Elza Lakschevitz (1933-2017)
Elza Lakschevitz Assunção (1933-2017)
Elza Lakschevitz, nascida no Rio de Janeiro, fez seus estudos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro nas áreas de composição, regência, piano e órgão. Desde 1970 atuou prioritariamente como regente coral, à frente de grupos infantis, juvenis e adultos, com o objetivo de proporcionar aos cantores a oportunidade de uma produtiva educação musical e de divulgar o repertório coral brasileiro.
Como Coordenadora de Coros do Instituto Nacional de Música da FUNARTE foi responsável pelo programa de apoio e estímulo à atividade coral no país que, por quinze anos, promoveu cursos, seminários, reciclagens, concursos e dez edições do painel FUNARTE de Regência Coral, sempre proporcionando o efetivo aprimoramento de regentes e cantores.
Membro da International Federation for Choral Music. Foi diretora da Oficina Coral do Rio de Janeiro. Regente e fundadora do Canto Em Canto. Regeu durante muitos anos o Coro Infantil do Rio de Janeiro e o do Teatro Municipal do Rio de Janeiro além de os Curumins, da Associação Coral do Rio de Janeiro. Com o Canto Em Canto apresentou-se em diversas cidades do Brasil, da Venezuela, dos Estados Unidos e da Europa.
Participou de temporadas líricas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e das Bienais de Música Brasileira Contemporânea. Esteve também com o Coro Infantil do Rio de Janeiro nos Estados Unidos, Portugal e Espanha.
Regeu em 1ª. audição obras de compositores brasileiros como Ronaldo Miranda, Vieira Brandão, Edino Krieger e Ernani Aguiar, algumas das quais foram a ela dedicadas.
Como professora e palestrante atuou em diversos cursos e congressos, com um expressivo trabalho reconhecido nacional e internacionalmente. Elza Lakschevitz ocupa, sem dúvida alguma, um lugar de honra na história da música coral brasileira.
Na Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca, Rio de Janeiro, da qual é membro há muitos anos, colaborou na área da música onde fundou e regeu o Conjunto Coral Feminino. Substituindo o missionário Bill Hichter assumiu o principal Coro da Igreja Batista Itacuruçá, à frente do qual esteve durante muitos anos, a maioria dos quais no longo pastorado do pastor Hélcio da Silva Lessa.
Dirigiu, também, o Coro Infantil, o Coro Juvenil da Igreja e o Coro Novo Canto que inicialmente era constituído pelos casais jovens da Igreja. Dedicava-se ao Coro Juvenil da Igreja fiel à palavra de que “dos lábios das crianças suscitaste louvor” (Mateus 21:16).
A vida da Elza fala por meio de todos que alcançaram seus ensinos, que tiveram oportunidade de cantar com ela,e que aprenderam sobre a arte dos detalhes com a mestra.
Rui Xavier Assunção
© 2017 de Rui Xavier Assunção – Usado com permissão
“Dedo de ouro”
“Artigo escrito em 1966, porém relançado no site Hinologia Cristã – Cantos da Fé Cristã em homenagem ao 82º aniversário de Elza Lakschevitz”
Costuma-se dizer de uma pessoa que tem muita sorte na horticultura, que ela possui um “Dedo Verde”. Isto quer dizer que, toda planta que aquela pessoa cultiva, sempre dá flor.
Musicalmente falando, a nossa personagem de hoje tem um “Dedo de Ouro”. Todas as coisas por ela tocadas adquirem um brilho extraordinário! Elza Lakschevitz não costuma fazer as coisas pela metade. Quando aceita uma responsabilidade, pode-se ter a certeza de que dará o máximo de suas possibilidades para cumprir a tarefa.
O nome Lakschevitz tornou-se tradicional no mundo evangélico musical brasileiro. Arthur Lakschevitz é um nome conhecido por quase todos os coristas das igrejas batistas no Brasil. Não somos astrólogos, mas não é difícil prognosticar que o nome LAKSCHEVITZ continuará em evidência por muito mais tempo, devido à influência de Elza Lakschevitz.
