HCC 165 – Em Jesus amigo temos
História
165. Em Jesus amigo temos
“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (João 15.13,14,15).
HÁ UM DITADO que diz:
“Um amigo verdadeiro é aquele que nos conhece muito bem, mas nos ama assim mesmo”.1
Um bom amigo nos aceita como somos, continua ao nosso lado tanto nos bons momentos como nos maus, está pronto a nos ajudar em tempo de necessidade e tristeza.
“Foi porque o autor deste hino, Joseph Scriven, achou um verdadeiro amigo em Jesus, que decidiu passar sua vida inteira mostrando real amizade a outros”.2
Joseph Medlicott Scriven (1819-1886) nasceu em Seapatrick, condado de Down, Irlanda, filho de um capitão da Marinha Real, e sobrinho dum pastor. Formou-se na célebre Faculdade Trinity de Dublin, capital. Possuía fortuna, educação, uma família que o amava e uma vida cheia de alegria. Estava prestes a casar-se com uma bela moça. Então, tragédia inesperada lhe sobreveio. Na noite anterior às suas almejadas núpcias, sua noiva afogou-se!
“Na sua tristeza profunda [e na melancolia que o perseguiria durante toda a sua vida], Joseph reconheceu que somente no seu amigo mais querido, Jesus, poderia achar o consolo e o sustento de que precisava.”3
Começara a carreira militar, mas sua saúde precária forçou-o a abandonar este sonho. Pouco tempo depois, Scriven decidiu emigrar para o Canadá. Mudou completamente o seu estilo de vida. Estabeleceu-se em Port Hope, orovíncia de Ontário, e propôs no seu coração que se dedicaria a ser amigo e auxílio aos outros. Professor por profissão, trabalhou, sem pagamento, para qualquer pessoa que precisasse dele. Doava sua própria roupa e outros pertences a qualquer pessoa necessitada. Tornou-se conhecido como “O bom samaritano de Port Hope”.
Uma vez um novo vizinho procurava quem lhe cortasse lenha. Vendo as ferramentas de Scriven, procurou se informar sobre ele.
– O senhor não pode empregar aquele homem, lhe disseram.
– É o senhor Scriven. Não cortará lenha para o senhor.
– Por que não? – perguntou o homem.
– Porque o senhor pode pagar. Ele somente corta lenha para viúvas e inválidos.4
Scriven sofreu outra perda devastadora. Noivo pela segunda vez, no Canadá, sua pretendida adoeceu gravemente, vindo a falecer. Ele também sofreu financeira e fisicamente. Com muita razão, Bill Ichter intitulou sua comovente história sobre a vida deste bom homem: Um homem marcado pela tragédia. 5
Foi ao ouvir da enfermidade da sua mãe em 1855, que Scriven, numa carta para ela, incluiu as comoventes palavras deste hino para o seu conforto, mensagem experimentada por ele dia após dia. Não pensou que outros fossem ver suas palavras. O hino foi publicado anonimamente. Até pouco tempo antes da sua morte, ninguém sabia deste dom poético de Scriven. Foi um vizinho, que foi ajudá-lo durante uma enfermidade, que viu a poesia, rabiscada num papel ao lado da sua cama.
“Lendo-a comovido, perguntou:
– Foi o irmão que escreveu isto?
– O Senhor e eu a escrevemos juntos, ele respondeu.”6
Depois, Scriven publicou uma pequena edição dos seus poemas, Hymns and other verses (Hinos e outros versos), em 1869.
Scriven afogou-se num riacho pertinho da casa do seu vizinho amigo. Supõe-se que foi num delírio, porque continuava bem doente, e com muita febre. Estava debruçado, como se estivesse orando. Seus vizinhos de Bewdley e dos arredores,
“erigiram três monumentos à memória desse humilde emigrante que veio da Irlanda e proporcionou tanta alegria a tantas pessoas”.7
A mensagem de conforto de Scriven tem alcançado os corações de milhões, porque é um dos hinos mais cantados ao redor do mundo. Depois de mais de um século, continua em grande demanda.8
O hino aparentemente apareceu anonimamente pela primeira vez em 1857, no hinário Spirit minstrel: A collection of hymns and music (Trovador espiritual: coleção de hinos e melodias), de J.B. Packard.
Habilmente traduzido pela operosa missionária pioneira Kate Stevens Crawford Taylor, nos primeiros anos do trabalho batista no Brasil, este hino tornou-se um dos mais cantados por evangélicos brasileiros. (Ver dados biográficos de Kate Taylor no HCC 112)
Sankey (ver HCC 112) e Bliss (ver HCC 117) estavam para publicar Gospel hymns n.1, (Hinos gospel n.1), em 1875. Depois de completar a coleção, Sankey, lendo um panfleto de hinos para a Escola Dominical, descobriu o hino de Scriven, ligado à melodia do seu amigo Charles D. Converse. Gostou muito. Achou que fosse do “Príncipe dos hinistas escoceses”, Horation Bonar (ver HCC 67). Desejoso que este hino estivesse nesse hinário, colocou-o no lugar de outro de Converse.
“Assim o último hino que entrou no hinário tornou-se um dos primeiros em preferência”.9
Mais tarde, Sankey soube, dos amigos de Scriven, de quem foi este hino tão importante.
Charles Crozat Converse (1832-1918) nasceu em Warren, Estado de Massachusetts e foi educado na Academia Elmira na cidade de Nova Iorque. Associou-se com William B. Bradbury (ver HCC 173) e Ira D. Sankey na compilação e edição de hinários para Escolas Dominicais, usando o pseudônimo Karl Reden, forma alemã do seu nome. Mais tarde, estudou música erudita no Conservatório de Leipzig, na Alemanha, onde conheceu Franz Liszt e Louis Spohr. Voltando aos Estados Unidos em 1859, estudou Direito na Universidade de Albany, Nova Iorque. Praticando a advocacia com muito sucesso em Erie, Estado de Pensilvânia, continuou como músico e escritor, interessando-se também em Filosofia e Filologia. Compôs melodias para hinos, quartetos mistos, antemas corais, cantatas e oratórios patrióticos, quartetos e outra música para cordas e duas sinfonias. A Faculdade Rutherford (Nova Iorque) lhe conferiu o Doutorado em Letras (honoris causa), em 1895. Converse faleceu em Highwood, Estado de Nova Jersey.
O nome da melodia, CONVERSE, homenageia este destacado compositor. Foi composta em 1868 e apareceu na sua coletânea Silver wings (Asas prateadas), em 1870 sob seu pseudônimo: Karl Reden.
1. BARROWS, Cliff, ed. Crusade hymn stories. Chicago, IL: Hope Publishing Company, 1967. p.39.
2. OSBECK, Kenneth W. Amazing grace. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1990. p.19.
3. Ibid.
4. SANKEY, Ira D. My life and the story of the gospel hymns. Philadelphia, PA: P. W. Zeigler Co. 1906. p.334.
5. ICHTER, Bill H.. Se os hinos falassem, v.1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP). s/d. p.25.
6. SANKEY. Loc. cit.
7. ICHTER. Op, cit. p.28.
8. POSEGATE, Robert D. What a friend we have in Jesus. Em: HUSTAD, Donald P., ed. The worshiping church, Worship leader’s edition. Carol Stream, IL: Hope Publishing Company, 1990. n.622.
9. SANKEY. Op.cit. p.335.