HCC 124 – Morri na cruz por ti
História
124. Morri na cruz por ti
Frances Havergal havia estudado em Dusseldorf, na Alemanha. Visitando a cidade em outra ocasião, entrou no escritório do Conde Zinzendorf, o fundador do movimento moraviano. Viu pendurada na parede a pintura Ecce homo (Eis, o Homem), de Cristo com a coroa de espinhos, e sua inscrição: “Tudo isto fiz por ti; o que fizeste por mim?” (Foram esta pintura e sua inscrição que levaram o Conde a dedicar sua vida ao Salvador). Perscrutando o rosto do Salvador, ali sofrendo, as linhas de um hino se imprimiram na sua mente. Pegou um papel que estava na bolsa, e nele rabiscou as palavras. Mais tarde, a irmã de Frances escreveu o seguinte relato sobre o hino:
Em 10 de janeiro de 1858, Frances entrou no escritório do Conde muito cansada. Sentando-se em frente à pintura, leu a inscrição. As linhas de um hino nasceram na sua mente. Tomou lápis e papel e as escreveu. Lendo os versos, considerou-os tão inferiores, que jogou-os na lareira, mas o papel caiu fora do fogo, intocado. Guardando-o, mostrou os versos a seu pai uns meses depois. Esse encorajou-a a conservá-los e compôs a melodia BACA especialmente para eles. O hino de seis estrofes foi impresso num folheto em 1859 e na revista Good words (Boas palavras) em fevereiro de 1860.1
A autora, Frances Ridley Havergal (1836-1879) era filha de William Havergal, pastor da Igreja Anglicana da Inglaterra e também músico e hinista. Aos três anos Frances já sabia ler, aos sete, se empenhou a escrever poesia e, naquele ano, seus poemas começaram a aparecer em periódicos religiosos ingleses. De modo geral, não tinha boa saúde. Embora isto limitasse sua educação formal, ela aprendeu vários idiomas europeus, grego e hebraico, podendo ler o Antigo e o Novo Testamentos nas línguas originais. Desenvolvendo sua memória extraordinária, Frances decorou todo o Novo Testamento e ainda os Salmos, Isaías e os Profetas menores.
Frances teve uma profunda experiência religiosa aos 14 anos de idade. Descreveu-a assim:
“Ali mesmo entreguei minha alma ao Salvador, e desde este momento os céus e a terra me pareciam brilhantes”.2
Todos os seus hinos refletem a alegria desta experiência de entrega e consagração.
Exímia musicista, Frances tocava de cor muitas obras de Handel, Mendelssohn e Beethoven.
“Sua voz era tão aprazível e bem treinada que ela foi procurada como concertista. Mas por causa da suas convicções, depois de 1873, Frances cantou somente música sacra” (ver HCC 429).3
Simplesmente e docemente ela cantou o amor de Deus e a sua salvação. Para este fim e este objeto, sua vida inteira e toda sua força foi consagrada.4
Escritora prolífica, Frances publicou alguns livros tanto em prosa como poesia. Suas obras poéticas completas foram publicadas em 1884, depois da sua morte aos 42 anos.
Quando perguntada como escrevia suas poesias, Frances respondeu:
Escrever é orar (….)nunca me ponho a escrever versos. Creio que o meu Rei sugere o pensamento e segreda-me uma ou duas frases musicais, e então olho para ele, agradecendo-lhe com muita alegria e continuo o trabalho. É assim que vêm os hinos e poemas.(….)5
Julian ainda diz da sua vida e sua poesia:
“Ela vive e fala em cada linha da sua poesia. Seus poemas estão permeados com a fragrância do seu amor fervoroso por Jesus.”6
Sofrendo de saúde frágil toda a sua vida, um dia, aos 42 anos, Frances pegou uma gripe forte que a deixou com inflamação nos pulmões. Ao ouvir que sua vida estava em perigo, Frances respondeu: “Esplêndido! Estar tão perto dos portões dos céus”. Nos últimos momentos, cantou claramente, embora fracamente seu hino, Cristo, confiarei em ti. Sua irmã relatou:
Ela olhou para cima, como se visse o Senhor, e certamente nada menos do que os climas celestiais poderiam ter refletido o glorioso brilho na sua face. Por dez minutos observamos aquele encontro quase visível com o seu Rei; (…) procurou cantar, mas depois de uma nota linda e pura, sua voz falhou (…) e ela partiu.7
O tradutor deste hino de Havergal foi Dilwynn MacFadden Hazlett, missionário presbiteriano que chegou ao Brasil em novembro de 1875. Hazlett nasceu em Elderton, Pensilvânia, EUA, aos 4 de julho de 1852. Pouco se sabe sobre sua vida. Exerceu o pastorado no Rio de Janeiro onde também montou uma tipografia para a divulgação de material evangélico. Este trabalho teve fim quando Hazlett regressou aos Estados Unidos em 1879. Hazlett será lembrado mais por esta tradução, publicada pela primeira vez em 1885.
KENOSIS, melodia composta por Philip Paul Bliss para este hino, pela sua simplicidade, fez o hino viver em corações ao redor do mundo. Bliss dedicou-a ao Railroad Chapel Sunday School, Chicago (A Escola Dominical da Capela da Rodoviária de Chicago). O hino com sua melodia apareceu no seu hinário Sunshine for Sunday Schools (Raios de Sol para Escolas Dominicais), publicado em 1873. KENOSIS, em grego, refere-se ao esvaziamento de Cristo de si mesmo, conforme Filipenses 2.7 (Ver dados do compositor no HCC 117).
1. Irmã de Frances Havergal. Em: REYNOLDS, William. Companion to Baptist hymnal. Nashville, TN: Broadman Press, 1976, p.97.
2. HAVERGAL, Frances. Em: REYNOLDS, William J. Companion to Baptist hymnal. Nashville, TN: Broadman Press, 1964. 480. p.331.
3. BAILEY, Albert Edward. The gospel in hymns. New York: Charles Scribner’s Sons, 1950. p.403.
4. DAVISON, James. Em: JULIAN, John. A dictionary of hymnology, Dover edition, 1957, p.403.
5. HAVERGAL, Frances. Em: WALSH, R. & EDWARDS, F.G. Romance of psalter and hymnal. New York: James Pott & Co., 1899, p.224.
6. JULIAN. Loc. cit.
7. OSBECK, Kenneth W. 101 more hymn stories. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1985, p 128-129.