Música Sacra Brasileira – Composições de Renato Ribeiro dos Santos

Prefácio
Por Renato Ribeiro dos Santos Junior

Este álbum não teria sido possível sem a colaboração preciosa e espontânea da professora Norah Buyers, que compilou e selecionou as melodias, recopiando algumas e adaptando outras, num trabalho cuidadoso de muitos meses. Nossos agradecimentos ao maestro Samuel Kerr que ajudou na revisão das músicas, e a srta. Mylen Negrão Fazzio por sua cooperação em algumas das letras dos hinos e coros. O preparo dos originais, a edição e a publicação foram feitos pela Editora Vida Evangélica que empenhou-se para que um trabalho de alta qualidade fosse executado em tempo recorde.

A boa vontade e desprendimento da Editora Mangione S/A, que cedeu os direitos autorais graciosamente, permitiu que o livro fosse impresso a custo mais acessível.

A todos eles quero deixar meu agradecimento, com os votos de que esta pequena coletânea seja uma digna continuação à obra evangelizadora do reverendo Renato Ribeiro dos Santos.

Renato Ribeiro dos Santos Junior

Era uma vez aquele jovem…
Por Ernesto Alves Filho

Conheci o Renato em 1927. Janeiro, em Araraquara.

Reunia-se ali o Presbitério “Oeste de São Paulo”, dos velhos tempos. Igreja entusiasmada, então sob o pastorado do Rev. José Carlos Nogueira, um jovem: moreno, magro, o bigode preto no rosto fino e tranquilo.

Caipirinha absolutamente rude, eu estava ali, tímido, protegido pela amizade confiante do jamais esquecido Firmino Miguez: ia ser apresentado como candidato ao ministério, aquela vocação, aquele sonho, dessas coisas que permanecem no coração para sempre, centelha mística semeada por Deus.

– Então você quer ser ministro, hein…

Era o Renato, pastor que principiava, presidente do Presbitério naquela reunião, mas já aquilo que lhe foi atributo sempre, que jamais deixou de ser: um animador em estado de simpatia, o invariável crente no futuro bom das criaturas.

Desajeitado, canhestro, eu nem tinha jeito de falar com ele, mas ele me pareceu, desde ali, uma expressão desse homem que, ordenado por Deus, sabe falar aos outros homens aquela palavra oportuna que vem em nome de Deus.

Encontravam-se em Araraquara, naqueles dias, algumas dessas austeras figuras cavalheirosas e gentis que ajudaram a fazer a história da Igreja Presbiteriana, – e que superior era a homenagem do Renato para com elas!

Renato ia casar. Casar-se-ia logo, naquele ano, e havia um fundo lirismo e ternura nos olhos dele.

Todas essas coisas, e mais a juventude, e a fé, e a alegria, perambulavam então, com invisível claridade, nos acentos daquela música que sempre foi sua. Como o semeador que semeia, Renato deixava que elas fossem tombando de seu coração – e que imenso coração! (Não é a toa que foi ao coração humano vivenciado pelo amor que Jesus elogiou como fundamento do Evangelho, no peito do Samaritano).

          Pela manhã, na igreja, nos Devocionais de abertura dos trabalhos, ao harmônio, Renato ia fazendo vibrar as cordas, e o templo se iluminava sob a refulgência invisível que a música traz consigo. A música e, com ela, a voz profunda e poderosa do Renato, conduziam o coração de todos à face do Senhor. Era como se ali, transcendente ao tempo e ao lugar, ele entoasse em plena claridade:

“…o teu rosto, Senhor, eu buscarei!”

E foi assim mesmo que ele andou depois, a vida inteira. Em alvoradas e crepúsculos da vida, nessa traiçoeira rotina do terra-a-terra, jamais deixou, entretanto, de ser assim. Era um pastor.

Porque a vida nem sempre é escada de Jacó, mas bruteza de pedra o é todo dia. Ele, porém, como todos os homens na ambiência de Deus, sonhava na pedra com as visões indescritíveis. E sabia que estas é que eram a Realidade.

Por isso é que o transitório jamais teve o poder de o esmagar.

Quarenta anos se passaram – e com eles tantos lugares e tantas atividades – mas eu nunca soube, desde aquelas manhãs de Araraquara, que o Renato tivesse mais condescendido com o desânimo, ou com o pessimismo, ou com a desesperança. Nunca o ouvi murmurar. Jamais, qualquer queixa. Ao contrário: por mais que vizinhos lobrigassem fantasmas nas sombras do tempo e dos episódios, Renato pasmava a todos por ver sempre, invariavelmente, a face de Jesus Cristo, isto é, a oportunidade na extremidade, a fresta iluminada em meio a escuridão. E que alegria! E que otimismo! Até mesmo nas fronteiras da morte.

Dir-se-ia fermentado daquela plenitude do Apóstolo: – “Se Deus é por nós, quem será contra nós?!” e aquela inteiriça confiança: “Tudo posso naquele que me fortalece.” E daquela serena convicção do servo de Deus: – “O meu socorro vem do Senhor!”.

E daí, então, aquela inquietação permanente que resistia a todo eventual negativo; aquela maneira de jamais parecer parado; aquele alvoroço, a alegria e o otimismo nunca interrompidos; a coragem, a decisão, a permanente e incorrigível expectação do melhor, a fidelidade ao ideal do Evangelho – “Eu sei em quem tenho crido” – e até, nos últimos dias, o ambiente de viagem, de manhã clara que vai surgir, de novas atividades iminentes…Era como se estivesse a pressentir um novo campo, outros horizontes, outro continente por desvendar…

Tudo isto se projetou na música. Em música, escreveu as “Páginas da Vida”, na intuição do “mistério”: as saudades e os sonhos, o sonho de criança, a roda dágua das reminiscências juvenis, a estrela matutina, a presença de Cristo Redentor e, entre outros momentos de profundidade, aquele imenso, fundo e comovente diálogo com Deus: “Sonda-me, ó Deus”.

Tão dinâmico, tão fermentado de vida, que ainda agora, no Outro Lado, tenho certeza de que o Renato estará dizendo aos companheiros na Vereda de Deus:

– Bem, lamento aquele episódio…o de “minha morte”…
E piscando para todos, brincalhão como sempre:
– Imaginem que eles por lá estão pensando que eu morri mesmo…

Mais um sorriso de quem espera em alvoroço, aquele modo esfuziante e bem-humorado –  a música deve estar continuando.

Ernesto Alves Filho
Jornalista. Correio Popular, Campinas, S.P

Introdução e Prefácio do Livro “Música Sacra Brasileira – Composições de Renato Ribeiro dos Santos” © 1968 pela Missão Presbiteriana do Brasil Central / Família Ribeiro dos Santos – Usado com permissão

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