(Dados do próprio punho do “Gigante dos Pampas”, e nos foram gentilmente cedidos por D. Betty Antunes de Oliveira, filha do falecido “gigante”, Pastor Ricardo Pitrowsky)
Pelo Pastor Ricardo Pitrowsky
Com o avanço dos anos na história dos Batistas no Brasil, vão surgindo novas gerações, que nada ou pouco sabem dos fatos históricos de como surgiram as muitas organizações e coisas que estão em uso atualmente em nosso meio. Daí surgem indagações constantes sobre a origem destas coisas. Bom número de pessoas me tem procurado neste sentido, como um dos obreiros mais antigos. O Pastor Arnaldo Gertner instou comigo para que escrevesse os fatos históricos dos batistas do Estado da Guanabara, por eu ter acompanhado seu desenvolvimento e operado nele desde 1911, quando neste Estado só havia 11 igrejas batistas com algumas centenas de membros.
Assim, recebi do Seminário Batista do Rio o convite para apresentar em uma das suas aulas uma palestra sobre a história do Cantor Cristão. Nesta ocasião, ali instaram comigo para que publicasse o trabalho apresentado. Resolvi atender a este pedido e acrescentar mais outros dados históricos e publicá-los em O Jornal Batista, talvez em alguns artigos, para a posteridade.
O Começo do Trabalho Batista no Brasil
Sendo o Cantor Cristão o hinário dos batistas neste país, é indispensável termos alguma noção do princípio da nossa Denominação neste país, que sirva de um quadro de fundos, sobre o qual vamos projetar os dados históricos do Cantor. Em qualquer lugar, e em qualquer língua, onde surgem pessoas salvas pela fé em Jesus, estas sentem logo o desejo de exprimir a sua alegria, sua paz em Jesus, seu impulso de proclamar as Boas Novas aos outros e exaltar a sua esperança viva do futuro e da vida eterna. E a melhor maneira de o fazer é por meio de cânticos. Eles cantam porque têm realmente muitos assuntos dignos de serem cantados.
O trabalho Batista começou há cem anos no Brasil. Foi no princípio da segunda metade do século 19, que vieram imigrantes batistas com suas famílias de vários países, e logo surgiram também entre eles obreiros e pregadores. A primeira leva de famílias batistas veio dos Estados Unidos após a guerra civil naquele país (1861-1865), que saíram de lá por não se sentirem bem nas condições em que ficou a nação após a guerra. Localizaram-se em Santa Bárbara, no Estado de São Paulo. Reuniram-se e se organizaram, fundando uma igreja Batista. E eles trouxeram consigo os seus hinários para cantar os hinos nos cultos em inglês. Pela atuação e clamor desta igreja por um obreiro, a Junta de Missões Estrangeiras de Richmond, nos Estados Unidos, mandou o seu primeiro casal de missionários para o Brasil, que foi o Pastor William Buck Bagby e sua esposa D. Ana Luther Bagby. Chegaram eles em princípios do ano de 1881. Este ano pode ser considerado o início da denominação Batista no Brasil, porque, com este casal de missionários e os outros, que vieram depois, o evangelho começou a ser pregado no vernáculo para o povo brasileiro. E à proporção em que brasileiros se convertiam, era necessário providenciar os hinos na língua do país para que pudessem cantar nos cultos.
Além dos batistas americanos, que vieram dos Estados Unidos, vieram imigrantes batistas de outros países da Europa, que também trouxeram o quinhão de hinos nas línguas das suas respectivas terras que influíram grandemente na formação do cabedal dos nossos hinários. Da Alemanha, salvo engano, imigrou a primeira família batista que penetrou no Estado do Rio Grande do Sul, a qual se compunha de quase uma dúzia de pessoas. Era o irmão Carlos Freuerharmel e Frederica, sua esposa, e seus nove filhos. Interessante é que eles chegaram ao Brasil no mesmo ano em que veio o casal Bagby. Eram os meus avós maternos. E foram eles os iniciadores do trabalho batista naquele Estado entre os moradores de língua alemã. Organizaram a 1ª Igreja Batista no mesmo Estado antes do fim do século passado (séc. 19). Daí a obra se estendeu e igrejas foram organizadas por todos os estados do Sul até o Estado de São Paulo, formando uma convenção forte e próspera, que coopera fortemente com a Convenção Batista Brasileira. Além destes, chegaram também naquele tempo muitos batistas da Letônia, que localizaram em Ijuí, no Rio Grande do Sul; em Rio Novo, em Santa Catarina, e em Nova Odessa, no Estado de São Paulo; e mais tarde em Palma e Varpa, também neste último estado. Todos eles têm contribuído na formação da nossa hinologia.
