HCC 025 – Tu és fiel, Senhor

História

25. Tu és fiel, Senhor

O PASTOR Arthur Francis White, pastor batista aposentado de 88 anos de vida estava acamado no hospital. Sofrera uma queda muito brutal, que lhe fizera muito mal. Duas das suas quatro filhas revezavam-se ao seu lado. Anne, sua querida esposa de 58 anos, estava doente em casa, sem condições de estar com ele. (Havia de segui-lo ao lar celestial quatro meses mais tarde).

Numa hora quando sua filha Helen White Brock estava ao seu lado. o Pr. Arthur pediu: “Helen, cante comigo, Tu és fiel, Senhor”. O pr. Arthur possuía uma linda e possante voz de tenor. Uma de suas maiores alegrias era cantar o louvor de Cristo, a quem ele conhecera e amara desde menino, e servia fielmente há longos anos.

Helen nunca foi solista, mas cantava um contralto muito afinado no coro, e, quando necessário, regia o coro com eficiência, embora fosse mais uma instrumentista. Naquele momento, entretanto, começou o hino que ambos amavam e conheciam de cor. O pastor, com a voz fraca, uniu-se a ela. Em alguns minutos, com a voz falhando, o Pr. Arthur pediu: “Continue, Helen, não posso mais”. E assim Helen continuou a cantar este grande hino, enquanto seu pai, olhos fechados, apreciava. De repente, Helen notou que seu pai, um sorriso ainda nos lábios, parecia ter dormido. Percebeu que ele não estava mais ali. Partira para estar com seu fiel Pai celeste.

Este hino continuou a ser o hino da família de Helen e Ursus Brock e de suas filhas, Margaret, Edith e Mary. Foi escolhido por Ursus para fazer parte do seu próprio culto memorial, muitos anos mais tarde. Tem sido o testemunho de Edith e Dewey Mulholland por mais de 40 anos de serviço missionário no Brasil, 23 no Piauí, e o restante no Distrito Federal: Verdadeiramente, Deus é fiel!

O homem lia com cuidado as várias poesias que tinha diante de si. Elas lhe foram enviadas por um amigo, para que ele, sentindo a devida inspiração, escrevesse músicas para acompanhá-las.

Uma das poesias logo chamou a sua atenção.

“Esta poesia tinha tal apelo, que orei com todo o fervor para que a minha melodia pudesse transmitir a sua mensagem duma maneira digna.”1

A cena descrita transcorreu em 1923. O compositor era o Rev. William Marion Runyan, metodista norteamericano. Sem dúvida, hoje podemos dizer: a música do compositor faz exatamente o que ele tão ardentemente desejou.2

Runyan nasceu no dia 21 de janeiro de 1870, em Marion, Estado de Nova York. Tinha grande inclinação para a música. Iniciou os seus estudos de música quando tinha cinco anos, e aos doze já servia como organista da igreja. Quando tinha 14 anos, seu pai, que era pastor metodista, mudou-se, com a família, para o Estado de Kansas.

Apesar do seu grande talento musical, Deus tinha outros planos para Runyan. Aos 21 anos de idade, foi consagrado ao ministério pastoral. Serviu como pastor e evangelista entre os metodistas por 32 anos.

Por causa de um problema de surdez, Runyan deixou o pastorado em 1923, para assumir responsabilidades na Universidade John Brown, trabalhando também como redator da revista Christian workers’ magazine (Revista do obreiro cristão) e como compilador de hinários.

De 1931 a 1944, ele serviu no Instituto Bíblico Moody, em Chicago. Foi nesse Instituto que o hino Tu és fiel, Senhor, tornou-se muito conhecido, tornando-se um dos prediletos dos alunos daquela instituição. Quando o Dr. Houghton, presidente da mesma, faleceu, o hino foi entoado por todos os presentes ao culto fúnebre.

Em 1923, quando Thomas O. Chisholm enviou aquelas poesias a William Runyan, este, compositor de quase 300 hinos, já havia feito umas 20 ou 25 músicas para acompanhar poesias de Chisholm, seu colega e grande amigo.

Thomas Obediah Chisholm nasceu no Estado de Kentucky, no dia 29 de julho de 1866, em circunstâncias humildes e teve de instruir-se por si mesmo. Apesar de só completar o curso primário por esforço próprio, mais tarde se tornou professor. Com 21 anos já era o redator auxiliar do jornal local.