A mocidade batista brasileira pode orgulhar-se por ter tido em seu meio um autêntico valor artístico como a Elza. Todos os trabalhos que lhe chegaram às mãos, foram executados de forma brilhante sob sua firme e hábil direção. Tendo nascido num lar cristão (em 14 de Outubro de 1933), onde a música era parte integral da vida familiar, foi difícil para Elza escapar de ser uma musicista. Assim como os filhos do pastor vão para a igreja bem cedo na vida, os filhos dos regentes, muitas vezes, acompanham os pais nos ensaios. Elza seguia o seu pai quando ele regia o coro da 1ª Igreja Batista do Rio de Janeiro. Nutria um desejo muito forte de cantar também no coro. Muitas vezes o seu pai não percebia que, ao dar sinal para os coristas se levantarem, atrás dele, a menina Elza também se levantava e agia como se tivesse uma música na mão.
A música na igreja exerceu uma influência muito grande sobre a menina Elza. Quando acontecia que alguém lhe desse um cantor sem música, costumava recusá-lo. Queria cantar com música.
Aos seis anos, iniciou seus estudos de piano com a Profª Dilma Brandão. Com oito anos entrou na Escola Nacional de Música para estudar teoria, e, desde então, é figura permanente ali. Os seus estudos continuaram.
Elza era uma menina viva e alegre, interessada em tudo quanto era festa. No entanto, a sua vida não era só de festas. Começou cedo a tomar parte ativa nos trabalhos da Igreja. Com doze anos já acompanhava o coro nos ensaios que o seu pai dirigia.
Do primeiro ano ao fim do curso Primário, Elza estudou no Ginásio Copacabana. Logo após, fez o curso Ginasial e Normal no Instituto de Educação. Ainda hoje, os estudos continuam. Elza Lakschevitz é uma dessas pessoas para quem os estudos nuca terminam. Apenas para dar uma ideia, aqui está uma relação que retrata fielmente a sua aplicação no setor da música.
Da Escola Nacional de Música ela possui os seguintes diplomas:
- Curso de Piano (1957). Pós-Graduação em piano (1961). Harmonia e Órgão (1964).
- Composição e Regência (1965).
Atualmente, faz Pós-Graduação nestas duas últimas matérias. Recebeu o prêmio “Medalha de Ouro” do curso de piano na Escola Nacional de Música, e tirou o primeiro lugar no concurso para a cadeira de Educação Musical do Estado da Guanabara. Em janeiro deste ano Elza foi premiada pelo “Diário de Notícias” (conceituado jornal do Rio de Janeiro), recebendo o título de _ “Estudante do Ano, 1966”.
No magistério, Elza Lakschevitz também leva uma vida movimentada. Faz parte do corpo do docente do Instituto de Educação, Instituto Villa Lobos e Instituto Batista de Educação Religiosa.
Tem proferido conferências sobre música na Escola Nacional de Música, no Clube Militar e no Teatro Artur Azevedo. Recentemente levou o seu coro (Igreja Batista de Itacuruçá) para ilustrar sua palestra sobre Pré-Classicismo, proferida na Escola Nacional de Música.
Na edição de 21 de Janeiro do corrente ano, no Diário de Notícias, Elza Lakschevitz fez o seguinte pronunciamento sobre o magistério e a Música: “A princípio parecia difícil decidir entre duas carreiras que me seduziam. Como professora primária, sentia muito que tinha esperança na carreira e dedicação para com as crianças que em mim confiavam. Porém, sentia que a música, que desde menina aprendi a cultivar como parte integrante da educação, me absorvia, quase sem deixar tempo para quaisquer outras atividades. A solução seria tornar compatíveis o magistério e a música. Meus estudos de música aplicados ao magistério, abrem novos horizontes. Sinto-me cada vez mais empolgada com as perspectivas promissoras no campo da música em nossa terra”.
Desta forma concluiu o jornalista do Diário de Notícias o seu artigo: “Assim é Elza Lakschevitz, uma jovem inteligente que através de sua dedicação e seriedade nos estudos é hoje um maravilhoso exemplo para todos os moços que estudam”.
Ao ler esses dados acima citados sobre os diplomas, cursos, trabalhos, etc., seria muito fácil para qualquer pessoa pensar que a nossa personagem não tem tempo para mais nada _ mas não é este o caso.
