Noé Pinheiro (1943-2015)

BiografiaHomenagens

Noé Ramos Pinheiro (1943-2015)

Noé Ramos Pinheiro

“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” (Prov. 22:06)

O casal Antônio e Nila Pinheiro, de Caruaru, Pernambuco, reconheceu o mérito deste versículo, mas não previa a maneira em que ele viria a se cumprir no próprio lar.

O Sr. Antônio é um destes homens que com enorme força de vontade e esforço próprio se tornara um estudioso da Bíblia. Homem simples, do interior de Pernambuco (Xicuru), era comerciante ambulante e de poucos recursos. Era cego da vista direita, vista esta, que, se fosse tratada em tempo, teria sido recuperada. Apesar do fato de não ter o curso primário completo, o Sr. Antônio tornou-se um profundo estudioso da Bíblia e era comum vê-lo discutindo, em termos iguais, a Palavra de Deus com os padres que encontrava.

Nila também era uma crente muito ativa, que dava muito valor à Bíblia. Os mendigos que passavam pela sua casa, pensando em levar somente alguma esmola, sempre levavam também um trecho da Palavra de Deus.

Não é tão estranho, então, que este lar, que dava tanta importância à Bíblia, produzisse o compositor e autor do Hino Oficial de 1973 da Imprensa Bíblica Brasileira.

Noé Ramos Pinheiro, o autor e compositor em pauta, nasceu no dia 29 de janeiro de 1943, em Caruaru. Foram 5 os filhos que agraciaram o lar de Antônio e Nila, mas, dos 5, só Noé sobreviveu aos anos de infância. Fez os cursos primário e ginasial em Caruaru, sendo grandemente ajudado no curso ginasial, no Colégio 7 de Setembro, pelo grande obreiro Zacarias Campêlo, que “deu um jeito” para que o menino não tivesse de pagar seus estudos.

Dos seus pais e parentes, Noé herdou o amor pela Palavra e as convicções religiosas. Sua avó materna, D. Umberlina Maria da Conceição, converteu-se ao evangelho já bastante idosa e de maneira interessante. Depois de ficar numa fila debaixo dum sol escaldante por várias horas, para fazer confissão, quando chegou a sua vez, “fechou-se o expediente”. Ao reclamar, foi repreendida com palavras ásperas. “Você acha que somos feitos de aço? Temos de almoçar também”. Cansada, mas principalmente desiludida, a velhinha voltou para casa. Por uma “daquelas coicidências”, muito grandes, na mesma noite estava pregando na cidade o ex-Padre José Tavares. Ela foi ouvi-lo, aceitou o evangelho e tornou-se uma crente fervorosa. Era comum vê-la evangelizando nas ruas: “Moço, você não quer tirar o chapéu para ouvir a Palavra de Deus?”

É fácil notar de onde vieram as influências da vida cristã de Noé Pinheiro, mas o talento musical parece que Deus resolveu começar com ele, pois na família não havia vestígios desse dom.

Desde cedo Noé mostrava interesse pela música. Como garotinho, se aproximava das pessoas quando estavam tocando piano ou harmônio e não se afastava delas enquanto não parassem de tocar.

Iniciou os seus estudos particulares em Caruaru, pagando 20 mil réis mensais, e depois teve de pagar o dobro disto, quando começou a estudar com o Prof. Dionísio, hoje falecido, que exerceu uma grande influência em sua formação.

Estudou também princípios de Harmonia com o Padre Jaime Diniz.

Durante os anos que Noé tem estudado e ensinado, tem também trabalhado em diversas igrejas como organista, pianista e regente. Entre essas igrejas, queremos mencionar a 2ª I.B. de Caruaru, PE, a I.B. de Cavaleiro, em Jaboatão, PE. I.B de Capunga, Recife, PE, I.B. de Pavuna, GB, e a I.B. do Méier, GB.

Por 4 anos Noé Pinheiro foi Prof. De Harmônio no IBER, e foi compositor de vários hinos (aproximadamente, 35) mas provavelmente, é no campo de gravação onde ele mais se destacou, pois participou de vários LPS com arranjos, orquestrações, acompanhamentos e direção musical.

Parabenizamos a Imprensa Bíblica Brasileira pelo Hino oficial do Dia da Bíblia para 1973 e felicitamos aos irmãos Antônio e Nila Pinheiro, que em Caruaru deram a sua grande colaboração para o Hino da Bíblia deste ano, pois há 30 anos atrás “instruíram um menino no caminho em que devia andar”.