Hinários Precursores do Cantor Cristão
A história do Cantor seria incompleta sem conhecermos o que já havia de hinos e hinários antes dele. Por isso, temos de fazer uma digressão e dar alguns fatos históricos de hinos que já existiam, com letras e português, antes da denominação Batista surgir no Brasil. Para isto, vamos extrair alguns dados históricos do excelente livro de longo alcance, com 448 páginas: MÚSICA SACRA EVANGÉLICA NO BRASIL, de Henriqueta Rosa Fernandes Braga, da Igreja Evangélica Fluminense, publicado em 1861, pela Livraria Kosmos Editora, no Rio de Janeiro. Nas páginas 107 ss., ela nos relata de como surgiu o primeiro hinário evangélico em Português, e com música, no Brasil, que é o SALMOS E HINOS. Ela diz:
“Da segunda metade do século XIX (1855) em diante, é que surgiram movimentos missionários evangélicos duradouros, em vernáculo, permitindo a criação de patrimônio evangélico hinológico sacro no país… Foi o casal Kalley, inglês, nas mãos de Deus, o instrumento com que se plantou um dos grandes marcos evangélicos no Brasil: a sua hinologia. Como médico missionário, estivera o Dr. Roberto Reid Kalley (1809-1888) na Ilha da Madeira, Portugal, de onde fora obrigado a fugir (1846) por motivo de perseguições religiosas, voltando para sua terra, a Inglaterra. Após alguns anos, refletiu ele sobre a necessidade de levar o Evangelho ao Brasil, que tanto dele carecia e onde trabalho algum existia em vernáculo. Conhecendo a língua portuguesa, resolveu dedicar-se, juntamente com a sua segunda esposa, Sara Poulton Kalley, à evangelização dos brasileiros. Chegaram ao Brasil em 10 de maio de 1855 Como o ambiente no Rio de janeiro não lhe parecia favorável para abrir um trabalho evangélico, transferiu-se julho do mesmo ano, para Petrópolis, parecendo-lhes propício o lugar para início de trabalho evangélico por poderem contar com o apoio da numerosa colônia alemã ali radicada. Começaram ali a dar início em 19 de agosto de 1855, à tarde, com reuniões da Escola Dominical, com a presença de cinco crianças. Dona Sara leu-lhes a história do profeta Jonas, ensinou alguns hinos e, com eles, orou a Deus. Alguns domingos depois já funcionava uma classe de adultos, a cargo do Dr. Kalley e frequentada por pessoas de cor. Os primeiros hinos evangélicos cantados no Brasil em língua portuguesa foram provavelmente aqueles, entoados nessa insipiente escola dominical. Haviam sido escritos pelo Dr. Kalley na Ilha da Madeira, alguns anos antes. São eles os números 32, 27, 7, 26, 33, 76, 51 e 55 do Salmos e Hinos de hoje.
“D. Sara Kalley, senhora culta, bem nascida e dotada de marcados pendores poético-musicais, aos quais se acrescentavam outros dons artísticos, foi a fiel colaboradora de seu esposo, dando-lhe mão forte no trabalho, traduzindo novos hinos e escrevendo cânticos originais. Esta produção é que, pouco a pouco enriquecida, iria permitir-lhe em poucos anos publicar o primeiro hinário evangélico brasileiro – SALMOS E HINOS. A primeira edição de Salmos e Hinos foi preparada pelo casal Kalley e publicada, só a letra, em 1861. Foi usada pela primeira vez no domingo 17 de novembro desse mesmo ano. A 1ª edição com música foi publicada pelo casal em 1863, com o nome: SALMOS E HINOS COM MÚSICAS SACRAS”.
Aí temos a obra monumental do casal da Igreja Fluminense da qual dificilmente se encontra outra igual em outro lugar. Este hinário realmente é o pai de todos os hinários com música, dos demais das principais denominações evangélicas no Brasil, não incluindo a luterana.
