HCC 002 – Santo, Santo, Santo!
História
- Santo! Santo! Santo!
ESTE HINO tem sido chamado
“o melhor hino já escrito, considerando sua pureza de linguagem, sua devoção, sua espiritualidade, e a dificuldade de tratar poeticamente um tema abstrato como esse.” 1
É cantado, domingo após domingo ao redor do mundo, quer em inglês, português, russo, chinês, e em centenas de outras línguas. Paráfrase de Apocalipse 4.8-11, o hino realça o canto contínuo de adoração dos quatro seres viventes:
“Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir.”
Reginald Heber (1783-1826) era filho de um abastado fazendeiro inglês no condado de Cheshire. Era uma pessoa por demais generosa, dando tudo o que ele tinha nos bolsos às pessoas necessitadas que encontrava. Quando ele viajava, sua mãe costumava costurar o seu dinheiro da passagem em sua roupa, para que ele não ficasse sem possibilidade de voltar para casa. Como jovem, Heber recebeu boa educação e durante os estudos tinha certa fama como poeta. Ordenado ao ministério anglicano, recusou boas posições na capital, voltando à sua região natal para servir numa pequena igreja.
Embora os anglicanos cantassem mais os salmos, Heber ficou muito impressionado pelos hinos de John Newton e William Cowper (ver HCC 226). Interessou-se, especialmente, por hinos de boa qualidade que fossem apropriados para o ano eclesiástico, seguindo os temas bíblicos para cada domingo. Começou a publicar seus hinos em 1811, mas não conseguiu permissão para publicar a sua coleção, Hinos escritos e adotados ao serviço semanal do ano eclesiástico, feita com a colaboração de outros bons hinistas.
Depois de 16 anos no pastorado, Heber aceitou o bispado de Calcutá 2, na Índia, dizendo que um pastor devia ser como um
“soldado ou marinheiro, pronto a ir para qualquer serviço, tão remoto ou indesejável que fosse.” 3
Este campo enorme incluía não apenas a Índia, mas o então Ceilão (agora Sri Lanka), e Austrália. Heber se dedicou a este ministério com entusiasmo mas, depois de três anos de trabalho árduo, maltratado pelo clima severo, faleceu repentinamente. Ele tinha ido numa viagem de aproximadamente 1.800 quilômetros para a cidade de Trichinópoli, no extremo sul da Índia, para confirmar uma classe de 42 convertidos. O seu servo, achando que ele se demorava muito no banho, foi à sua procura, encontrando-o morto. Seu ministério, contudo, continuou pois a coleção dos seus hinos foi encontrada por sua mãe (depois da morte de Heber), na mala dele que a ela foi enviada. E foi a pedido dela que a Igreja Anglicana deu permissão para publicá-la em 1827, um ano após a sua morte.
A obra de Reginald Heber ajudou a dissipar os preconceitos dos anglicanos contra os hinos e marcou uma nova era na hinologia inglesa. A importância dos seus hinos é resultado, em parte, da sua expressão literária e qualidade lírica. Mais importante ainda é o fato que as igrejas receberam dele hinos baseados no ensino bíblico de cada domingo, de acordo com o Evangelho ou a Epístola. Começaram a cantar o Novo Testamento!
“Heber figura como um dos mais importantes hinistas ingleses do séc.19. Ao todo, escreveu 57 hinos. Todos ainda estão em uso, um tributo raro ao gênio deste escritor consagrado”.4
O tradutor do hino, João Gomes da Rocha, nasceu no Rio de Janeiro em 14 de março, de 1861, filho de Antônio Gomes da Rocha e D. Maria do Carmo, portugueses. Era filho adotivo do Dr. Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, missionários pioneiros no Brasil. Estudou medicina em Londres. Foi médico missionário na Inglaterra, Madagascar e África. O Dr. Rocha aproveitou-se de uma viagem à América do Sul para visitar a família no Brasil e tornou-se membro da Igreja Evangélica Fluminense, fundada pelo casal Kalley.
O Dr. Rocha, que estudara música na Escócia, cooperou ativamente com D. Sarah após o falecimento do seu esposo, no preparo de algumas edições de Salmos e Hinos, o primeiro hinário evangélico brasileiro. Depois da morte de D. Sarah, continuou a obra. Preparou várias edições do hinário até 1919, quando dotou de valiosos índices a quarta edição com música. Ele também produziu numerosos hinos, entre traduções, adaptações e trabalhos originais, 62 dos quais se encontram em Salmos e Hinos de 1975 e 15 no Cantor cristão de 1971. No Hinário para o culto cristão encontram-se 11 das suas letras, metrificações e traduções. O Dr. Rocha faleceu em 1947, na Escócia, onde morava, mas seu coração nunca saiu do Brasil, sua terra natal, e do ministério da hinódia aqui.
O Dr. John Bacchus Dykes (1823-1876), nascido em Hull, Inglaterra, foi um compositor prolífico e espontâneo de melodias para hinos, considerados os melhores exemplos da época. Estas melodias conseguiram imortalizar os hinos para os quais foram compostas. Constavam em grande número em todos os hinários do povo de língua inglesa e influenciaram a música dos hinos ao redor do mundo. Outras duas das melhores dessas melodias estão no Hinário para o culto cristão, ST. AGNES (n.316) e VOX DELECTI (n.413).
Dykes mostrou o seu talento desde menino, estudando, desde cedo, violino e piano. Aos 10 anos tornou-se organista na igreja do seu avô. Formou-se em Música em Cambridge em 1847 e foi ordenado ao ministério no ano seguinte. Depois de poucos anos no pastorado, foi escolhido como diretor de música da famosa Catedral de Durham, Inglaterra, onde serviu com muita distinção até a sua morte em 1876. Foi em Durham que Dykes recebeu o grau de Doutor em música (honoris causa).
Sua filha fala de Dykes:
A sua natureza era viva, sorridente e cheia de alegria e ele tinha a capacidade de fazer amigos, inspirando amizades profundas (…). A sua qualidade principal, entretanto, era sua fé profunda e sincera. Parecia ser a fonte escondida de toda a sua vida exterior.4
Certamente nestas palavras pode ser achado o segredo da capacidade do Dr. John Dykes de imortalizar bons hinos com sua música.
NICAEA, considerada a melhor melodia de Dykes, foi composta em 1861 para este hino trinitário de Heber. Foi uma das sete com que ele contribuiu para o hinário de muita projeção, Hymns ancient and modern (Hinos antigos e modernos). Depois que este hino recebeu a melodia de Dykes, tornou-se um dos mais amados no mundo inteiro. O compositor escolheu este nome porque foi no Concílio de Nicéia, em 325 a.D., na Ásia Menor, que se estabeleceu a doutrina trinitária, rejeitando-se a heresia do arianismo.
- TENNYSON. Alfred. Em: MCCUTCHAN, Robert Guy. Our Hymnody, 2ª ed. Nashville: Abingdon Press, 1937, p.17. [Lord Tennyson foi poeta laureado da Inglaterra].
- Bispo é um dos postos da Igreja Anglicana (Ver anotação 2 HCC 60).
- Ibid.
- OSBECK, Kenneth W. 101 hymn stories. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1982. p.79.
- WELSH, R.E. e EDWARDS, F.G. Romance of psalter and hymnal. New York: James Pott & Co., 1889. p. 307.