Dea Kerr Affini (1930-2009)
Déa Espíndola Kerr Affini (1930-2009)
A bela cidade litorânea de Santos foi a feliz cidade em que nasceu, em 19 de maio de 1930, um raio de sol, batizada com o nome de DÉA (seria Deus É Amor?). A grande diferença na vida desta criança foi nascer em um lar cristão. Seus pais eram membros atuantes da Igreja Congregacional e ensinaram a Déa a andar nos caminhos do Senhor. Com nove anos de idade, uma mudança na vida da pequena Déa: a mudança para o acampamento da Usina Elevatória da Represa nova em Pedreira, Santo Amaro, SP. Na nova cidade, a família frequentava a Igreja Metodista pela manhã e o trabalho Batista à tarde. Deus concedeu dons especiais a Déa, um deles era o da música e ela passa a acompanhar os hinos e cânticos das duas igrejas.
Na escola dominical, mais um dom se manifestou em nossa querida Déa: o trabalho com as crianças e assim, como gostava de ler e ouvir histórias, passou a contar histórias para crianças. Ali estava seu grande dom: Déa era uma contadora de histórias sem igual. [Na Igreja Metodista em Rudge Ramos, eu amava os dias especiais porque tínhamos uma história da D. Déa que chegava com uma cesta e os títulos das histórias enrolados. Alguém sorteava e ela contava a história sorteada. Somente quem tem um dom especial pode fazer isso.]
Em 1950, um novo desafio. Déa foi estudar Música Sacra no Colégio Bennet, no Rio de Janeiro, decidida a dedicar-se à música e ao trabalho na igreja. Em 1952, foi a primeira formanda do Curso de Música, e o hino VIDA E LUZ (398 do Hinário Evangélico) foi composto por ela, como trabalho final de curso. O hino foi tocado, pela primeira vez, em sua formatura.
Concluído o curso, Déa retorna para São Paulo, para Santo Amaro e assume o desafio de ministrar aulas de piano, música e reger o coral do Instituto Metodista, na Chácara Flora, onde trabalhou de 1953 a 1955.
Uma vida especial, cheia de desafios e aventuras, mas faltava alguma coisa, faltava alguém para dividir os sonhos e o ideal de serviço ao reino de Deus. Deus enviou um jovem professor, Paulo Onézimo Affini para completar a alegria de Déa. Em 1954, eles se casam e dessa união nasce seu primeiro filho Paulo Wesley. Déa não parava, além das aulas, trabalhou na Igreja Metodista do Ipiranga, onde regia o coral e desenvolveu trabalhos com crianças na escola dominical e escola bíblica de férias.
Em 1956, uma nova mudança, a família vai morar em Lins, residindo lá por 5 anos. Boas recordações deste tempo, afinal, ali o casal teve mais dois filhos: Alberto Celso e Déa Cristiane. Música e crianças foram alvo do ministério de Déa.
Em 1961, a família mudou-se para o ABC paulista, vindo residir na Vila Floresta, em Santo André. Ali, Déa participou da Congregação Metodista em Vila Floresta. Déa sempre que chegava à igreja, vinha para trabalhar: logo assumia o coro, o trabalho com educação cristã na escola dominical e a participação na Sociedade de Mulheres.
Em abril de 1966, mudou-se para São Bernardo do Campo. Até 1980, foi membro atuante na Igreja Metodista em São Bernardo, assumindo o coral, os trabalhos na escola dominical e Sociedade de Mulheres local. Neste momento de sua vida, um novo dom na vida de Déa: o trabalho com mulheres. De 1966 a 1967 foi vice-presidente da Federação Metodista de Mulheres da 3ª RE, e, em1968 e 1969 assumiu o cargo de Presidente.
Nessa época, por influência do pastor Lenildo Magdalena, começou a desenvolver o gosto por escrever das coisas de Deus, um novo dom se manifestando na vida de Déa: o dom da escrita. Do convívio na sociedade de mulheres, conheceu Phillys Reily, de onde surgiu uma parceria muito produtiva: frutificaram os seminários de música e educação cristã na Chácara Flora (anos 70), seminários itinerantes nas igrejas locais pelo Brasil para formação e capacitação de líderes de educação cristã, procurando integrar as diversas expressões artísticas: música, drama e artes plásticas. Nasceram daí várias produções como: Todos vão até Belém, Feliz Idéia, Gente de Valor, Todos a Bordo, Perdidos e Achados e composições musicais para o Cancioneiro Canções para toda a Hora.
