Salmos, Hinos e Cânticos – (III) – Rolando de Nassau
Cântico, para efeito da discussão do tema, é poema de intenção religiosa; caracteriza-se por sua subjetividade, expressão de sentimentos e pessoalidade.
Desde a década 50 do século passado, os hinos vêm sendo abandonados, e são substituídos pelos cânticos (“corinhos”).
Alegam os defensores dos cânticos que estes são novos e vieram renovar o canto congregacional. Na verdade, não são novos: já existiram, pelo seu caráter, na igreja primitiva, no século XIII (“laudi spirituali”) e na 6a.edição do “Cantor Cristão” (1896), no fim do século XIX. Todavia, cremos que podem ser testados, para entrar na futura edição do HCC.
Outros, assinalam que no HCC não há hinos sobre alguns temas que são tratados nos cânticos. Conhecemos 36 cânticos; pesquisando, neles encontramos os seus temas; entre parênteses, indicamos os hinos do HCC que têm os mesmos temas dos cânticos, como segue: amor a Deus (nos.334-358), louvor a Jesus (56-84), comunhão entre os crentes (562-574), amparo de Deus (33-42), amizade de Jesus (159-165), consagração (429-442), amor de Deus (28-32), brilho de Jesus (443-464), comunhão com Deus (393-405), adoração (12-27 e 222-235), alegria cristã (315-323), Deus-Criador (43-55), nome de Jesus (174-180), Espírito Santo (206-213), Jerusalém (579), santificação (390-392), serviço cristão (490-492), dedicação (241-246), e Jesus-Rei (194-199) . As igrejas usam cânticos, em sua maioria, doxológicos.
Imaginemos três igrejas batistas tradicionais (a igreja “X”, a igreja “Y” e a igreja “Z”) que acolhem os cânticos em seus cultos.
Na igreja “X”, são cantados “Aba, Pai”, “Aclame ao Senhor”, “A começar em mim”, “Água viva”, “Amigo de Deus”, “Ao Único”, “Bênção”, “Brilha, Jesus”, “Brilhante”, “Cada instante”, “Calmo, sereno e tranquilo”, “Cantai ao Senhor um cântico novo”, “Cristo, és mais precioso”, “Deus, supremo és”, “Deus, somente Deus”, “Doce nome”, “Em espírito e em verdade”, “Enche-me, Espírito”, “Eu Te amo, oh, Deus!”, “Eu Te louvarei, Senhor”, “Exaltado é o Senhor”, “Glória ao Teu nome”, “Glória pra sempre ao Cordeiro de Deus”, “Grande é o Senhor”, “Jerusalém”, “Jesus Cristo mudou meu viver”, “Louvar-Te-ei com meu serviço”, “Oferta de amor”, “Rei das nações”, “Santo, justo e digno”, “Sou todo teu, Senhor”, “Tudo é Jesus pra mim”, “Tudo pra Ti”, “Vaso novo”, “Vem, derrama paz” e “Vem, ó rei Messias, vem!”.
Na igreja “X”, supomos que os cânticos cheguem a ter 25% de participação no canto congregacional; 75% são constituídos de hinos do CC, do HCC e de hinos especiais.
Na igreja “Y”, estimamos que os cânticos representam 50%; os hinos do CC são 40%; os do HCC e hinos especiais, 10%. Nesta igreja, os cânticos são usados para atender aos jovens … e os hinos do CC, aos idosos … Para piorar a situação, na igreja “Y”, são muito repetidos durante o ano certos hinos do CC; quase não são cantados hinos do HCC …
Na igreja “Z”, são cantados mais de 75% de cânticos e menos de 25% de hinos … Nesta igreja, o desprestígio da hinodia chega ao zênite …
É incorreto repetir certos hinos, assim como é monótono ouvir as estrofes (quando existem) e o estribilho de um mesmo cântico, várias vezes.
Há quem diga que muitos dos hinos do HCC são importados; dos 36 cânticos anteriormente citados, pelo menos seis são de compositores estrangeiros (D. Zschech, G. Kendrick, McHugh, T. Paris, Adkins e R. Carmichael).
Alguns jovens, com menos de 30 anos de idade, dizem que os hinos do HCC são ultrapassados, pertencem a uma outra época (mas apreciam o “rock” dos “Beatles” e dos “Rolling Stones” que esteve em voga na década de 60) e que aquela música é tradicional, conservadora, do gosto dos idosos, só porque não sofreu a influência da música profana e mundana. Mostram-se incomodados pelas letras dos hinos, que dizem ser complexas e difíceis, exigindo leitura atenta, por causa do seu insuficiente e deficiente conhecimento do vernáculo. Com efeito, nos cânticos, em geral, as letras não são rimadas, nem complexas, e podem ser cantadas de memória.
Os jovens têm razão quando argumentam que o HCC poderia ter tratado mais de questões atuais na vida do jovem crente, mas eles refletem valores da cultura popular (assimilados nos “shows” de “gospel-rock”, nas danceterias, nos estádios, nos auditórios das emissoras de rádio e televisão, nas escolas, nas lojas, nas praias, nos clubes, etc.), quando acham que o canto congregacional deve usar elementos, estilos, ritmos e instrumentos da música profana. É mais fácil dizer que não existe música sacra …
Certos jovens preferem os cânticos, que permitem apresentar-se com certa informalidade num ambiente descontraído.
Nossa principal objeção ao uso generalizado e constante de cânticos é pelo fato de estarem menos comprometidos com a identidade denominacional (porque, usados por imitação e modismo, são oriundos de movimentos carismáticos e neopentecostais, estranhos, que se infiltram na Denominação Batista) e serem deficientes ou insuficientes na exposição doutrinária.
Nesta seção musical, os cânticos não são novidade, porque seus inconvenientes têm sido demonstrados aqui, durante, pelo menos, 50 anos …
(Publicado em “O Jornal Batista”, 25 mar 2002, p. 4)
Doc. JB-652 – Música – No. 653
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