Noé Pinheiro faleceu em 19/05/2015 na cidade do Rio de Janeiro*

Bill H. Ichter

“Publicado originalmente em: “O Jornal Batista”, Ed. 40, Outubro de 1973, pág. 4 – “Coluna Canto Musical”
© 1973 de Bill H. Ichter – Usado com permissão
*© 2015 de Robson José – Usado com permissão

Homenagem ao amigo e irmão Noé Pinheiro – Por Waldenir Carvalho 

Eu estava conversando com a minha esposa a pouco, analisando o seguinte: existe uma palavra na língua portuguesa, que nunca vi tão adequada a um momento como esse. Uma palavra até muito em desuso, uma palavra chamada “paradoxo”. Enquanto nós, aqui, choramos, lamentamos a perda do querido Noé, os céus estão em festa. Eu postei no facebook uma homenagem a ele e, onde eu acredito que o piano celestial está tocando diferente a partir de hoje. O Noé foi um homem de grande inspiração na minha vida! Eu, como aquele garoto criado no evangelho, adolescente ainda, lá em Campos/RJ.

Eu me lembro que, a grande sensação da minha vida foi quando na 2ª Igreja Batista, hoje com o querido pastor Eber, eu acompanhava as fichas técnicas dos LP’s e via lá o Noé como o acompanhador. Então, eu dizia em meu coração: _“Quero conhecer esse rapaz um dia! ” E, para a minha alegria tive o privilégio, realmente muito grande, quando pude vê-lo fazer um prelúdio antes do pastor Feliciano cantar!

Mais tarde quando eu estava dirigindo música nas faculdades da AFE, quando comecei minha vida, qual não foi a minha surpresa ao adentrar na minha sala? O Noé presente ali. Começou assim uma amizade muito grande. Quando saí da AFE, o primeiro hinário que eu publiquei chamado “Hinos para a Família de Deus”, que hoje já somam 88 hinários publicados, dentre cantatas, etc. o primeiro foi gravado na casa do Noé, vendo sua mãezinha em cima da cama, assistindo às gravações.

Terminamos as gravações e o Noé depois me procurou. “Olha, minha mãe essa semana me perguntou: _ “Noé, onde é que está aquele rapaz (até então rapaz), que tem aquela voz de leão na floresta?”; ela quis dizer uma voz grave. Então eu voltei lá depois e passei uma tarde cantando pra ela.

Na vida ministerial, o Noé foi um parceiro com quem eu tive a oportunidade de compartilhar algumas preocupações, que sempre tive e ainda tenho com relação à música evangélica no Brasil, principalmente com referência à qualidade da música. Era uma das poucas pessoas com as quais eu podia falar a respeito de determinado tipo de música, por que ele entendia.

Era o grande sonho dele que eu publicasse alguma coisa em termos de, digamos “Negro Spiritual”, por exemplo. Então, quando selecionei alguma coisa o procurei, e ele sempre me encorajou: _ “Não, vamos fazer”.

E, fora da vida ministerial musical, eu tinha em Noé um grande exemplo de Cristão. Eu gostaria muito de ser um cristão como ele pois além da competência musical, da amizade autêntica, ele era muito humilde!

Em uma convenção que se realizou no Caio Martins, havia um piano no nosso estande, eu falei: _“Noé, vamos começar a tocar aqui? É uma oportunidade para você vender seus disquinhos também!” E, quando nós percebemos havia em volta de nós uma multidão cantando conosco os hinos do Cantor Cristão.

Então, o ministério do Noé, foi e será para sempre feito para todos nós! Todo mundo tem uma “historiazinha” com o Noé. E a minha história é uma história de encorajamento, de perseverança que ele me deixou como legado! De apoio também, e, numa última conversa que tivemos, talvez não última, mas falávamos a respeito da fugacidade da vida humana. Foi quando ele me falou: _”Olha Waldenir, sabe qual é o meu hino preferido, que eu gostaria que cantassem?” E, ao mencionar, coincidiu também com  a minha escolha. É um hino bem conhecido, do Norman Clayton que diz assim: “Sou de Jesus meu Mestre, Cristo Jesus é meu. Não só nos dias que se vão, mas para sempre, amém!” Vamos atender esse pedido do Noé agora? Aqueles que souberem, cantar comigo. “Sou de Jesus meu Mestre, Cristo Jesus é meu”….  Obrigado, irmãos!