Como já referimos acima, com a chegada dos missionários, do Casal Bagby e seus sucessores, começou a evangelização pelos batistas entre os brasileiros na língua vernácula. Isto exigia que os hinos para serem cantados fossem também em português, a língua do povo. Como resolver o problema? Os missionários, sendo estrangeiros, e não dominando ainda bem o vernáculo, dificilmente poderiam adaptar as letras em português às centenas de músicas já existentes em inglês e em outras línguas, e muito menos penetrar na difícil arte da poesia e métrica dos versos em português. Mesmo assim, cedo eles começaram a verter muitos hinos para o vernáculo, que foram publicados, como era natural, cheios de “pés quebrados”, cacófatos, etc., que o povo, assim mesmo, cantava com entusiasmo. Era quase impossível eles perceberem, por exemplo, cacófatos como este que saiu publicado numa das estrofes do hino: “A Pátria para Cristo”.
“Meu Deus, concede amá-la,
Amá-la com valor”.
O jeito que tinham, era de aproveitar o que já existia de hinos sacros na língua portuguesa. Foi o que de fato fizeram, usando o Salmos e Hinos, que nesse tempo (1881) já estava em uso havia 20 anos. Era inteiramente natural que a incipiente denominação Batista usasse este hinário nos seus cultos, como fizeram do Salmos e Hinos o seu hinário por muitos anos. O Cantor Cristão só surgiu 10 anos depois e se tornou o 2º hinário geral de hinos sacros em português, no Brasil.
Assim como o surgimento do Salmos e Hinos se prende a um homem notável e sua esposa, assim o Cantor Cristão se prende a outro homem notável que é o judeu convertido ao evangelho, Salomão Luiz Ginsburg. Nasceu ele na Rússia, no dia 6 de agosto de 1867, filho de uma família rica e virtuosa de rabinos. Fez os seus estudos primários sob os cuidados dos seus avós, na Alemanha, até aos 14 anos de idade, voltando então à Russia, onde fez os estudos superiores. Motivos políticos o obrigaram a deixar aquele país. Seguiu para Inglaterra, onde, pelo estudo profundo do Novo Testamento, converteu-se a Jesus Cristo. Por este fato, os seus pais o deserdaram e excomungaram. Estudou então alguns anos num seminário evangélico em Londres, e consagrou-se ao trabalho da propaganda do evangelho no Brasil. Saiu de lá, via Portugal, onde se demorou algum tempo para estudar a língua portuguesa. Chegou ao Brasil em 10 de junho de 1890. Começou logo a trabalhar com a Igreja Evangélica Congregacional, à qual pertencia. Ficou convencido das doutrinas batistas, razão por que batizou-se por imersão na Igreja Batista de Salvador, Bahia, em novembro de 1891, sendo administrante o missionário Zacarias Taylor. Trabalhou ativamente com os batistas até a sua morte em 1927. (Ver “As Boas Novas” Nº. 15 de 28 de abril de 1898).
Volto aqui a citar dados históricos do livro MÚSICA SACRA EVANGÉLICA NO BRASIL, das páginas 192,195. A autora diz textualmente:
“Ao começar o trabalho no Brasil, precisou a Missão Batista recorrer àqueles já existentes em vernáculo. A coleção mais divulgada no meio evangélico da época era Salmos e Hinos. Foi este hinário usado até o aparecimento do Cantor Cristão, fato que ocorreu em 1891 por iniciativa particular de SALOMÃO L. GINSBURG, judeu russo convertido ao evangelho, chegado ao Brasil em 10 de junho de 1890 para trabalhar em conexão com a Igreja Evangélica Fluminense.”
