O trabalho missionário presbiteriano no Brasil começou em 12 de agosto de 1859 com a chegada ao Rio de Janeiro de Ashbel Green Simonton (1833-1867).
De 1861 a 1867, as igrejas presbiterianas usaram “Salmos e Hinos”, hinário congregacionalista compilado em 1861 pelo casal Robert Reid Kalley (1809-1888) e Sarah Poulton Kalley (1825-1907).
O missionário Alexander Latimer Blackford (1829-1890) publicou no Rio de Janeiro, em 1867, a coletânea “Cânticos Sagrados”, incluindo hinos de José Manoel da Conceição (1822-1873) e Antônio José dos Santos Neves (1827-1874).
Em 1896, Sarah Poulton Kalley concedeu permissão para anexar à segunda edição (1875) daquela coletânea o hinário “Salmos e Hinos”, tendo a nova coleção o título “Cânticos Sagrados e Hinos”,que em 1913 atingiu a cifra de 206 números de canto congregacional. Pouco a pouco, “Cânticos Sagrados e Hinos” foi cedendo espaço para “Salmos e Hinos”.
Nas décadas de 30 e 40, Jerônimo Gueiros (1870-1953) publicou no Recife a coletânea “Novo Hinário”, para servir de subsídio a um “Hinário Presbiteriano”.
Algumas igrejas presbiterianas, na década de 60, passaram a usar o “Hinário Evangélico”, publicado em 1945 no Rio de Janeiro pela Confederação Evangélica do Brasil (ver: Henriqueta Rosa Fernandes Braga, Música Sacra Evangélica no Brasil. Rio de Janeiro: Kosmos, 1961).
Em 1974, o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) confiou a tarefa de estruturar o hinário denominacional a Atenilde Cunha, que, em 1977, providenciou a publicação do projeto do hinário, para ser apreciado pelas Igrejas.
Na época, a compiladora tinha a seguinte pretensão: “A Igreja Presbiteriana é uma Igreja centenária que deseja e necessita de um hinário que lhe seja próprio. Naturalmente, esse novo livro-de-hinos não deverá ser simplesmente como o ‘Cantor Cristão’, ‘Hinário Evangélico’ ou ‘Salmos e Hinos’, nem tampouco formado apenas de hinos desses hinários; mas deverá ser um hinário de estrutura, conteúdo e características presbiterianas, a fim de que, além de outras coisas, possa justificar o nome de ‘Hinário Presbiteriano’. Do contrário, não passará de mais um hinário que surgirá na comunidade evangélica… O hinário, pelo menos na sua maior parte, deverá ser constituído de hinos de autores presbiterianos”. (ver: Atenilde Cunha, in: revista “Louvor Perene”, nº 70, julho/setembro de 1977, p. 7). Nisto, foi imediatamente contraditada pela redatora da revista, Lida E. Knight.
Foi organizada, em 1978, uma comissão, com os pastores Sebastião Guimarães Filho e Volmer Portugal, para que o hinário, fiel às doutrinas bíblicas, tivesse melhor linguagem e coerência entre as letras e as respectivas músicas. Em 1982, a Comissão entregou em Brasília ao Supremo Concílio da IPB uma coleção de 400 hinos.
Durante dois anos (1983-1984), o processo de elaboração esteve paralisado por falta de recursos financeiros, mas foi reativado em 1985, com a participação do Pr. Sabatini Lalli.
Coube a musicografia a Almir Navogin, e os trabalhos de revisão e impressão dos hinos e de redação das notas hinológicas ficaram, em 1988, sob a supervisão de Ruy Wanderley.
Finalmente, em maio de 1991, foi lançada, pela Casa Editora Presbiteriana (Rua Miguel Teles Júnior, 382/394, Cambuci, 01540, São Paulo, SP), a primeira edição, com música, de “Novo Cântico” (NC).
