HCC 229 – Louvem, com alegre som
História
229. Louvem, com alegre som
“Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre. Dai graças ao Deus dos deuses; porque a sua benignidade dura para sempre. Àquele que fez os grandes luminares, porque a sua benignidade dura para sempre” (Salmo 136.1,2,7).
John Milton, um dos maiores escritores evangélicos de todos os tempos, parafraseou o Salmo 136, o grande Salmo antifonal de louvor, em 1623, quando tinha somente quinze anos. Publicou no seu livroPoems in english and latin (Poemas em inglês e latim). O original tinha 24 estrofes. As cinco estrofes geralmente usadas hoje são l, 2, 7, 23 e 24.
É uma forte e concisa declaração de louvor enfatizando a infinita misericórdia e a fidelidade de Deus, um convite a louvar com júbilo e gratidão por tudo que Deus tem feito por nós. Deus derrama sua graça e bênçãos sobre os justos e os injustos – é o sustentáculo de tudo que vive e respira. Seu nome é digno de ser louvado em todos os cantos da terra, porque ele é o Deus dos deuses, o criador da luz e da vida.1
O Salmo 136 é o único que tem o mesmo refrão seguindo cada declaração. Foi cantado pelos levitas com o povo respondendo antifonalmente. Com o hinólogo Jack Schrader, recomendamos a leitura do salmo por dois individuos, ou grupos, falando antifonalmente antes, depois, ou intercalado com o canto congregacional destas estrofes.2
John Milton (1608-1674), “que se ombreia a William Schakespeare, entre os poetas ingleses,”3 nasceu em Londres. O pai de Milton, deserdado pelo pai católico por se tornar puritano, era compositor. Foi “contribuinte para a famosa coletânea The triumphs of Oriana (Os triúnfos de Oriana); publicado em 1601”,4 proclamou os feitos de Elizabete I. Milton herdou do seu pai sua devoção pela música.
Milton viveu durante os dias tempestuosos da guerra civil e restauração da coroa. Homem brilhante e aluno dedicado, possuidor de largos interesses e cultura, formou-se pela Universidade de Cambridge. De 1640 a 1660, foi ativo na luta política e eclesiástica. Sua prática de estudo das escrituras em hebraico, meditação e de oração o levaram à convicção da autoridade das Escrituras e contra a hierarquia que existia na Igreja da Inglaterra. Aliou-se com os puritanos, concordando com eles quanto à forma de governo do Estado como para a igreja, e com os batistas quanto ao batismo. Como secretário de línguas estrangeiras do Concílio do Estado para Oliver Cromwell, foi reponsável por traduzir as cartas do governo inglês aos poderes estrangeiros. Ficou completamente cego aos 44 anos, mas continuou seu trabalho com Cromwell até a sua abdicação. Ainda escreveria suas maiores obras de poesia!
Exponente da democracia e do puritanismo, escreveu muitos panfletos para a causa da liberdade que tiveram muita repercussão e ajudaram, a longo prazo, a mudar a história da Inglaterra. Esperou que seu grande tratadoOn christian doctrine (Sobre doutrina cristã) (1658-1660) “desse uma base sólida de doutrina estreitamente cristã ao redor da qual todos os protestantes pudessem se unir”.5
Ao restaurar-se a monarquia, Milton não foi morto como muitos dos seus colegas do governo de Cromwell, por causa da sua fama de escritor e do grande respeito do país.
Milton é mais lembrado pelas obras literárias, que se dividem em três períodos: primeiro, poesias mais curtas; segundo, escritos polêmicos, inclusive a Areopagítica (uma coletânea de escritos em defesa da liberdade de imprensa)6, e terceiro, as grandes epopéias, entre as quais, O paraíso perdido e O paraíso recuperado. Nestas duas últimas, “usou seu ‘grande estilo’ com imponente poder. Sua caraterização de Satanás é uma das realizações supremas da literatura mundial”.7
Milton escreveu desenove paráfrases de salmos, não para serem cantados, embora alguns façam parte de saltérios e hinários. Entretanto, sua maior influência na hinódia mundial foi manifesta na hinódia de Isaac Watts (ver HCC 38) e dos irmãos Wesley (ver HCC 72).
