A Música Cristã na África II – Rolando de Nassau
A Música Cristã na África – II
(Especial para “Hinologia Cristã”)
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) houve um notável incremento das missões cristãs em atividades na África, ao mesmo tempo em que se tornava cada vez mais evidente o conflito entre as músicas nativas e a música estrangeira (inglesa, francesa ou alemã).
Os missionários, católicos e protestantes, encorajaram os africanos a praticar a linguagem musical dos Estados Unidos da América e dos países europeus, e isto antes mesmo de ensinar-lhes as novas linguagens nascendo nos países africanos. Em consequência, nos dez primeiros anos (1945-1955), a vida musical africana foi perturbada e ameaçada de perder seu caráter nativo.
A música cristã na África era quase totalmente desconhecida. Os músicos-missionários tinham dificuldade em compor no estilo indígena, pois o folclore nativo não se prestava às transposições musicais. Aos compositores nativos eram estranhos os fundamentos da tonalidade.
As congregações africanas desconfiavam instintivamente de tudo o que entrava na igreja sem ser usado pelos missionários. Além disso, desaprovavam abertamente o aproveitamento de música de origem pagã. Quanto aos jovens, não cantavam os hinos tradicionais com o respeito e o fervor demonstrado pelos adultos.
Os leigos entusiasmavam-se imediatamente por tudo o que lhes parecia novo, moderno, original, sem considerar a qualidade frequentemente medíocre das peças musicais. Entretanto, os que estavam nos seminários não concordavam que fosse introduzida qualquer coisa do estilo indígena na música-de-igreja; por pertencerem a povos periféricos, subdesenvolvidos, julgavam a música africana uma arte inferior (ver: Arnold Toynbee. Um estudo da História. Brasília: Editora da Universidade de Brasília. São Paulo: Martins, 1986, p.453).
A música-de-igreja africana estava num impasse, embora, em meados da década de 50, os missionários-músicos quisessem sinceramente que os cristãos africanos reencontrassem sua “alma musical”; que eles orassem a Deus com seu coração e com sua inteligência, que sua música tivesse a expressão verdadeira e autêntica. Alguns preconizavam a criação de uma escola de música-de-igreja africana, sem influência branca, européia ou norte-americana.
Na década de 50, alguns missionários católicos tentaram elaborar composições que se inspirassem na alma africana: no Congo belga, Eustache Byusa compôs a “Missa do Jubileu” sobre árias do velho folclore congolês (1954) e seu contemporâneo Guido Hazen, a “MissaLuba”, cantada em latim (ver: artigo no. 86, “Música sacra africana”, O Jornal Batista, 01 maio 1966).
Entre 1960 e 1990, em meio à descolonização iniciada no continente africano na década de 60, as missões às ex-colônias portuguesas (Angola e Moçambique) e aos outros povos da África foram restringidas pelas guerrilhas políticas e lutas raciais, deixando poucas oportunidades para o desenvolvimento da música evangélica nessas regiões da África.
Como apóstolos do Belo, do Bem e da Verdade, os missionários-músicos, protestantes e evangélicos, tiveram o propósito, não o de ensinar a música europeia ou norte-americana, mas o de incentivar os africanos a expressarem a fé cristã através da música. Começou, então, a africanização da música nas igrejas cristãs da África.
Desde 1960 a África vive uma das mais importantes e dramáticas etapas do seu desenvolvimento sócio-econômico, apesar as novas formas de dominação estrangeira, o chamado “néo-colonialismo”.
Agora os países africanos reivindicam um lugar.
Após a implantação do “apartheid”, os nativos foram obrigados a viver em zonas de solos mais pobres. Em ex-colônias, as lavouras alimentícias foram substituídas pelo cultivo de algodão.
Uma grande dificuldade para a comunicação da nova música-de-igreja foi a existência e o crescente uso de línguas e dialetos.
Em 12 países pesquisados, existem mais de 20 línguas. Em Angola e Moçambique, colonizados por Portugal, além do idioma português, há línguas nativas.
O musicólogo Nicholas Ballante em 1926 advogou o uso de música africana nos cultos das igrejas da África.
Foram importantes hinógrafos: Stephan Cuthbert Molefe (1917-1987), pesquisador do idioma xhosa, mestre-de-capela de igreja católica; Silas Msangi (1918-1964); Joas Kijugo, etnomusicólogo e compositor; Patrik Matsikenyirei (1937-2021), metodista, deixou rico legado de canções africanas.
Outros hinógrafos: G.M.Kolisi, Daisy Nshakason, A. E. Amanvah, Duncan Wanbaga, Leonidas Ntilimenya, Eline Maquiso, Mwenze Kabemba, Abraham Maraire e Abel Nkuinji.
A etnomusicóloga Anna Marie Busse Berger pesquisou a música medieval na África.
Dan Damon editou em 2006 uma coleção de 16 hinos na tradição africana.
Fiz uma relação dos 38 hinos africanos mais conhecidos na década de 90.
Brasília, DF, 17 de agosto de 2023.
Rolando de Nassau
Doc.HC-154
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