Interessante é notar que, no mesmo dia em que este missionário pisou o solo brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro, ele verteu do inglês para o vernáculo o hino: “Chuvas de Bênçãos teremos”, que foi o 1º. hino produzido por ele no Brasil e o 1º. dele que depois de um ano se alinhou numa coleção de 16 hinos, compilados por ele, com o nome de CANTOR CRISTÃO. Publicou-o ao que parece, em Pernambuco, onde se encontrava pastoreando a Igreja Pernambucana (regime congregacional) em substituição por motivos de saúde. Nasceu assim o Cantor Cristão no mesmo ano, 1891, em que o Pastor Salomão passou para a Denominação Batista. Não se sabe ao certo o mês em que esta 1ª edição saiu do prelo. É provável que tenha sido no mês de setembro de 1891, porque nesta data saiu publicada uma pequena notícia sobre esta coleção, no jornal O Bíblia, publicado na época e do qual era S. L. Ginsburg redator-responsável, informando o seu preço – quarenta réis! O 1º. hino “Chuvas de Bênçãos teremos”, produzido por Salomão, no Brasil, exprimia naquele tempo uma verdade profética em relação a este hinário e à Denominação Batista. Na “História dos Batistas do Brasil”, Vol. I pág. 93, lemos o seguinte do ano 1894: “Foram publicados 250.000 folhetos e uma edição de 5.000 exemplares do Cantor Cristão com 126 hinos. O Cantor desde a sua pequena edição de 16 hinos tem sido um poder extraordinário na proclamação do evangelho em toda parte”. E assim tem sido até o dia de hoje que resultou no extraordinário crescimento da Denominação Batista, ultrapassando o dos demais campos missionários do mundo, de modo que o número das suas igrejas se aproximam de dois mil e dos seus membros de duzentos mil.”
Esta primeira edição do Cantor deve ter sido uma saída fora da expectativa, porque a Profª. Henriqueta Rosa Fernandes Braga nos informa no seu livro pág. 193, que ainda no ano de 1891, foi publicado pelo Rev. S. L. Ginsburg na Bahia, o Cantor Cristão, folheto de 24 páginas com 23 hinos. Tudo indica ser esta a 2ª edição. Daí por diante as edições desse hinário assim se sucedem: 3ª edição, citada em O Cristão de Julho de 1893, sem pormenores descritivos. A 4ª edição revista e aumentada, lançada em Niterói, RJ, ainda em 1893, com 63 hinos, e com 56 páginas; “nova coleção de hinos por Salomão Ginsburg, pastor da Igreja de Cristo em Niterói” 5ª edição, publicada na Bahia em 1894, com 113 hinos e 14 coros ou “Cânticos Diversos”. Tem 112 páginas e foi impresso na Tipografia Evangélica Batista na Rua do Colégio 32, em Salvador. A 6ª edição, impressa em Campos (RJ) em 1896, reunindo 153 hinos e 13 “coros diversos”, tendo 160 páginas.
Tendo sob as minhas vistas um exemplar da 7ª edição, pertencente ao arquivo da caixa forte da Casa Publicadora Batista no Rio, e que me foi cedida para tirar os dados interessantes para este histórico. Foi publicada com uma coleção de 110 hinos e 13 corinhos, ainda pelo irmão Ginsburg em 1898, na tipografia da Redação de AS BOAS NOVAS (predecessor de “O Jornal Batista”) em Campos, Estado do Rio.
(Convém que eu faça aqui uma retificação de um erro que saiu publicado no livro “Música Sacra Evangélica no Brasil”, pág. 194, com referência a esta edição. Aí se diz que esta 7ª edição contém 101 hinos em vez de 110 que é certo. O erro foi da tipografia que imprimiu o cantor, trocando no último hino do hinário o zero com o número um.)
O Processo de Compilação dos Hinos do Cantor
Como esta 7ª edição é a única da qual tivemos a sorte de alcançar um único exemplar real e palpável das que foram publicadas antes do fim do século passado, vamos deter-nos no exame dele e salientar alguns fatos históricos.
O 1º. é o processo da compilação dos hinos. Já disse acima que os batistas, no seu início no Brasil , usaram os hinos já existentes, publicados no “Salmos e Hinos”, vinte anos antes, cujos autores das letras pertenciam a várias denominações evangélicas que já operavam anos antes neste país. Era, pois, inteiramente natural que Salomão Ginsburg, ao publicar a 1ª edição do Cantor Cristão com 16 hinos, escolhesse certo número deles para incluí-los no novo hinário que estava nascendo; e isto numa grande proporção. Isto continuou, não só até à 7ª edição, mas até mesmo nas edições posteriores até ao presente. O inverso também se verificou. Hinos do Cantor Cristão mais tarde foram incluídos nos hinários de outras denominações. Aí temos a razão de as várias denominações evangélicas terem tantos hinos em comum nos seus hinários.