A influência de Milton é visível nos hinos [dos irmãos Wesley]. O grande poeta puritano é a fonte de muitas das suas frases mais notáveis e sua influência sobre o estilo poético deles é maior, talvez, do que de qualquer outro escritor. Num extrato João Wesley [homem de muita cultura] declarou: De todas as poesias que até agora apareceram no mundo, em qualquer época ou nação, a preferência tem sido dado por juízes imparciais ao Paraíso perdido de Milton.8
A melodia MONKLAND é atribuída a John Antes (1740-1811), aclamado “um dos melhores compositores americanos pioneiros da música sacra”.9 A melodia apareceu pela primeira vez na sua coletânea A collection of hymn tunes chiefly composed for private amusement by John Antes (Uma coletánea de melodias para hinos, compostas principalmente para o uso particular, de John Antes) (c. 1790). Alguns autores acham que Antes adaptou a melodia de Johann A. Freylinghausen (1670-1739), o melhor compositor da Escola Pietista, publicada em 1704 no seu hinárioGeistreiches eesangbuch (Hinódia espiritual). Mas é mais provável que fosse composição original de Antes.10
John Antes nasceu em Frederick, Estado de Pensilvânia, EUA, filho de um destacado pioneiro moraviano. Demonstrou seus dons musicais muito cedo. Não somente estudou a música no lar, mas desenvolveu-se na arte de fazer vários instrumentos de corda. Em 1764 foi para a Saxônia, Alemanha, para estudar no centro moraviano. Consagrado ao ministério moraviano em Londres, em 1769, foi missionário no Egito por doze anos, o primeiro missionário americano naquele país. Nos seus últimos dois anos ali, Antes sofreu cruéis açoitamentos ordenados por um turco (como Paulo em 2Co 11.23). Deixando o Egito em 1781, passou dois anos na Alemanha. Então estabeleceu-se em Fulneck, condado de Yorkshire, na Inglaterra. Moraviano devoto, relojoeiro por profissão, músico amador de muita capacidade, Antes compôs diversas obras corais para quatro vozes e instrumentos, árias e alguns chorales (ver HCC 130). Seus trios para dois violinos e violoncelo são reconhecidos como a primeira música de câmara composta na América do Norte. Antes faleceu em Bristol, Inglaterra, para onde se mudou ao aposentar-se em 1808.
A melodia de John Antes recebeu uma nova roupagem com um arranjo que John Wilkes fez para a primeira edição do célebre hinário Hymns ancient and modern (Hinos antigos e modernos), em 1861. Sem conhecimento que a melodia era da Antes, Wilkes deu a ela o nome MONKLAND, homenageando a vila no condado de Herefordshire, onde era organista da igreja. “Não deve ser confundido com John Bernard Wilkes, organista da Catedral em Llandaff (1861-1865)”.11
John Wilkes ( ? -1882) foi organista da igreja em Monkland, pastoreada por Sir H. W. Baker, e foi coordenador da primeira edição do hinário Hymns ancient and modern.
O maestro João Wilson Faustini que tanto fez para a música sacra no Brasil, conta a história da tradução deste hino:
Por volta de 1960 uma lista de possíveis hinos a serem incluídos em um hinário multilíngüe a ser publicado na Suiça pelo Concílio Mundial de Igrejas fora-me enviada por João Moreira Coelho da Conceição, em Jandira, São Paulo. Ele fora convocado para integrar a comissão responsável pelos textos de hinos em português. Em sua carta a mim dirigida nessa época, João Coelho desejava saber quais dos hinos na lista já haviam sido traduzidos e se eu poderia providenciar a tradução de alguns outros. Verifiquei que de fato eu já havia tentado traduzir muitos dos grandes hinos de nossa fé que constavam da lista. Alguns estavam até em fase de publicação e outros apenas esboçados, mas motivado e estimulado pelo desafio, propus-me a burilar mais as tentivas anteriores e a traduzir os novos da lista. Foi mais ou menos nesta época que comecei a usar o pseudômino de J. Costa (ver HCC 34). [A tradução] Louvem, com alegre som foi produzida nesta época.12
Ver dados deste ilustre e dotado tradutor no HCC 13.
1. SCHRADER, Jack. Let us all with a gladsome mind. Em: HUSTAD, Donald P., ed. The worshiping church, Worship Leader’s Edition, Carol Stream, IL: 1990. n.59.
2. Ver Ibid.
3. Encyclopedia Britannica, v.15, 14th Edition, London: Encyclopedia Britannica Inc. 1967. p.475.
4. Ibid.