Com 27 anos, Chisholm se converteu durante uma série de conferências evangelísticas. Mais tarde, foi consagrado ao ministério pela Igreja Metodista, mas o seu estado de saúde bastante precário proibiu que desenvolvesse muitas atividades. Por esta razão, ele deixou o pastorado.

Chisholm escreveu um total de aproximadamente 1.200 poesias. Faleceu no Lar Metodista de Ocean Grove, Estado de Nova Jersey, em 29 de fevereiro de 1960.

O hino Tu és fiel, Senhor foi publicado pela primeira vez em 1923, num hinário intitulado Songs of salvation (Cânticos de salvação) da autoria de Runyan.

O nome da melodia, dado pela família de Runyan, é FAITHFULNESS (Fidelidade).

A tradução é uma colaboração de Joan Larie Sutton, Lydia Bueno e Hope Gordon Silva, as duas últimas então professoras de português na Escola de Português e Orientação em Campinas, SP.

Quando o Hinário da Campanha Nacional de Evangelização foi publicado pela JUERP, em 1964, um dos hinos “novos” que logo se tornou favorito foi o hino n.38, Tu és fiel, Senhor. Seguiu-se sua inclusão em Vinde, cantai! (1980). Foi um dos hinos mais alistados como favorito na pesquisa feita pela Comissão do Hinário para o culto cristão em todo o Brasil, para determinar quais fariam parte do novo hinário.

A tradutora, Joan Larie Sutton, habilidosa coordenadora da comissão que preparou o Hinário para o culto cristão, é conhecida e amada em todo o Brasil. D. Joana (como ela é mais conhecida) é exímia violinista, querida professora, compositora, autora, tradutora e criadora de um imenso patrimônio de música sacra no Brasil.

Joan Larie Riffey nasceu em 26 de julho de 1930, em Louisville, Estado de Kentucky, EUA. Chegou ao Brasil com os seus pais, John e Esther Riffey, operosos missionários da Junta de Richmond, em 1935. Como diretor do Curso por Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, de 1938 a 1954, o Dr. Riffey serviu em oito estados do Brasil. D. Esther trabalhou na igreja local, no Rio de Janeiro, no Curso de Obreiras e como autora e compositora para o trabalho com crianças. Joana aceitou a Cristo nos joelhos de sua mãe, vindo a se batizar aos dez anos. Os seus estudos de primeiro e segundo grau foram em colégios batistas, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Bem cedo revelou o seu talento musical. Desde os seis anos estudou piano, adicionando, depois, o violino. Em seu sermão oficial no VI Congresso Nacional da Associação dos Músicos Batistas do Brasil, realizado em Fortaleza, CE, D. Joana recordou a sua formação espiritual e musical. Realçou as suas experiências nos corais da sua igreja e escola, as capelas, os cultos, os orfeões. Sobretudo ela se lembrou dos hinos, que ajudaram a formar esta líder que mais tarde teria forte influência na música sacra brasileira.

Indo aos Estados Unidos para continuar os estudos, como bolsista, Joana cursou Pedagogia do violino na Universidade de Baylor, Estado de Texas, bacharelando-se em Letras (literatura inglesa e francesa) e Música (teoria e violino), concluindo em 1951. Após o falecimento de seu primeiro esposo, Joana voltou aos estudos, iniciando, em 1952, o Mestrado em Música Sacra no Seminário Teológico Batista do Sul, em sua cidade natal. Durante o curso veio a conhecer John Boyd Sutton, com quem se casou em segundas núpcias. Deus deu três filhos a este casal, John Edwin (1954), Laura (1957) e Cecília, que nasceu no Brasil em 1960. O Pr. Boyd e Joana terminaram o Mestrado em Música Sacra em 1956, e, depois de três anos de trabalho na Primeira Igreja Batista de Hendersonville, no Estado de Carolina do Norte, foram nomeados como missionários pela Junta de Richmond, chegando ao Brasil em agosto de 1959. O casal começou a lecionar música no STBSB em 1961. Em 1963, iniciaram o Curso de Música Sacra do Seminário, com o Pr. Boyd na direção. A professora Joana lecionou em muitas áreas: composição, contraponto, forma e análise, órgão, violino, e hinologia, sempre traduzindo músicas para os diversos coros e para o ensino de canto. Passaram mais de vinte anos abençoados treinando pessoas que hoje estão espalhadas pelos quatro cantos do país e no exterior, muitos em liderança da denominação. Este casal verdadeiramente tem dedicado toda a vida ao ministério de música na Pátria Brasileira.

