HCC 112 – Vem, Jesus, habitar comigo!

História

112. Vem, Jesus, habitar comigo!

A Autora Emily Elizabeth Steele Elliott escreveu este hino de oração ao Deus-Filho para as crianças e o coro da sua igreja em 1864. Baseou-o em Lucas 2.7:

e teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, por que não havia lugar para eles na estalagem.”

Foi publicado em 1870 na revista que a srta. Elliott editou por seis anos, a Church missionary juvenile instructor (Instrutor missionário juvenil da igreja). Embora seja um bom hino para o Natal, serve também para qualquer época do ano, e é assim usado nas igrejas batistas em todo o Brasil.

Nestas estrofes, a sra. Elliot apresenta os tremendos contrastes que Cristo experimentou na sua vinda ao mundo:

Estrofe 1:             Do seu reino de luz, Cristo veio ao mundo tão vil com um presépio por berço.

Estrofe 2:             Veio da alegria nos céus para a cruz do Calvário.

Estrofe 3:             Veio em amor salvar-nos: aqui provou o fel, a morte cruel.

Estrofe 4:             Aqui o contraste é o oposto: por causa dele ganharei um lugar no céu que ele deixou por mim.1

Estribilho:            Que convite! “Vem, Jesus, habitar comigo, em minha alma há lugar; oh, vem já!” Você já fez este convite a Cristo? Se não, faça-o agora!

Emily Elliott, sobrinha de Charlotte Elliott (autora de Tal qual estou, HCC 300), nasceu em Brighton, Inglaterra, onde seu pai era pastor, em 22 de julho de 1836. Hinista muito talentosa, seus hinos foram usados na sua igreja e na escola que esta mantinha. Foram publicados em duas coletâneas da sua autoria. Além do seu trabalho em prol de missões, Emily escreveu hinos para hospitais e enfermarias. Hoje, seu nome é lembrado principalmente por este hino. Faleceu em Londres, em 3 de agosto de 1897.

A tradutora, a dedicada missionária Kate Stevens Crawford Taylor, demonstrou sua capacidade literária no manuseio da língua portuguesa com a tradução deste singelo convite a Jesus. Kate Crawford nasceu em Bell, Estado de Texas, EUA, em lar cristão. Por influência da sua mãe, senhora de grande cultura, aprendeu a apreciar a literatura e a poesia. Fez o curso superior em Salado, onde havia excelente Universidade, terminando em 1879, com especialização em línguas e matemática. Kate se converteu aos dezessete anos, depois de ouvir a pregação de um tio, missionário na China. Fez, então, a pós-graduação e o magistério. Pensou em ser missionária na China, mas, conhecendo Zacarias Taylor, teve a sua atenção voltada para o Brasil.

Kate casou-se com Taylor em 25 de dezembro de 1881, numa cerimônia realizada pelo General Alexander T. Hawthorne, que fizera o apelo à Convenção Batista do Sul para que enviasse missionários ao Brasil. Depois de Zacarias terminar o seu curso no Seminário Teológico Batista do Sul em Louisville, Kentucky, EUA, e ser ordenado pastor batista, o casal foi nomeado pela Junta de Richmond e embarcou para o Brasil em 11 de janeiro de 1882.

O casal serviu primeiro no campo paulista e depois na Bahia. Kate organizou uma escola na Bahia que, de acordo com Salomão Ginsburg, “tomou a liderança no trabalho de educação no Brasil”.2

Kate viveu doze curtos anos no Brasil. Além de sofrer febre amarela, sofreu alguns anos de uma ferida cancerígena na perna, que por fim teve de ser amputada. Viveu mais dois anos.

“Não podia ajudar ativamente no trabalho depois da séria operação que sofreu, mas a sua presença, o seu conselho, o seu interesse e otimismo muito ajudaram para animar aos outros nas suas atividades.”3

Kate faleceu em 1894. Seu marido, saudoso, abre a sua autobiografia com estas palavras:

Eu dedico este livro, primeiramente, à memória de minha primeira esposa, Kate Crawford Taylor, companheira e fiel ajudadora nos primeiros doze anos de meu trabalho no Brasil, mãe de meus quatro filhos.4

Devemos muito do nosso conhecimento dos primeiros anos do trabalho missionário no Brasil às cartas e aos artigos de Kate. Ela é lembrada também por esta tradução e a do sempre predileto Em Jesus amigo temos (HCC 165). Estes dois hinos estão entre os mais cantados no Brasil. O corpo desta fiel serva do Senhor, que Salomão Ginsburg chamou de “uma das missionárias mais cultas e consagradas que já ví”,5 foi sepultado “debaixo das palmeiras no Cemitério Britânico da Bahia, aguardando a ressurreição.”6