Elza Lakschevitz é ativíssima no trabalho de sua igreja, onde, além de exercer as funções de regente do coro misto da Igreja e organista, dirige um excelente conjunto feminino e é laboriosa na mocidade.
Tem sido pianista e organista oficial em nossos maiores conclaves batistas. É compositora e tem feito vários arranjos especiais de músicas.
Antes de encerrar este artigo, não poderíamos deixar de mencionar um fato importante. É que, no dia 25 de Junho, a nossa irmã Elza casou-se com o jovem bancário Ruy Xavier Assunção, filho do Pastor Xavier Assunção. O jovem casal reside no bairro de Copacabana.
É interessante salientar que na cerimônia do seu casamento, toda a música utilizada foi de autoria da noiva. Foi um acontecimento impressionante, e as músicas (incluindo uma composição para orquestra de câmara), foram significativas e muito bem entrosadas.
Os coros e conjuntos que Elza Lakschevitz (agora Xavier Assunção) dirige, ou qualquer outro trabalho musical que ela executa, leva a marca patente do “Dedo de Ouro”.
“Publicado originalmente em: “O Jornal Batista”, Ed. 39 , Setembro 1966, pág. 5 – Coluna “Canto Musical”
© 1966 de Bill H. Ichter – Usado com permissão
As Palavras que não disse
Nos meus saudosos tempos de menino gostava de jogar futebol e o fazia em animadas peladas com a garotada da vizinhança. Meu genitor, pastor batista, detestava tal folguedo e proibia que dele eu participasse. Apesar da proibição paterna o fascínio da bola era mais forte; me atraia e corria o risco de ser castigado pelo pastor pai, severo como o eram os de antigamente. Um dia ao ler a Bíblia me deparei com as palavras do apóstolo Paulo em 1º Tessalonicenses 5:18.:
Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
De pronto repudiei a recomendação apostólica. Considerei-a absurda. Se no ardor do jogo quebrasse uma perna, teria de aguentar as consequências do acidente e enfrentar o castigo imposto pela severidade paterna e ainda dar graças por isso? NEGATIVO, NEM PENSAR, raciocinava então. Com o passar do tempo cresci. Aconteceu o que Paulo diz em 1º Corintios 13:11:
Quando eu era criança, pensava como menino, sentia e falava como menino. Quando cheguei à idade adulta deixei para trás as atitudes próprias das crianças.
Então entendi que devemos ser gratos a Deus em tudo. E em todos os momentos, bons ou maus.
É por isso que hoje nos reunimos para dar até logo à Elza neste momento de profunda tristeza. Até logo, e não adeus. Até logo significa até breve e adeus, uma despedida definitiva. Esta é a razão pela qual devemos dar graças, por mais paradoxal que possa parecer.
Dar graças por sabermos que agora Elza está ao lado de Cristo, o Mestre, na morada celestial onde não há dor e nem ranger de dentes.
Dar graças a Deus pela imensa benção que Ele me concedeu ao permitir que com Elza eu constituísse família. Pelos mais de cinquenta anos de convívio diuturno. Pelos filhos e netas que tivemos. Pelas viagens realizadas. Pelas conquistas e vitórias obtidas. Pelas derrotas ultrapassadas. Pelas desavenças no meio da jornada, as quais, ao serem superadas, nos tornavam mais unidos. Dar graças sobretudo porque no decorrer de sua longa enfermidade nunca nos faltaram recursos financeiros para as consultas, remédios e tratamentos requeridos. Pelo carinho e pelo apoio de todos quantos nos procuravam, irmãos biológicos, adotivos e na fé.
Pelo interesse demonstrado pelos parentes de perto e de longe. Dou graças pelo decidido apoio dos componentes do CANTO EM CANTO que semanalmente compareceram aos ensaios hipotecando apoio e carinho por sua regente até o último instante, mesmo sabendo que não mais se apresentariam. Pela presença sempre constante dos filhos, da nora e das netas. Pelas poderosas mãos de Deus sempre estendidas para nos amparar quando fraquejávamos. Pela consciência tranquila de lhe termos proporcionado o melhor tratamento que nos foi possível, embora possa não ter sido o melhor tratamento do mundo.
