HCC 029 – Deus é amor

História

29. Deus é amor

ESTE lindo hino, que testemunha do maravilhoso amor de Deus, fez parte da coletânea, Hymns (Hinos) escrito por John Bowring (1792-1872).

O autor, inglês de ascendência puritana, teve de deixar os seus estudos com a idade de quatorze anos para trabalhar com o seu pai. Viajou muito, e, antes de ter dezesseis anos, ganhou proficiência nos idiomas alemão, holandês, espanhol, português e italiano. Bowring tornou-se um dos maiores lingüistas do mundo, podendo conversar em cem idiomas e ler em duzentos. Atuou na publicação e na política. Nomeado cavalheiro em 1854, foi membro do Parlamento, e, entre outros postos nas colônias da Grã-Bretanha, Governador de Hong Kong. Bowring escreveu muitas poesias e publicou três coletâneas de hinos.

O tradutor deste hino sobre o amor de Deus, Salomão Luiz Ginsburg, “Pai do Cantor cristão”, traduziu-o em 28 de abril de 1922, no Rio de Janeiro, RJ. Dedicou a sua versão ao casal amigo J.J. e Grace Bagby Cowsert, missionários que tiveram quarenta anos de profícuo ministério no Brasil (1920-1940). Ginsburg publicou o hino em O Jornal Batista (p.5), em 27 de julho de 1922.

Salomão Luiz Ginsburg, de origem judaica, filho de um rabino, nasceu próximo a Suwalki, Polônia, em 6 de agosto de 1867. Dos 6 aos 14 anos, viveu em Koenigsberg, Alemanha, na casa de um tio materno, onde recebeu educação aprimorada. Quando voltou para casa, não concordou com a orientação paterna, pois este queria que ele se tornasse rabino e se casasse com uma jovem de 12 anos. Resolveu fugir. Foi para Londres e lá se converteu a Cristo. Começou a sofrer perseguições. Expulso da casa de outro tio com quem morava, foi deserdado e considerado morto pela família.

Depois de vagar pelas ruas de Londres, Ginsburg foi convidado para o “Abrigo dos judeus convertidos”, permanecendo ali por três anos. Manifestando o desejo de pregar, estudou mais três anos na Escola de Treinamento Missionário Regions Beyond, em Londres. Teve grande alegria em compartilhar a sua fé, mesmo em face da perseguição. Numa ocasião foi terrivelmente espancado e deixado como morto num barril de lixo.

Sentindo-se chamado para a obra missionária, Ginsburg foi convidado por Sarah Kalley para vir ao Brasil. No caminho, passou seis meses em Portugal para estudar a língua: passagem encurtada pela sua publicação de panfletos apologéticos que causaram furor em altos círculos eclesiásticos do país. Como Paulo em Damasco, seus irmãos tiveram de mandá-lo fora do lugar antes que algo drástico acontecesse com ele (ver HCC 577).

Chegando ao Rio de Janeiro em 1890, Salomão Ginsburg filiou-se à Igreja Evangélica Fluminense. Dirigia uma congregação da igreja e se sustentava vendendo Bíblias. Em novembro de 1891, depois de estudar a fundo o que a Bíblia dizia sobre o batismo, foi batizado por imersão na Primeira Igreja Batista da Bahia, por Dr. Z.C. Taylor. Logo depois foi ordenado como pastor. Em 1892, foi comissionado missionário da Junta de Richmond.

Ginsburg pastoreou a Primeira Igreja Batista do Recife, PE, a Primeira da Bahia, a Primeira de Campos e a Primeira de Niterói, RJ, além de trabalhar em Mato Grosso e Goiás, sempre evangelizando, sempre implantando igrejas. Por amor a Cristo, sofreu perseguições e prisões, mas nunca desfaleceu.

Ginsburg casou-se com Carrie Bishop, que fora instrumento na sua chamada missionária, mas, após 4 meses de casados, ela faleceu na Bahia, vítima de febre amarela. Em segundas núpcias, casou-se com Emma Morton, missionária da Junta de Richmond. Tiveram sete filhos.

Salomão Ginsburg fundou o Seminário Teológico Batista do Norte, foi secretário-correspondente-tesoureiro da Junta de Missões Nacionais e interessou-se pela evangelização dos índios. Colaborou com vários jornais evangélicos e escreveu em periódicos seculares. Foi também colportor, vendendo Bíblias em várias cidades do Brasil.

Nos trabalhos de evangelização ao ar livre Ginsburg usava um harmônio e seu grande talento musical. Escreveu muitos hinos belos e espirituais. O primeiro hino que traduziu foi Chuvas de bênçãos, enquanto esperava para desembarcar pela primeira vez no Brasil. Depois de mudar-se para Recife, PE, publicou, em 1891, um hinário com 16 hinos, que chamou de O Cantor christão. Nos anos seguintes, continuou a adicionar hinos seus e de outros hinistas, até que, na 11ª edição, constavam 106 hinos de sua autoria. O pastor Manuel Avelino de Souza o chamou de “O Davi dos batistas brasileiros” cujos hinos são

“verdadeiras mensagens do evangelho”, (….) exprimem santas e belas experiências cristãs, e (….) estão profundamente arraigados na alma dos crentes.1

Depois de uma vida de extraordinário ministério, Ginsburg faleceu em 31 de março de 1927, em São Paulo.2

O Hinário para o culto cristão inclui, entre originais e traduções, 30 contribuições de Ginsburg, um gigante na obra de Deus no Brasil.

Descrevendo a composição desta singela melodia, Joan Larie Sutton fala:

Estávamos no final do trabalho de escolha de letras e melodias e não tínhamos melodia para este grande hino. Foi durante as reuniões da Comissão do HCC que compus esta melodia, indicando, na parte harmônica, que deveria terminar em acorde maior no final da quarta estrofe. Para minha surpresa, a Subcomissão de Música gostou da melodia. Ralph a harmonizou, e a ela dei o nome LARIE, que faz parte do meu próprio nome.3

(Ver dados da compositora no HCC 25 e do harmonizador, Ralph Manuel, no HCC 23).

1. SOUZA, Manuel Avelino. Em: GINSBURG, Salomão L. Um judeu errante no Brasil. Trad. SOUZA, Manuel Avelino de, 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP), 1970. pp.248-249.

2. Está aqui uma biografia muito resumida desse intrépido mensageiro do evangelho. Em cada um dos 30 hinos do Hinário para o culto cristão, cuja letra foi escrita ou traduzida por ele, a autora procura apresentar outras facetas da sua vida relevantes ao hino, como faz para outros hinistas. Recomenda-se sua leitura. Melhor, a leitura da sua autobiografia será uma bênção inestimável e um desafio.

3. SUTTON, Joan Larie. Carta à autora em outubro de 1991.

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1 Resultado

  1. Nadir Ferreira Quadra disse:

    Amei o texto da Bibliografia.

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