A Experiência dos Tradutores de Hinos – Roberto Torres Hollanda

A Experiência dos Tradutores de Hinos
(Especial para Hinologia Cristã)

Os departamentos de música de algumas denominações protestantes e evangélicas continuam a ter o propósito de traduzir os hinos existentes para suas línguas oficiais, especialmente depois que foi publicado, em 1995, pelas editoras “Basilea” e “Strube” (Alemanha), um hinário ecumênico internacional onde figuram 13 hinos em português.

Contamos pelo menos 50 hinógrafos, nos dois hinários editados no Brasil pelos Batistas, que foram tradutores.

Na “outra América”, a contagem foi diferente; apenas um poeta brasileiro, Aristeu de Oliveira Pires Júnior (1954), teve seu hino traduzido, do português para o inglês, por Ralph Manuel (1951): “Logo de manhã”, Hinário para o Culto Cristão (HCC-401), “At the break of day”.

A primeira estrofe tem o seguinte texto:

“At the break of day, Lord,
I seek Your face;
there to hear Your voice,
feel Your love’s embrace.
As You speak to me
in this time apart,
Lord, I praise Your holy name,
I give You my heart.

You know  me, O Lord,
more than any eartly friend.
I’ll love You, dear Lord,
and will serve You to till the end.

At the close of day,
I seek you once more,
Magnify your name,
Worship and adore.
Even in the darkness
Shines yout light so blest.
Jesus, now I lay my spirit
In your arms to rest.”

O trabalho do tradutor está sujeito à variação da época da tradução.

Começo por um importante hinógrafo que não foi tradutor: Manoel Avelino de Souza (1886-1962) não tinha conhecimento técnico de música e não traduzia; sabia escolher composições musicais para seus textos; era poeta original; isto já era uma vantagem (ver: O JORNAL BATISTA, 21 dez 86, 01 dez 02, 15 jan e 02 fev 2014).

Ele não tinha a habilidade de Ginsburg para traduzir poemas escritos na língua inglesa, nem a de Pitrowsky para  compor e arranjar melodias.

Descomprometido com as letras cantadas “na outra América”, escreveu poemas que pudessem ser usados no Brasil com as composições musicais da hinodia americana.

Os hinos de Manoel Avelino, na década de 50, eram usados nos “apelos” após sermões evangelísticos, entretanto, tinham a característica de servir como confissões dos pecadores arrependidos (ver: “Por mim”, CC-361); ele demonstrou sua percepção musical ao usar a melodia de Austin Miles em seu hino “A voz de Jesus”, CC-384; deu o seu recado em bom português, embora fosse cantado com música americana.

Em 1986 ainda precisávamos de poetas do porte de Manoel Avelino (ver: O JORNAL BATISTA, 21 dez 86, p.2).

Ginsburg, Entzminger e Pitrowsky foram os hinógrafos que se destacaram como tradutores de hinos.

Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927) foi o mais importante hinógrafo batista brasileiro (ver: Rolando de Nassau. Salomão Ginsburg, o hinógrafo. E-Book, neste “site”; O JORNAL  BATISTA, 09 jul 81, 12 ago 81 e 07 jul 91).

Ele era prolífico tradutor de hinos; traduziu, pelo menos, 20 hinos aproveitados no HCC e que guiaram nossa pesquisa hinódica, sem a pretensão de sermos hinólogos.

Apreciamos a tradução do hino de John Bowring (1792-1872), no. 29 do HCC e do hino de Civilla Durfee Martin (1869-1948), “Deus cuidará de ti” (HCC-33), este para fortificar a fé do missionário Francis Edwards.

Ele realizou, com excelência poética, a tradução do hino de William Ralph Featherstone (1846-1873), incluída no HCC sob o no. 62.

Também traduziu o hino de Spencer Walton, que,  desde 1914, é um dos prediletos dos Batistas do Brasil (O JORNAL BATISTA, 02 ago 1981).

No hino “Moment by moment” (HCC-183), de Daniel Webster Whittle (1840-1901), para os versos “Dying with Jesus, by death reckoned mine; living with Jesus, a new life divine; looking to Jesus, till Glory doth shine, moment by moment, O Lord, I am Thine”, Whittle usou a sequência de verbos (dying, living, looking), indicando algo que está acontecendo,  ou que foi planejado, ou que foi decidido pelo pecador.

Ginsburg traduziu estes versos assim: “Sendo remido por Cristo na cruz, vivo gozando no reino de luz: cheio da graça que vem de Jesus, cada momento o Senhor me conduz”.

Os verbos usados sugerem: 1) a ideia do processo seguido pelo pecador: 2) a afirmação de que o pecador está satisfeito; 3) a revelação de que o pecador reconhece que sua vida tem sido conduzida pela graça de Jesus.