Em tudo dai graças.
Com o agravamento do estado de saúde de Elza especialmente no final de abril, rascunhei o texto para o ler naquele culto. Quando o pastor oficiante ofereceu aos familiares a oportunidade de dizerem alguma coisa, não tive estrutura para me manifestar. Também não me ocorreu pedir-lhe que o lesse. Faço-o agora em agradecimento a todos quantos compareceram àquele ato solene e aos que têm telefonado. Sabemos todos que Deus, Todo Poderoso, está no controle de nossas vidas e sempre pronto a nos socorrer.
Abraços a todos e em cada um,
Rio de Janeiro (RJ), 23 de maio de 2017.
Rui Xavier Assunção
© 2017 de Rui Xavier Assunção – Usado com permissão
Elza Lakschevitz (1933-2017)
(Biografia feita para a liturgia de ação de graças de Elza Lakschevitz do dia 21/05/2017)
Elza Lakschevitz, carioca, filha de Arthur Lakschevitz – músico e professor leto – importante nos primórdios da música sacra evangélica no Brasil. Pianista, compositora, organista e regente formada pela Escola de Música da UFRJ, ex-professora e regente do Orfeão do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, da Escola de Música “Villa-Lobos”, do IBER– Instituto Batista de Educação Religiosa e do STBSB- Seminário do Sul. Coordenou na FUNARTE, com o projeto Villa-Lobos um grande movimento coral no país, um marco.
Regente dos coros infantis – Curumins, do Theatro Municipal e do Coro Infantil do Rio de Janeiro. Regente de coros de igrejas, do Canto em Canto, da Associação de Canto Coral (ACC); diretora da Oficina Coral do Rio de Janeiro. Em 1988 recebeu da AMBB, o prêmio “Arthur Lakschevitz”. Em 2001, recebeu a medalha “Áster Artis” da Academia Evangélica de Letras do Rio de Janeiro.
Representou o Brasil como jurada de concursos internacionais de coros em geral e de coros infantis nos EUA e Europa, além de reger o Coro Infantil do Rio de Janeiro na Espanha e Portugal. Composições dedicadas para Elza, dos brasileiros Ronaldo Miranda, Vieira Brandão, Edino Krieger e Ernani Aguiar foram regidas e lançadas pela primeira vez no mundo musical por ela. Atuou em diversos cursos e congressos, com um expressivo trabalho reconhecido nacional e internacionalmente. Na Igreja Batista Itacuruçá, colaborou e formou um grande número de discípulos, criou coros (feminino, infantil, misto) criando belos arranjos e composições, deixando um legado para a música sacra evangélica no país com partituras editadas.
A vida da Elza fala por meio de todos que alcançaram seus ensinos, que tiveram oportunidade de cantar com ela, e que aprenderam sobre a arte dos detalhes com a mestra. Seus ensinos, direção, elegância, postura e esmero nos seus trabalhos estão marcados em todos nós, em toda a geração que aprendeu com ela e que com certeza fluirá de nós para os que alcançarmos.
No dia 16/08/08 aconteceu na Escola Nacional de Música da UFRJ a cerimônia de homenagem à professora Elza. Emocionante ver jovens que tinham sido seus coristas quando crianças, adultos que tinham sido seus jovens e que estavam ali para cantar juntos a música Cantares – letra de Valter Mariani e música de Ronaldo Miranda.
Elza – a esposa do Rui Xavier Assunção, a mãe do Eduardo e do Maurício, a avó da Sofia e Luiza, a sogra da Gisele deixa uma lacuna que nunca será preenchida, mas que deixará a marca da sua presença e amor entre eles e todos os familiares. Ela está nos braços do Pai. Ao Senhor Deus toda a glória!
© 2014/2017 de Westh Ney Luz – Usado com permissão
Publicado originalmente em: http://blogdawesth.blogspot.com.br/2017/05/elza-lakschevitz-1933-2017.html
Nossa homenagem a Elza Lakschevitz
(Dedicado ao leitor Edson Lannes, do Rio de Janeiro, RJ)
Conhecemos Elza Lakschevitz desde agosto de 1951, quando pertencíamos à União de Mocidade da Igreja Batista “Itacuruçá” (Tijuca, Rio de Janeiro, RJ), onde ela iniciou suas atividades musicais como pianista e organista.
