HCC 102 – Quem é o menino?
História
102. Quem é o menino?
Este texto faz parte de um poema natalino maior chamado The manger throne (O trono: a manjedoura), de William Chatterton Dix, chamado por alguns de,
“o mais destacado hinista entre os leigos ingleses do século 19”.1
Foi escrito em cerca de 1865, quando o autor se debruçou sobre o trecho de Mateus 2.1-12, a “lição do evangelho” para o dia da Epifania.
A pergunta deste carol (ver HCC 92, anotação 1) devia ter dominado os pensamentos, não somente dos magos, mas de todos que presenciaram o nascimento de Jesus. Podemos imaginar a pergunta sendo feita de uma pessoa à outra: Poderia este menino, nascido em circunstâncias tão rudes, duma família pobre, ser o Messias, ou um Rei?
“Pelos séculos, os homens continuaram a questionar quem, realmente, é Cristo – como ele pode ser verdadeiramente Deus e ainda verdadeiramente homem?”3
Somente pela dádiva divina de fé entendemos a resposta revelada. Na segunda parte de cada estrofe, a resposta triunfante soa:
É Cristo Jesus, o Rei,
que anuncia a paz a quem Deus quer bem;
que será cravado por nós na cruz;
que Maria embala nos braços seus.
E o hino apresenta a resposta que deve ser a nossa diante de tamanha maravilha:
“Louvores cantai a ele. Hosana ao Filho de Deus”.
O autor William Chatterton Dix, (1837-1898), filho de um cirurgião, nasceu em Bristol, na Inglaterra. Treinado para a carreira de comerciante, tornou-se gerente de uma companhia de seguros marítimos em Glasgow, na Escócia. Duma família de pendores literários (seu pai escreveu um livro bem conhecido sobre o poeta Chatterton), não é surpreendente que William tenha mostrado desde cedo sua aptidão pela poesia, e particularmente, pelos hinos. Dele se disse:
“Poucos escritores modernos demonstraram um dom tão marcante como o seu para a arte difícil de escrever hinos”.4
Ao todo, Dix publicou quatro volumes de hinos, alguns deles bem destacados na hinódia mundial.
Esta tradução foi feita em 1946 por Adelina Cerqueira Leite, entre doze que ela fez para a coletânea Cânticos do Natal, publicada por Henriqueta Rosa Fernandes Braga em 1947.
Adelina Cerqueira Leite (1906-1985), filha do mestre da língua portuguesa, o Rev. Othoniel Motta, e esposa do industrial José Cândido de Cerqueira Leite, nasceu em São Paulo, Capital. Fez seus estudos pré-universitários naquela cidade. No Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, estudou com alguns dos mais proeminentes mestres do país, inclusive Mário de Andrade. Diplomou-se em Violino com distinção em 1927, conquistando a Medalha de Ouro. Ainda cursou no nível universitário filologia portuguesa, literatura, francês e literatura francesa, continuando em cursos de pós-graduação em teatro, na Suíça.
Além de destacar-se no mundo do teatro e literatura, D. Adelina serviu como co-redatora do periódico metodista infantil Bem-te-vi.
No seu livro, Música sacra evangélica no Brasil, sua ilustre parenta, Henriqueta Braga falou de D. Adelina:
Dominando o vernáculo, que maneja com aprimorado gosto e notável fluência, e possuindo sólidos conhecimentos musicais, tem feito expressivas traduções de hinos e corais (alemães) para a língua portuguesa.5
A lindíssima melodia tradicional inglesa GREENSLEEVES é presumidamente do séc.16. De acordo com William Shakespeare, já era uma melodia predileta na sua época. Embora associada com um carol da passagem do ano desde cerca de 1642, a partir do séc.16 aquela letra foi suplantada pela letra de Dix que tão bem se une a ela. Hinários e coletâneas ao redor do globo incluem esta versão. O Hinário para o culto cristão vem assim presenteá-la às igrejas para o canto congregacional.
1. RYDEN E.E. The story of christian hymnody, Rock Island, IL: Augustana Press, 1959. p.427.
2. Epifania: Dia dos Reis, 6 de janeiro, observado como festival em igrejas que observam o “Ano eclesiástico” em comemoração da chegada dos magi [magos] como a primeira manifestação de Cristo aos gentios.
3. OSBECK, Kenneth W. Amazing grace. Grand Rapids: Kregel Publications, 1990. p.369.
4. RYDEN. Op, cit.
5. BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música sacra evangélica no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1961. p.347.