O famoso cantor-evangelista e publicador, Ira David Sankey, nasceu na pequena cidade de Edimburgo, Estado de Pensilvânia, EUA, em 28 de agosto de 1840. Uma das suas memórias mais preciosas foi a do culto doméstico no seu lar, ao redor da lareira, e o canto dos “bons hinos antigos”, ouvindo o seu pai, com um belo baixo, e os outros membros da família completarem a harmonia. Foi assim que Sankey aprendeu a ler música. Com oito anos já cantava corretamente muitas melodias. Seu amor pelos hinos lhe fez participante assíduo dos cultos da sua igreja, embora esta ficasse longe da sua casa. Converteu-se aos dezesseis anos durante cultos evangelísticos.

Pouco tempo depois da família mudar-se para Newcastle, uma cidade maior no seu Estado, Sankey tornou-se membro da Igreja Metodista Episcopal, assumindo a regência do canto congregacional. Não havia instrumento, sendo a opinião de muitos daquela época que o uso de um instrumento era pecaminoso. Para a sua felicidade, depois de algum tempo, as opiniões se modificaram e a igreja comprou um órgão. No dia da inauguração, Sankey foi ao órgão, e dele dirigiu o cântico, prática que durou enquanto atuou naquela igreja. Sankey testemunhou:

“Assim, estava fazendo um preparo especial para a obra que teria em minha vida futura”.7

Sankey serviu no exército da União durante a guerra civil. Muitos anos mais tarde, numa campanha evangelística onde, como sempre, cantou solos e regeu o canto congregacional, um homem lhe falaria assim:

– O senhor esteve em tal lugar e tal batalha durante a guerra?

– Estive, foi sua resposta.

– Uma noite, mantendo vigília o senhor cantava Ouve-nos, pastor divino?

– É bem possível, era meu costume fazer assim, respondeu.

– Pois, aquele hino salvou sua vida! No momento que iniciou o hino, tive você na minha mira, mas, ao ouví-lo cantar um dos hinos prediletos da minha mãe, que ela cantava para mim quando criança, não pude puxar o gatílho! O senhor pode me ajudar a voltar ao Deus da minha mãe?

Sankey orou com o homem e ele entregou a sua vida ao Salvador a quem sua mãe cantava.8

Em 1870, quando Sankey foi solista numa convenção da Associação Cristã de Moços, aconteceu o encontro que mudaria a sua vida. Conheceu o famoso evangelista Dwight L. Moody, e ouviu estas palavras:

“Estou à sua procura por oito anos!”9 

Moody o convidou a se unir a ele como líder musical. Em seis meses, começou uma feliz parceria que provaria ter resultados mundiais e eternos. Regendo os hinos da congregação, cantando solos, acompanhando a si mesmo num pequeno harmônio, viajou com Moody, evangelizando milhares de pessoas nos dois lados do Atlântico. Calcula-se que a dupla viajou mais de 1.500.000 quilômetros e alcançou 100.000.000 pessoas com o evangelho.

Embora não sendo formado em canto, Sankey tinha voz poderosa, e teria de ser assim. Os dois ministravam muitas vezes diante de multidões de 10.000 a 20.000 pessoas!

A qualidade encantadora de seu som e sua sensibilidade ao uso de música com capacidade espiritual tornaram-se sua marca registrada. Dele foi dito:

“O Sr. Sankey canta com a convicção que almas estão recebendo Jesus entre uma nota e outra”.10

Sankey costumava usar os hinos da coletânea Hallowed songs (Cânticos sacros), de Philip Phillips, do estilo gospel hymns, além de outros hinos avulsos, alguns dos quais da sua autoria. Com os insistentes pedidos de cópias, começou a publicar estes hinos em pequenas coleções, chamando-as de Sacred songs and solos (Cânticos e solos sacros). Nos anos seguintes publicaria, na Inglaterra, seis volumes desta coleção e, em 1903, uniria os seis numa coletânea de 1.200 hinos. Naquele país, onde se preza a tradição, publica-se esta coletânea até hoje. Influenciando o mundo evangélico com a venda de mais de 50 milhões de cópias em 50 anos, foi esta a coletânea que mais influenciou a formação do Cantor cristão. Nos Estados Unidos, Sankey uniu-se com Phillip Bliss, publicando Gospel hymns and sacred songs (Hinos do evangelho e cânticos sacros)11, a primeira coleção aparecendo em 1875. Seguiram-se mais cinco nesta série, e uma última coletânea em 1894, com 739 hinos, 12 anos antes da morte deste extraordinário servo de Deus.

