HCC 056 – Saudai o Nome de Jesus
História
56. Saudai o Nome de Jesus
O que o coro Aleluia do oratório Messias é para o corista sacro, o hino Saudai o nome de Jesus é para a congregação.
“É preeminentemente o hino da coroação de Cristo, o Rei”, conforme Erik Routley, distinto hinólogo, e “reúne toda a história sacra no seu louvor.” 1
As quatro estrofes que existem hoje (das oito originais) exortam a todos os arcanjos, escolhidos, perdoados, tribos, raças e nações a coroá-lo. Nas outras estrofes originais também as estrelas da manhã, os serafins, os mártires e os herdeiros da linha de Davi foram convocados a entronizá-lo.
O que quer dizer entronizar Cristo como Rei? Entronizar Cristo quer dizer fazer dele o foco de todo o pensamento, da ação, e da esperança; a considerar nada completo sem ele. Quer dizer aceitar o fato que Cristo não somente convoca a fé dos homens, mas é fiel a eles. Cristo se colocou às ordens do homem, sofreu e morreu. Até no momento da sua coroação, (….) [foi chamado de Cordeiro]. ‘Aleluia! O reino deste mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e reinará pelos séculos dos séculos.’Qual a verdade humana, qual a realização ou esperança que pode ser completa sem se tomar conhecimento deste fato? 2
Edward Perronet publicou a primeira estrofe deste magnífico hino na Revista do evangelho, de Toplady (autor de Rocha eterna), em 1779, e as oito estrofes na mesma revista em 1780. Muitas vezes revisado e alterado, o hino aparece hoje com três das estrofes de Perronet e a última estrofe de John Rippon, adicionada em 1787.
Uma das histórias mais dramáticas descrevendo a maneira que Deus tem usado este magnífico hino vem da Índia, contado pelo missionário E.P. Scott. Na sua missão na India, Scott desejava evangelizar uma certa tribo no interior. Foi prevenido que não deveria se aproximar desta etnia por ser ela muito feroz. Mesmo assim, na convicção que Deus estava lhe mandando, Scott entrou na região com muita coragem.
Quando, por fim, alcançou a região montanhosa, encontrou-se com um grupo destes selvagens. Imediatamente, cercaram-no, apontando as suas lanças para ele com olhares malévolos. Não havia nada nas mãos de Scott além do seu violino. Então, fechando os olhos, começou a tocar e cantar Saudai o nome de Jesus. Quando terminou, e abriu os seus olhos, esperava ser morto imediatamente. Suas lanças caídas, [os selvagens] receberam-no primeiro com curiosidade e interesse, e então mais tarde com avidez, enquanto [o missionário] contou-lhes o evangelho, e ganhou as suas almas para Jesus Cristo.3
Edward Perronet, nascido no condado de Kent, na Inglaterra, em 1726, descendia de refugiados huguenotes franceses. Seu pai, pastor anglicano, era amigo íntimo de João e Carlos Wesley. Educado na casa pastoral por professores particulares, (há dúvidas quanto a seus estudos na Universidade de Oxford) Perronet decidiu entrar no evangelismo com estes dois irmãos, sofrendo com eles a mesma violência das mãos da populaçao. Trabalhou com os Wesleys até o tempo da separação de muitos metodistas da Igreja Anglicana, separação a que João e Carlos fizeram forte oposição. Perronet uniu-se então aos dissidentes,4 e pastoreou uma pequena congregação em Canterbury até a sua morte em 1792. Foi autor de diversos livros de poesia e escrituras versificadas. Dos seus hinos só este continua em uso, mas enquanto o povo cristão cantar o louvor de Cristo nesta terra, o hino de Perronet soará.
John Rippon também foi um dos mais influentes pastores dissidentes (não anglicanos) do seu tempo. Nascido em Tiverton, condado de Devon, em 1751, estudou para o ministério na Faculdade Batista de Bristol. Aos 22 anos tornou-se pastor da Igreja Batista em Carter Lane, em Londres, servindo ali até a sua morte.
Rippon fez uma grande contribuição como editor e publicador de O registro anual Batista de 1790 a 1802 e reeditou a monumental Exposição do Antigo e Novo Testamentos, de John Gill, de nove volumes.
A maior contribuição de Rippon à hinódia é sua coletânea, Selection of hymns from the best authors (Seleção de hinos dos melhores autores). Esta coletânea teve largo uso, tanto na Inglaterra como na América do Norte. Sua influência sobrepujou a de todos os seus precursores. Tornou-se o modelo para a hinódia batista e também fonte para outros hinários. Foi especialmente notável pelo número de hinos originais que apareceram nela pela primeira vez. Em edições subseqüentes, Rippon deu nomes às melodias. Algumas destas melodias, como RIPPON, continuam em uso até hoje em todo o mundo.
O tradutor, o dedicado missionário Justus Henry Nelson, traduziu este hino em 1890.
Interessantemente, o hino foi impresso em O Jornal Baptista, ano I, n.5, p.1, em 20 de fevereiro de 1901. Desde o início, este jornal imprimiu novos hinos na primeira página, para o uso das igrejas. Primeiro, só tinha condições de imprimir a letra e indicar o hinário existente onde achar a música, mas, mais tarde com novo equipamento, conseguiu imprimir letra e música. As igrejas dependiam do jornal para a ampliação da sua hinódia. Aliás, a hinódia brasileira deve muito ao O Jornal Batista e a outros periódicos evangélicos, que, especialmente nos primeiros anos, foram fontes de novos hinos para o povo!5 (Ver dados biográficos de Nelson no HCC 6).
James Ellor (1819-1899) compôs a melodia DIADEM (Diadema) em 1838 para o aniversário da escola dominical da sua igreja. Neste tempo Ellor, com dezenove anos e chapeleiro por profissão, era o diretor da Capela Wesleyana na vila de Droysden, perto de Manchester, na Inglaterra.
DIADEM é uma das três melodias mais conhecidas e usadas com a letra de Perronet, e o seu uso se alastrou pelo mundo.
A autora deste livro de notas históricas ouviu o testemunho de uma missionária às tribos vietnamitas, de que os crentes de uma das tribos gostavam de cantar o hino com esta melodia a quatro vozes.
O amor do mundo cristão ao hino com esta melodia é demonstrado por seu uso contínuo na Aliança Batista Mundial.
“Aqueles que assistiram à reunião da ABM no Rio de Janeiro em 1960 lembrarão por muito tempo a alegria da sessão final no estádio do Maracanã onde duzentas mil pessoas se uniram para cantar este hino com esta melodia”.6
1. ROUTLEY, Erik. Hymns and the faith. Greenwich, CT: Seabury Press, 1956. pp.276-279.
2. Ibid., pp.278-279.
3. PRICE, Carl F. One hundred and one hymn stories. Nashville, TN: Abingdon Press, 1966. p.41.
4. Dissidentes: Todos os não conformistas e independentes que não faziam parte da Igreja Anglicana, igreja oficial da Inglaterra.
5. Ver PAULA, Isidoro Lessa de. Early hymnody in brazilian baptist churches: Its sources and development. Fort Worth, TX: School of Church Music, Southwestern Baptist Theological Seminary, 1985. p.128.
6. REYNOLDS, William J. Companion to Baptist Hymnal. Nashville, TN: Broadman Press, 1976. p.32.