HCC 190 – Por meus pecados padeceu

História

190. Por meus pecados padeceu

ISAAC WATTS escreveu este hino intitulado Godly sorrow arising from the sufferings of Christ (Tristeza santa surgindo dos sofrimentos de Cristo). As seis estrofes originais descrevem bem este sofrimento e a resposta do pecador ao descobrir em Cristo a fonte da sua redenção. O hino faz parte da segunda divisão do seu hinário Hymns and spiritual songs (Hinos e cânticos espirituais), publicado em 1707.

A inigualável poetisa cega, Fanny Crosby, conta na sua autobiografia da hora da sua conversão ao som do hino de Watts:

“Em novembro de 1850, durante um culto que ela estavaassistindo, depois duma oração, começaram a cantar o grande hino antigo de consagração, Por meus pecados padeceu, e quando chegaram à terceira linha da quinta estrofe, ‘Eis-me aqui, Senhor, eu te dou a mim mesmo’, minha alma se inundou de luz celestial.”1 

Infelizmente, esta estrofe não aparece nos hinários em português. Acredita-se que mais conversões têm sido atribuídas a este do que a qualquer outro hino inglês, a não ser que Tal qual estou, de Charlotte Elliott o tenha superado em anos recentes (Ver dados de Watts, no HCC 38).

O Hinário para o culto cristão inclui 4 das estrofes de Watts neste hino, traduzidas pelo missionário rev. John Ransom, em 1886, possivelmente para a inauguração da Capela Metodista, à Praça José de Alencar, no Rio de Janeiro. Foi publicado, junto com outro hino da sua autoria, em Salmos e hinos, no mesmo ano, e conseqüentemente no Cantor Cristão e outros hinários. O lugar de Ransom na hinódia brasileira é significativo por causa da sua tradução deste hino predileto do povo batista brasileiro.

John James Ransom, missionário da Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos, chegou ao Brasil em 1876. Dirigindo-se a Campinas, SP, para estudar o português, também lecionou inglês e grego no Colégio Internacional daquela cidade. Depois de um breve período no Rio Grande do Sul, fixou-se na Corte (Rio de Janeiro), onde começou o trabalho metodista. Sob o seu pastorado inauguraram-se duas capelas (igrejas) metodistas em 1886. Ransom também iniciou trabalho na capital paulista em 1883 e dirigiu o trabalho em Juiz de Fora, MG, por um período.

O evangelista e músico Ralph E. Hudson compôs a melodia que ganhou o seu nome. HUDSON apareceu pela primeira vez no seu hinário Songs of peace, love and joy (Cânticos de paz, amor e alegria) em 1885. Hudson adicionou um refrão (letra e música) ao hino que calcula-se ter nascido nos camp meetings.2 

O hino, sem o refrão de Hudson apareceu em outras coletâneas da época. Por seu caráter bem diferente da estrofe, o refrão não foi incluído no Hinário para o culto cristão. Foi na cruz, outro hino predileto dos batistas brasileiros cujo estribilho Ralph Hudson adaptou de um cântico dos camp meetings se acha no HCC 293.

Ralph E. Hudson (1843-1901), nascido na cidade de Napoleon, Estado de Ohio, EUA, mudou-se durante a infância para Pensilvânia. Durante a Guerra civil, Hudson serviu como enfermeiro no Estado de Maryland. Casou-se com Mary Smith em 1863 e, voltando a Ohio em 1864, começou o seu ensino de música na Faculdade Mount Vernon na cidade de Alliance. Pregador licenciado pela Igreja Metodista Episcopal, Hudson foi muito ativo na obra evangelística. Cantor e hinista, também estabeleceu sua própria publicadora. Publicou quatro coletâneas de gospel hymns (ver HCC 112) as quais depois uniu num só volume intitulado Quartette. Hudson freqüentemente compôs melodias do estilo gospel hymns para letras de hinos tradicionais bem conhecidos para uso no seu trabalho evangelístico.