Assim, a 7ª edição nos apresenta bem uma visão deste quadro. Nos 210 hinos desta edição, encontramos assinalados 44 autores, sendo 21 hinos anônimos. Destes autores, cerca de 5 pertencem à denominação batista com cerca de 69 hinos. Destes hinos, 47 são da autoria de Salomão Ginsburg e 16 de um Sr. A. Campos, que se batizou na Igreja, a qual depois abandonou, voltando ostensivamente para a Igreja Católica. Examinando os seus hinos fica-se perplexo de como uma tal pessoa pode produzir hinos como “Mais vontade dá-me de odiar o mal”. Nesta edição aparece o 1º. hino publicado pelo missionário W. E. Entzminger, que é: “Oh! como foi que meu Jesus”, produzido na Bahia em 1892, que se tornou o 2º. hinologista no Brasil entre os batistas.
O 2º fato a salientar nesta edição, é observar a proporção, as datas e os lugares onde foram produzidos os hinos por Salomão Ginsburg nos primeiros 8 anos da sua estada no Brasil. Citarei apenas os hinos dele que trazem o lugar e a data na ordem cronológica, dos anos, mencionando-os na forma como vêm impressos. Isto nos dá uma ideia da sua grande atividade evangelística em que estava empenhado viajando para cima e para baixo.
O 1º hino feito no dia da sua chegada ao Brasil, em 10 de junho de 1890: “Chuvas de bênçãos teremos”, no Rio de Janeiro; “Vinde à fonte”, PE, 1981; “Cristo salva o pecador”, Maceió, AL, 1891; “Cristo meu Salvador veio a Belém”, Goiana, PE, 1891; “A mensagem do Senhor”, PE, 1891; “Cercando teu sepulcro”, BA, 1891. Comparando as datas deste hino sobre o batismo, com a do batismo do próprio Salomão, quando ele saiu da Igreja Congregacional e se uniu com os batistas, batizando-se por imersão na Igreja Batista na Bahia, é bem provável que compôs este hino para o seu próprio batismo “Oh vem divina luz”, AL, 1891; “O que farei pra me salvar?”, Recife, PE, 1891; “A cruz ainda firme está”, Recife, PE, 1891; “Oh, vinde oprimidos”, Salvador, BA, 1891; “Meu Cristo te amo”, Salvador, BA, 1892; “Escuta a voz”, Salvador, BA, 1892; “A graça do Senhor”, Niterói, RJ, 1893; “Como o pássaro voa”, Niterói, RJ, 1893; “Me esconde em teus braços, Niterói, RJ, 1893; “Pão da vida”, Gurily, RJ, 1894; “Vinde batalhar”, Campos, RJ, 1894; “Avante, irmãos”, Guandu, RJ, 1895; “Irmãos todos juntos louvemos” Campos, RJ, 1895; “Oh vinde ver Jesus”, S. Fidélis, RJ, 1895; “Quem tenho eu no céu?”, Campos, RJ, 1895; “Cristo em breve do céu virá”, Santa Bárbara, RJ, (?), 1895; “Creio em Deus Pai”, Ilha Grande, RJ, 1897; “Amemo-nos, irmãos”, Rio de Janeiro, GB, 1897; “Ao Deus de amor” Campos, RJ, 1898. Sob o título deste hino, encontra-se a seguinte nota: “Dedicado à Igreja de Cristo em Campos e cantado no dia da inauguração do templo, 21 de abril de 1898”.
Com estes dados interessantes, chegamos ao fim do século de 1800. Parece que ninguém se lembrou de fazer um arquivo das edições do Cantor, que estavam sendo publicadas, para os pósteros; de maneiro que só nos foi possível achar um único exemplar que acima analisamos. E esta negligência tem continuado para tempos mais recentes, pois sentimos ainda a mesma falta.
