HCC 063 – Maravilhoso, ó Jesus amado
História
63. Maravilhoso, ó Jesus amado
A Reforma devolveu aos crentes o precioso privilégio de cantar, na sua própria língua, salmos e hinos nos cultos. Isso não quer dizer que não compunham e cantavam hinos antes, nos seus lares, nas suas festas, e em outras ocasiões. Da mesma maneira, os católicos tinham hinos e canções religiosos que cantavam, cada povo em seu próprio idioma, fora dos cultos. Muitos destes hinos e canções (alguns deles valiosos) foram colecionados e publicados, especialmente depois da invenção da imprensa de Gutenberg. Este é um dos mais lindos desses hinos, que felizmente veio até nós.
A história de como este hino de adoração e louvor ao nosso Salvador chegou a nós parece uma novela. Muitos acreditavam que fosse um hino das cruzadas, mas uma pesquisa cuidadosa e persistente descobriu a letra original alemã anônima, Schönster herr Jesu (Senhor Jesus mais belo). Apareceu pela primeira vez no hinário Münster gesangbuch (Hinário de Münster), em 1677, com uma outra melodia, embora se creia ter sido escrita uns 15 anos antes. Três séculos mais tarde apareceu, com texto um pouco alterado, no distrito de Glaz da Silésia (agora parte da Polônia). Recebera uma melodia tradicional daquele país. Hoffman Fallersleben ouviu esta versão pela primeira vez em 1839, transcrevendo-a duma recitação oral. Publicou-a em sua coletânea Schlesische volkslieder (Canções folclóricas da Silésia), em 1842. Este é o hino que chegou até nós.
O dedicado pastor e prolífico hinista Manoel da Silveira Porto Filho traduziu este hino em 1963. Apareceu no hinário Salmos e hinos de 1975. Das várias traduções disponíveis deste hino, foi esta que a Subcomissão de Textos preferiu para uso no Hinário para o culto cristão.
Manoel da Silveira Porto Filho nasceu no Rio de Janeiro em 1o de junho de 1908. Fez três anos do curso de medicina antes de decidir-se a estudar teologia. Bacharelou-se no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil em 1936. Foi ordenado ao ministério em 27 de dezembro de 1937.
O pr. Porto Filho nasceu numa família não-evangélica. Seu pai veio a converter-se mais tarde, sendo por ele batizado em 1949. Felizmente, outros membros da família também se converteram. Casou-se com a professora D. Eunice Farias Porto e tiveram 5 filhos.
Ao longo dos anos, o pr. Porto Filho pastoreou diversas igrejas evangélicas no Rio de Janeiro. Além disso, desempenhou vários cargos de responsabilidade na sua denominação. Várias vezes serviu como presidente da Junta Geral da União de Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil (UIECCB). Foi fundador e membro da primeira diretoria do Instituto Bíblico da Pedra, do qual foi reitor até 1958 e professor de Novo Testamento, grego, geografia bíblica e história eclesiástica. Também serviu como diretor do Departamento de Escolas Dominicais da UIECCB em mais de uma ocasião.
“Bom pregador, possuiu veia poética fluente e expressiva, tendo escrito numerosos hinos evangélicos (traduções, adaptações e trabalhos originais)”,1
53 dos quais se encontram nos Salmos e hinos (1975). Um bom número aparece no Hinário evangélico e Cânticos de Natal. Entre estas criteriosas produções apontam-se vários corais de Johann Sebastian Bach e alguns hinos históricos. O Hinário para o culto cristão inclui, além desta adaptação, suas produções sob os números 382, 387 e 567.
O rev. Porto Filho foi membro valioso da Comissão revisora de Salmos e hinos, (1975) durante os 17 anos que esteve em preparação. Preparou os capítulos II e III do importantíssimo livro, Música sacra evangélica no Brasil. O seu livrinho História e mensagem dos hinos que cantamos, publicado em 1962, foi uma compilação de seleções da sua participação do programa radiofônico Jesus, alegria dos homens das Juntas Regionais dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro da UIECCB.
Quando a morte nos privou da ilustre mestra, historiadora e musicista Henriqueta Rosa Fernandes Braga, foi confiado ao rev. Porto Filho ser o “digno continuador do livro Salmos e hinos, sua origem e desenvolvimento (1983). O capítulo VII, Salmos e hinos e sua teologia é da sua autoria. Enquanto preparava um livro sobre o Dr. Robert Kalley, o rev. Manoel da Silveira Porto Filho faleceu em 5 de junho de 1988. Deixou uma grande lacuna na obra evangélica no Brasil. Nos seus hinos e escritos, como também nas vidas que tocou, este servo de Deus continua a viver.
A Subcomissão de Documentação e História do HCC escolheu o nome SCHÖNSTER HERR JESU entre os vários nomes usados para esta melodia por causa da sua fonte. Outro nome muito usado para a melodia é CRUSADER’S HYMN (Hino do Cruzado), oriundo da idéia errada de que ela seria do tempo das cruzadas. É interessante notar que o eminente compositor Franz Liszt usou esta melodia no seu oratório A lenda de Santa Elizabeth.
Este arranjo é uma de duas importantes contribuições do compositor, escritor e crítico Richard Storrs Willis à hinódia mundial. Willis introduziu esta linda melodia à hinódia americana na sua coletânea, Church chorals e choir studies (Coros sacros e estudos corais) de 1850.
Richard Storrs Willis nasceu na histórica cidade de Boston, Estado de Massachusetts, EUA. Bacharelou-se na célebre Faculdade Yale, em 1841. Passou seis anos na Alemanha estudando música com músicos de renome. Durante aquele tempo tornou-se amigo íntimo de Felix Mendelssohn, que muito se interessou em suas composições. Na sua volta aos Estados Unidos da América do Norte, tornou-se crítico musical para alguns jornais importantes de Nova Iorque. De 1852 a 1864, editou três jornais e revistas de música. Depois de 1861, estabeleceu-se em Detroit, Estado de Michigan, mas passou quatro anos em Nice, na França. Willis publicou mais três coletâneas de músicas para coros sacros. Faleceu em Detroit, em 7 de maio de 1900.
1. BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música sacra evangélica no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1961, p.348.