HCC 157 – Quando Deus fizer chamada
História
157. Quando Deus fizer chamada
“Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta“
(1Tessalonicenses 4.16).
O SILÊNCIO o perturbou. Tomava parte numa reunião da mocidade da Pine Street Church, uma modesta igreja metodista no Estado de Pensilvânia, EUA. No início do programa daquela noite foi feita a chamada, e cada pessoa, ao ouvir o seu nome, em vez de responder “presente”, recitava um versículo bíblico. Noventa e oito jovens já haviam respondido, mas o número 99 não se pronunciou. A secretária chamou outra vez. O silêncio continuou. O professor James Milton Black levantou-se e, pela terceira vez chamou aquele nome. Conhecia bem a menina, pois ele mesmo algum tempo atrás a convidara a freqüentar a igreja. Pertencia a uma família muito pobre, cujo pai gastava tudo que ganhava em bebidas.
O fato da menina não ter respondido à chamada impressionou grandemente o Prof. Black. Naquela noite, voltando para casa, ele pensou: “E, se ela nunca mais responder, que acontecerá?” Sob a impressão desta dúvida, naquela mesma noite, ele escreveu:
Quando Cristo a trombeta lá do céu mandar tocar,
quando o dia majestoso amanhecer,
e os remidos desta terra meu Jesus vier buscar,
e fizer-se então chamada, lá estarei.
Mais quinze minutos e ele escreveu mais duas estrofes. Ao terminar a poesia, foi ao piano e escreveu a música nota por nota, exatamente como nós a conhecemos hoje.
Mais tarde, Black verificou que aquela menina não estivera presente à reunião porque se achava gravemente enferma, vindo a falecer depois.1
Assim Bill Ichter nos conta a história deste hino no volume 2 da série Se os hinos falassem. O hino apareceu pela primeira vez em 1892, no hinário Songs of the savior’s love (Cânticos do amor do Salvador), embora o copyright de Black tenha a data de 1893.
James Milton Black (1856-1938), membro muito ativo na Igreja Metodista, estudou canto e órgão desde cedo e tornou-se professor das escolas de canto (ver Singing schools, HCC 59) que a igreja mantinha. Dedicou-se ao serviço social da sua igreja e da sua comunidade, como também à Escola Bíblica Dominical e à mocidade. Escritor de provavelmente mais de mil hinos, letra e música, Black também foi editor de mais de uma dúzia de coletâneas, sendo a mais popular dessas Songs of the soul (Cânticos da alma), volumes 1 e 2, publicadas em 1894 e 1896. Amplamente usadas em conferências evangelísticas, seu uso se alastrou ao redor do mundo.
O nome da melodia ROLL CALL (Chamada) foi escolhido pela comissão do Baptist hymnal (Hinário Batista) de 1956, lembrando a chamada para a qual todo crente tem certeza que vai responder: “presente”!
A tradução deste hino para o Cantor cristão, e também para o Hinário para o culto cristão, foi feita pelo dedicado missionário Albert Lafayette Dunstan. Nascido no condado de Jackson, Estado de Georgia, EUA, em 14 de julho de 1869, foi comissionado como missionário para o Brasil com sua esposa Sallie Silvey Dunstan em 28 de junho de 1900, chegando ao Brasil em 1901. Começaram o seu trabalho em Campos, RJ, em 1902. Dunstan enfrentou duras dificuldades naquele ministério por causa da oposição do Pr. Antônio Campos. Em 1906, quase morreu de febre amarela. Entretanto, fez um grande trabalho de desenvolvimento do Campo Fluminense, conseguindo ensinar às igrejas a contribuir para o sustento dos pastores e das missões. Para sua felicidade, fez parte da primeira Junta de Missões Nacionais.
Sendo transferido para a expansão do evangelismo no Estado de São Paulo, o casal trabalhou na cidade de Santos alguns anos. Em 1908, recomeçou o trabalho na cidade de Campinas, ficando lá até 1911. Em 1910, Dunstan foi a Porto Alegre e ajudou a iniciar a obra no Estado de Rio Grande do Sul, fundando a Primeira Igreja Batista. O casal então mudou-se para aquele Estado em 1911, onde dedicou-se “por longos anos a um dos mais difíceis trabalhos do Brasil”.2
Havia muita perseguição nos primeiros anos, e sempre escassez de obreiros. Além disso, havia isolamento do resto do trabalho batista no Brasil. Entretanto, foi possível fundar sete igrejas em sete anos naquele Estado. Em 1931, Dunstan mudou-se para Pelotas, onde trabalhou muitos anos, fundando, inclusive, um pequeno colégio.
Dunstan entendia a importância da música para o desenvolvimento da obra. Traduziu alguns hinos e, com a colaboração do missionário Edward Joiner, compilou e publicou dois pequenos fascículos de Hymnos escolhidos, de 36 e 37 hinos (a maior parte com letra e música), preenchendo em parte a necessidade de hinários naquela região. Albert Dunstan continuou seu ministério com fidelidade até 2 de junho de 1937, quando faleceu.
1. ICHTER, Bill H. Se os hinos falassem. v.2, 1ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1967. pp.63-64.
2. MESQUITA, Antônio N. de. História dos batistas do Brasil, de 1907 até 1945. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP), 1962. p.247.