Estudo de Hinos – Rolando de Nassau

Estudos de hinos
(Especial para “Hinologia Cristã”)

Nos estudos de hinos, encontramos quatro áreas: Hinologia, Hinodia, Hinografia e História de hinos.

A Hinologia e a Hinodia estão no patamar superior; a Hinografia e a História de hinos, no inferior dos estudos.

Músicos que são escritores, em geral não têm definido corretamente essas áreas; nosso propósito é esclarecer essa questão.

Algo do que atualmente lemos sob a epígrafe “Hinologia” não passa de Hinodia, ou Hinografia, ou História de Hinos.

Inclusive há quem se refira à “hinologia dos templos evangélicos”; ora, a Hinologia é o estudo dos hinos, e não dos templos. E junta compositores e poetas, sem notar que ambos pertencem à classe dos hinógrafos e sem descrever os aspectos da Hinologia.

O “Google”, com a “Wikipedia” à frente, tem divulgado noções equivocadas a respeito das quatro áreas acima referidas.

Alguém chegou a afirmar que a Hinologia é um compêndio da História dos Hinos; a Hinologia é muito mais complexa do que essa História. Excedeu-se ao incluir também a Biografia, como se fosse área de estudo; nesse tópico, os articulistas escrevem sobre os ministérios pastorais e musicais dos biografados, além das circunstâncias e da quantidade de hinos produzidos, sua saúde, e quejandos.

Às vezes o articulista chega perto, quando simplesmente afirma que “é o estudo dos hinos”, mas tropeça quando se refere à Hinodia (conjunto de hinos).

Há escritores que saem da esfera dos estudos, e vão para a execução dos hinos por solistas, coristas e instrumentistas, com a participação dos cultuantes.

Outra definição equivocada da Hinologia preocupa-se com a recepção auditiva e emocional dos hinos.

Alguém diz que a Hinologia é o estudo dos hinos, a arte de compor hinos (Hinografia) e o ato de recitar ou cantar (Canto de Hinos), conforme constam ou não de hinários (Publicação de Hinos); para ele, a Hinologia precisa incorporar a Análise dos Hinos (Crítica); com efeito, está mais interessado na Hinodia.

Há também escritores evangélicos que ampliam o escopo da Hinologia, quando nela incluem os hinos patrióticos; não conheço nenhum estudo hinológico cristão que trate de composições profanas.

Pior é a opinião de alguém que considera a Hinologia um registro de composições marcantes para a história de uma sociedade profana.

Também temos uma explicação didática: a Hinologia seria o estudo do repertório musical (Hinodia); seria uma área de conhecimento, inclusive como “hobby”; neste caso, deixa de ser hino de louvor a Deus e passa a ser canção de entretenimento. Muitas pessoas cultas ouvem peças e obras de música (religiosa ou sacra) apenas para apreciar a beleza dos trechos instrumentais, vocais e corais.

Agostinho de Hipona disse que “se existir algum louvor, que não seja dirigido a Deus, não é um hino”.

É lamentável que, entre os músicos evangélicos, seja confundida a Hinologia com a Hinodia, e que permaneça a ideia de que “a música é sacra, não pelos ritmos, melodias ou instrumentos usados, mas pela letra” que a Hinologia (que é estudo aprofundado) seja equiparada com o Canto (que é Execução).

Um deles misturou Hinologia com a Hinografia (técnicas de composição) e a Hinodia (repertório de hinos). O outro, Hinologia e História de Hinos.

No culto público, não cremos ser conveniente usar a expressão “música especial”; o canto congregacional é rebaixado a música de qualidade inferior.

Hinologia é o estudo, objetivo e erudito, para expressar opinião sobre origem, forma, conteúdo, classificação e estilo de hinos.

Quanto à origem, interessa saber em que período histórico o hino foi escrito e composto; quanto à forma, se a música composta é para ser executada em uníssono, sem independência melódica e rítmica, ou a várias vozes combinadas (em termos históricos, a polifonia foi definida entre os séculos 13 e 16); quanto ao conteúdo, se os textos, no caso do canto cristão, são extraídos ou não da Bíblia, escritos em hebraico, aramaico ou grego; quanto à classificação, quão importantes, convenientes e adequados são para o uso eclesiástico; quanto ao estilo, é determinado por pesquisadores eruditos.

Evidentemente, os evangelistas Marcos e Mateus nada escreveram sobre os hinos (na verdade, ainda eram salmos tradicionais); nem por ocasião da última páscoa celebrada por Jesus (Marcos 14: 26 e Mateus 26: 30), algum deles explicou a razão de ter sido cantado um salmo.

Os cristãos primitivos também não comentaram os cânticos, embora os salmos hebraicos tivessem influenciado na elaboração dos hinos latinos.

