Natanael Emmerich (1907-1978)
Rev. Natanael Emmerich (1907-1978)
Natanael Emmerich notabilizou-se como missionário em Portugal e pioneiro presbiteriano em Brasília. Nasceu no dia 28 de agosto de 1907 em São José do Ribeirão, município de Bom Jardim, no Estado do Rio. Era filho do casal presbiteriano Eugênio José Emmerich e Laura Martins Emmerich. O pioneiro dessa família no Brasil foi o imigrante alemão João Henrique Emmerich, que chegou a Nova Friburgo em 1824. No final do século 19, seus descendentes se filiaram à igreja presbiteriana, por influência do missionário John Merrill Kyle. Muitos pastores procederam dessa grande família.
Natanael cursou o secundário no Instituto Granbery, em Juiz de Fora (MG), onde conquistou cobiçado prêmio de oratória – uma caneta e uma medalha, ambas de ouro. Sentindo o chamado para o ministério, apresentou-se ao Presbitério Leste de Minas, sendo encaminhado ao Instituto José Manoel da Conceição, em Jandira, e depois ao Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas.
No seminário, foi um dos idealizadores e o primeiro presidente do Centro Acadêmico Oito de Setembro, fundado em 19 de março de 1935. Dessa época veio sua amizade com outro pastor poeta, Jorge César Mota. Foi também secretário do trabalho de mocidade do Presbitério de Botucatu e do Sínodo Meridional. Colou grau em 16 de novembro de 1935, tendo como colegas de turma Júlio Andrade Ferreira, Francisco Penha Alves, Adiron Justiniano Ribeiro, Joaquim Alcântara F. Santos, Mário da Silva Telles, Jáder Gomes Coelho, Paulo Freire de Araújo e Valério Silva.
Em 1936, já licenciado, trabalhou como auxiliar do Rev. Ulisses Figueira, com residência em Pederneiras (SP). Foi ordenado pelo Presbitério de Botucatu em 24 de janeiro de 1937, no templo da igreja de Santa Cruz do Rio Pardo, tendo presidido a cerimônia o Rev. Ludgero Braga e feito a parênese o Rev. Coriolano de Assumpção. Foi designado pastor das igrejas de Iacanga (sede), Pederneiras e das congregações de Agudos e do campo da Alta Paulista, tendo como auxiliar o licenciado Américo Justiniano Ribeiro, residente em Pederneiras.
Visitou Itápolis, Penápolis, Bica de Pedra, Lucélia, Lins, Marília, Jaú e outros locais. Viajava sempre de guarda-pó para proteger seu terno das fagulhas da locomotiva a lenha. Em 1939, foi eleito presidente do Presbitério de Botucatu e designado pastor da igreja de Bauru e das congregações de Agudos, Duartina, Cabrália, Avaí e São Luiz de Guaricanga. No ano seguinte, foi eleito pastor da igreja de Bauru.
Em 1942, deixou essa igreja, sendo cedido à Sociedade Brasileira de Evangelização para trabalhar em Portugal. No ano seguinte, não tendo conseguido ir para Portugal por causa da 2ª Guerra Mundial, trabalhou no campo de Irati, no Paraná, para a Junta de Missões Nacionais. Finalmente, em 19 de dezembro de 1943, foi solenemente empossado na função de missionário da Sociedade Brasileira de Evangelização e, em seguida, da Junta Presbiteriana de Cooperação em Portugal.
Chegou a Lisboa em 3 de janeiro de 1944, em um voo da Panair, sofrendo nos meses seguintes com o inverno rigoroso. Em junho, seguiram ao seu encontro, de navio, a esposa Rosa Ehrhardt Emmerich e os filhos Marilena e Helon. Pastoreou as igrejas de Lisboa, Barreiro, Figueira da Foz, Porto e Funchal, esta última na Ilha da Madeira. Foi um dos principais artífices da união dos presbiterianos e dos congregacionais em 1947, o que resultou em grande fortalecimento da comunidade protestante em Portugal. Em 1948, foi dispensado do trabalho no país luso, retornando ao Brasil.
Em abril, assumiu o pastorado da igreja de Paraguaçu Paulista, sendo no ano seguinte transferido para o Presbitério de Bauru. Pastoreou a igreja de São José do Rio Preto de outubro de 1950 a dezembro de 1953 e a igreja de Sorocaba de 1956 a 1958.