Maestro Waldenir Carvalho durante o culto de gratidão à Deus pela vida de Noé Pinheiro, 20-05-2015

© 2015 de Waldenir Carvalho – Usado com permissão

O Reencontro com Noé Pinheiro – Por Milzede Albuquerque

“Falava do maestro Noé Ramos Pinheiro, que faleceu no último mês de maio, indo para a eternidade dos céus de glória e luz!  Contava que nos conhecemos em nossa juventude nos anos 60, eu com 14 e ele com 16 anos de idade.  Na época fui convidada a apresentar um solo vocal numa sessão da Assembleia Anual da Convenção Batista Pernambucana, numa igreja do Recife, e perguntei se havia alguém para me acompanhar ao órgão.  Levaram-me até ele, eu lhe disse qual seria o hino e sem olhar a partitura, ele começou a tocá-lo, na tonalidade exata que favorecia a minha voz.  Desde esse dia, o Noé se tornou meu acompanhador, indo a qualquer igreja na capital, região metropolitana, e no interior, vindo de Caruaru, sua cidade natal, para isto; até que, se mudou para o Recife e tornou-se músico solicitado por muitas igrejas, cantores, grupos corais; tornou-se também, o acompanhador do cantor evangélico número 1, Pr. Feliciano Amaral, que veio cantar em Pernambuco e desde então não quis mais cantar com outro instrumentista.  Acabou levando o Noé para o Rio de Janeiro, de onde ele nunca mais saiu, a não ser para o céu.  Mas, antes de ir para o Rio, Noé conseguiu (não me perguntem como) gravar a minha voz, primeiramente em uma face de um 78RPM, cantando o hino “Sou de Ti, Senhor”.   Enquanto isto, eu terminei meu curso de Bacharel em Educação Religiosa com Especialização em Música Sacra no Seminário de Educação Cristã – SEC, e depois de dois anos trabalhando na Convenção Batista de Pernambuco, me apresentei à Junta de Missões Estrangeiras (hoje, Mundiais) da CBB, sendo nomeada missionária para a Bolívia.  Estando no Rio para seguir para Santa Cruz de la Sierra, reencontrei o Noé, e antes de deixar o Brasil, ele conseguiu o patrocínio da própria JMM para gravar comigo um compact disc com quatro hinos, usando um vocal do Trio Feminino do IBER (Instituto Batista de Educação Religiosa), onde era professor e regente coral.  Anos depois, deixando o campo missionário por motivo de enfermidade, voltei para o Brasil, e um ano depois me casei com o Pr. Edwart C. Albuquerque, de Campinas, SP, cidade onde servimos ao Senhor por 24 anos e tivemos nossos dois filhos.   Nunca mais encontrei o Noé, nem tive notícias dele.  (Não havia computador, nem facebook, nem internet…).

Em 1994, recebemos um convite do Recife e deixamos tudo em Campinas e viemos para minha cidade servir no mesmo Seminário onde eu estudara, e no seu Centro Social, a Casa da Amizade. Morando provisoriamente no Seminário, certo final de tarde, ao voltarmos do centro, escutei uns acordes de piano vindos do Salão Nobre do SEC, ao ouvi-los, pensei comigo mesma: _ “Ninguém toca desta maneira!  Isto só pode ser o Noé!”  E voltei, para entrar no Salão pela porta principal.  Sozinho, lá no palco, na penumbra do anoitecer, divisei o pianista sentado ao piano de cauda, e confirmei minha certeza _ Era o Noé!  Entrei, devagarinho e fui me aproximando.  Sentei-me, e fiquei ouvindo.  Quando ele parou de tocar (havia afinado o piano e estava experimentando-o), eu falei _ “Noé Ramos Pinheiro! ”  Ele me olhou espantado, mas claro, não me reconheceu afinal haviam se passado 25 anos desde que nos vimos pela última vez no Rio de Janeiro, só quando acendi as luzes e me aproximei.   Depois desse reencontro muitas coisas boas ainda aconteceram, pelas quais dou muitas graças ao Senhor e o louvo pela vida e ministério profícuo, abençoado e abençoador do meu irmão Noé.   Mas estas são outras histórias…”

Milzede Albuquerque

© 2015 de Milzede Albuquerque – Usado com permissão

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