HCC 114 – Veio a este mundo o Senhor Jesus
História
114. Veio a este mundo o Senhor Jesus
LELIA NAYLOR MORRIS é a autora e compositora deste hino exultante que apareceu pela primeira vez no hinário The King’s praises n.3 (Os louvores do Rei, n.3) em 1912. Seu hino, no original, nos estimula a examinar nossos valores e a nossa entrega pessoal a Cristo à luz da sua iminente vinda.
“Regozija-se na crônica profético de Paulo da volta de Cristo em 1Coríntios 4.13-5.11. O refrão deixa o cantor interagir com a mensagem do poema”.1
Lelia Naylor nasceu numa pequena cidade no Estado de Ohio, em 15 de abril de 1862. Depois da morte do seu pai, abriu uma chapelaria com sua mãe e irmã. Casando-se com Charles H. Morris em 1881, passou a ser muito atuante numa igreja metodista com tendências para o movimento holiness (santidade).2 Em 1890 começou a escrever hinos, letra e música, com muito encorajamento do bem conhecido hinista e publicador H.L. Gilmore. O casal freqüentavamuitos dos populares camp meetings,3 acampamentos de verão da época, que visavam levar os crentes a uma vida mais santa e a evangelizar os não crentes. Muitos dos hinos desta compositora foram escritos nestes acampamentos.
Quando, em 1913, a visão de Lelia começou a falhar, seu filho montou para ela um enorme quadro-de-giz com mais de oito metros e meio de comprimento sobre o qual ele pintou as claves. Assim esta talentosa e dedicada mulher continuou seu ministério. Antes da sua morte em 1929, a Sra C.H. Morris (como Lelia muitas vezes assinava seu nome) escreveu letra e música de mais de mil hinos, muitos deles publicados em hinários ao redor do mundo. Além deste, no Hinário para o culto cristão temos de Lelia Naylor Morris o hino 442 Perto, mais perto e a música de 574 Um só rebanho que utilizou a mesma melodia. Os batistas do Brasil também se lembrarão especialmente de Dá teu coração a Jesus e Jesus de Nazaré, também de sua autoria.
O pr. Ricardo Pitrowsky adaptou este hino, cuja mensagem central é sobre a segunda vinda de Jesus, para centralizar o pensamento no ministério do Deus-Filho, a nossa redenção, redenção esta que dá aos libertos o privilégio de ter “paz com Deus” e de, um dia, “cantar nos céus”. Pitrowsky descreve o preço da nossa redenção: o que isto custou a Jesus, e com a autora responde, “glória, glória, demos ao Salvador”. Rolando de Nassau declara que a ênfase evangelística de Pitrowsky mostra que ele era sempre um “pregador inflamado”.4
Ricardo Pitrowsky nasceu em Linha Formosa, no município de Santa Cruz, RS, no dia 10 de janeiro de 1891. O menino Ricardo foi o quarto dos onze filhos do casal Gustavo e Elisa Pitrowsky.
Seus avós maternos, a família Fuerharmel, chegaram ao Brasil em 1881, constituindo, provavelmente, o primeiro grupo batista naquele Estado. Descendente de alemães, Ricardo falou o alemão somente até aos vinte anos. Até 1910 viveu na fazenda. Recebeu boa instrução cristã no seu lar. Sempre dizia que sua avó Frederica e sua mãe Elisa foram para ele como Loide e Eunice para Timóteo. Fez sua decisão ao lado de Cristo e foi batizado em 1903 pelo missionário Carlos Roth.
Desde cedo Ricardo manifestou o seu interesse pela música. Cantou o baixo no coro de sua igreja e participou do conjunto instrumental. Embora não houvesse professor, tocava violino e cítara. Falou da sua terra natal:
“Abriste o meu coração e a minha alma para celestes tons, músicas e melodias. Criaste em mim o entusiasmo para que eu pudesse deliciar-me na música, desde a minha tenra infância”.5
Sentindo a chamada para o ministério da Palavra, formou-se no Colégio Batista Shepard e bacharelou-se pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, RJ. Logo depois, Pitrowsky foi servir no Estado da Bahia. Foi consagrado ao ministério em 25 de fevereiro de 1917, na Igreja Batista do Rio Salsa, no sul daquele Estado. Depois, assumiu o pastorado da Igreja Batista do Engenho de Dentro, hoje Segunda Igreja Batista do Rio de Janeiro, em 13 de fevereiro de 1918, onde serviria por 38 anos.
Ricardo Pitrowsky casou-se em 18 de junho de 1918 com Eugenia Thomas, descendente de norteamericanos que se estabeleceram no Brasil e filha do pastor Robert Porter Thomas, que batizou Antônio Teixeira de Albuquerque, “o primeiro batista brasileiro”.6 Ricardo e Eugenia viveram 47 anos de vida conjugal e tiveram cinco filhos: Betty (sua biógrafa), Eudora, Elmer, Lovie e Beny e, das suas famílias, nasceram 21 netos. Certamente, o rico ministério que Ricardo teve foi resultado em grande parte, da sua boa escolha de cônjuge, “excelente esposa de pastor, cristã e fiel serva do Senhor!”7 Esta notável família continua a mostrar suas raízes fortes, firmadas no solo rico de uma vida cristã autêntica.
