A música protestante francófona no século 20 – Rolando de Nassau
A música protestante francófona no século 20
(Especial para “Hinologia Cristã”)
No início do século 20, a música-de-igreja europeia experimentou uma revitalização (primeiramente na Alemanha) quando Von Liliencron propôs em 1900 a normatização do ano eclesiástico evangélico, com o propósito de restaurar a atividade musical em função do culto.
A nova música-de-igreja protestante não deveria estar separada do fenômeno do estilo.
Na década de 20, a música religiosa era objeto de discussão nos festivais de música profana. A regeneração ocorreria como resultado de eventos que preocupariam as lideranças religiosas e os músicos profanos, em seguida à Primeira Guerra Mundial. Mas foi interrompida nas décadas de 30 e 40.
Instituições para-eclesiásticas (especialmente a federação protestante) nas décadas de 50 e 60 contribuíram para o rejuvenescimento dos conjuntos vocais e instrumentais de igrejas reformadas na Suíça e na França.
Em 1952 foi publicado em Estrasburgo um “Recueil de Cantiques”; em 1954, uma coletânea para ser usada nas escolas bíblicas dominicais; em 1967, aconteceu um congresso de estudos hinológicos; em 1968, a revisão da coletânea “Louange et Prière”. Houve um retrocesso quando em 1962 H. W. Zimmermann introduziu elementos jazzísticos num trecho litúrgico.
Na década de 70 surgiram o “jazz”, a “bossa nova”, o “rock” e o “rap” invadindo a área musical das igrejas evangélicas.
Walter Blankenburg em 1964 a respeito da música-de-igreja na Europa reformada observou que, quando escrevia sobre a Suíça e a cidade calvinista de Genebra, sempre se referia a compositores alemães de filiação luterana, e ao relaxamento dos princípios calvinistas.
No culto protestante, alemão e francês, a música era limitada ao órgão e ao canto congregacional; era raro o canto coral. Na música de órgão destacaram-se Alexandre Celliere Georges Migot.
Os organistas suíços estavam quase inteiramente sob a influência germânica.
Em 1955 foi produzida uma edição especial do “Evangelisches Kirchen-gesangbuch” (livro de cânticos da Igreja Evangélica) para as congregações reformadas da Alemanha Oriental e da Suíça de fala germânica. Após a Segunda Guerra Mundial passou a influenciar o canto coral na Alemanha Oriental, por meio de Saint Gall e Winterthur, e estender sua atuação também sobre os protestantes franceses.
Basel, Berne, Lausanne e Genebra são cidades tradicionais que mantêm contato com a França.
Dois suíços, Martin e Honegger, tornaram-se grandes compositores de música sacra na Europa (ver: Adolf Brunner. Wesen, Funktion und Ort der Music im Gottesdienst. Zurich: 1960).
Martin imitava a música alemã expressa nos corais de J. S. Bach; foi necessário dotá-la de textos em francês. Compôs em 1958 o oratório “Mystère de la Nativité”, e em 1948, sua obra-prima, “Golgotha”. Para a coluna musical de “O Jornal Batista” escrevi um artigo (12 abril 1981). Martin definiu seu estilo de composição sintetizando vários elementos.
“Golgotha” é uma “Paixão” que se aproxima dos modelos de J.S.Bach, porque sua fé cristã queria que se elevasse bem acima das denominações religiosas. A obra foi lançada em 1949 em Genebra, Suíça, durando 90 minutos, enquanto exibia grandiosidade e simplicidade; baseava-se na Bíblia e nos escritos de Agostinho.
Honneger, além do oratório “Le Roi David” (H-37,1921), escreveu as cantatas: “Cantique des Cantiques”, “Chant de libération” e “Cantate de Noël” (H-212, 1953). A obra composta em 1921 assemelha-se aos oratórios do século 18.
Atualmente, seus descendentes artísticos têm sido os mais ativos e competentes cultivadores da genuína música sacra.
Rudolf Lutz (1951- ), organista, cravista e compositor, em 1999 fundou a “J.S.Bach Stiftung”, sediada em Saint Gallen, Suíça, atualmente com mais de 50 mil apoiadores, com o objetivo de gravar discos e vídeos, transmitidos pelo canal do “YOU TUBE”, de toda a obra coral de Bach. De 24 de dezembro de 202l até 23 de dezembro de 2022, assisti 81 concertos apresentados pelo Coro e Orquestra da “Bach Stiftung”. O belo exemplo dessa instituição privada suíça foi imitado pelas sociedades “Bach” de Amsterdam (Holanda) e de Tóquio (Japão). Ninguém pode alegar falta de acessibilidade para desconhecer a obra coral de J.S.Bach.
Brasília, DF, em 23 dezembro 2022.
Rolando de Nassau.
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Doc.HC-136