HCC 094 – Falai pelas montanhas
História
94. Falai pelas montanhas
O estribilho, letra e música, deste Negro spiritual (ou Afro-american Spiritual como é chamado hoje em dia) é de origem desconhecida.
“O propósito principal da música africana era o de recitar a história do povo”1
e assim guardá-la para futuras gerações. Portanto,
“quando africanos foram trazidos para as Américas, trouxeram consigo a arte de contar uma história por meio da música”.2
Cantado e repetido vez após vez, e de geração em geração,
“muitas alterações foram sendo feitas [nestas canções], resultando em uma variedade de padrões melódicos e textuais de lugar em lugar”.3
Embora a melodia das estrofes deste spiritual já pertencesse ao Negro spiritual, as palavras delas apresentadas no Hinário para o culto cristão são a obra de John Wesley Work, Jr., um dos mais dedicados estudiosos dos Negro spirituals da sua geração. Apareceram no seu livro Folk songs of the American negro (Cânticos folclóricos do negro americano), publicado em 1907
John Wesley Work, Jr. nasceu em Nashville, Estado de Tennessee, EUA, em 6 de agosto de 1872. Fez os cursos de bacharel (1895) e mestrado (1898) na Universidade Fisk, daquela cidade, onde tornou-se professor de latim e grego, assumindo a direção do Departamento de Latim e História em 1906. Juntamente com seu irmão, Frederick J. Work foi um líder no trabalho de colecionar, arranjar, apresentar e promover os Negro spirituals, num período quando eram considerados de baixo nível e sem importância.
“Concentrou-se na originalidade da música dos escravos [assunto polêmico na sua época] procurando descobrir as fontes africanas dos Negro spirituals”.4
Publicou diversas coletâneas de spirituals e canções, entre elas New jubilee songs as Sung by the Fisk jubilee Singers (Novas canções como cantadas pelos Cantores de jubileu da Fisk) de 1907. Por 18 anos regeu e cantou em grupos que apresentavam os spirituals que ele amava. Organizou o Quarteto Jubilee Fisk em 909, que viajou por todo os Estados Unidos da América do Norte, ganhando proeminência com seus discos gravados nas gravadoras mais respeitadas. Em 1923, o Prof. Work aceitou a presidência da Universidade Roger Williams, também em Nashville, permanecendo ali até a sua morte em 25 de setembro de 1925.
John Wesley Work III, seguindo o pai no estudo desta cativante forma musical, fez a harmonização usada no HCC na sua coletânea American negro songs and spirituals (Canções e spirituals do negro americano), publicada em 1940. O compositor se lembrou com carinho que, na sua infância na Universidade Fisk, de madrugada, no dia de Natal, os alunos reunidos, andavam de prédio em prédio, cantando “Falai pelas montanhas que Cristo já nasceu”.
John Wesley Work III nasceu em Tullahoma, Estado de Tennessee, em 15 de junho de 1901, o mais velho de sete irmãos. Bacharelou-se em artes pela Universidade Fisk, fez Mestrado em Educação Musical (1930) pela Universidade Columbia, Estado de Nova Iorque, e bacharel em música pela Universidade Yale (1933), Estado de Connecticut. Seguindo a tradição dos pais, regeu o Coro Masculino da Universidade Fisk, e também os Jubilee Singers, ganhando fama nacional. Começando aos 16 anos, compôs obras orquestrais, peças corais e arranjos, e um ciclo coral, Isaac Watts contemplates the cross (Isaac Watts contempla a cruz -1964). A prestigiosa Fellowship of american composers (Sociedade de compositores americanos) conferiu à sua cantata, The singers (Os cantores) o primeiro lugar do ano 1946.
Além da coletânea de que este hino faz parte, Work é o autor de importantes artigos, Negro music e jazz, na revisão do célebre Harvard dictionary of music (Dicionário de música Harvard). Não há dúvida que é em grande parte por causa do esforço destes pai e filho que hoje o Negro spiritual tem seu lugar na música sacra.
Foi conferido o Doutorado em Música (honoris causa) a Work pela Universidade Fisk, onde, com sua esposa Edith, teve uma grande influência. Recebeu também muitas outras honrarias. Faleceu em Nashville em 18 de maio de 1967.
O nome da melodia, GO TELL IT (Vai dizê-lo) provém das primeiras palavras do cântico na língua original.
Joan Larie Sutton traduziu este negro spiritual em 1969, a pedido de Roger Cole, então Diretor de Música da Convenção Paulista e responsável pela publicação da coletânea coral, Quatro negro spirituals, de Jester Hairston, publicada no mesmo ano.
(Ver dados de Joan Sutton no HCC 25)
1. FISHER, Miles Mark. Negro slave songs in the United States. New York: Citadel Press, 1933. p.xi, Em: Cone, James H. The spirituals and the blues: an Interpretation. New York: The Seabury Press, 1972. p.15.
2. CONE. Ibid., p.15.
3. GEALY, Fred D., LOVELACE, Austin C. e YOUNG, Carlton R. Companion to the hymnal, (a handbook to the United Methodist book of hymns), Nashville, TN: Abingdon Press, 1985. p.189.
4. CONE. Op.cit., p.9.