Do incansável trabalho e direção de D. Joana temos traduzidas grandes obras para o português: o Messias, de Handel; Elias e Cristus, de Mendelssohn; Réquiem, de Brahms – o único que expressa a firme esperança dos salvos – com um significado especial para a vida da tradutora; As sete últimas palavras de Cristo, de Dubois; Glória, de Poulenc; e a Primeira Cantata do Oratório de Natal, de Johann Sebastian Bach. Além do grande acervo de traduções de outras cantatas, antemas, hinos e solos, suas composições abrangem todas as áreas de música sacra. Muito cantadas no Brasil foram suas cantatas E habitou entre nós e O presente de Natal. Seus hinos, como O desafio (agora, no HCC 543, Eu aceito o desafio), Seguir a Cristo não é sacrifício (HCC 480) e Com júbilo prossigamos (no HCC 613, Com alegria recordamos) ecoam nas igrejas e nos corações em todo o Brasil.

Em março de 1983, o casal se transferiu para Porto Alegre, RS, onde o Pr. Boyd atuou como Diretor do Departamento de Música da Convenção Batista do Rio Grande do Sul. D.Joana continuou seu trabalho como tradutora e assessora de Música para a JUERP e a denominação.

Desde a fundação da Associação de Músicos Batistas do Brasil, Joana foi uma fonte de intensa produção e inspiração, como membro da Junta Executiva, relatora da comissão que preparou o livreto Filosofia de música sacra, publicado pela JUERP e, desde 1987, coordenadora do projeto que tornou possível a produção do Hinário para o culto cristão, ao qual se dedicou quase que exclusivamente por vários anos. Nas palavras do Pr. Joaquim de Paula Rosa:

Essa irmã soube, pela direção de Deus, descobrir os elementos nacionais e missionários, homens e mulheres para se tornarem garimpeiros da inesgotável mina dos tesouros musicais. Ela soube reunir os pendores, a formação técnica, a consagração pessoal de cada um, a perícia e a arte de todos, para formar uma equipe singular, que se houve com maestria no presentear-nos com um Cântico Novo.3

O Hinário para o culto cristão apresenta 45 contribuições da profª. Joana, oito letras, uma metrificação, 36 traduções e sete músicas. Em 1991, o ano que o Hinário para o culto cristão foi lançado, Joan Sutton foi oradora oficial da Convenção Batista Brasileira, a primeira mulher escolhida para esta honra.

O casal Sutton, depois de 33 abençoados anos de ministério no Brasil, voltou à sua terra natal em outubro de 1992 para a aposentadoria. Fixando-se em Hendersonville, Carolina do Norte, EUA, continua a servir ao Senhor, tanto no seu novo lar, como em cooperação com seus companheiros do trabalho batista no Brasil. Em julho de 1993, o Pr. Boyd tomou posse como Ministro de Música da Igreja Batista de Shaw Creek.

Lydia Cassano Bueno nasceu em Campinas, SP, em 9 de julho de 1916. Convertida em 5 de dezembro de 1954, foi batizada na Igreja Presbiteriana Central da sua cidade natal. Formada na Escola Normal Carlos Gomes, fez cursos em fonética e inglês na capital americana, Washington D.C. Começou a escrever hinos em 1964.

Hope Gordon Silva, filha dos operosos missionários presbiterianos, Dr. Donald e Helen Gary Gordon, nasceu em 10 de maio de 1926 em Belavista, Peru. Formou-se na Faculdade Wellesley, no Estado de Massachusetts, EUA, fez complementação pedagógica em Mogi das Cruzes, SP, e mestrado na PUC de São Paulo. Autora e tradutora, publicou várias coletâneas. Algumas das suas produções foram publicadas também na série Os Céus Proclamam e nas revistas Louvor Perene e O Evangelista. Escreveu fascículos para as reuniões infantis da sua denominação. Hope é esposa do rev. João Silva, pastor da Segunda Igreja Presbiteriana de Ermelino Matarazzo, São Paulo, Capital. O casal tem quatro filhos.

1. RUNYAN, William M. Em: REYNOLDS, William J. Companion to Baptist Hymnal. Nashville: Broadman Press, 1976. pp.80-81.

2. Adaptado de ICHTER, Bill H. Se os hinos falassem, v.III, 1ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1971. pp.78-79.

3. ROSA, Joaquim de Paula. Apresentação. Em: Hinário para o culto cristão. Rio de Janeiro: JUERP, 1990. p.vii

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