HCC 132 – Rude cruz

História

132. Rude cruz

Levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1Pedro 2.24).

GEORGE BENNARD, o autor e compositor deste hino, um dos mais amados no mundo inteiro, estava de volta de uma série de conferências evangelísticas nos Estados de Michigan e Nova Iorque, EUA. Estava passando por uma dura provação. Começou a refletir seriamente sobre o significado da cruz, e o que o apóstolo Paulo queria dizer quando falou da “participação dos seus sofrimentos” (Filipenses 3.10). Enquanto Bennard meditava sobre estas verdades,

“se convenceu de que a cruz era muito mais do que um símbolo religioso, era o coração do evangelho.”1 

Foi neste tempo que este hino nasceu.

Bennard conta a história:

“A inspiração me veio em um dia em 1913, enquanto estava em Albion, Michigan, EUA. Comecei a escrever Rude cruz. Compus a melodia primeiro. A letra que escrevi estava imperfeita. As palavras completas do hino foram postas [mais tarde] no meu coração em resposta à minha própria necessidade. Pouco tempo depois, em 7 de junho, apresentei o hino numa conferência em Pokagon, Michigan.”2

Depois do hino ser apresentado numa grande convenção em Chicago, tornou-se imensamente popular no país todo, e, em pouco tempo, ao redor do mundo. Apareceu primeiro num folheto, e em seguida, no hinário Heart and life songs,for the church, Sunday School, home and camp meeting3 (Cânticos para o coração e a vida, para igrejas, escolas dominicais, lares e retiros espirituais), publicado em 1915.

Bennard tinha razão. A cruz é o coração do evangelho, e Deus usou o sofrimento deste seu servo para abençoar o mundo até hoje.

George Bennard, filho de um mineiro, nasceu em Youngstown, Estado de Ohio, em 4 de fevereiro de 1873. Pouco tempo depois, a família mudou-se para o Estado de Iowa. Foi na cidade de Lucas que George se converteu numa reunião do Exército da Salvação. Desejava ser pastor mas, aos dezesseis anos, com a morte do seu pai, tornou-se o único a prover o sustento da sua mãe e quatro irmãs. Tornou-se impossível adquirir mais educação formal, mas George entrou nas fileiras do Exército da Salvação. Adquiriu conhecimento teológico por meio do seu próprio estudo e do convívio com pastores. Mudou-se com a família para Illinois, e mais tarde se casou. Ali trabalhou com sua esposa lado a lado na liderança do Exército da Salvação. Após alguns anos, deixando este trabalho, Bennard foi consagrado ao ministério metodista, e começou quarenta anos frutíferos em conferências evangelísticas no norte dos Estados Unidos da América do Norte e no Canadá.

Bennard escreveu mais de trezentos hinos, mas será lembrado especialmente por este.

Em 9 de outubro de 1958, aos 85 anos, depois de levar fielmente sua cruz, George Bennard trocou-a por “uma coroa”.

O nome da melodia, OLD RUGGED CROSS, (Velha rude cruz) provém do título do hino que por muitos anos foi considerado o gospel hymn (ver HCC 112) predileto do povo americano. O missionário F.A.R. Morgan traduziu este hino em 1924.

Finis Alma Rhine Morgan nasceu em 10 de outubro de 1885, em Whetstone Landing, Estado de Kentucky, EUA. Seu pai foi o pastor John William Morgan, e sua mãe era uma índia da tribo Cherokee.

O pr. Morgan pastoreou diversas igrejas pequenas ao longo do Rio Cumberland, um verdadeiro circuit rider (pastor de um grupo de igrejas entre as quais circulava). Finis tinha 5 anos quando a família mudou-se para o Texas, um novo Estado, onde seu pai sentiu-se chamado para pregar o evangelho. Compraram uma fazenda perto de Wichita Falls e seu pai foi o primeiro pregador a percorrer aquela região. Enquanto seu pai viajava, a esposa e os filhos tinham que trabalhar para o seu sustento. Havia perigo de grupos de bandidos e de alguns índios descontentes que atacavam os indefesos. Quando o seu irmão mais velho morreu de febre, Finis tornou-se o “homem” do lar. Assumiu uma maior responsabilidade pela família que crescia a cada ano, chegando a incluir 13 filhos, ao todo!