Voltando aos estudos, Ricardo ainda fez bacharel de Ciências e Letras e Mestrado em Teologia.
“Ricardo Pitrowsky nasceu para servir aos outros”.8
Durante o seu ministério de 48 anos, pastoreou várias igrejas. Foi hinólogo, professor, doutrinador, escritor e, nas horas vagas, fotógrafo amador e artesão. Dirigiu, por cerca de 38 anos, o Instituto Evangélico dos Cegos, que hoje tem o seu nome. Foi um dos fundadores da Junta Patrimonial da Convenção Batista Brasileira e ativo no trabalho em prol do Orfanato Batista Brasileiro.
A contribuição de Pitrowsky como hinólogo não pode ser medida. Como autor, compositor e como compilador, editor e revisor do Cantor cristão ao longo do seu ministério, teve imenso impacto sobre a hinódia batista. Bill Ichter, no seu livro, Vultos da música evangélica no Brasil (JUERP), e Rolando de Nassau, nos seus artigos de música em O Jornal Batista, nos contam de inúmeras contribuições do “Gigante dos Pampas”.9
Pitrowsky fez parte (com Manuel Avelino de Souza e William E. Entzminger) duma comissão nomeada em 1921 para rever as letras e elaborar as músicas dos hinos do Cantor cristão. Em 1924, então, saiu a primeira edição musicada de nosso hinário denominacional.
“Durante quatro décadas Pitrowsky manteve-se o mais assíduo revisor de nosso hinário”.10
Era um homem meticuloso.
“Escrutinava os hinos por seu conteúdo doutrinário e poético e pela métrica. Era muito zeloso nestas questões”.11
Foi membro da comissão que, depois de muitos anos de trabalho, produziu um hinário experimental em 1958, que não foi bem recebido pelos líderes denominacionais. Uma das importantes adaptações de Pitrowsky (HCC 507) fazia parte deste hinário.
Pitrowsky teve 23 produções no Cantor cristão, algumas das quais apareceram em outros hinários evangélicos. Uma coletânea das suas produções corais, Glória ao Justo, foi publicada pela JUERP em 1967. O Hinário para o culto cristão contém oito letras deste gigante da fé: uma letra original, três adaptações e quatro traduções. (Ver ainda HCC 140, 153, 327, 330, 338, 507 e 588.)
Em 16 de janeiro de 1965 Ricardo Pitrowsky foi transferido para o “lugar de descanso” que descreveu no seu diário como “muito melhor”.12 Mas, por meio da sua família notável, das pessoas cujas vidas ele tocou, dos seu livros, hinos e antemas corais, “a sua influência permanecerá”.13
1. ARMSTRONG, Kerschal. What if it were today? Em: HUSTAD, Donald P., ed. The worshiping church, worship leader’s edition, 1990. n.275.
2. O movimento holiness, sentindo ao esfriamento da fé nas igrejas metodistas, procurou a plena santificação e a ausência de pecados conhecidos não confessados. Hoje este movimento consiste de algumas denominações como Metodistas Wesleyanos, e a Igreja do Nazareno etc. Como as outras igrejas da herança Wesleyana, estão no campo armeniano. Procuram preservar a doutrina bíblica dentro desta perspectiva. Consideram-se os verdadeiros seguidores da doutrina dos Wesleys.
3. Ver explicação mais completa dos camp meetings que tiveram muita influência sobre o canto congregacional, no HCC 190.
4. NASSAU, Rolando de. Os hinos de Pitrowsky – II, O Jornal Batista, Rio de Janeiro, n.5 – ANO LXXXV, 3 de fevereiro, 1985. p.2.
5. OLIVEIRA, Betty Antunes de. RicardoPitrowsky, Revista Teológica, Ano VI, n.9, Rio de Janeiro: JUERP, 1982. p.20.
6. PEREIRA, José dos Reis. História dos Batistas do Brasil, Rio de Janeiro: JUERP, 1982. p.20.
7. OLIVEIRA, Betty Antunes de. Centelha em restolho seco. Rio de Janeiro: Edição própria, 1985. p.58.
8. ICHTER, Bill H. Vultos da música evangélica no Brasil. Rio de Janeiro: JUERP, 1967, p.46.
9. Ibid. p.41
10. NASSAU, Rolando de, Os hinos de Pitrowsky – I, Rio de Janeiro,:O Jornal Batista, n. 4 – ANO LXXXV, 27 de janeiro de 1985. p.2.
11. ICHTER, Op. cit., p.45.
12. Ibid. p.46-47.
13. Ibid. p.47.