A Tradução de Hinos – Traduzir é Compartilhar – Hope Gordon Silva

A música é internacional. Todos nós da cultura euro-americana estamos ambientados com as melodias e harmonias das escalas maiores e harmonias das escalas maiores e menores e suas variações. Diferenças apenas dão o colorido mais rico e variado para que possamos usufruir de uma herança sempre crescente.

Mas é preciso que tenhamos letras na língua que entendemos. Por isso se justificam as traduções. Cada língua tem suas características: número diferente de palavras e de sílabas para as frases, etc., que dificultam um pouco a tarefa do tradutor. E às vezes o número de notas, as ideias contidas no original, havendo necessidade de se escolher artisticamente a mais importante.

Conservar o sentido do original é importante; é respeitar a ideia, o sentimento, a própria personalidade do escritor. Todos hão de concordar que houve mais mérito em escrever aqueles pensamentos a primeira vez que redigi-los a segunda vez. Creio, porém, que todo tradutor alguma vez tentou “melhorar” o sentido de um original, quem sabe porque considera confusa ou desatualizada alguma expressão de pensamento. Um exemplo pode ser tirado do hino nº. 110 da nova edição de SALMOS E HINOS. A tradução Anônima de The Old Rugged Cross é fiel ao texto e muito bem elaborada, mas não se tentou traduzir “rugged” porque não sobraram sílabas. (Em outra tradução mais antiga era “Rude” Cruz.) E o segundo verso do coro, “Till my trophies at last I lay down” apresenta dificuldades de conceito longo e vago; por isso foi substituído por “Seu triunfo meu gozo será”. As últimas duas linhas completam o sentido do inglês. Mas é preciso muito cuidado para fazer isso!

Convém ler e reler o original cuidadosamente. Parece desnecessário dizer isso. Mas entender direito faz a diferença. Imagine só traduzir “Out of sight, out of mind”, por exemplo, como “Invisível, estúpido”, em vez de “Longe dos olhos, longe do coração”. No entanto aí está o problema – os equivalentes tem um ritmo e comprimento completamente diferentes. Onze sílabas em vez de seis. Felizmente ainda não foi escrito a música sacra que contenha esse pensamento!

Além de se procurar transmitir o mesmo sentido no número de sílabas determinado pela música, é bom evitar os sons nasais ou difíceis de soarem bem nas notas longas, principalmente nos agudos. Na palavra “aleluia” todos os sons são gostosos de se pronunciar no canto. A palavra “bênção” não tem uma só sílaba líquida e bonita. É preciso seguir a música constantemente quando se está traduzindo, para que o efeito final não estrague a intenção do autor do original. Há também a necessidade de colocar as sílabas tônicas nos tempos fortes do compasso da música, e não esquecer de aproveitar onde a música sobe e desce para ajudar o sentido, especialmente em uma pergunta. E ainda, em português temos a combinação de sílabas onde as vogais se juntam na pronúncia:

Como_emblema de_afronta_e de dor

no hino mencionado. (SHn 110)

Acabo de receber a composição de um sobrinho de quinze anos, seu testemunho de fé, escrito em palavras simples (em inglês), e melodia suave. Em baixo está escrito: Como ficaria isto em português? A resposta poderia ser a que aqui vai.

Do you know I have a Savior? Christ Jesus my Lord.
He died for me and lives for me and I live for Him.
Where He leads me I will follow.
Where He leads me I will go.
For God loves you and God loves me, through Jesus his Son.

Tenho um Salvador, sabia? Jesus, meu Senhor –
Morreu e vive para mim. Então dEle sou.
Onde me conduz eu sigo;
Onde chama, sim, eu vou.
Através do Filho, Deus mostrou-nos seu grande amor.

Alan D. Gordon, Nov. 1976 / Trad. de Hope Gordon da Silva

Compare os dois textos: Quais as ideias que ficaram fora? Onde a pergunta se aproveita da música? Onde foi preciso cantar duas sílabas em duas notas, em vez de uma sílaba conforme está no original? A rima da tradução atrapalha? Você tem uma sugestão para melhorar esta tradução?

Hope Gordon Silva

 “Publicado originalmente em: Louvor Perene nº 70, Julho, Agosto e Setembro de 1977”
© 1977 de Hope Gordon Silva – Usado com permissão 

 

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