Elza em 1952 organizou o hinário “Vamos cantar!”, para ser usado no primeiro intercâmbio “ITAPRI” com a mocidade da PIB de São Paulo; para o segundo encontro, em 1953, Elza elaborou a música de um hino; assim começou sua carreira de compositora. A respeito dessa época, ela declarou: “Foram bons tempos aqueles, certamente os melhores da mocidade de Itacuruçá! Meu melhor tempo”. Na década de 50, Elza promovia concursos de música em Itacuruçá.
Fez seus estudos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (piano, órgão, regência e composição).
Em meados da década de 50, tivemos oportunidade de conversar com seu pai, Arthur Lakschevitz (1901-1981), na residência do Rio Comprido, e ficamos impressionados com as dificuldades do seu trabalho de compilação e organização de antemas para a coletânea “Coros Sacros” (ver: “O Jornal Batista”, 16 nov 80). Seu pai regeu o Coro de Itacuruçá (1952/1962); Elza, nos impedimentos do missionário-músico John Boyd Sutton (1967/1977); ambos eram regentes muito dedicados ao seu ministério musical.
Em 1959, Elza, então com 26 anos de idade, acompanhou, ao órgão, o Coro da Associação Coral Evangélica do Rio de Janeiro, que executou, na antiga Escola Nacional de Música (hoje, UFRJ), o “Réquiem”, de Mozart, sob a regência de Heitor Argolo. Sobre este concerto, escrevemos: “A organista Elza Lakschevitz recebeu, quase à última hora, por motivo de enfermidade do professor Antônio Silva, a grave responsabilidade de acompanhar o coro e os solistas; sua execução foi tecnicamente escorreita e discreta, como convém à música sacra, e a interpretação artisticamente sóbria e solene” (ver: OJB, 05 nov 59). Por causa de seu desempenho, concedemos a Elza o título de “melhor acompanhista” no ano de 1959 (ver: OJB, 11 fev 60).
Entre 1960 e 1969, por termos mudado nossa residência para Brasília, não tivemos oportunidades de ouvir Elza. A partir de 1970, Elza dedicou-se à regência coral. Foi responsável, durante 15 anos, como coordenadora de coros do Instituto Nacional de Música – Fundação Nacional de Arte – FUNARTE), pelo programa de apoio e estímulo à atividade coral no país.
Em 1971, regeu, no STBSB, a cantata “As sete últimas palavras de Cristo”, de Dubois. Os evangélicos em geral e os batistas em particular desenvolveram o canto coral em suas igrejas.
Em 1979, foi criado o Projeto “Villa-Lobos”, para melhorar o nível técnico dos regentes; Elza foi nomeada coordenadora (ver: OJB, 05 set 82).
O gosto musical dos batistas foi melhorando. Em 1982, Elza regeu os coros juvenil e jovem de Itacuruçá; no repertório constava uma cantata do compositor barroco Buxtehude!
Elza regeu o Coro Infantil do Teatro Municipal do Rio de Janeiro na gravação do disco elepê “Villa-Lobos para crianças – Seleção do Guia Prático”, realizada na Sala “Cecília Meireles”, em março e abril de 1987, a respeito do qual escrevemos: “Ouvimos com encantamento o coro de Elza Lakschevitz. Essas vozes transparentes evocam melodias de nossa infância … este elepê se constitui desde já em valioso documento fonográfico do folclore brasileiro, dando provas de competência técnica e de bom gosto artístico … uma maestrina batista brasileira deu uma notável contribuição à nossa memória musical” (ver: OJB, 09 out 88). Como regente desse coro, Elza apresentou, algumas em primeira audição, obras de Ronaldo Miranda, Ernani Aguiar, Edino Krieger e Henrique de Curitiba.