Sankey também publicou seu livro My life, and the story of the gospel hymns (Minha vida e a história dos hinos gospel) em 1903. Aliás, escreveu este livro duas vezes. A primeira cópia foi perdida na grande conflagração que destruiu a maior parte da cidade de Chicago, em 1871, inclusive seu lar, e tudo que nele havia. Foi necessário ele ditar o livro a segunda vez, e isso, completamente de memória, porque Sankey estava cego durante os últimos cinco anos da sua vida. Faleceu em Brooklin, Estado de Nova Iorque, em 13 de agosto, de 1908.

O nome da melodia ROOM IN MY HEART quer dizer “lugar no meu coração”, palavras do fim do estribilho e declaração central do hino. O hino com a melodia de Sankey apareceu no primeiro volume encadernado de Sacred songs and solos (Cânticos e solos sacros) de 271 hinos, publicado em 1876.

1. Adaptado de: OSBECK, Kenneth W. Amazing grace. Grand Rapids, MI: 1990. p.384.

2. GINSBURG, Salomão L. Um judeu errante no Brasil. Trad. SOUZA, Manoel Avelino de, 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP), 1970. p.228.

3. CRABTREE, A.R. História dos Batistas do Brasil – até o ano de 1906, v.I, 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP), 1962. p.108.

4. CRABTREE, Ibid., p.59.

5. GINSBURG, Salomão L. Op. cit. p.69.

6. TAYLOR, Z.C. Em: PEREIRA, José dos Reis. Op. cit., p.19.

7. SANKEY, Ira D. My life and the story of the gospel hymns. Philadelphia, PA: P. W. Zeigler Co., 1906. p.15.

8. Ver: Songs of the civil war and civil rights, Focal Point, v.12., N.4, Denver, CO: Denver Conservative Baptist Seminary, Oct/Nov, 1992. p.8.

9. SANKEY, Op. cit., p. 21.

10. HAMPTON, Vinita and WHEELER, C.J. Key people in the life of D.L. Moody, Christian history, ISSUE 25, v.IX, n.1, Carol Stream IL: Christianity Today, 1990. p.13.

11. Gospel hymns: Como os acampamentos rurais (camp meetings) nas primeiras décadas do séc.19 produziriam sua própria hinódia popular, assim os reavivamentos ou reuniões de evangelismo em massa da segunda metade da década produziram um corpo de canto sacro popular – um tipo conhecido como gospel hymns ou gospel songs. O uso destes termos pode ser descoberto em duas séries de coletâneas, os Gospel songs, de Phillip Bliss (1874ss) e Gospel hymns and sacred songs, de Ira D. Sankey (1875ss). Os textos deste hinos utilizam os mesmos artifícios de simplificação achados nos hinos dos camp meetings. O estilo do gospel hymn reflete em muito o estilo simples da canção popular da época. O gospel hymn usa melodias das escalas maiores. Usa harmonias simples, consistindo pela maior parte dos acordes da tónica, subdominante e dominante em rítmo devagar. Geralmente, emprega mais cromaticismo do que outros tipos de hinos e freqüentemente os compassos simples 3/4 e 4/4 ou compassos compostos (6/8, 9/8 e 12/8). Os ritmos do gospel hymn podem ser simples, mas rítmos com colcheias pontuadas ou semicolcheias pontuadas são mais característicos. (Ver Rude cruz – HCC 132 e Em Jesus amigo temos – HCC 165). Às vezes no gospel hymn se encontram rítmos sincopados, como em Que mudança admirável, HCC 448. Emprega o estilo homofônico, pela maior parte; isto quer dizer, tem a melodia no soprano, enquanto as outras vozes fazem a harmonia. Uma variedade de tessitura ocorre às vezes através de ecos – vozes ecoando palavras, especialmente no contralto, tenor e baixo.

Embora o termo gospel hymnody (hinódia gospel) tenha surgido nos anos 1870, esta hinódia realmente apareceu uma década mais cedo, especialmente nas coletâneas preparadas para as Escolas Bíblicas Dominicais, que se tornavam mais e mais populares nos Estados Unidos. [Fonte: ESKEW, Harry e MCELRATH, Hugh T. Sing with understanding. Nashville: Broadman Press, 1980, pp.176,42.]

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