Voltaremos aqui a citar mais alguns dados históricos do “Música Sacra Evangélica no Brasil”, pág. 194, sobre as várias edições do Cantor, adicionando outros para completa-lo mais, dos quais a autora não dispunha. Mesmo assim não temos notícia de todas as edições. O Cantor já se tinha firmado como hinário dos batistas nos seus dez primeiros anos de existência, apesar de ser publicado sob a responsabilidade exclusiva do missionário Salomão L. Ginsburg, em lugares diversos. No início de 1901, fundou-se O JORNAL BATISTA, sucessor dos dois jornais “As Boas Novas”, publicado em Campos no Estado do Rio, e “A Mensagem”, na Bahia; e com ele nasceu A Casa Publicadora Batista, para a qual convergiam, daí para o futuro, as outras edições. A 10ª edição publicada já pela “Casa Editora Batista”, Rua São José 60, no Rio de Janeiro, em 1903, sob a direção do Rev. W. E. Entzminger, incluindo 225 cânticos e 19 “coros diversos”; a 11ª edição, revista, correta e muito melhorada por Salomão L. Ginsburg, também publicada no Rio de Janeiro, Gb, pela Casa Editora Batista, em 1907, enfeixando 300 cânticos e 11 músicas. AO que parece, estas 11 músicas eram publicadas em clichês reduzidos para caber no formato reduzido do Cantor de Letras. A 12ª. edição foi mais uma vez publicada fora do Rio, na Bahia, em 1911, com prefácio de Salomão L. Ginsburg e abrangendo 400 hinos e 60 coros.
A Convenção Batista Brasileira e o Cantor Cristão
Esta convenção foi organizada na Bahia em 1907; e, ao que parece, não cogitou de tomar qualquer resolução sobre o Cantor, senão só na sua 5ª reunião em Campos, RJ, em 1911. Isto deduzimos da informação publicada na introdução da 14ª edição do Cantor em 1914, pela comissão composta dos missionários Salomão L. Ginsburg, W. E. Entzminger e O. P. Maddox, da qual extraímos o seguinte: Apresentando esta 14ª edição, sentimos ter que confessar que ainda não é o que almejávamos que fosse. Era nossa intenção publicar pelo menos 500 hinos e 100 coros, porém a falta de tempo para cuidar de uma obra de tanta importância, inibira-nos de fazer o que aqui apontamos.
“Entretanto, os irmãos encontrarão muitos melhoramento, especialmente na transformação de certas de certas frases que destoavam e prejudicavam o valor desta obra. Obedecendo as instruções da nossa Convenção em Campos, entregamos o Cantor nas mãos de uma pessoa competente, o nosso prezado irmão Adalberto Nicholl, tão conhecido entre os Batistas como professor e poeta, que muito nos auxiliou corrigindo frases e eliminando coisas que não estavam muito conforme às regras gramaticais e à boa metrificação. Depois de passar pelas mãos deste irmão, a comissão nomeada naquele Convenção teve oportunidade de examinar tudo e adotar das emendas propostas o que era rigorosamente necessário. Muito nos auxiliou neste trabalho a Exma. Sna. D, Amelia C. Jayce (mais tarde a 2ª esposa do Rev. W. E. Entzminger), que não só conhece bem a nossa língua, porém também a música de todos os hinos do nosso Cantor.”
“Eis, pois, de novo este nosso hinário muito melhorado, porém, infelizmente ainda não completo. Só depois de impresso o Cantor com música é que poderemos apresentar um Cantor completo e perfeito. Com relação ao Cantor com música só uma palavra. É necessário que os irmãos tenham um pouco de paciência. Estamo-nos esforçando o mais possível, dá-lo pronto para no mais curto prazo possível, e se Deus nos permitir, esperamos vê-lo nas mãos de nossos irmãos o mais tardar na Convenção de 1915.”
Esta 14ª edição contém 450 hinos e 64 coros; e é a 1ª edição que tem no fim um índice dos assuntos dos hinos, porém só pelos números dos mesmos sem o seu devido agrupamento em seções. Em edições anteriores apareciam os dizeres: “Coleção de hinos adotada nas igrejas batistas do Brasil” nesta edição já aparece: “Hinário das Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira”. E na mesma página o nome da “Casa Publicadora Batista”, rua Itaúna 33, Rio; mas no verso vê-se a indicação de que foi impresso no Porto, Portugal. Quanto á opinião otimista da comissão em ver nas mãos crentes já no ano seguinte o Cantor com música só se realizou dez anos depois.
A 16ª edição foi publicada pela Casa Publicadora Batista, em 1918, nas suas oficinas na Rua Cons. Magalhães Castro, 99, Rio de Janeiro, já com o subtítulo firmado: “Hinário das Igrejas da Convenção Batista Brasileira”. Conserva os 450 hinos na mesma ordem da 14ª edição; porém em vez de 64 coros, traz apenas 50. A seguir vem anexo um “Suplemento” com mais 50 novos hinos introduzidos, prosseguindo a numeração dos hinos de 451 até 500.
