Elias Maia – O Seresteiro de Jesus
Elias Maia – O seresteiro de Jesus
Depois de 57 anos reencontrei Elias Maia, meu antigo amigo de mocidade da igreja. Queria saber como ele estava, porque nos distantes anos de 1968 sonhávamos com um futuro que parecia longe de se realizar. Meu sonho era o de ser pregador e escritor viajando pelo mundo, e o dele o de compositor e cantor. Apesar de ele morar a 20 km de minha casa, só agora nos encontramos; graças ao amigo Robson Santos Jr. que o localizou.
Maia reside numa casa humilde no bairro COHAB na cidade de Gravataí. O cantor, compositor e pastor de almas, nasceu em 1 de agosto de 1947. Hoje, aos 77 anos de idade percebe-se que não se preocupou em adquirir riquezas, criando seus cinco filhos e, ao lado de sua fiel esposa Vera vive cercado de dez netos. Encontrei-o sentado no pátio da frente da casa, com o chimarrão e o violão ao seu lado, aconselhando uma pessoa ao telefone e orando por ela.
Vi ali a figura típica do índio gauchesco, tosco da fronteira, sentado num tronco de árvore com o gado pastando no campo, despreocupado com a vida e seus deleites, interessado apenas em adorar e louvar a Deus com seus cânticos.
Foram momentos de recordações e de alegria. Ele exala louvor e adoração pelos poros. Transpira poesia e música.
Fotografei a capa de seus discos surrados pelo tempo, e os selos dos velhos LPs, num total de nove, além de dois que, segundo ele, se extraviaram na poeira das sendas da vida. Elias Maia ainda mantém a voz clara, forte e afinada, e ao cantar suas músicas se emociona até às lágrimas. Anda um tanto esquecido e Vera, sua esposa, precisa lembrá-lo de algumas letras, ela que foi sua parceira cantando o contralto, mas também segurando os rojões da vida ministerial que são disparados contra os obreiros por pessoas mal-agradecidas. Ao recordar a jornada da vida, fecha seus olhos enquanto lágrimas de felicidade escorrem pelas bochechas da face.
Lá no passado ele participava comigo das reuniões de mocidade, cantando suas canções, e em 1968 se mudou para São Paulo ao mesmo tempo em que eu me mudei para o Rio de Janeiro. Em São Paulo, no ano de 1968, ainda solteiro, gravou com a gravadora Monte Sinai o LP: Elias Maia, uma Voz e um Violão. Este LP se perdeu na poeira dos tempos. Ele fez dupla com Nelson Cardoso, ainda solteiro, pelo selo Califórnia e gravou, Vem Comigo Cantar. O rastro deste LP pode ser encontrado na Internet.
Também perdeu a cópia do LP “Jerusalém de Ouro”.
Neste link: Estão os LPs dele:
Casou-se em 3/02/1973 e foi pastorear na cidade de São Vicente, onde nasceu seu primeiro filho, o Cléber. Era uma igreja problemática que o levou a jejuar três dias seguidos buscando uma solução em Deus. E no fim daquele jejum de lágrimas, durante a noite, ouviu uma voz lhe dizer: “Em um minuto só tudo pode mudar”, e surgiu a canção, “Um minuto só”. Depois de um vislumbre de Deus, todas as dúvidas caem por terra! Depois de resolvidos os problemas daquela igreja, foram abrir um trabalho em Jundiaí. O casal viveu ainda em Minas Gerais e regressou no ano de 1974 para o Rio Grande do Sul com uma filhinha de quatro meses nos braços para pastorear uma igreja do Evangelho Quadrangular na cidade de Cachoeirinha. Essa vida de peregrinação o levou de volta a São Vicente, na baixada santista e dali a Jundiaí, quando definitivamente regressaram ao Rio Grande do Sul. A convite do irmão de Vera fundaram a igreja Embaixadores de Cristo em 23 de novembro de 1979.
Elias Maia é também autor de “Basta Que me Toques, Senhor”, gravado pela cantora Jacira e muito entoado em todo o Brasil com algumas variantes. Até hoje, por negligência ou por falta de orientação nunca recebeu direitos autorais de nenhuma de suas músicas, e vários cantores gravaram suas canções.
Elias Maia é o tipo improvisador. Contou-me que em certa convenção denominacional pegou o violão numa roda de pastores e compôs ali mesmo uma nova música. Para surpresa sua, um cantor que o assistia, gravou a música como se dele fosse.
Alguns poetas não sonham com o futuro; preferem viver o hoje em detrimento do amanhã.
Quando lhe perguntei como vinha a inspiração! Respondeu:
– “O Senhor dá tudo num só dia”. E abre a boca para entoar outra canção!
João Antônio de Souza Filho
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