Da Linda Pátria estou mui longe
36 H.C. – O Exilado
(OLD FOLKS AT HOME)
Letra: Stephen Collins Foster (1826-1864), 1851
Música: Stephen Collins Foster (1826-1864), 1851
Versão: Justus Henry Nelson (1850-1937), 1891 [1].
Sem dúvidas este hino é um dos mais conhecidos dos hinários brasileiros, presente na Harpa Cristã, Cantor Cristão, Salmos e Hinos e Hinário Adventista, torna-se até mesmo inconveniente perguntar para qualquer cristão brasileiro se conhece este hino, de tão óbvia que será a resposta. Contudo, o cântico não é tão somente popular aqui, mas também em seu país de origem, os Estados Unidos. Veremos a seguir uma breve história sobre a origem deste louvor que marcou e ainda marca gerações.
De origem folclórica americana, Old Folks at Home (Idosos em casa) é uma composição (letra e música) de Stephen Collins Foster, datada de 1851.
Confesso que estranhei quando o pastor João A. de Souza Filho falou que a música fora escrita para salão de bailes nos Estados Unidos [2], até que numa pesquisa mais aprofundada pude confirmar a veracidade de seu relato.
Stephen Foster é considerado o “pai da música americana”, suas mais de 200 canções foram escritas durante o período romântico. Old Folks at Home também é conhecida comoSuwannee River (Rio Suwannee) [3].
De acordo com William E. Studwell, Stephen Foster além de ser muito talentoso tinha uma habilidade incrível de escrever canções que seriam eventualmente adotadas como oficiais ou teriam um grande impacto cultural. Ele nunca visitou a Flórida, mas ainda assim “Old Folks at Home” se tornou a música oficial da Flórida [4]. Também conhecida como Swanee River, foi publicada em 1851.
O escritor ainda acrescenta que foi totalmente acidental que o rio Suwanee [5], na Flórida, tenha se tornado o foco da música. Foi o irmão de Foster que, enquanto examinava um atlas, sugeriu aleatoriamente o Suwanee como um possível candidato para uma música sobre um rio.
Quando Edwin Christy, do Christy Minstrels, pediu a Foster que uma música original fosse apresentada por seu grupo, Foster enviou-lhe Idosos em casa.
Christy havia solicitado que ele fosse creditado com a música nas edições iniciais, e como Foster estava relutante em se conectar com o que descreveu como uma “canção etíope”, acabou por vender os direitos para Christy [6]. A música foi um tremendo sucesso, mas Foster não lucrou muito com ela.
Com a variante de Swanee River ter se tornando o título mais usado, a canção, assim como o rio, fluiu para a história. Estava entre as favoritas dos tap dancers (também conhecidos como sapateadores).
Em 1939 houve um filme sobre sua biografia, Swannee River (1939), dirigido por Sidney Lanfield, onde Don Ameche estrelou como Foster [7].
Vimos que Stephen Foster compôs a canção no estilo balada sob encomenda de Edwin Pearce Christy e seu grupo blackface [8] Christy’s Minstrels [9]. Os menestréis eram cantores e músicos ambulantes e Edwin um conhecido cantor de baladas. Com base em cartas de Stephen Foster para EP Christy, Foster queria que suas canções de menestréis inspirassem sentimentos de pena e compaixão pelos escravos, em vez de ridicularizar como a maioria dos shows de menestréis da época fazia [10].
De acordo com o escritor Roberto Torres Hollanda (pseudônimo, Rolando de Nassau), as letras e melodias das canções de Foster frequentemente eram alteradas pelos editores e intérpretes.
Em 1891 Justus Henry Nelson (1851-1937) escreveu uma letra religiosa para a música profana de Foster, que estava gozando um surto de popularidade. A letra foi aproveitada nas edições dos Salmos e Hinos (nº 592) e Cantor Cristão (nº 484), impressas no final do século 19. Posteriormente, no Hinário Evangélico (n° 453) e no hinário Cantai Todos os Povos (nº 159).
Rolando de Nassau ainda afirma que, Foster fora autor de alguns hinos, mas a inclusão deles nos hinários americanos cessou em 1910 [11].
Para uma compreensão mais detalhada sobre a origem desta canção, recomendo a leitura do capítulo 4 do livro, Stephen Foster: America’s Troubadour (New York: Crowell, 1934), escrito por John Tasker Howard [12].
A versão do missionário metodista Justus Nelson é mais um hino que chegou à Harpa Cristã sendo retirado do hinário Salmos e Hinos. Nelson era conhecido dos fundadores das Assembleias de Deus no Brasil: Gunnar Vingren e Daniel Berg.
Neste hino, ele procura enfatizar o sentimento que um exilado tem de sua pátria. O sentimento do apátrida sem dúvidas perpetrava sobre os escravos africanos erradicados na América.
Estamos diante de um grande paradoxo, somos escravos, mas de Cristo (1 Co 7.22), somos apátridas, mas nossa pátria não é terrestre. Temos saudade, apesar de nunca termos pisado lá.
Nas palavras de São Paulo:
Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo.O fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles é para confusão deles mesmos, que só pensam nas coisas terrenas. Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo […] (Fp 3.18-20 – ARC 2009).
Escrito por Gabriel Francisco da Silva Santana, colaborador do site Hinologia Cristã.
Copyright © 2025 – Usado com permissão
Gabriel F. da S. Santana
[1] De acordo com o hinário Salmos e Hinos.
[2] Veja seu artigo disponível em https://www.hinologia.org/100-anos-da-harpa-crista-1922-2022-pr-joao-antonio-de-souza-filho/ Acesso em 28 de fev. de 2025.
[3] Rio que atravessa o sul dos Estados Unidos (da Geórgia à Flórida).
[4] A música é a canção oficial do estado da Flórida desde 1953. Foi revisada em 2008 por conter tendências racistas.
[5] O rio original que ele escreveu foi o “Pedee” da Carolina do Sul, mas esse rio já havia sido usado em outra canção de menestrel Ole Pee Dee, de 1844. Disponível em: https://songofamerica.net/song/old-folks-at-home/ Acesso em 28 de fev. de 2025.
[6] Embora ainda recebesse royalties pela música.
[7] STUDWELL, William Emmett. The Americana Song Reader, pp. 114-115. New York: The Haworth Press, 1997.
[8] Trata-se de pintura da pele com tinta escura para retratar uma caricatura de pessoas negras no palco ou em entretenimentos. Estipula-se que tenha iniciado por volta de 1830, nos Estados Unidos, em meio ao período de transição entre escravidão e abolição da escravatura.
[9] Por ser blackface, Edwin nomeou como Menetréis Etíopes. Seus membros deveriam possuir ciência e habilidade para harmonizar e fazer solos negros originais, quartetos, coros e peças concertadas, além de tocá-los e cantá-los com verdadeira precisão e efeito.
Disponível em: https://digital.lib.niu.edu/islandora/object/niu-lincoln%3A37886 Acesso em 28 de fev. de 2025.
[10] Disponível em: https://pages.stolaf.edu/americanmusic/2021/12/08/stephen-fosters-intent-and-impact-with-old-folks-at-home Acesso em 28 de fev. de 2025.
[11] Disponível em: https://www.hinologia.org/da-linda-patria-estou-mui-longe-rolando-de-nassau/ Acesso em 28 de fev. de 2025.
[12] Encontra-se disponível na plataforma da biblioteca digital Internet Archive.
Excelente obra de Gabriel Francisco.