Assistimos, em 21 de janeiro de 1988, no Centro de Convenções de Brasília, a entrega a Elza do Prêmio “Arthur Lakschevitz” (ver: OJB, 03 abr 88); na época, era regente dos grupos vocais “Curumins” e “Canto em Canto”, e do coro do STBSB, tendo atuação bastante destacada na Associação de Canto Coral do Rio de Janeiro e na FUNARTE. O “Novo Canto”, um dos coros de Itacuruçá, em 04 de junho de 1989 executou “As sete últimas palavras de Cristo”, de Dubois, sob a regência de Elza; foi o primeiro coro de igreja batista a executá-lo (ver: OJB, 20 ago 89).
Na década de 90, foi regente muito ativa do Coro Infantil do Rio de Janeiro e do “Canto em Canto”.
Em 1994, dedicamos verbetes a Arthur e Elza em nosso “Dicionário de Música Evangélica” (p. 105).
Regendo o Coro da Associação de Canto Coral (1978), o Coro Infantil do Teatro Municipal (1988), o Coro “Canto em Canto” (1996) e o Coro Infantil (1997), todos no Rio de Janeiro, Elza gravou seis CDs de música coral.
Em 1997, incluímos Arthur e Elza na galeria de personalidades evangélicas do nosso site http://www.abordo.com.br/nassau/
Em outubro desse ano, o Coro Infantil conquistou o primeiro prêmio no concurso de canto coral promovido pela FUNARTE. Com esse coro, Elza realizou, em 1998, uma turnê em Portugal e na Espanha.
Elza atuou como palestrante e jurada em festivais na América do Sul, no Caribe e nos Estados Unidos da América. Durante muitos anos, como professora, lecionou no Instituto de Educação, na Escola de Música “Villa-Lobos” e no Instituto Batista de Educação Religiosa, no Rio de Janeiro.
Recentemente, participou do livro de ensaios “Olhares sobre a música coral brasileira”, comentando seu trabalho com coros infantis.
Foi anunciado que, no próximo dia 16 de agosto, a antiga Escola Nacional de Música (Largo da Lapa, no Rio de Janeiro) prestará justíssimo preito de reconhecimento a quem prestigiou o canto coral no Brasil.
Sempre acompanhando, mesmo de longe, a sua brilhante carreira artística, aqui manifestamos nossa homenagem a Elza Lakschevitz.
Rolando de Nassau
03 de Agosto de 2008
© 2008 de Rolando de Nassau – Usado com permissão
Publicado originalmente em “O Jornal Batista”, 03 ago 08, p. 4
SALMO 151 – Salmo de gratidão e louvor – Silvino Netto
(Dedicado à musicista Elza Lakschevitz pelo bem que fez a minha alma)
Bendiga a minha alma ao Senhor
Pelos ritmos, os sons,
Os timbres, pausas, os tons…
Que tu criaste!
Bendiga a minha alma ao Senhor
Pelas notas que bailam na partitura
E se transformam em peças magnificas,
Imorredouras!
Aplauda a minha alma ao Senhor
Pela mãos sensíveis, ágeis,
Que interpretam as peças musicais
Com destreza e competência!
Bendiga a minha alma ao Senhor
Pela música que emana
Dos instrumentos de sopro,
De cordas e percussão…
Bendiga a minha alma ao Senhor
Pela tessitura das vozes e instrumentos;
Pela música que me transporta
Ao trono da graça;
Que me acalma,
Enxuga-me as lágrimas,
Na tristeza;
Que me alegra na vitória;
Embala meu corpo…
Transmite-me sensações
E emoções…
Bendiga a minha alma ao Senhor
Pela música que me traz lembranças,
Que revigora o presente,
Que me projeta o futuro;
Que me induz ao louvor!
Bendiga a minha alma ao Senhor
Pelos maestros, compositores
Cantores e executores,
Assim como a exímia musicista,
Inesquecível, Elza Lakschevitz,
Que me tocou o coração,
Inspirou este Salmo,
Canção, de gratidão e louvor!
“Com a minha voz….
Com a minha voz clamo ao Senhor;
Com a minha voz ao Senhor suplico.
Diante Dele derramo a minha queixa,
Perante Ele exponho a minha aflição.
Assim começa o Salmo 142, de Davi. Prece do valoroso guerreiro quando homiziado nas profundezas da caverna de Adulão, onde se refugiara para fugir da ira do rei Saul.
