“A Cidade Santa” – Rolando de Nassau
(Especial para “Hinologia Cristã”)
Dois leigos em música religiosa, Frederick Edward Weatherly (1848-1929) e Michael Maybrick (1841-1913), juntaram-se para escrever e compor esse hino, no final do século 19.
Weatherly, advogado e escritor inglês, em 1892 escreveu a letra “The Holy City” (A Cidade Santa).
Autor de cerca de 3 mil canções, as que ficaram famosas foram “Danny Boy” (1910) e “Londonderry Air” (1913).
Traduziu para o inglês as óperas italianas “I pagliacci” (Os palhaços), de Ruggero Leoncavallo, e “Cavalleria rusticana” (Cavalheirismo rústico), de Pietro Mascagni.
Algumas pessoas criticaram os versos “I heard the children singing” (Ouvi as crianças cantando) e “As the shadow of a cross upon a lonely hill” (O vulto de uma cruz sobre um monte solitário), mas é preciso lembrar que Weatherly não era um letrista afeito à música religiosa.
A melodia foi composta em 1893 por Michael Maybrick, ilustre compositor inglês, que em sua juventude estudou canto em Milão (Itália) e Leipzig (Alemanha) para participar de espetáculos operísticos na Inglaterra. No final da Época Vitoriana (1880-1900), era um cantor muito popular. Por volta de 1887, adotou o pseudônimo Stephen Adams. Sua melodia “The Holy City” vendeu mais de 1 milhão de cópias; foi a canção “best-seller” do final do século 19.
Maybrick era amigo íntimo de Sir Arthur Seymour Sullivan (1842-1900), compositor de operetas (origem dos “musical shows” – espetáculos musicados – da nossa atualidade) de grande sucesso, e de hinos (HCC-138, 340 e 586), e foi um dos mais proeminentes músicos da Inglaterra, mas não é verbete do prestigioso “Grove’s Dictionary of Music”; esteve entre os suspeitos de um escandaloso processo criminal (ver: Bruce Robinson, They All Love Jack. London: Fourth Estate, 2015; https:\\en.wikipedia.org\wiki\Michael Maybrick).
Exibindo seu apreço pela afetação operística, Maybrick previu um solista na execução do hino “Jerusalém, a Cidade Santa” (CC-521), mas sempre ouvimos nas igrejas a congregação cantá-lo sem haver solo vocal.
No início do século 20, Robert Hawkey Moreton traduziu esse hino para o idioma português.
Descobrimos que o “Cantor Cristão” (37ª. Edição com música, JUERP | CBB, 2007) continuou ignorando que Stephen Adams, desde o fim do século 19 era pseudônimo de Michael Maybrick.
Brasília, DF, em 19 de março de 2019
© 2019 de Rolando de Nassau – Usado com permissão
A Cidade Santa
Letra: Frederick Edward Weatherly (1848-1929), 1892
Tradução: Robert Hawkey Moreton (1844-1917)
Música: Stephen Adams (1841-1913), 1893
Dormindo no meu leito,
Em sonho encantador,
Um dia eu vi Jerusalém
E o Templo do Senhor.
Ouvi cantar crianças
E em meio ao seu cantar
Rompeu a voz dos anjos,
Do céu a proclamar:
“Jerusalém! Jerusalém!
Cantai, ó santa grei!
Hosana! Hosana! Hosana ao vosso Rei!”
Então o sonho se alterou,
Não mais o som feliz
Ouvia das hosanas dos coros infantis.
O ar em torno se esfriou,
Do sol faltava a luz;
E num alto e tosco monte vi
O vulto de uma cruz.
“Jerusalém! Jerusalém! (Aos anjos escutei)
Hosana! Hosana! Hosana ao vosso Rei!”
Ainda a cena se mudou;
Surgia em resplendor
A divinal cidade, morada do Senhor.
Da lua não brilhava a luz,
Nem sol nascia lá,
Mas só fulgia a luz de Deus,
Mui pura em seu brilhar,
E todos que queriam, sim,
Podiam logo entrar
Na mui feliz Jerusalém,
Que nunca passará.
“Jerusalém! Jerusalém! Teu dia vai raiar!
Hosana! Hosana! Hosana sem cessar!
Hosana! Hosana! Hosana sem cessar!”
Um dos louvores quem mais amo cantar. Hosana ao nosso Rei!
O hino tem um alto teor poético, porém totalmente entrelaçado a um conteúdo profético. Por isso mesmo sua mensagem não é tão claramente compreendida. São três estrofes descrevendo três momentos distintos na história da redenção.
No primeiro momento, o autor faz alusão ao episódio em que Jesus expulsa do Templo do Senhor os cambistas e cura cegos e coxos, suscitando o louvor de meninos que dizia: “Hosana ao Filho de Davi”.
“Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?” Mt 21:15-16
No segundo momento, está implícita a rejeição daqueles que se indignaram com o louvor que reconhecia Jesus como Rei e o cravaram numa cruz, descrita agora apenas como um “vulto”, uma lembrança da dor no calvário, visto que Ele não ficou na cruz, nem na sepultura. Todavia a cruz abriria as portas da “Divinal Cidade”.
Assim, a última cena mostrada no “sonho encantador”, revela o contraste de uma Jerusalém triste, cujos “coros infantis” foram silenciados pela cruz no “tosco monte”, com uma Jerusalém “mui feliz”, onde todos podem entrar, onde o coro infantil silenciado na terra se unirá ao coro de homens, mulheres, anjos e todos os seres celestiais: “Hosana, Hosana, Hosana!”, e isso “nunca passará”.
…entendo assim também. Mas, não conseguiria explicar tão perfeitamente 👏👏👏
Muito bom comentário
Eu tmb quero ter um sonho assim meu Deus 🙏🙏
Maravilhiso comentário esclarecedor 🙏🏻a musica tem que vir acompanhada da sua essência,…sua mensagem ✨ louvor perfeito 😇
🙏🏻✨
Muito bom comentário
Eu tmb quero ter um sonho assim meu Deus 🙏🙏