1. CROSBY, Fanny. Fanny Crosby’s life-story, by Herself. New York: Everywhere Publishing Co., 1903. p.231. Em: PRICE, Carl F. One hundred and one hymn stories. Nashville, TN: Abingdon Press, 1966, p.89.

2. Camp meetings – retiros espirituais, estilo acampamento para famílias no verão. Começaram em cerca de 1800 e continuaram, de um certo modo até hoje. Porque criaram um estilo de música que influenciou muito o canto congregacional na América do Norte, e até no Brasil. “O movimento de maior influência e o mais transformador na vida religiosa da América do Norte foi o Grande Despertamento – o reavivamento que teve muitas fases e que se estendeu por mais de cinqüenta anos”. A fé cristã espalhou-se como um incêndio, de Estado em Estado. Um dos movimentos, que então surgiu foi o de camp meetings, movimento que havia de mudar a face do canto congregacional americano para sempre.

Os camp meetings começaram em cerca de 1800 e continuaram no ambiente da natureza, longe das cidades. No verão, tempo de férias, famílias inteiras montavam suas tendas (barracas de lona) perto da imensa tenda das reuniões. Seus alvos eram evangelismo e reavivamento. Foram imensas festas. Seus aspectos informais da vida pioneira os livraram de ostentações de classes. Eram livres do controle denominacional ou de qualquer outra autoridade.

Neste ambiente livre e rústico, “o camp meeting nutriu e desenvolveu um tipo de folk hymn (hino folclórico) que teve início mais cedo na Nova Inglaterra (Nordeste americano). Morte, inferno, condenação foram pregados (….) e muitos dos hinos refletiam esta mensagem”. Muitos hinos contavam histórias do fim triste deste ou daquele pecador (ou pecadora!). Outros, com música emprestada de qualquer canção popular, cresceram espotaneamente. Qualquer pessoa com uma voz forte podia criar uma estrofe, havia muitas estrofes! Não havia regentes. Num camp meeting “a questão não era levar o povo a cantar, mas deixar o povo cantar”, como um participante declarou: “Agora, cantamos no velho estilo – desimpedido, forte, retumbante!” Um outro testificou: “O volume [na tenda] era tremendo; a 100 metros era lindo, a três quilômetros era magnífico!”

Os hinos de Wesley, Watts e seus seguidores foram modificados e moldados ao ambiente. Havia uma “progressiva simplificação dos textos” e as melodias tornaram-se muito simples, com muitas repetições. Em geral, não havia instrumentos nestas reuniões. Como em outra música folclórica, os hinos não foram impressos e “padronizados” por muito tempo. Havia muitas versões dos mesmos hinos sendo cantados em lugares diferentes ou anos diferentes. Havia liberdade para interpretação pessoal. Quando alguns músicos começaram a colecionar estes cânticos em coletâneas, enfrentaram os mesmos problemas dos colecionadores dos Negro spirituals (ver HCC 94). Qual versão registrar? De quem era a letra ou a música? O povo levou sua experiência alegre dos camp meetings para as suas igrejas. Assim, estes hinos tiveram muita influência sobre o gosto musical do povo. Seguiram-se os Hinos da Escola Dominical e os gospel songs (ver HCC 112), e a multiplicação de hinários e coletâneas. (Fontes: ESKEW, Harry e MCELRATH, Hugh T. Sing with understanding. Nashville, TN: Broadman Press, 1980. pp. 164-167; LORENZ, Ellen Jane. Glory hallelujah. Nashville: Abingdon, 1978 (The story of the camp meeting spiritual); REYNOLDS, William Jensen, e PRICE, Wilburn. A joyful sound, 2ª ed. New York: Holt, Rinehart e Winston, 1978, p.82; SALLEE, James. The history of evangelistic hymnody. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1978. pp.30-37.)

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