Ele traduziu 14 dos 44 hinos da poetisa Fanny Jane  Crosby (1820-1915) que figuram no Cantor Cristão.

A Velha História – Cantor Cristão

Um dos mais antigos é “Tell me the story of Jesus” (Conta-me a história de Cristo” (CC-196). Comparando o poema original e a letra traduzida por Ginsburg constata-se a fidelidade da tradução.

Mais uma vez revela-se a fidelidade de Ginsburg: no hino de Whittle, “Showers of blessing” (Chuvas de bênçãos – CC-168).

Acho curiosa a maneira como Ginsburg traduziu  “and now honor Thy word” (desta palavra de amor), sabendo que Whittle tinha combatido na Guerra Civil Americana (1861-1865).

A edição de 1975 de “Salmos e Hinos” (1861) aproveitou 13 hinos de Ginsburg. Apesar das suas deficiências como tradutor, Ginsburg tem resistido às novidades nos últimos 131 anos. Cremos que permanecerá por muito mais tempo.

William Edwin Entzminger (1859-1930) escreveu as quatro letras originais e as 17 traduções que enriquecem o HCC (O JORNAL BATISTA, 22 jul 2002).

Traduziu o hino “The way of the cross leads home” (Para o Céu por Jesus irei), de Jessie Brown Pounds (1861-1921) que no HCC recebeu o no. 295. Entzminger fez uma adaptação ao ritmo musical, colocou as expressões “eu vou” e “com resolução”, e a ideia do desejo do pecador desfrutar a herança de Cristo no Céu. Pounds enfatizou a necessidade do pecador ir pelo caminho manchado pelo sangue do Salvador, se quiser subir às sublimes alturas, onde a sua alma se sentirá num lar divino.

Entzminger traduziu o hino”There’s a land that is fairer than day” (Eu avisto uma terra feliz), de Sanford Filmore Bennet (1836-1898) (Cantor Cristão no. 508; Harpa Cristã, no. 572; The Baptist Hymnal, no. 515). No estribilho deste hino, o autor descreve a nova terra, preparada para o pecador arrependido.

Na primeira estrofe, o pecador crê que irá para uma terra onde para sempre poderá morar; na segunda, nessa terra feliz, viverá “sem angústias, tristezas, nem dor; na terceira, a esperança de que, na linda cidade celestial, gozará mil venturas eternas. Entzminger elaborou um refrão, diferente para cada estrofe, no qual o pecador que canta declara que irá, viverá  e gozará na futura e eterna morada. Haverá esperança maior do que esta?

No Hinário  Adventista do Sétimo Dia (edição de 2010 o estribilho expressa a ideia da felicidade interminável: “Hei de estar nesse lar perenal e feliz”.

Ricardo Pitrowsky (1891-1965) escreveu quatro traduções (HCC-327, 330, 338 e 507), em meio a duras provas (ver: O JORNAL BATISTA, 27 jan 1985, 03 fev 1985 e 07 maio 2001).

Além disso, tinha a habilidade para arranjar e compor melodias (HCC-390; CC-179, 416 e 544).

Todos sabemos que os dois hinários usados pelos Batistas no Brasil, o “Cantor Cristão” (1891) e o “Hinário para o Culto Cristão” (1991), receberam forte influência da hinodia americana. A germânica foi difundida entre os Protestantes (Luteranos e Calvinistas) que no século 19 emigraram de países europeus. Os pastores batistas no Rio Grande do Sul talvez tenham usado hinários evangélicos produzidos na Alemanha.

Ingressaram no HCC 17 hinos alemães, do mais alto gabarito artístico.

Nem sempre as letras foram traduzidas diretamente do idioma alemão. Tiveram condições de traduzi-las os pastores João Soares da Fonseca (HCC-10, 68,167 e 222), Manoel da Silveira Porto Filho (HCC-63), Werner Kaschel (HCC-227) e a missionária Joan Larie Sutton (HCC-315).

Posso avaliar a hinodia de uma igreja local pela quantidade desses hinos alemães que são cantados por sua congregação.

O abalizado crítico inglês John Julian considerou a hinodia alemã “a mais rica de todas as hinodias” (O JORNAL BATISTA, 03 fev 2013, p.3).

Roberto Torres Hollanda

Brasília, DF, 23 de maio de 2022

© 2022 de Roberto Torres Hollanda – Usado com permissão
Doc. HC-128

Nota do Editor:

Foi citado neste artigo somente um exemplo de hino brasileiro traduzido para o português (Logo de Manhã, de Aristeu Pires Junior) para que a publicação não ficasse muito extensa. Há no link abaixo, vários exemplos de hinos e cânticos de autores brasileiros traduzidos para o Inglês, e publicados pelo Rev. João Wilson Faustini.

Indice Geral das Publicações J. W. Faustini

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