas escolas. Podemos imaginar esta talentosa missionária pioneira à sua mesa, com a Bíblia aberta, e alguns hinários britânicos à mão, se dedicando a escrever este hino sobre a Bíblia para todos os alunos destas escolas e para as Escolas Bíblicas Dominicais das igrejas que iam sendo fundadas.
A historiadora Henriqueta Braga fala da extraordinária contribuição do casal Kalley à hinologia brasileira:
O casal Kalley foi, na Divina Providência, o verdadeiro baluarte da hinologia evangélica brasileira. Para isto, achavam-se os dois magnificamente preparados: eram, antes de tudo, cristãos consagrados; além disso, possuíam fina educação aliada à sólida cultura e a notáveis dons artísticos. Ambos escreveram hinos originais e traduziram inspirados cânticos (dos cento e oitenta e dois números que hoje (1960) se encontram em Salmos e Hinos com a inicial K, cento e sessenta e nove foram produzidos por D. Sara e, treze, pelo Dr. Kalley).3(Ver outros dados da D. Sarah no HCC 40)
A Comissão Coordenadora de o Cantor cristão de 1958 achou por bem incluir este texto, com o título A palavra da vida. Concordando com esta escolha mas, frente à necessidade de atualizar a linguagem deste importante hino de D. Sarah, escrito 120 anos atrás, a Subcomissão de Textos do Hinário para o culto cristão achou aconselhável alterar o texto em alguns lugares.
A métrica deste hino é 8.7.8.7.11., como corrigida nas edições mais recentes do Hinário para o culto cristão. 4
A Subcomissão de Música do Hinário para o culto cristão, procurando uma boa melodia para este texto, a pedido da Comissão Coordenadora do HCC, achou a singela melodia HEBER, composta em 1868, por Edward John Hopkins, para hinário Hymns of the christian life (Hinos da vida cristã), número 75.
Edward John Hopkins (1818-1901), cuja vida atravessou, quase por completo, o século 19, nasceu em Westminster, Londres, na Inglaterra. Foi corista da Capela Real como menino, estudando teoria com T.F. Walmsley. Decidido a fazer da música a sua vocação, tornou-se organista, servindo em três igrejas sucessivas entre 1834 e 1843. Assumiu a posição de organista da Igreja Temple, em Londres, naquele ano, continuando ali por 45 anos. Sob sua direção durante aquele tempo, o canto coral da igreja alcançou um nível muito alto.
Hopkins compôs muita música para cultos, hinos e chants5 e muitas peças corais que se tornaram repertório regular na Igreja Anglicana. Em 1855, escreveu The organ: its history and construction, (O órgão: sua história e construção), ainda hoje considerado um livro padrão. Altamente respeitado como editor de hinários, completou The Wesleyan tune book (O livro Wesleyano de melodias), depois da morte de Gauntlett (ver HCC 107) e Cooper, seus compiladores. Foieditor musical do Congregational church hymnal (Hinário da Igreja Congregacional, 1887), contribuiu com artigos para o prestigioso Grove’s dictionary of music and musicians (Dicionário Grove de música e músicos) e várias outras publicações musicais.
Em homenagem à sua grande contribuição à música sacra, foi conferido a Hopkins o doutorado em música (honoris causa) pelo Arcebispo de Canterbury em 1882 e da Faculdade Trinity, em Toronto, no Canadá quatro anos depois.
O Hinário para o culto cristão também inclui a famosa melodia ELLERS de Hopkins, no número 383.
1. BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música sacra evangélica no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1962k, p.113.
2. Ibid., p.114.
3. Ibid., p.125.
4. Dados atualizados por Leila Gusmão, supervisora do HCC Digital em 4 de abril de 2005.
5. Anglican Chants – tipo simples de melodia harmonizada usada na Igreja Anglicana, [e hoje, em outras igrejas protestantes] para o canto de textos não metrificados, principalmente os Salmos e c]anticles (trechos bíblicos fora dos Salmos). [Consiste de] uma melodia curta repetida para cada versículo do texto, a variedade das sílabas sendo acomodada nas linhas diferentes pelo mecanismo de uma nota de recitação no início de cada linha, (…) servindo como veículo de muitas ou poucas sílabas, enquanto as notas seguintes são cantadas no compasso indicado e normalmente tem uma sílaba cada. A primeira parte do chant inclui 3 compassos e a segunda parte, 4. (KENNEDY, Michael. ed. The concise oxford dictionary of music. Third Edition, New York: Oxford University Press, 1980. p.20.) Diversos destes chants foram incluídos no hinário brasileiro Alleluias, da Igreja Metodista Episcopal, publicado em 1951. Às vezes são chamados cantochão (ver p.439ss do referido hinário).