HCC 106 – Cantai que o Salvador chegou!
História
106. Cantai que o Salvador chegou!
NENHUMA CELEBRAÇÃO de Natal parece completa sem o cântico deste jubiloso hino de Isaac Watts, traduzido para muitas línguas.
Paráfrase “cristianizada” da última metade do Salmo 98, foi publicada no seu Psalms of David imitated in the language of the New Testament (Salmos de Davi imitados na linguagem do Novo Testamento) em 1719. Watts deu ao hino o título A vinda e o reino do Messias. Este salmo profético convida toda a criação de Deus a cantar e a receber o Salvador e Rei que chegou, de render-se a ele, e de proclamar a sua vinda. Ele, que venceu a morte e a dor, que baniu a maldição, um dia governará com justiça e os povos lhe obedecerão. Este hino demonstra, mais uma vez, que a mente de Watts estava “saturada com as palavras da Bíblia”. Cada experiência dele lhe relembrava as suas palavras, assim quando um hino não era uma paráfrase declarada, era então “uma tradução disfarçada de frases bíblicas”.1 (Ver dados de Watts no HCC 38)
Não temos a data em que o dedicado missionário da Amazônia, Justus Henry Nelson, traduziu este vibrante hino. Porém, podemos imaginar que a sua tradução apareceu no jornal evangélico, O apologista christão, que ele editou de 1890 a 1910, como aconteceu em outros casos, e dali foi aproveitada no Cantor cristão. (Ver dados do tradutor no HCC 6)
A melodia ANTIOCH (Antioquia) apareceu no Modern psalmist (Salmista moderno) de Lowell Mason, com a indicação de que era “de Handel”. Henry Mason, neto e organizador das produções de Mason, indicou que a melodia
“ou era um arranjo, adaptação, ou composição para esta coletânea”,2
publicada em 1836. As primeiras quatro notas são idênticas às notas introdutórias de Vossos portais levantai e a melodia para as palavras “contentes vos rendei” parecem com a introdução ao solo de tenor, Consolai meu povo, ambos partes do oratório Messias, de Handel. Em face destes fatos, embora haja polêmica sobre o assunto, os hinários geralmente atribuem o hino a Handel, e usam a data de Messias, a de 1742.
O compositor, George Frideric Handel, (forma anglicizada do seu nome – originalmente, em alemão, Georg Friedrich Händel) nasceu na cidade de Halle, na Alemanha, em 23 de fevereiro de 1685. Mostrou talento extraordinário em tenra idade, mas o seu pai, preferindo que ele seguisse a profissão de advogado, o desencorajou fortemente. Mesmo assim, Handel estudou órgão, cravo e violino, como também contraponto e fuga com F.W. Zachaw, organista da catedral em Halle. Depois de tocar numa orquestra de Hamburg por quatro anos, Handel viajou para a Itália, lá ganhando considerável fama com suas composições. De 1713 em diante, fixou residência na Inglaterra, tornando-se cidadão inglês em 1727 (eis a razão de ele usar a forma anglicizada do seu nome).
Handel era um homem de presença carismática, e embora de temperamento variável, sua liberalidade e caridade eram notórias. Teve altos e baixos na sua carreira, mas legou-nos uma produção prodigiosa, incluindo 46 óperas, 32 oratórios, numerosas cantatas, além de inúmeras obras para órgão, coro, e instrumentos. Havendo outras fontes amplas de informação sobre a sua vida e obra, nós nos concentraremos nas suas obras sacras. O seu imortal Messias, o oratório mais apresentado no mundo até hoje, demonstra que:
A grandeza e o sustentado poder do seu estilo nos oratórios; a simplicidade expressiva da sua melodia , e a largura e clareza da sua estrutura harmônica formam um “todo” artístico. [Handel] é sem dúvida, um dos “grandes mestres”.3
Handel escreveu melodias para três hinos de Charles Wesley, mas as melodias que outros extraíram das suas obras vocais são mais conhecidas. Outros oratórios sacros foram Deborah, Esther, Joseph and his brethern, Jeptha, Judas Maccabeeus e Solomon.
Embora tenha ficado completamente cego em 1751, Handel acompanhou os seus oratórios ao órgão até a sua morte. Foi justamente no sábado depois de uma última apresentação de Messias,na Sexta-feira da Paixão, em 1759, que Handel morreu. Três dias antes assinara um testamento que incluía decidida profissão de fé:
“Quero ser enterrado em Westminster (….) e morrer na Sexta-Feira Santa, esperando o meu encontro com o bom Deus, o meu doce Senhor e Salvador, no dia da sua Ressurreição.”4
Como pediu, foi sepultado na Abadia de Westminster, honra limitada às pessoas mais importantes do país. Lá, um monumento magnífico marca a sua sepultura.
1. BAILEY, Albert Edward. The gospel in hymns. New York: Charles Scribners Sons, 1950. p.51.
2. MASON, Henry L. Hymn-tunes of Lowell Mason, p. 65. Em: REYNOLDS, William J. Companion to Baptist Hymnal, Nashville, TN: Broadman Press, 1976. p.128.
3. SLONIMSKY, Nicolas, ed. Baker’s biographical dictionary of musicians, 6ª ed. New York: Schirmer Books. 1978. p.687.
4. HERNANDEZ, Antonio. Haendel, os três séculos do ‘Kantor’ bíblico. Rio de Janeiro: O Globo, 21 de fevereiro de 1985. Em: Louvor, Ano VI – v.3, Rio de Janeiro: JUERP, jul./ago./set.1985, pp.30-31.