Examinei a lista destes novos hinos, e verifiquei muitos deles que foram escritos durante os anos de 1912 a 1918, pelos missionários Salomão L. Ginsburg e W. E. Entzminmger. Só este contribuiu com 13 hinos novos para este suplemento. Daqui para as novas edições, ele aumentou ainda muito mais o número dos seus hinos no Cantor. Salomão adicionou aos hinos dele mais 15 neste acréscimo. Só estes dois autores contribuíram com 28 hinos novos para esta nova coleção. É interessante notar que nesse mesmo período já apareceram vários hinos de vários brasileiros que a Casa incluiu também. O resto dos números que faltaram para completar os 50 foi tirado ainda do “Salmos e Hinos”.
Um certo número destes novos hinos, à proporção que iam sendo escritos, foram publicados com a música n’O Jornal Batista, tornando-se assim conhecidos logo em todo o Brasil. Eu mesmo, naquele tempo, como seminarista, viajando nas férias do seminário pelo interior do país, ensinava bom número destes hinos novos nas igrejas. E com que entusiasmo os crentes cantavam “Vamos ver Jesus ali”, ou, “Brilha no meio do teu viver”, ou ainda, “Oh, crê nesse amor sem igual”, etc.
Por conter fatos históricos importantes e interessantes a introdução desta edição, vou passa-lo para aqui: “Com esta 16ª edição, perfazem um total de 120.000 exemplares publicados e usados pelos batistas brasileiros desde 1892, quando saiu publicado nas oficinas Tipografia Americana Progresso (sita no antigo Aljube, na Bahia, e dirigida pelo abnegado missionário Z. C. Taylor), a 1ª edição, um modesto folheto de 16 hinos apenas. Certamente Deus tem se glorificado neste trabalho, pois a Ele pertence toda a honra e toda a glória.
Devido à guerra (a 1ª grande guerra mundial 1914-1918), ainda não nos tem sido possível publicar a edição musical do nosso Cantor; porém, Deus permitindo, antes do ano findar, esperamos poder apresentar às igrejas o Suplemento que acompanha este Cantor, isto é, a música da maior parte dos hinos desde o número 451 até ao número 500. Algumas dessas músicas já foram publicadas no “Jornal Batista” e algumas outras estão sendo preparadas para tal objetivo. Queremos chamar a atenção dos irmãos e amigos para o seguinte:
- Os primeiros 450 hinos e coros não sofreram alteração alguma e não ser numa e noutra expressão insignificante; de forma que aqueles cujos Cantores de edições anteriores estejam em perfeito estado, não tem necessidade de abandoná-lo; basta adquirir o Suplemento dos últimos 50 hinos e terão o seu Cantor completo, podendo assim acompanhar facilmente todos os hinos
- O Suplemento, isto é, os hinos desde o número 451 até 500, pode ser adquirido pela insignificante quantia de 200 réis.
- Até o fim do corrente ano esperamos ter pronto para a venda o Suplemento com Música, isto é, a maior parte dos hinos do Suplemento terão a sua música, mormente a dos hinos especiais, que não se encontram no S.S.S. nem no Salmos e Hinos.
- Todos os hinos trazem ao lado do título menção dos livros nos quais acha a música respectiva, constando a maior parte delas no livro Sacred Songs and Solos, representando pelas S.S.S. e dos Salmos e Hinos, sendo que este tem a letra dos hinos em português. É necessário, porém, notar, que a letra do Cantor Cristão, nem sempre é a tradução da letra do hino do livro S.S.S., nem tampouco a transcrição da letra do hino no Salmos e Hinos. Muitas vezes ela é totalmente diferente.
“A comissão”
Como esta “Comissão” não traz nomes que a compõem, é de supor que seja a mesma mencionada na 14ª edição que são os irmãos: Salomão, Entzminger e Maddox.
(Neste ponto Ricardo Pitrowsky deixou o seu trabalho preparado e batido à maquina. Encontramos a 10ª página, ainda com 2 cópias e papel carbono presos com clips, dentro de sua pasta “Histórico do Cantor”. – O que temos a seguir o fizemos copiando de um rascunho como, ainda, de um esboço com algum desenvolvimento encontrados juntos. Tentamos dar corpo ao encontrado.