No Supremo Concílio de 1958, foi incumbido pela IPB de organizar o trabalho presbiteriano em Brasília. Inicialmente morou num quartinho humilde no Núcleo Bandeirante, sem água encanada nem energia elétrica, ao lado do barracão que servia de templo. Arrebanhou candangos para organizar as primeiras igrejas da nova capital. Sua família permaneceu em São Paulo, onde Rosa trabalhava no Instituto Mackenzie. Sua irmã Luíza Ehrhardt era casada com o Prof. Antônio Valente do Couto (1901-1985), que foi diretor da Escola de Engenharia, reitor da Universidade Mackenzie e presidente do Instituto Mackenzie.
Natanael foi o pastor inicial das duas primeiras igrejas presbiterianas do Distrito Federal – Pioneira e Nacional. A Igreja Presbiteriana Pioneira, no Núcleo Bandeirante, foi organizada em 21 de abril de 1960, dia da inauguração de Brasília. Algum tempo depois, ele convidou alguns membros dessa igreja que residiam no Plano Piloto para iniciar uma nova igreja nessa área central. O primeiro culto, com treze pessoas, foi realizado numa tarde de domingo de junho de 1960, em um galpão que estava sendo construído na Avenida W-3, Quadra 510 Sul, de propriedade da IPB.
A Igreja Presbiteriana Nacional foi organizada pouco depois, no dia 12 de agosto de 1960, por uma comissão do Presbitério de Goiás. A comissão era constituída pelos Revs. Saulo Afonso Miranda (relator), Severino Gomes Monteiro, Augusto José de Araújo, Natanael Emmerich e os Presbs. Henrique Fanstone e Suhail Rahal. A nova igreja surgiu com 58 membros comungantes e 36 não comungantes. O Rev. Natanael fez inúmeras peregrinações aos escritórios da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), até conseguir o terreno definitivo da Igreja Presbiteriana Nacional. Seu pastorado nessa igreja se estendeu de agosto de 1960 até meados de 1961, quando teve de retornar a São Paulo no interesse da família. Foi substituído na Igreja Nacional pelo Rev. Eudaldo Silva Lima, procedente da igreja de Salvador, na Bahia.
Voltou a trabalhar no interior paulista (Catanduva, São José do Rio Preto e Sorocaba). Em 1962, pastoreou a igreja de Florianópolis. Na capital paulista, assumiu o pastorado das igrejas do Brás e Betânia, e também esteve à frente das de Pinheiros (1965-1967) e Vila Maria (1969-1970). Foi redator do jornal Imprensa Evangélica, criado em 1966. Em 1974, pastoreou por alguns meses a igreja de Taubaté, sendo nessa época iniciado o trabalho presbiteriano em Cachoeira Paulista. Também teve breves pastorados na 1ª IPI de Curitiba (sucedendo Sátilas do Amaral Camargo), na igreja de Ribeirão Preto e na igreja do Jardim das Oliveiras, em São Paulo, como auxiliar de Samuel Martins Barbosa. Sua última missão foi na Igreja Metodista de Uruguaiana (RS), a convite do bispo Wilbur K. Smith.
Faleceu no dia 17 de setembro de 1978, aos 71 anos. Na despedida final, seu velho professor e amigo, Rev. José Borges dos Santos Júnior, recordou um breve canto de Natanael: “Bem-aventurados / aqueles que passam pela vida / cantando uma canção de amor, / porque deles é o Reino da Felicidade!”. Em 2018, a Igreja Presbiteriana Nacional deu o seu nome ao auditório da igreja, inaugurado em 10 de abril com a presença da Comissão Executiva do Supremo Concílio.
Pequeno de estatura física, Natanael destacava-se como gigante no púlpito e no caráter. Foi um dos conferencistas mais requisitados pelo Instituto de Cultura Religiosa, dirigido pelo amigo Rev. Miguel Rizzo Júnior. Não escrevia seus sermões, utilizando somente simples esboços rabiscados em qualquer papel disponível. Foi um grande entusiasta do apóstolo Paulo, cujas epístolas conhecia de cor. Tinha em comum com ele duas características marcantes: a força da argumentação e a inclinação pelo ministério itinerante. Deixou uma legião de amigos e admiradores.
Foi apreciado poeta e compositor de hinos. Em parceria com o maestro Elizeu Narciso, compôs o Hino da Escola Dominical (Hinário Novo Cântico, nº 354-A) e traduziu, em 1958, o hino “Grandioso és Tu”, para a cruzada evangelística de Billy Graham. Seu sobrinho Wesley Emmerich Werner é pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Curitiba.
© Alderi Souza de Matos – Usado com permissão
Fotografia enviada pelo Colaborador Alderi Matos
Excelente minibiografia do Rev. Nathanael Emmerich, o poeta missionário.