Aos 17 anos, Finis Morgan sentiu-se chamado para o ministério pastoral. Para poder se preparar, trabalhou dois anos no garimpo no Estado do Novo México. Conseguiu então entrar na Faculdade Batista de Decatur, no seu estado. Os anos seguintes foram cheios de estudos e trabalho. Publicou um livro de poemas. Tornou-se diretor de uma escola pública. Casou-se com a professora Bertha Gertrude Weatherby, em 1910. Quando a primeira guerra mundial explodiu na Europa em 1914, Morgan já era aluno da Universidade Baylor (batista) em Waco, Texas. Quando os Estados Unidos entraram no conflito, tornou-se capelão do exército num acampamento perto da cidade. Continuando ainda seus estudos, alcançou os graus de bacharel e mestre em Artes.

Sentindo-se chamado para o Brasil, o casal Morgan apresentou-se à Junta de Richmond, e sendo aceito e comissionado em julho de 1919, chegou ao Recife, PE, em setembro do mesmo ano. Ambos ensinaram no Colégio Americano Batista daquela cidade. Serviram também em Salvador, BA. Foi no seu trabalho ali que, liderada por um padre enfurecido, uma multidão atacou com pedras a pequena igreja onde ele pregava. Uma pedra atingiu Morgan na testa, deixando uma “marca de Cristo” pelo resto da sua vida.

Nesta região, Morgan foi seriamente atacado por disenteria amebiana. Os remédios receitados enfraqueceram o seu coração, e daí em diante, embora conseguisse servir fielmente por 33 anos no Brasil, sofreu muito por causa disto.

Proeminente educador, Morgan foi fundador e presidente do Colégio Batista Mineiro, em Belo Horizonte, por sete anos, presidente do Colégio Batista Fluminense, em Campos, RJ, e do Colégio Batista Brasileiro, São Paulo. Dirigiu o Centro Batista Paulistano e Escola Bíblica. Fundou a Primeira Igreja Batista de Araraquara, SP. Escreveu o livro A pérola de grande preço e o livreto de bolso Semente para o semeador que servia de auxílio no evangelismo pessoal. Traduziu vários hinos, sendo Rude cruz o mais memorável.

Em 1952, a doença do coração de Morgan se agravara muito. Seu médico o avisou que teria de voltar aos Estados Unidos para tratamentos. Com muita tristeza a família Morgan (já com três filhas) deixou o Brasil e o ministério que amavam. (Sua filha Virginia, casada com Horace E. Buddin, continuaria no Brasil como missionária).

Aos 69 anos, em 2 de março de 1954, F.A.R. Morgan sucumbiu ao seu último ataque de coração. Foi receber seu galardão por ser um servo “bom e fiel”.

Como acontece com muitos hinos e traduções, a versão de Morgan circulou pelo Brasil sem a sua assinatura. O hino tornou-se grande favorito do povo brasileiro como já era em outras partes do mundo. Foi publicado, às vezes com a tradução atribuída a outros hinistas,4 e às vezes como anônima (Vinde, cantai!, n.47). Graças à missionária Virginia Buddin, a filha de Morgan, a dúvida quanto o tradutor foi tirada.

1. WYRTZEN, Donald John. Em: OSBECK, Kenneth W. 101 more hymn stories. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1985. p.317.

2. BENNARD, George, Em: OSBECK, Ibid.

3. Para uma descrição mais completa sobre camp meeting, ver HCC 190.

4. Ver Hinos e cânticos, n.595.

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