O exército israelita ao regressar de renhida batalha, foi aclamado pelo povo que gritava: Saul feriu seus milhares, porém Davi feriu seus dez milhares. Invejoso e cheio de ciúmes, o rei Saul tentou matar o jovem David, o qual escafedeu-se para não ser morto, pois de bobo não tinha nada. Lemos este relato em 1º Samuel 21:11 a 15 e 22:1. Não com estas palavras, claro está. Acrescente-se, ainda, que naqueles dias não havia armas de fogo e os combates eram corpo a corpo, com cada litigante brandindo sua espada para abater o oponente. David também foi descrito como “um homem segundo o coração de Deus”.
O brasiliense Verner Geier, ao compor uma melodia para o salmo, parafraseou-o. Este hino ou cântico (canção não, por favor!) é o de nº 380 do HCC (Hinário para o Culto Cristão) e faz parte do repertório do Novo Canto e do Coro da Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca, Rio de Janeiro. Particularmente, não gosto da nomenclatura Coro da Igreja porque, para mim, todos os coros itacurucenses ou itacurussaenses são da Igreja. Seus coralistas e a sra. regente que me perdoem.
Quem desejar conhecer o trabalho do maestro Verner, vá ao Google, no verbete “Com a minha voz”, na janela Verner Geier e delicie-se com a execução do hino pelo Coral Vozes do Calvário & Orquestra Filarmônica Messiah.
Reger coros era a grande paixão da Elza. Atividade que exercia com amor, dedicação; com competência e enorme prazer. Embora eu seja suspeito de fazer tal assertiva, porque jamais cantei em coro. Na infância não tive educação musical. Face ao convívio com Elza aprendi a apreciar a boa música por osmose.
Após anos de dedicação aos coros da Igreja, Elza completou o ciclo e dedicou-se, com a energia e o entusiasmo que lhe eram peculiares, ao Coro Infantil do Rio de Janeiro e ao Canto em Canto. Com cada um deles disputou e venceu por três vezes consecutivas os Concursos de Corais promovidos pelo Jornal do Brasil.
Na década de 80, na FUNARTE, reuniu regentes de vários estados do Brasil e auscultou-lhes as dificuldades que enfrentavam em seus locais de trabalho. De posse dessas informações, Elza criou o PAINEL FUNARTE DE REGÊNCIA CORAL como escopo precípuo de reunir os dirigentes, fornecer-lhes material que os auxiliassem no desempenho de suas funções; os aproximasse trocando experiências e idéias. O PAINEL funcionou por vários anos até o desgoverno Collor o qual, a exemplo dos demais desgovernos deste país continente, reduzem as verbas da educação e da saúde para conterem gastos.
Quando encontro alguém que com ela trabalhou em algum dos coros por ela regidos, e deles ouço carinhosas palavras de saudades, fico feliz. Noto que as “ex-crianças do Coro Infantil”, hoje pais e mães, carinhosamente continuam se referindo à Dona Elza, como faziam nos tempos de criança. Elza ficou bastante abalada, entristecida e até frustrada quando o Coro Infantil encerrou suas atividades. Entendo que “Von Alzheimer” aproveitando-se dessa fase, avançou e instalou-se, provocando estragos por quase duas décadas. É a opinião de leigo sem nenhuma base científica. Leigo que por vinte anos conviveu e observou a devastação que o inexorável avanço da moléstia causava na paciente. Li muito a respeito deste doloroso tema e não tenho vergonha de fazer tal afirmação, porque até os especialistas divergem sobre a origem da moléstia.
Com o encerramento das atividades do Coro Infantil, o Canto em Canto manteve-se firme, sustentando as cordas até quando Elza, com o avanço da moléstia, não teve mais condições de realizar os ensaios.
