HCC 222 – Deus está presente
História
222. Deus está presente
“Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mateus 18.20).
Cada estrofe deste hino é baseada numa distinta passagem das Escrituras, que se refere a uma testemunha viva – crentes que compreendem e demonstram a presença de Deus.
Estrofe 1: Habacuque 2.20 pede que toda a terra guarde silêncio, e proporciona o tema para sua adoração – a transcendência única de Deus.
Estrofe 2: Apocalipse 4.8 retrata as multidões nos céus que se unem aos salvos na terra, adorando a Deus dizendo: “Santo, santo, santo!”
Estrofe 3: Salmo 36.8-10sugere a encarnação de Deus no crente que adora a Deus através da sua vida santa.1
Gerhard Tersteegen é considerado um dos maiores hinistas e líderes espirituais da Igreja Reformada Alemã. Ele mesmo era uma “testemunha viva”. Deixando sua vocação lucrativa, escolheu uma vida de sacrifício. Depois de um tempo como eremita, começou a viajar e pregar, dando de si mesmo a um grupo crescente de seguidores, vivendo uma vida exemplar de serviço.
A trajetória da sua vida se assemelha a este hino: o silêncio – sua retirada da vida; a adoração da igreja – seus muitos amigos e sua pregação em muitos lugares; a vida pessoal – [sua vida santa] e seu extenso serviço.2
Ver mais dados da vida deste singular homem de Deus no HCC 167.
Tersteegen publicou este hino, Gott ist gegenwärtig (Deus está presente) no seu hinário Geistliches blumengärtlein (Jardim espiritual de flores), em 1729. Alguns acham que é, possivelmente, uma paráfrase de uma obra do escritor francês pietista Labadie.
A tradução do alemão para o português foi habilmente feita pelo pr. João Soares da Fonseca, membro da Subcomissão de Textos do HCC, uma das quatro traduções de hinos que ele fez do alemão especialmente para o hinário. (Ver dados no HCC 10)
A melodia ARNSBERG, tambêm chamada WUNDERBARER KÖNIG (Maravilhoso Rei), foi composta pelo consagrado hinista Joachim Neander, publicada no seu hinário Bundes lieder (Hinos cívicos) em 1680. Seu nome alemão refere-se ao hino para o qual Neander a compôs, Wunderbarer König, Herrscher von uns allen (Maravilhoso Rei, Senhor de todos nós). Entretanto, é com a letra de Tersteegen que sua melodia hoje é usada ao redor do mundo.
Joachim Neander nasceu em Bremem, Alemanha, em 1650, primeiro filho do Diretor do Pädogogium(Escola primária) daquela cidade, e descendente de uma longa linha de pastores de destaque. Recebeu uma educação privilegiada. Entretanto, como aluno, influenciado pelos seus colegas, vivia uma vida de devassidão. Aos vinte anos, foi com dois amigos a um culto numa igreja com a idéia de criticar e achar graça. Mas o fervor do pastor, o Rev. Theodore Under-Eyck, tocou-lhe o coração e conversas subseqüentes com ele mudaram a sua vida. Um dia, Neander foi caçar nas florestas dos morros perto da sua casa. Caiu a noite, e no escuro perdeu o caminho. Foi ali que Deus alcançou a vida desse jovem. Caindo de joelhos, orou, dando a sua vida ao Salvador. Ao se levantar, descobriu que havia parado na beira de um precipício, e que mais um passo teria causado sua morte. Logo depois, como que guiado por Deus, Neander descobriu uma vereda bem conhecida, e chegou em casa salvo, e transformado.
Depois de servir como tutor em Frankfurt e Heidelburgo, Neander foi ensinar numa escola da Igreja Reformada Alemã em Dusseldorf, e, embora não ordenado, assistia na pregação e no trabalho pastoral da igreja ligada à escola. Foi nesse tempo que Neander começou a sua associação com pietistas,3 tornando-se amigo do seu líder, Jacob Spener. Começou a seguir algumas das suas práticas. Com isso, foi demitido da escola e da igreja e foi morar numa caverna na linda região de Neanderthal, perto de Mettman, nas margens do Reno. Foi ali que escreveu a maior parte dos seus sessenta hinos (letra e música). A caverna ainda hoje é chamada A caverna de Neander.
Em julho de 1679, Neander, aceito novamente na Igreja Reformada, tornou-se assistente do Pastor Under-Eyck, na mesma igreja onde ele tinha ido zombar nove anos antes. Certamente teria tido um rico ministério nos anos a seguir mas, a tuberculose o ceifou em 1680. Seus hinos foram publicados no mesmo ano numa coletânea chamada A und Joachini Neandri Glaub- und liebesübung (Alfa a Ómega, Joaquim Neander, ensaios de fé e amor). Naquele curto período de dez anos, Neander tornou-se o mais notável hinista da Igreja Reformada Alemã. É chamado “o Paul Gerhardt (ver HCC 108) dos calvinistas”.4 Nos seus hinos acham-se as expressões e crenças da Igreja Reformada e dos Pietistas, mas, o brilho e a doçura dos seus melhores hinos, sua fé firme, originalidade, biblicidade, variedade e mestria de formas ritmicas, e genuíno caráter lírico dá a eles o direito ao lugar alto [na hinódia] que ocupam.5
Diversos dos hinos de Neander chegaram até os hinários evangélicos do Brasil. O Hinário para o culto cristão inclui, além desta melodia, “uma das verdadeiramente grandes letras da igreja cristã”,6 o belíssimo hino Louve, meu ser, ao grandioso Senhor, no número 227.
1. STANISLAW, Richard J. Em: HUSTAD, Donald P., ed. The worshiping church – a hymnal, Worship Leader’s Edition, Carol Stream, IL: Hope Publishing Co., 1990. n.110.
2. Ibid.
3. O pietismo foi o rompimento com as tendências escolásticas [ou ortodoxia morta], uma afirmação da primazia do sentimento, na experiência cristã, uma reivindicação por parte dos leigos da participação ativa na edificação da vida cristã e um esforço de estrita atitude ascética com referência ao mundo. (Ver: WALKER, Willitson, História da igreja cristã, 3ª ed. Rio de Janeiro e São Paulo: Co-edição Juerp e ASTE, 1981. Livro II, p.190.)
4. HUSTAD, Donald P., ed. Dictionary-handbook to hymns for the living church. Carol Stream, IL: Hope Publishing Company, 1978. p.292.
5. JULIAN, John, ed. A dictionary of hymnology, v.1, Dover Edition New York: Dover Publications, inc., 1957. p.791.
6. RYDEN, E. E. The story of christian hymnody, Rock Island, Il: Augustana Press, 1959. p.110.