Em 1980 se tornou membro da Igreja Metodista em Rudge Ramos, onde deu continuidade ao trabalho com educação cristã, mulheres e coral.
A partir de 1994, Deus chama Déa para uma missão especial, ela integrou o Conselho de Redação da Revista Voz Missionária, e em 1996, assume a função de redatora. Na revista teve a oportunidade de escrever e compartilhar muitas experiências vividas e construídas no fazer de uma vida dedicada ao trabalho de louvar e propagar o amor de Deus em Cristo Jesus. Déa tinha o dom de levar crianças e adultos a olharem o amor de Deus. Para isso, orava, estudava, escrevia, compunha, cantava e desenvolvia tantas formas criativas e variadas quanto possível, para atingir esse objetivo.
Como redatora da revista Voz Missionária, teve a oportunidade de participar de Congressos Regionais, Nacionais de quase todas as regiões eclesiásticas. Sempre acolhida com carinho e amor pelas igrejas, teve muitos convites para falar e participar nas igrejas, divulgando o amor de Deus por intermédio da revista. Déa não só contava histórias; a profundidade de suas mensagens atingia os corações porque ela pregava com a alma e com a sensibilidade de uma vida de oração, compromisso e fidelidade ao Senhor.
Deixou a redação em 2004, após intenso e frutífero trabalho de oito anos, mas o vínculo não se rompeu: recebeu o título de Redatora Emérita e continuou a fazer parte do conselho de redação da revista, colaborando com a escrita de histórias para as crianças, adaptações de letras de canções, elaboração de liturgias.
Da Igreja Metodista da 3ª Região Eclesiástica, recebeu o título da Ordem do Mérito Metodista, pelos trabalhos desenvolvidos e tanta dedicação.
Quem não conheceu Déa e lê sobre sua vida, imagina uma mulher com uma saúde de ferro, locomovendo-se agilmente de um lugar para outro. Mas, na verdade, Déa sempre lutou com a fragilidade de sua saúde e tinha limitações físicas que nunca foram desculpas para não realizar a obra do reino e colocar seus dons, que eram tantos, à disposição do Senhor.
Podemos definir esta pessoa maravilhosa como uma pessoa sábia. Rubem Alves diz que “o sábio é um adulto com olhos de criança. Os olhos, diferentemente do resto do corpo, preservam para sempre a propriedade mágica do rejuvenescimento”. Como alguém com um dom especial para a música, ela apreciava muitos hinos e cânticos maravilhosos. Mas, havia um que ela gostava de citar, O Olhar de Quem Sabe Amar, do Chico Esvael (veja letra na Liturgia na página 26). Penso que este cântico reflete a vida e o caráter de DÉA KERR AFFINI.
A única coisa que peço licença ao poeta Chico, é para dizer que, quando falamos de D. Déa, não era apenas o seu olhar que expressava amor, solidariedade e esperança, mas toda a sua vida: seu sorriso, sua voz, sua ternura, seu cuidado, suas palavras, suas histórias, seus dons maravilhosos e o seu compromisso com Deus.
Saudades de d. Déa!
Este é o sentimento de todos/as aqueles/as que a amaram e tiveram o privilégio de conviver com ela. Temos certeza de que ela está nos braços de Deus (ela foi até Ele na madrugada do dia 03 de julho), olhando para nós com seu olhar de quem soube amar e demonstrar amor.
Amélia Tavares
Biografia de DÉA ESPÍNDOLA KERR AFFINI, publicada originalmente na Revista Voz Missionária, do Vº bimestre de 2009 e enviada ao site Hinologia Cristã por Dea Cristiane Kerr Affini.
© 2009 de Amélia Tavares – Usado com permissão
AUSÊNCIA
– Carlos Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Rubem Alves diz que:
Sentir saudade é sentir ausência: a gente sente saudade
porque a pessoa amada está ausente.