Entre os primeiros cânticos, devo citar:

  • “Benedictus”;
  • “Nunc dimittis”;
  • “Magnificat”;
  • “Gloria in excelsis”;
  • “Sanctus”.

Os apóstolos neotestamentários usaram fragmentos de hinos.

Os hinos que constam do Livro da Revelação (“Apocalipse”) foram muito significativos para Judeus e Cristãos. Alguns pesquisadores sugeriram que o capítulo 13 da Primeira Epístola aos Coríntios era um hino.

Posteriores ao 1º. século da Era Cristã, comentaristas apreciaram o estilo e o tema de alguns hinos cristãos, talvez conhecidos por Lucas (Atos 2: 4; 10: 45-46; 19: 6).

Irineu mencionou o canto de um hino, talvez improvisado.

Justino, o Didaquê e documentos importantes dos primórdios da igreja cristã testificaram sobre a existência de uma Ordem de Culto, na língua grega, que precedeu os hinos litúrgicos do 4º. século da Era Cristã, quando começaram a ser produzidos na língua latina.

De acordo com a opinião de Clemente de Roma, os cânticos litúrgicos deveriam continuar como de suma importância para os aprendizes da Hinologia incipiente.

No século 3º. da Era Cristã, tinham começado a surgir “hinos” de caráter pagão ou herético, que foram condenados por Hipólito de Roma.

Nessa época, os eruditos preocuparam-se com o estilo desses hinos, o que às veze ocorre em nossos dias. A onda agnóstica, que misturava a filosofia grega, a mitologia oriental e os ensinos de Jesus, atribuída ao poeta sírio Bardesanes, significou uma séria ameaça ao Cristianismo.

Bardesanes empregava ritmos contemporâneos, o que tem ocorrido no atual meio musical evangélico.

Os primeiros hinos cristãos foram escritos nos idiomas siríaco, grego e latino. Da cultura grega, a Igreja, no século 4º., sob a liderança de Constantino, passou para a cultura latina, quando foram aproveitados hinos de Hilário de Poitiers.

Toda essa massa de informações sobre os hinos dos primórdios foi recolhida, apurada e registrada pelos hinólogos.

Temos de resumir bastante esta digressão que visa, tão somente, esclarecer os usuários de “Hinologia Cristã”.

A Hinologia só pode ser considerada seriamente no século 17 (1620-1760), quando começou a ser tratada com métodos científicos por pesquisadores eruditos.

Por isso, sou de opinião que este “site” não tem condições de realizar atualmente um trabalho hinológico; os colaboradores desistam de  parecer hinólogos.

O lexicógrafo Johann Gottfried Walther (1684-1748), contemporâneo de Johann Sebastian Bach (1685-1750), publicou, debaixo de críticas de Mattheson e Scheibe, em 1732, o “Musiklexicon”, uma História de hinos e peças instrumentais; não pode ser considerado “hinológico”.

Hinólogo foi Albert Schweitzer, que, competentemente, escreveu sobre a inteira obra bachiana, um verdadeiro estudo estético sobre a origem dos textos e das melodias corais (ver: Schweitzer, Albert. J.S.Bach, le musicien-poète. Wiesbaden: Breitkopf, 1911 e 1953; Lausanne: Foetisch, 1953; New York: Dover, 1966).

Hinodia é o conjunto dos hinos produzidos em determinado tempo e lugar; exemplo: hinos barrocos; hinos alemães; ou por determinado grupo religioso; exemplos: hinos católicos; hinos protestantes; hinos evangélicos.

Hinografia é o estudo do repertório dos hinos compostos que tratam de um determinado tema, e da técnica de escrevê-los e compô-los; por exemplos: os hinos sobre o nascimento e a morte de Jesus.

Alguns chamam os autores, compositores e estudiosos de “hinistas”; é um termo supostamente de origem inglesa, que nunca usei; prefiro chama-los de “hinógrafos”.

História de Hinos trata de autores e compositores, quanto à sua contribuição para a produção de hinos, fornecendo dados biográficos.

Poetas batistas que não escreveram poemas para hinos revelaram seus equívocos: em 1967, um deles parabenizou a publicação de mais uma coletânea de crônicas “sobre a Hinologia evangélica”; em 1976, o outro escreveu: “A publicação da História de nossos hinos tem sido uma das mais notáveis contribuições à Hinologia nacional”.

Em nossos dias, poetas e compositores evangélicos ainda insistem no equívoco de usar o termo “Hinologia” quando, com efeito, querem comentar estudos de outras áreas (Hinodia, Hinografia ou História de Hinos).

Rolando de Nassau.

Brasília, DF, 29 de setembro de 2022.

© 2022 de Rolando de Nassau – Usado com permissão
Doc.HC – 132

Sugestão do Editor:

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *