A. Zimmermann (1909-1981)
Alphonse-Marie Zimmermann (1909-1981)
Alphonse-Marie Zimmermann nasceu em 24/04/1909 na Alsácia, região francesa.
Corria o ano de 1958 quando – em um momento não muito claro na história da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, SP – começa a trabalhar ali como professor um ex-frade redentorista de nome Alphonse-Marie Zimmermann. Juntamente com sua mulher, Maria Glicínia Zimmermann, ex-missionária metodista na Bolívia, eles logo conquistam a admiração e o apreço dos estudantes.
A destacada figura acadêmica do Prof. Zimmermann impressionava a todos. Era extraordinariamente douto em filosofia e teologia e tinha grande conhecimento dos idiomas clássicos, especialmente o latim e o grego. Dominava amplamente o espanhol e o quíchua, aprendido ao tempo em que trabalhara entre os índios como missionário no Peru. Isto para não se mencionar o alemão, o francês e o dialeto alsaciano. Foi-lhe assim fácil aprender o português, ao vir para o Brasil. Era impossível conviver com ele sem desenvolver uma grande admiração por sua cultura clássica e apreciar sua linha neotomista em filosofia.
Os alunos que estudaram Introdução à Filosofia – baseada em Jacques Maritain – e Lógica Menor e escreveram sua biografia se lembram de sua atuação em classe. Um deles se recordou: “Ele nos legou com seu carisma a difícil, mas imprescindível arte de aprender a pensar e de nos expressarmos de maneira crítica. As aulas aconteciam num ambiente contagiante, onde todos eram envolvidos com perguntas e respostas, além de exemplos simples e práticos, que ilustravam os conteúdos repassados.”
Se a erudição e capacidade pedagógica de Zimmermann eram extraordinárias não foi isto apenas o que marcou seus ex-alunos. Sua humildade e simplicidade – perfeitamente dispensáveis diante de sua formação e méritos – transpareciam em suas palavras e em sua atitude. Quando descobriu que alguns alunos tinham interesse em aprender alemão, não titubeou: convidou-os para se reunirem com ele em uma salinha da biblioteca da Faculdade de Teologia, uma vez por semana, à noite, para ensinar-lhes o idioma. Para tornar esta atividade mais agradável, ele se aproveitava de seu talento para ensinar a língua por meio de cânticos que se gravavam na memória dos alunos e alunas. Fez o mesmo em relação a outros que queriam aprender francês. Sua disponibilidade ia além de seus deveres como professor. Zimmermann insistia em que os atos humanos não podiam decorrer senão de altos valores. Uma de suas frases ficou ecoando depois de tantos anos: “se não for por amor, não dá”, insistia ele, afirmando que tais atos deviam ser feitos pela liberdade não por lei, por imposições ou por vaidade. Os que conversassem com ele se sentiam acolhidos porque não era um tipo esnobe. Aliás, era fortemente avesso à petulância! Ficava irritadíssimo com certos pregadores que se mostravam arrogantes em sua postura vaidosa no púlpito!
A par de sua profunda formação acadêmica e teológica, Zimmermann possuía uma contagiante espiritualidade e uma fascinante vocação para a música. Em pouco tempo ele se tornou o regente do coral da Faculdade. Apesar de haver nascido na Alsácia, uma região intensamente disputada pela França e pela Alemanha, seu sotaque hispânico, adquirido durante os 24 anos que passara como missionário no Peru tornava-o ainda mais carismático. Incentivando os alunos para que investissem pessoalmente em seu canto ele dizia “temos que cantar conalma”. E os desafiava a cantarem vibrantemente e com entusiasmo: “Cantem, cantem, parece que vocês têm peito de grilo!”
Organista exímio, ele conseguia reproduzir no velho e simples harmônio que a Faculdade possuía à época música da mais alta qualidade, inclusive peças de Bach, de quem ele era notável intérprete.
Ao tempo em que servia entre os redentoristas, desde seu tempo de seminarista ainda na Europa, Zimmermann, além de dedicar-se à música de Bach, Beethoven e Cesar Franck, já compunha cantatas e coros e harmonizava os cânticos de Afonso de Ligório, o fundador da ordem.
A atuação do Prof. Zimmermann não se limitou, no entanto, à sua presença na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. Sua fama de musicista e arranjador chegou ao conhecimento da antiga Confederação Evangélica do Brasil que havia se lançado ao projeto da publicação do Hinário Evangélico em sua edição final. Seu gosto e competência no processo de burilar as músicas com que trabalhava foi logo reconhecido. Cerca de 31 de suas harmonizações de hinos foram aproveitadas nas novas edições do hinário. Destas, quatro foram feitas em 1960. As demais 27 foram trabalhadas em 1961.
Do prefácio do Hinário (em sua segunda edição, em 1978) consta uma nota que se refere a sua edição preliminar, quando ele saiu com apenas 230 hinos. Ao historiar a formação deste extraordinário projeto de publicação de hinos, os editores – cujos nomes pessoais não constam dele – se referem aos que os precederam e acrescentam:
A seguir foi organizada nova Comissão de Música, formada dos Profs. João Wilson Faustini, P. [Pedro] Inglada [Sanmartí] e A. Zimmermann, que não só escolheu músicas para as letras restantes como procedeu ao reestudo de todo o Hinário apontando tônicas deslocadas, substituindo algumas músicas, fazendo novas composições – entre as quais a música do hino 148 (A Escola Dominical) – e harmonizações, enriquecendo, por essa forma, a hinologia evangélica. Aos profs. Inglada e Zimmermann foi confiada a tarefa de organizar o Hinário e preparar cinco índices, a saber: (1) dos assuntos, (2) do primeiro verso, tanto da primeira estrofe como do coro, este em grifo, (3) do metro musical, (4) do título das músicas e (5) dos compositores, autores e tradutores. A diligência e esmero com que estes obreiros cuidaram, uns da forma e sentido das letras e outros da qualidade e beleza das músicas, podem avaliar-se pelo trabalho que vem a lume.
A publicação final chegou a 500 hinos e mais sete cânticos litúrgicos. O Índice dos Hinos pela Natureza dos seus Assuntos é muito complexo, pois, além de listar os hinos citando os seus números e títulos, lista também as páginas onde se encontram. Foi um trabalho imenso que se perpetua na publicação do Hinário.
Outra atividade do Prof. Zimmermann para além dos limites da Faculdade de Teologia aconteceu quando ele foi contatado pela Associação de Seminários Teológicos Evangélicos, a ASTE, para a tradução do Vocabulário Bíblico, uma obra editada pelo Professor Jean-Jacques Von Allmen, com aproximadamente 300 palavras-chave da Bíblia. Sua primeira edição em português, com um Prólogo de sua autoria, está datada de 12 de junho de 1963.
Em 1964, o Prof. Zimmermann decidiu retornar à Europa e retornar à antiga vocação. Entre 1965 e 1970 ele viveu no Chile, voltando então para a Europa definitivamente.
Faleceu no dia 15 de setembro de 1981, vitimado por um grave enfarte com a idade de 72 anos.
© 2017 de Sérgio Marcus Pinto Lopes – Usado com permissão
Bom dia,
Alphonse Zimmermann era meu tio-avô e eu não o conhecia, mas o meu pai contou-me. Esse período de sua vida no Brasil é muito misterioso para nós e eu gostaria de saber mais. Você poderia me ajudar? Sabe mais alguma coisa sobre ele? Foi para casar com Maria Glicinia que ele deixou a ordem redentorista? E por que ele deixou o Brasil em 1964? O que aconteceu com sua esposa? Muitas perguntas estão surgindo!
Muito obrigado se me puder ajudar.
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