HCC 108 – Vem, minha alma, alegremente

História

108. Vem, minha alma, alegremente

A BELEZA DESTE CORAL ALEMÃO, Fröhlich soll mein herze springen (Alegre precisa o meu coração saltar) de Paul Gerhardt, é muito evidente. Merece fazer parte integral dos hinos de Natal que cantamos, especialmente por sua

“apresentação clara e simples do porquê do nascimento de nosso Senhor. Seu uso pode levar alguma alma à fé verdadeira em Cristo, como já aconteceu no passado.”1 

Veio a nós por meio da feliz versão inglesa da hinóloga Catherine Winkworth (somente as estrofes 1,7,8 e 15), uma hábil tradutora de vinte dos hinos de Gerhardt, como de muitos outros hinistas alemães. Ela achou que nos hinos dele, “o canto religioso da Saxônia acha sua mais pura e doce expressão”.2 Pena que, ao longo dos anos, o gosto por hinos de muitas estrofes tenha desaparecido. Neste hino de 15 estrofes há um grande tesouro de profunda expressão da nossa fé e vida em Cristo. Um hinista testificou que ele chegou a realmente compreender a doutrina de justificação pela fé ao cantar as estrofes 13 e 14.3

Das muitas versões em português, a Subcomissão de Textos do HCC escolheu a de João Wilson Faustini (sob o pseudônimo de J. Costa), que traduziu a versão de Catherine Winkworth em 1971 (Ver dados biográficos de Faustini no HCC 13).

O autor Paul (ou Paulus) Gerhardt (1607-1676) nasceu em Gräfenhaynichen, perto de Wittenburg, na Saxônia (Alemanha), filho do prefeito da cidade. Estudou na famosa Universidade de Wittenburg onde, com Paul Röber e Jacob Martini, aprendeu “o propósito e uso da hinódia”.4 

Numa igreja luterana em Lueben, na Alemanha, há uma grande pintura de Paul Gerhardt. Abaixo dela há esta inscrição:

“Theolobus in cribro Satanae versatus” (Um divino [ministro do evangelho] peneirado pela peneira de Satanás).

Gerhardt viveu durante a terrível Guerra dos trinta anos e sofreu muito por causa disto. Quatro dos seus filhos morreram na infância. Perdeu sua esposa depois de treze anos de casamento. Restou-lhe somente um filho. Por causa da guerra, só foi ordenado ao ministério luterano em 1651, com 44 anos. Subiu rapidamente de posição por causa das suas habilidades incomuns. Foi eleito ministro da Igreja de São Nicolau em Berlin, em 1657. Nesta igreja “Gerhardt ficou famoso como pregador poderoso e corajoso”5 e seus sermões atraíam grandes multidões.

Embora Gerhardt sofresse muito por causa da posição firme que tomou na controvérsia com os Calvinistas Reformados, e isso tenha lhe custado seu pastorado, seus 132 hinos refletem serenidade espiritual. De acordo com Henriqueta Braga, a estimada historiadora da música sacra no Brasil, Gerhardt foi

“o maior hinólogo do século 17, cuja obra marca o período clássico da poesia espiritual alemã”.6 

Depois de Lutero, foi o mais dotado e amado poeta da Igreja Luterana. Seus hinos ilustram a transição na hinódia do confessionalismo para o pietismo. Antes de Gerhardt, os hinos eram objetivos, para a igreja toda, para a congregação como um todo. Com os sofrimentos da guerra, fome e necessidade, os hinos de Gerhardt “enquanto aplicáveis a todos, tornaram-se o brado da alma individual a Deus”.7  Em alemão foram Ichlieder (hinos meus), não Wirlieder (hinos nossos). Sua mensagem é principalmente de consolo e de uma fé contente e sem amarguras. Ele confiava plenamente no amor de Deus. Esta confiança permeava sua vida e seus hinos.

Johann Crüger (ver HCC 10), ilustre músico e hinista luterano, foi Diretor de Música da Igreja de Mittenwalde, onde Gerhardt pastoreou no início do seu ministério. Foi um encontro muito feliz, porque Crüger musicou muitos hinos de Gerhardt, e publicou-os nas suas coletâneas Geistlichkirchenmelodien (Melodias espirituais para a igreja), de 1649, e Praxis pietatis melica (A prática harmoniosa da piedade), de 1656. Johann Sebastian Bach, maior músico protestante de todos os tempos, reconhecendo o justo valor da poesia de Gerhardt, utilizou-a largamente nas suas cantatas e paixões. Sua adaptação do hino medieval, Oh, fronte ensanguentada (HCC 130) foi um dos hinosprincipais na Paixão Segundo São Mateus.

Outro músico destacado do período, Johann Georg Ebeling, musicou um bom número de hinos de Gerhardt, publicando-os na sua coletânea Geistliche andachts-lieder (Hinos espirituais de devoção) em 1666. É com a música de Ebeling que cantamos este hino.

WARUM SOLLT ICH, às vezes conhecida como BONN, é uma melodia muito aprazível e capta perfeitamente o espírito alegre das palavras de Gerhardt. Ebeling a compôs, realmente, para outro hino de Gerhardt, Warum sollt ich mich denn grämen (Por que deveria eu preocupar-me?), por isso o nome da melodia.

Johann Georg Ebeling (1620-1676) nasceu em Lüneburg, Alemanha. Seguiu Johann Crüger como Kantor (Diretor de música) da Catedral São Nicolau em Berlim, em 1662. Em 1668, tornou-se professor e Diretor de música na Faculdade de São Carlos em Stettin, na Pomerânia, onde permaneceu até sua morte prematura. Sua maior contribuição à hinódia alemã, que Julian considerou a mais rica de todas as hinódias, foram as duas coletâneas que publicou em 1666,1667 e 1669, em que musicou 120 dos hinos de Gerhardt com 113 melodias.

1, THOMSON, R.W., ed., The Baptist hymn book companion, revised edition. London: Psalms and Hymns Trust, 1967, p.131

2. Bailey, Albert Edward. The gospel in hymns. New York: Charles Scribner’s Sons, 1950. p.352.

3. Ibid. p.131.

4. BENSON, Louis F. Studies in Familiar Hymns, 2ª series. Philadelphia: Wesminster Press, 1923. pp. 227-228, Em: Bailey, Op. cit.

5. Mendelssohn, Felix, Em: McCutchan, Robert Guy. Our hymnody, 2ª ed. Nashville, TN: Abingdon Press, 1937, p.442.

6. BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Do coral e sua projeção na história da música. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1958, p.12.

7. MOORE, S.H. Sursum corda: studies of some german hymn writers, 1956, p. 66. Em: THOMSON. Ibid.

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