Schweitzer e a Hinologia – Rolando de Nassau

Schweitzer e a Hinologia
 (Especial para “Hinologia Cristã”)

O hinólogo Albert Schweitzer escreveu no início do século 20 um texto hinológico exemplar a respeito da contribuição de Johann Sebastian Bach para desvendar os textos de corais como origem para os hinos (ver: Schweitzer, Albert. J.S.Bach, Vol. I, New York, Dover, 1966).

Bach explorou a forma e o conteúdo desses textos. Por isso, descobriu que desde o século 14 o hino germânico tinha seu estilo próprio, sua própria estética.

A Igreja Católica Romana concedia à congregação a participação nos atos do culto, que cantava “Kyrie”, doxologias, améns e hinos.

No fim do século 6º. da Era Cristã o privilégio foi retirado pela reforma gregoriana da liturgia, para transferi-lo para o canto dos sacerdotes.

A Igreja  na Alemanha preservou o privilégio, no culto de comemoração da Páscoa, quando permitiu a inserção de versos em língua alemã entre  as estrofes cantadas durante a liturgia. Dessa maneira o cântico religioso foi admitido no culto.

No século 12 surgiu o hino pascal “Christ ist erstanden von der Marter alle”. O hino cantado no idioma germânico foi permitido no século 14.

Albert Schweitzer ao órgão

O texto do coral foi a origem da Hinografia; dois corais para órgão, “In dulci jubilo” e “Puer natuus in Bethlehem” já eram executados pelo órgão.

Os textos dos hinos latinos “Veni redentor gentius” = “Nu Komm der Heyden heyland”; “Veni sancta spiritus” = “Kom heyliger Geyst, herr Gott”; “A solis ortus cardine”= “Christum wir sollen lobenschon”; “Veni creator” = “Kom Gott schepfer heyliger Geyst”; “Grates nunc omnes reddamus” = “Gelobt seys tu Jesus Christi”; “Media in vita” = “Mytten wir im leben”; “Jesus Christus nostra salus” = “Jesus Christus unser Heiland”; “Dies est laetittia” = “Der Tag der ist so freudenreich”; “Da Jesus an  dem Kreuze stund”, foram traduzidos.

Dies sind die heilgen zehn Gebot”, “Vater unser im Himmelreich” e “Wir glauben all an einem Gott” eram paráfrases de cânticos medievais.

No século 16, entre 1524 e 1543, cânticos litúrgicos da Igreja Católica Romana, cânticos religiosos alemães anteriores à Reforma Protestante e canções folclóricas foram as fontes dos textos a serem usados na Igreja Protestante sob a forma de hinos (ver: Blume, Friedrich. Protestant Church Music – a history. London: Gollancz, 1975)

A Reforma encontrou igrejas simpáticas à poesia alemã.

Lutero fez uma revisão do canto religioso (salmos, hinos e cânticos) para ser usado nas igrejas reformadas.

A Reforma calvinista preferiu preservar o Saltério.

Mais tarde, corais alemães e hinos ingleses foram adotados por igrejas protestantes.

No fim do século 16 aconteceu que os hinos eram baseados em textos de corais. A poesia alemã encontrou o caminho para o canto religioso.

Enquanto a França desenvolvia um forte estado nacional, a Alemanha era enfraquecida em seu sentimento nacional pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Apesar disso, foi produzida uma inigualável poesia religiosa. A Hinografia da época retratava os eventos contemporâneos.

Os hinógrafos Rist, Gerhardt, Nicolai e Franck construíram uma Hinografia respeitável, digna da Hinologia do século 17.

Johann Sebastian Bach inspirou-se na obra magnífica desses Hinógrafos para compor suas cantatas sacras.

No Protestantismo alemão do século 17 a ortodoxia dominava a Hinografia.

Na primeira metade do século 18, quando J.S.Bach era o maior compositor de música-de-igreja, a ortodoxia disputava com a tendência pietista a preferência das congregações luteranas. Aconteceu, então, a separação entre os cânticos congregacionais e os devocionais.

Paul Gerhardt (1607-1776), o ortodoxo, representou o caráter popular, e Johann Rist (1607-1667), o progressista, o aspecto artístico da Hinografia; ele recorreu aos importantes compositores de sua época.

A subjetividade dos hinos de Rist prejudicou a Hinografia.

A objetividade de Gerhardt, sem subterfúgios, fazia o cultuante refletir sobre sua pecaminosidade.

Bach em várias oportunidades usou alguns dos hinos de Gerhardt e de Rist elaborados para o ano eclesiástico. Pelo inventário soube-se que Bach possuía oito volumes do hinário de Leipzig, edição de 1697 (ver: Geiringer, Karl. JSB – The Culmination of an era. London: Allen Unwin, 1967).

Depois de Bach aconteceu a negligência no uso do hinário de Leipzig.

Schweitzer demonstrou como a Hinologia é importante para o desenvolvimento do canto cristão.

Os atuais hinários evangélicos têm a missão de preservar a Hinografia; os musicistas contemporâneos, o dever de estudar a Hinologia.

Brasília, DF, em 08 de janeiro de 2023.

Rolando de Nassau.

© 2023 de Rolando de Nassau – Usado com permissão

Doc.HC-137

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