Na sua última semana de vida, no leito hospitalar, Elza recebeu a visita de três ex-integrantes do Canto em Canto. Um casal e uma mulher acompanhada pelo filho menor. As visitantes, cada uma a segurar as mãos de Elza, entoaram música do repertório do Canto em Canto. Elza, abrindo os olhos, olhava ora para uma e ora para a outra. Felizmente não vi a cena. Se a visse provavelmente choraria e quebraria o encanto daquele momento de puro enlevo. Dois ou três dias depois Elza ouviu o clarim do Mestre, convocando-a à Pátria Celestial e partiu para a eternidade nas primeiras horas do dia 20 de maio do ano em curso.
Há vários dias a melodia do Salmo 142 ecoa na minha mente. Quando isso ocorre, “vejo Elza à frente do Novo Canto. A um gesto seu os cantantes levantam-se. Discretamente a regente olha para a esquerda. A pianista informa que está pronta. Elza volta-se para o grupo, ergue os braços e o cântico se inicia”. Tenho observado que nos últimos domingos visualizo Elza à frente do coro que participa do culto.
Há duas semanas eu e dois amigos estivemos em Friburgo. Quando passávamos por locais onde eu e Elza costumávamos frequentar, sentia sua presença ao meu lado e com ela “conversava” mentalmente.
Não chorei naqueles momentos. As lágrimas secaram porque muito chorei ao longo da enfermidade que a consumia. Quando Elza, nos momentos de crise que foram muitos, clamava por socorro, quedava-me inerte sem saber o que dizer e nem o que fazer. Sentia-me completamente inútil e incompetente. As lágrimas jorravam aos borbotões. Então me afastava para que ela não as visse e para não atrapalhar o trabalho das acompanhantes que lhe acudiam.
Então, para que chorar? Consolo-me com as palavras de Eclesiastes 3:.
1 Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4 Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Além disso, creio que Elza já recebeu a morada eterna que Jesus lhe prometeu ao afirmar em João 14:1/2:
Não se turbe o vosso coração
Crede em Deus e também em Mim
Na casa de Meu Pai há muitas moradas
Se não fosse assim, eu teria dito
Vou preparar-vos um lugar
Então, para que chorar?
O melhor é lembrar os inúmeros momentos que ela protagonizou. Alguns emocionantes, outros alegres ou jocosos. Os tristes e ruins remeterei ao limbo.
Contarei dois para não me alongar.
Éramos amigos muito próximos do casal João/Gláucia Keidann, que lecionavam no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e lá residiam. Os visitantes da família tinham acesso à casa pela porta da sala, na frente da casa. Nós nos utilizávamos da porta dos fundos. Um dia uma das alunas de Gláucia viu Elza se retirar da residência pela porta dos fundos. Na tarde daquele dia a aluna perguntou como Gláucia podia ser amiga de Elza Lakschevitz, “mulher esnobe?”. A professora afirmou que naquele dia, ao sair para ministrar uma aula, deixara a louça do almoço na pia para lavar quando voltasse. Ao regressar, estranhou ao ver a louça lavada e guardada; a cozinha limpa e arrumada. Foi até a sala e lá estava Elza a estudar uma partitura. Então você acha que uma mulher que lava e guarda a minha louça e limpa minha cozinha é esnobe? Arrematou. Glaucia era a organista de Itacuruçá e Elza a visitara para estudarem a partitura da cantata que apresentariam em culto especial no domingo seguinte. Se Gláucia não estivesse residindo nos Estados Unidos há várias décadas, poderia confirmar a história. As duas formavam uma dupla sensacional! Se entendiam “por música”, sem trocadilho. Elza à frente dos coros e Gláucia ao órgão.
Eu e Elza fomos à Curitiba participar do enlace matrimonial da Isa, filha de minha prima Edith, casada com o Vigant Arvido Purim. Durante a recepção, em determinado momento, Edith ao olhar para a Elza me disse: Rui estou muitíssimo emocionada com a presença de Elza. Mulher famosa e de tanto renome, no casamento da minha filha!…
Elza Lakschevitz era assim. Com sua simplicidade surpreendia a todos quantos dela se aproximavam, imaginando-a ser mulher esnobe e presunçosa. Por isso,
Com a minha voz agradeço ao Senhor,
Com a minha voz ao Senhor dedico e
Diante Dele exponho a minha gratidão
Perante Ele confesso minha aflição.
Rui Xavier Assunção.
Rio de Janeiro (RJ), 15.07.2017.
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