A pretensão de Atenildes Cunha não pôde ser realizada: dentre os 69 autores estrangeiros mais conhecidos, 17 são Anglicanos, 15 Metodistas, 11 Batistas, nove Presbiterianos, cinco Congregacionalistas, três Católicos, três Unitarianos, dois Episcopais, um da Igreja Reformada Holandesa, um da Igreja Reformada Sueca, um do Exército da Salvação e um Universalista…
Apenas 13% dos autores estrangeiros do “Novo Cântico” são Presbiterianos…
No formato 15,5 cm x 23,5 cm, encadernado, com suas 678 páginas presas a uma capa dura, na cor preta, ostentando o título em letras douradas, o hinário contém 400 letras de hinos (algumas acompanhadas por mais de uma música), ofertório, três améns e nove índices: referências bíblicas dos hinos; títulos das músicas ou melodias; métricas; compositores, arranjadores e fontes das melodias; autores, tradutores e procedência dos textos; autores e compositores incluídos nas notas hinológicas; primeiros versos originais dos hinos traduzidos e adaptados; primeiros versos de cada hino; primeiros versos de cada estribilho. O hinário tem uma boa feição gráfica e uma razoável disponibilidade de informações.
O NC apresente os seguintes assuntos: I – Louvor e Adoração: introitos; Deus – Trino, Santo, Soberano, Criador, Providente, Fiel, Senhor, Salvador e Vencedor; Gratidão; II – Confissão: Contrição e Arrependimento; Perdão; III – Edificação: Espírito Instruidor, Consolador e Vivificador; Amor de Deus; Fé; Salvação; Testemunho; Companhia do Senhor; Aspiração; Oração; Santificação; Proteção; Confiança; Fidelidade; Fraternidade; Esperança; Lar Celestial; IV – Apelo: Convite; Decisão; – V – Consagração: Submissão; Dedicação; VI – Cristo – Sua vida; Advento; Natal; Ministério; Ressurreição; Ascenção; A Grande Comissão; Segunda Vinda; VII – Igreja – Seu Ministério: Igreja Militante; Evangelização; Trabalho Cristão; Sociedade Auxiliadora Feminina; União Presbiteriana de Homens; Discipulado e Serviço; Posse de Pastor; Batismo; Convertidos; Profissão de Fé; Ceia do Senhor; Dia do Senhor; Escola Dominical; Crianças, Despedida; VIII Assuntos Diversos – Bíblia; Ano Novo; Pátria; Cidade; Mocidade; Casamento; Lar Cristão; Aniversário; Mãe; Final de Culto.
O NC não oferece textos bíblicos para leitura durante o culto (lições) e não será acompanhado por um livro contendo informações sobre autores, compositores e hinos. No próprio hinário, Ruy Wanderley introduziu notas hinológicas.
Foram aproveitadas composições de Bach, Beethoven, Bourgeois, Boyce, Clark, Crüger, Cummings, Darwall, Dykes, Elvey, Gaunlett, Gootschalk, Goidimel, Haendel, Haydn, Hopkins, Jackson, Kocher, Luter, Mker, Mann, Maunder, Mendelssohn, Monk, Mozart, Nãageli, Neander, Nunes Garcia, Palestrina, Parry, Peace, Rimbault, Schubert, Schulz, Schulmann, Sibelius, Stainer, Sullivan, Teschner, Vulpius e Wesley.
Lamentavelmente, é muito pequena a contribuição no NC para a renovação da hinodia brasileira. Os poucos brasileiros que escreveram letras ou compuseram músicas aproveitadas neste hinário nasceram na primeira metade deste século: Bolivar Bandeira, Moacyr Dias Bastos, Henriqueta Rosa Fernandes Braga, Lídia Bueno, Hélio Amaral Camargo, Umberto Cantoni, Joaquim Silvério Costa, Atenilde Cunha, João Wilson Faustini, Wilson Castro Ferreira, Sebastião Guimarães, Werner Kaschel, Celson Lopes, Davi Alves de Mendonça, Jorge César Mota, João Campos de Oliveira, João Crisótomo de Oliveira, Manoel da Silveira Porto Filho, Volmer Portugal, Almir Rosa, Vicente Russo, Isaac Nicolaum Salum, Manoel Barbosa Souza e Ruy Wanderley. Será que entre os Presbiterianos não há jovens poetas e compositores de hinos?
Além dessa deficiência, encontramos no NC o defeito de conter música falsificada (ver: hinos nºs 22 – Haydn, 28 – Beethoven, 67 – melodia folclórica, 82 – Gottschalk e 156 – Sibelius).
Neste ano de 1991, foram lançados três hinários (em janeiro, o “Hinário para o Culto Cristão”; em março, o “The Baptist Hymnal”; em maio, o “Novo Cântico”, que, de qualquer modo, trouxeram a expansão do repertório à disposição dos ministros de música, diretores musicais e regentes, o que certamente poderá tornar mais variado o canto congregacional das Igrejas Evangélicas no Brasil.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 10 nov 1991, p. 2)
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