O Cantor Cristão com Música
Durante anos tem sido a cogitação dos diretores da Casa Publicadora Batista publicar o Cantor com as músicas dos hinos. Era uma grande falta para o povo, mas, principalmente para os organistas para tocar as músicas que se achavam em hinários estrangeiros de várias línguas, cuja indicação estava impressa abaixo dos títulos dos hinos. Esses hinários, cerca de 20, obrigavam os organistas a terem junto de si uma biblioteca. Além disso o constante aumento de hinos em cada nova edição, as modificações constantes nas letras e nos números dos hinos causava grande confusão, como é fácil de imaginar, de maneira que só com a música seria alcançada. Mas o elevado custo dessa obra dificultava e demorava a sua realização. Nesse estado de coisas, o Dr. W. E. Entzminger tomou a iniciativa de publicar um fascículo de um hinário de 60 hinos selecionados diversos, ao que deu o nome de LYRA CRISTÃ, que saiu publicado em 1919. Mas não satisfez de modo algum a necessidade, por não ser o próprio Cantor e sim uma coleção à parte e pequena.
Foi nessa altura que a Casa Publicadora Batista nomeou a comissão para fazer uma revisão das letras dos hinos, com vistas a publicá-las com música, que ficou composta dos irmãos Manoel Avelino de Souza, Ricardo Pitrowsky e D. Emma Paranaguá. Essa comissão fez o trabalho um tanto apressado, corringindo a linguagem, a métrica dos versos, tirando “pés quebrados”, tirando 19 hinos da coleção e introduzindo novos hinos, usando para isto a 16ª edição. Organizou os hinos e agrupou-os em assunto, o que importava numa completa remodelação da numeração. Esse trabalho foi publicado em 1921, na 17ª edição, sem música, com 571 hinos.
Como essa revisão feita às pressas apresentava ainda certas falhas, foi nomeada nova comissão composta dos irmãos: Manoel Avelino de Souza, W. E. Entzminger e Ricardo Pitrowsky, para rever mais uma vez a letra e preparar o “manuscrito” completo com letra e música. Nesse interim, a C.P.B. mandou vir dos Estados Unidos um jogo completo de tipos de música entregando o trabalho ao pastor Ricardo Pitrowsky. Deu-lhe 4 tipógrafos e um esteriotipista. O trabalho saiu publicado como está na 18ª edição, em 1924, e daí para diante não sofreu mais alterações alguma até o presente (1963) a não ser na atualização da ortografia. Essa edição da letra traz na primeira página os dizeres: “Texto definitivo” por causa do clamor geral contra as constantes modificações. Assim, por causa do clamor geral contra as constantes modificações. Assim, durante 40 anos o Cantor Cristão conservou a sua forma inalterada.
Esse cantor foi o 2º hinário com música de uso geral. O 1º foi o Salmos e Hinos.
Na adaptação da letra à música, foi absolutamente necessário alterar demais uma vez a numeração por causa do tamanho dos hinos para caberem dentro das duas páginas de duas folhas, para evitar ser necessário virar a folha para terminar o hino, o que é tão inconveniente para o organista. E fomos bem sucedidos, pois nenhum hino passa para outra página da folha virada, a não ser os hinos que tem mais que duas páginas. E como deste modo fomos obrigados a modificar, mais uma vez, a numeração, introduzimos mais alguns hinos novos, elevando o seu número para 578.
É indiscutível o estímulo extraordinário que o Cantor Cristão com música trouxe para a organização de coros nas igrejas, que não existiam. E, com isto, a publicação dos hinários para coros: “Coros Sacros” de Arthur Lakschevitz; “Antemas Celestes” de Alyna Muirhead etc. Surgiu o compositor Guilherme Loureiro, bem como autores diversos de letras para coros: Canuto Regis, Ricardo Pitrowsky, Eudora Pitrowsky, Livino Alcantara.
“Publicado originalmente em: “O Jornal Batista”, Ed. 47 (Novembro), 50 (Dezembro), 1966 / Ed. 3 (Janeiro), Ed. 7 (Fevereiro), 1967 págs. 5 – Coluna “Canto Musical”
© 1966, 1967 de Bill H. Ichter – Usado com permissão